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Eterna Luta Pela Mente dos Homens: Propaganga Ideológica e a Perspectiva de Noam Chomsky

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em Comunicação
autor: Hadassa Ester David

Para que as engrenagens financeiras do poder corporativo possam continuar a operar de modo a privilegiar uma “minoria opulenta” ou “minoria próspera”, o papel da propaganda é o de conquistar apoio e desviar a atenção, bem como incutir o consumo, no sentido de colaborar para manter as pessoas isoladas e, com isso, cooperar em prol de eliminar qualquer possibilidade de perturbação da ordem, de crítica, contestação, dissidência e resistência, conquistando assim, a subserviência, a aquiescência e o consentimento do público, para que a elite não seja incomodada...


Mistérios Sombrios do Vaticano - H. Paul Jeffers

Mistérios Sombrios do Vaticano
autor: H. Paul Jeffers

Descrição: Mistérios Sombrios do Vaticano – Por trás das muralhas do lugar mais sagrado do mundo existe uma complexa rede de intrigas, corrupção e conspirações. Este livro é uma fascinante compilação de alguns dos segredos mais bem guardados do Vaticano. Na introdução, vemos como esses segredos tiveram início na fundação do cristianismo, quando são Pedro recebeu as Chaves do Reino do próprio Cristo, e de que forma os primeiros cristãos, vítimas de perseguição, precisaram recorrer a senhas e simbolismos secretos para iludir as autoridades.


É Hora de Falar

É Hora de Falar
autor: Helen Lewis

Descrição: Helen Lewis, jovem estudante de dança em Praga durante a eclosão da II Guerra Mundial, é levada para o gueto de Terezín e, depois, deportada para Auschwitz. Separada da família, ela vive em meio à carnificina da Solução Final de Hitler. Como e o que fez para sobreviver é uma história emocionante, contada com humor, franqueza e alguma raiva, mas sem dar espaço para a autocomiseração. Em É Hora de Falar, Helen mapeia as profundezas do Inferno, arrebatando-nos com uma obra de arte irrepreensível. Ao nos guiar por um terreno repleto de pesadelos apavorantes, ela não pisa em falso. Seu tom permanece sereno; seu estilo, simples. Mas essa forma de expressão esconde o martírio de sua necessidade de recordar.


A ilha do dr. Moreau

A ilha do dr. Moreau
autor: H. G. (Herbert George)

...A ilha do dr. Moreau, o livro teve uma recepção muito polêmica em sua época, por ter sido visto em grande parte como uma sátira virulenta, swiftiana, à sociedade de então. Jorge Luis Borges observou (“O primeiro Wells”, em Outras Inquisições): “O conventículo de monstros sentados que recitam em voz fanha, noite afora, um credo servil, é o Vaticano e é Lhassa.” A caricatura ácida dos rituais religiosos e políticos também não passou despercebida aos contemporâneos de Wells. O jornal inglês The Guardian, em junho de 1896, afirmou que “seu propósito parece ser parodiar a obra do Criador da raça humana, e enxergar de maneira negativa as relações de Deus com as Suas criaturas”. Todo o livro de Wells é perpassado pela impressão (através dos olhos de Prendick) de que a diferença entre o Povo Animal de Moreau e nós mesmos é uma diferença meramente de à ilha do dr. Moreau, é preciso observar que o livro teve uma recepção muito polêmica em sua época, por ter sido visto em grande parte como uma sátira virulenta, swiftiana, à sociedade de então. Jorge Luis Borges observou (“O primeiro Wells”, em Outras Inquisições): “O conventículo de monstros sentados que recitam em voz fanha, noite afora, um credo servil, é o Vaticano e é Lhassa.” A caricatura ácida dos rituais religiosos e políticos também não passou despercebida aos contemporâneos de Wells.

O jornal inglês The Guardian, em junho de 1896, afirmou que “seu propósito parece ser parodiar a obra do Criador da raça humana, e enxergar de maneira negativa as relações de Deus com as Suas criaturas”. Todo o livro de Wells é perpassado pela impressão (através dos olhos de Prendick) de que a diferença entre o Povo Animal de Moreau e nós mesmos é uma diferença meramente de grau, não de essência. A Lei de Moreau é um processo misto de lavagem cerebral e hipnotismo, que ele explica de forma convincente a Prendick no capítulo XIV. O conceito de mandamentos verbais inculcados à força de repetição faz parte, é claro, da maioria das religiões formais, e é sempre um eficaz processo de controle psicológico. Em termos de ficção científica podemos ver na Lei de Moreau um embrião da ideia das Leis da Robótica que viriam a fazer a fama de Isaac Asimov. E, assim como grande parte dos contos de robôs de Asimov mostra os sofismas e os truques usados pelos robôs para desobedecerem às Leis, os animais de Moreau se comportam do mesmo modo: “A série de proibições chamada A Lei — que eu os vira recitando — lutava em suas mentes contra os impulsos selvagens profundamente arraigados em sua natureza. Vim a saber que eles passavam o tempo inteiro a repetir a Lei — e a desobedecê-la.”Moreau é mais um personagem que ajudou a cristalizar na memória do público o conceito do “cientista louco”, uma expressão vaga que inclui desde os cientistas realmente insanos de tantas histórias de pulp fiction quanto cientistas ambiciosos, obcecados, e que menosprezam as leis humanas, como o Victor Frankenstein de Mary Shelley e o dr. Jeky ll de R. L. Stevenson, além de Griffin, o “homem invisível” do próprio Wells.


Guerra – O Horror da Guerra e seu Legado para a Humanidade – Ian Morris

Guerra – O Horror da Guerra e seu Legado para a Humanidade
autor: Ian Morris

Descrição: Uma investigação profunda, provocativa, sobre como a guerra mudou nossa sociedade – PARA MELHOR. Em Guerra, o renomado historiador e arqueólogo Ian Morris conta a terrível e emocionante história de 15 mil anos de conflitos, indo além das batalhas e da brutalidade para revelar o que esses embates provocaram no mundo e o que fizeram por ele. As pessoas na Idade da Pedra viviam em sociedades pequenas, hostis, e uma entre dez – às vezes, uma entre cinco –, tinha a probabilidade de morrer violentamente. No século XX, apesar de duas guerras mundiais, do Holocausto e de Hiroshima, essa equação se reduziu para menos de uma pessoa entre cem. A explicação? As guerras, e somente elas, levaram à criação de sociedades maiores e mais complexas, com governos que erradicaram a violência interna. Por mais estranho que possa parecer, elas tornaram o mundo mais seguro, e a segurança que produziram lhe permitiu se desenvolver e enriquecer.


Fundação – Isaac Asimov

Fundação
autor: Isaac Asimov

Descrição: Obra máxima do escritor Isaac Asimov, os três livros que compõem a — Trilogia da Fundação ‘Fundação’, ‘Fundação e Império’ e ‘Segunda Fundação’ —, foram eleitos, em 1966, a melhor série de ficção científica e fantasia de todos os tempos, superando concorrentes de peso como O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien. A trilogia conta a história da humanidade, em um ponto distante no futuro, no qual o visionário cientista Hari Seldon prevê a destruição total do império humano e de todo o conhecimento acumulado por milênios. Incapaz de impedir a tragédia, ele arquiteta um plano ousado, no qual é possível reconstruir a glória dos homens. Se tudo correr como planejado. Esta edição é inédita no Brasil, pois além da nova tradução, traz as modificações feitas pelo autor nos anos 1980, quando decidiu integrar todas as suas obras em uma única continuidade temporal. Este box contém os livros: ‘Fundação’, ‘Fundação e Império’ ‘Segunda Fundação’.


Nós vimos a cobra fumar

Nós vimos a cobra fumar
autor: Italo Diogo Tavares

Descrição do livro: O inverno de 1944/45 no Norte da Itália foi um dos mais rigorosos que se tem notícia. O jovem tenente brasileiro Italo Diogo Tavares, então com 20 anos, passou a maior parte daqueles meses na mais avançada posição dos Aliados na chamada Linha Gótica, na elevação dominada pela Torre di Nerone, sob frio intenso, neve e cerrado bombardeio da artilharia do exército nazista alemão.O único contato com a retaguarda aliada era feito por uma estreita passagem. A retirada de feridos e o envio de mantimentos só podiam ocorrer à noite, já que os inimigos, instalados nos montes Soprassasso e Belvedere, podiam atingi-los facilmente das posições que dominavam. Para se proteger do frio e buscar reduzir o número de baixas pelos disparos de canhões e morteiros, cada integrante do pelotão comandado por Italo ocupava um abrigo individual, na verdade um buraco, ou fox hole, onde permanecia a maior parte do tempo. Para matar a fome, a única opção era a chamada “ração fria”. Já a situação de higiene era péssima, não havendo possibilidade de banho, o que fez com que o local ficasse conhecido como “Terra dos Piolhos”.Foi nesta posição que o tenente Italo escreveu algumas das páginas do seu diário de guerra, como o trecho a seguir:“Já perdi a conta dos dias que estamos na linha de frente. O Inverno veio e foi-se sem que nós saíssemos dos nossos buracos. Para combater o frio, recebemos capas de pele. Pois bem, estas capas não vieram certas. Só recebemos 100, quando a companhia tem 200 homens. Disseram eles que havia falta das mesmas. Quem passasse por Pistoia e por Porreta Terme veria todos aqueles que trabalham nos QG, que têm um belo fogo para se escaldar de dia e de noite, que têm boas camas para dormir, envergando lindas capas de peles brancas. Por aí calculem como devemos estar nós da linha de frente.No Inverno muito sofremos. Porém a sina do homem é sofrer mesmo. A neve aqui subia a uma altura de cerca de um metro. O frio era intenso. A alimentação nem sempre podia ser quente. Aliás, quase sempre era ração fria. O frio a tudo penetrava. Foi uma vitória. Todos podem se considerar heróis, pois deram à pátria, senão a vida, a saúde”.O diário do tenente Italo permaneceu inédito por 60 anos, até que o filho dele, Eduardo, teve acesso ao manuscrito original, divulgou através de um blog e organizou a primeira edição do livro, que em 2014 ganhou uma segunda edição. O texto deste diário está publicado na íntegra neste livro, que ganha aqui a sua primeira versão em e-book. É o relato sincero de um jovem tenente brasileiro sobre a crueldade da guerra, a superação e a revolta com a existência de dois tipos de militares: o “saco A”, que sofria na frente de batalha, e o “saco B”, que acompanhava a guerra em belos mapas pregados na parede. Não faltam também relatos sobre chacinas, erros desastrosos e até contrabando de obras de artes, pois a guerra, isto é certo, faz aflorar o melhor e o pior nos homens.É um retrato sem retoques sobre a história da participação do Brasil na II Guerra Mundial a partir do ponto de vista de um personagem real.


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Vírus, mosquitos e modernidade - a febre amarela no Brasil entre ciência e política


autor: Ilana Löwy

(pág.) Em 1900, Marchoux e seus colegas viram nos negros, que tinham uma "resistência racial" contra a febre amarela, uma fonte importante de risco e os consideraram responsáveis pela disseminação da febre amarela. Essa visão foi partilhada pelos especialistas ingleses, que preconizaram a segregação de brancos e negros como a maneira mais eficaz de proteger os colonos das doenças nativas. Em 1912, Simond apresentou os colonos brancos como o elemento que perturbava o equilíbrio natural entre os habitantes das regiões quentes, os mosquitos e o agente da febre amarela, e que está na origem das epidemias.

...uma equipe sanitária entra numa casa situada num bairro popular, rapidamente coloca uma pessoa doente numa maca e, a toda velocidade, a leva para um hospital de isolamento. Numa segunda seqüência, vê-se um grupo de homens vestidos de branco que chegam a uma mansão, gesticulam para isolar um quarto e o transformam em um suntuoso casulo de tule branco em cujo centro reina acamado o doente. É surpreendente o contraste entre o indivíduo arrancado de seu ambiente familiar e aquele para quem se criam condições apropriadas para que a doença não venha a perturbar seu conforto pessoal. Esse contraste, pouco visível nos documentos de época, pode ter sido uma das fontes da oposição popular às campanhas de Cruz.

(pág. 89)...Primeiro, por parte da categoria médica. A oposição à hipótese de que a transmissão da febre amarela se faz exclusivamente pela mediação das picadas de mosquito Aedes aegypti se cristalizou durante o 5 Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia (Rio de Janeiro, junho de 1903). Os contrários à teoria do mosquito apresentaram dados epidemiológicos que pareciam contradizer a hipótese da exclusividade da transmissão pelo mosquito, e como nos Estados Unidos alguns médicos continuavam a contestar tal hipótese, os brasileiros não deviam, portanto, ser mais realistas do que o rei. A oposição da categoria médica à "hipótese mosquito" foi liderada pelo Dr. Nuno de Andrade, predecessor de Oswaldo Cruz no posto de diretor da DGSP. Em uma série de artigos publicados no Jornal do Commercio e mais tarde reunidos na brochura A Febre Amarela criticou duramente os pesquisadores que "seguem novas doutrinas com um entusiasmo digno dos apóstolos e a intolerância de uma seita" e muitas vezes, como era o caso de Adolpho Lutz - que foi, nos anos 1897-98, colaborador de Sanarelli e defensor de seu Baríllus icteroides - com "o entusiasmo sem limites dos recém-convertidos.

Para os pesquisadores que sustentavam a hipótese do mosquito, os novos desenvolvimentos científicos são sempre a soma dos conhecimentos humanos em determinado período. Se algumas pessoas se recusam a se perfilar de maneira disciplinada atrás das últimas conquistas da ciência, só nos resta ter pena delas, pois estão escolhendo ficar fora de seu tempo.

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(pág. 90) Nuno de Andrade opôs-se a uma visão da ciência que considera que "só os desenvolvimentos mais recentes são dignos de serem levados em consideração, visto que se baseiam nos métodos de investigação que correspondem ao estado presente do desenvolvimento da ciência". Uma atitude desse tipo, explicou, torna caduca qualquer experiência anteriormente acumulada. Ele denunciou também mecanismos institucionais, como as resoluções de congressos internacionais de medicina, que amplificam as idéias em voga e impossibilitam a expressão de opiniões divergentes. Nuno de Andrade defendeu o ponto de vista segundo o qual os mosquitos são responsáveis pela maioria - mas não pela totalidade - dos casos de febre amarela, tais como as condições climáticas.

(pág. 91)...É fácil ver nas idéias de Nuno de Andrade apenas um combate de retaguarda travado por um médico incapaz de se adaptar às novas maneiras de pensar e de agir, e que se aferra tenazmente a suas antigas convicções. É altamente provável que sua resistência à teoria do mosquito e, de modo mais geral, às novas modalidades de prova no estudo das doenças transmissíveis ateste, de fato, sua dificuldade em se adaptar aos novos desenvolvimentos em medicina. Mas o argumento de que a febre amarela pode ser transmitida por outro modo que não a picada de mosquito Aedes aegypti era fundamentalmente absurdo? É verdade que, à luz dos conhecimentos atuais, a doença febre amarela, ou seja, a infecção por um vírus bem definido, é transmitida exclusivamente pelos mosquitos. Mas, em 1903, uma doença etiquetada como "febre amarela" com base unicamente em sinais clínicos e patológicos pôde facilmente ser confundida com outras doenças que induzem a icterícia e a febre. Os conselhos de Nuno de Andrade de não contar unicamente com a destruição dos mosquitos, e não abandonar inteiramente as medidas sanitárias tradicionais, tais como o isolamento das doenças e a destruição das vestimentas e da roupa de cama sujas não eram totalmente desprovidos de bom senso, ao menos quando se tratava de reagir aos casos isolados de "febre amarela" fora de uma epidemia maior. A oposição de Nuno de Andrade e seus colegas à "teoria do mosquito" reuniu-se à oposição popular e à resistência de certos setores profissionais às medidas sanitárias impostas por Oswaldo Cruz. Essa oposição se cristalizou em torno da resistência à vacinação obrigatória contra a varíola e às medidas destinadas a eliminar os mosquitos Aedes aegypti e suas larvas;)

(pag. 91) A vacinação obrigatória encontrou uma resistência particularmente forte, vinda simultaneamente dos meios populares e das classes mais educadas. A igreja positivista (inspirada pelos escritos de Auguste Comte, e influente no Rio no início do século XX ) opunha-se com vigor simultaneament e àquilo que seus porta-vozes chamavam de "a ilusão vacinai", ou seja, a substituição da percepção da saúde com o estilo de vida por uma fé em atos técnicos isolados, à intervenção do Estado na vida privada dos cidadãos e à restrição das liberdades individuais. Paralelamente, o jornal de esquerda Emancipação sustentou a idéia de que os poderes públicos... Paralelamente, o jornal de esquerda Emancipação sustentou a idéia de que os poderes públicos, que afirmavam proteger toda a população, na realidade protegeram apenas os interesses das camadas privilegiadas, e se desinteressaram completamente dos problemas que não ameaçavam os ricos, tais como as más condições de trabalho e a escandalosa insuficiência do salário dos operários: O governo ficou muito interessado na saúde pública, está pronto a gastar dinheiro do contribuinte quando se trata de combater doenças epidêmicas, nocivas aos rendimentos, mas, por outro lado, mostra total indiferença aos nossos sofrimentos. A resistência à vacinação culminou em novembro de 1904 , com a "revolta da vacina" - motins nas ruas do Rio de Janeiro e uma rebelião na academia militar da Praia Vermelha.

(pag. 91) O argumento principal dos oponentes à vacinação, e de modo mais geral às regras de higiene impostas do alto foi que "seu aspecto forçado é um atentado contra a dignidade humana. Persuasão e convicção, sim. Coerção, jamais. Ela é arbitrária e despótica -uma verdadeira ditadura sanitária". Mesmo profissionais da medicina acharam a lei excessivamente arbitrária; a Revista de Medicina Tropical de 22 de março de 1904 publica, assim, um artigo emprotesto contra uma lei draconiana de Oswaldo Cruz, que perturba de maneira inaceitável os hábitos de uma cidade. A revolta é produto de u m a aliança heterogênea entre a igreja positivista, os alunos da Escola Militar da Praia Vermelha.

(pag. 93) Sua intervenção pública foi criticada pelos jornais do Rio de Janeiro, indignados com o apoio à "ditadura sanitária da nova administração". Não havia nenhuma razã o especial, segundo os jornais, para aceitar sem reagir as opiniões de pesquisadores estrangeiros, posto que essas mesmas medidas eram criticadas por alguns pesquisadores brasileiros de renome. Nuno de Andrade explicou que o governo francês não tinha de modo algum pressa em adotar as medidas propostas pela Missão Pasteur nos territórios por ele governados. Advertiu seus colegas contra os perigos da adoção cega das novas doutrinas científicas que, de todo modo, têm vida muito curta, e propôs que se prestasse mais atenção à longa tradição brasileira de estudos epidemiológicos da febre amarela. O presidente Rodrigues Alves não negou...

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(pág. 94) A separação dos estudos de finalidade mais prática nunca foi, é verdade, completa: pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz organizaram expedições sanitárias ao interior do país, publicaram artigos sobre a luta contra doenças transmissíveis, dois deles (Oswaldo Cruz e Carlos Chagas) até mesmo ocuparam o cargo de diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública (cargo mais honorífico do que propriamente dotado de poder de fato, dada a ausência de recursos financeiros do departamento). Entretanto, o renome internacional do Instituto Oswaldo Cruz e o alto nível profissional das pesquisas lá realizadas tiveram poucos efeitos na solução das questões de saúde pública no Brasil. A febre amarela continuou sendo um problema maior.

(pág. 95) (e segundo Hambloch, "a febre amarela estará latente no Brasil enquanto houver negros no país"), não se poderia relaxar a vigilância. Com efeito, nos anos 1900- 1920, o problema da febre amarela no Brasil foi novamente associado ao problema racial, em particular através do problema da integração do interior do país, cujos habitantes eram, em grande parte, negros, índios ou mestiços. (pag.96) Contudo, mesmo após a epidemia de 1849 - 50, a febre amarela não foi considerada um problema maior de saúde pública. A doença poupava as elites locais, nascidas no país, e os escravos "aclimatados". por volta de 1850, uma patologia que atingia seletivamente os recém - chegados ao país era tratada como um mal menor (para alguns, como o meio de livrar o país dos estrangeiros indesejáveis).

(pag. 96) ...Poupando o elemento africano, exterminando os europeus, a febre amarela, negrófila e xenófoba, atacou a própria existência da nação. [...] A imigração veio purificar nossas veias de nossa mistura de raças original, e a febre amarela nos apresentou aos olhos do mundo civilizado como o abatedouro da raça branca).

(pag. 99) Euclides da Cunha começa sua descrição do interior do Brasil com a convicção de que ele é povoado de pessoas "degeneradas". Essa "degeneração", explica ele, tem dupla origem: o clima e a mestiçagem. O clima, malsão para o homem branco, destrói suas forças vitais e provoca mudanças hereditárias irreversíveis: O calor úmido das paragens amazonenses, por ex., deprime e exaure.

A existência, a partir de 1916, de um poderoso movimento sanitarista no Brasil também criou condições especialmente propícias à implantação da Fundação Rockefeller no Brasil. Arthur Neiva, nomeado em dezembro de 1916 diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, é particularmente favorável às atividades promovidas pelos especialistas norte-americanos. A Liga Pró-Saneamento é dirigida por seu militante mais ativo...

(pag.107) Belisário Penna resume as principais idéias do movimento em seu livro Saneamento do Brasil (publicado pela primeira vez em 1918). O livro apresenta o Brasil como um país de analfabetos e inválidos. O povo brasileiro, explica Penna, encontra-se em um estado de latência que o embrutece: Ά bestialização torna-se permanente, agravada a cada dia pela miséria, pela generalização da doença e pelo alcoolismo incontrolável de u m povo ignorante". Penna atribui esse estado da população às conseqüências da abolição da escravatura, conduzida às pressas e em más condições;ao esmorecimento dos esforços, constatado na passagem da Monarquia à estrutura federal da República, para se criar u m Estado centralizado e responsável;

(pag.107) A negligência política nas regiões levou, explica Penna, a uma degradação importante das condições de saúde nos campos e ao desenvolvimento das grandes endemias rurais: a ancilostomíase (que, segundo Penna, atinge 70% da população rural), a malária e a doença de Chagas. Seu colega Acácio Pires explicou que nas regiões rurais da Paraíba "cada pessoa é um verdadeiro jardim zoológico, e a cada região de seu corpo corresponde uma fauna diferente". Os poderes públicos têm uma tendência a agir contra as doenças agudas, tais como a varíola, a peste ou a febre amarela, mas negligenciam as doenças crônicas, que matam as pessoas lentamente e causam dano a populações inteiras....ele calculou que a produtividade dos trabalhadores brasileiros era de apenas um terço de seu potencial. Além disso, um país empobrecido, doente e improdutivo não pode atrair uma imigração de qualidade, enquanto que os imigrados passam, após sua chegada, por um processo de "brasilianização", que se exprime pela infecção por parasitas locais. Se alguns políticos brasileiros, influenciados pelas teorias raciais, propuseram remediar os males do Brasil com uma imigração européia que traria "sangue de boa qualidade" (o "branqueamento" do Brasil), Penna, que percebe o problema não como ligado à raça ou à degeneração, mas como a onipresença das doenças transmissíveis, sustenta que na falta de uma ação sanitária vigorosa, o imigrado irá, literalmente, pegar o "mal brasileiro".

(pag.107)...Outros intelectuais aprovaram a mensagem de Penna, cuja expressão mais marcante se encontra, provavelmente, nos textos do escrito Monteiro Lobato.

(pag.123)...A Saúde como Chave do Progresso: os primórdios da Fundação Rockefeller A Fundação Rockefeller é uma instituição beneficente, criada em 1913 por John D. Rockefeller, com uma doação de 50 milhões de dólares em ações da Standard Oil, companhia petrolífera que fez a fortuna da família Rockefeller. O objetivo da fundação era promover a civilização e ampliar o bem-estar dos povos dos Estados Unidos da América, de seus territórios e suas possessões, assim como daqueles dos países estrangeiros, por meio da aquisição e disseminação do saber, da prevenção e do alívio do sofrimento, e a promoção de todos os elementos do progresso humano. Segundo os diretores [trustees] da época, o meio mais eficaz de atingir esses objetivos consistia em melhorar a saúde pública no mundo graças à pesquisa médica e à educação em saúde.)

(pag.127)...A primeira campanha contra a ancilostomíase na América Latina teve o Brasil como palco. A escolha foi influenciada pela impressão favorável produzida pela campanha sanitária de Oswaldo Cruz no Rio entre os especialistas americanos, e as ótimas relações existentes entre os governos brasileiro e americano (o que contrastava, por exemplo, com as tensões entre o governo mexicano, suspeito de radicalismo político, e os Estados Unidos). Além disso, os especialistas da Fundação Rockefeller consideravam as elites brasileiras suficientemente ocidentalizadas para apreciar o valor das inovações vindas dos Estados Unidos.

(pag. 128) Esse memorando esboça pela primeira vez os contornos da "teoria do foco-chave" (key focus theory), elaborada principalmente por Carter. Essa teoria afirmava que o agente da febre amarela se mantém entre duas epidemias e num número limitado de sítios endêmicos (focos-chave), em geral as cidades em que o número de indivíduos não - imunes é suficiente para assegurar a transmissão do agente da febre amarela de um indivíduo a outro pelos mosquitos: Os centros endêmicos são os disseminadores sem os quais uma epidemia não é absolutamente possível...

(pag. 139)...o objetivo prioritário não era desenvolver a pesquisa nessa área, mas antes transferir o saber e as habilidades específicas norte-americanos (em particular, os métodos e as técnicas elaborados n a Escola de Saúde Pública e de Higiene da Universidade Johns Hopkins) para esses países, a fim de elaborar soluções eficazes para seus problemas. A Fundação Rockefeller financiou, paralelamente, o envio de bolsistas latino-americanos à Universidade Johns Hopkins, a fim de convertê-los à "ciência da saúde pública" norte-americana e transformá-los em representantes deste saber em seu país de origem. O Brasil, particularmente, beneficiou-se de um elevado número dessas bolsas.

(pag. 143) Essa solução desenvolveu-se num lugar específico - o laboratório: "Hoje respiramos melhor. O laboratório nos forneceu razões para que seja assim". A nova imagem do Jeca Tatu - desenvolvida em um livro destinado às crianças e publicado em 1918 - mostra as conseqüências de uma solução prática desse tipo. Libertado dos parasitos e, portanto, do estado de torpor, Jeca Tatu rapidamente se transforma em camponês próspero que abandona a idéia de trabalhar para sobreviver e desposa a idéia de produzir excedente para o mercado. Ele se lança em uma competição com seu vizinho, imigrante italiano, e rapidamente o ultrapassa. Jeca Tatu moderniza sua casa, sua fazenda, e nela introduz as novas técnicas agrícolas. Eletrifica sua propriedade, instala telefones para se comunicar com as roças, compra um carro (um Ford) e providencia um telescópio para poder observar os trabalhadores agrícolas que trabalham em seus campos. Se o microscópio pôde lançar luzes sobre as misérias do país e depois abrir uma via para sua solução, o telescópio permitirá a vigilância eficaz dos trabalhadores. Para Lobato, o modelo apropriado para o sertanejo era o farmer da América do Norte; não é de espantar, então, que ao longo de sua transformação em sertanejo exemplar, seu herói tenha aprendido inglês. Ao mesmo tempo, Jeca Tatu não se contentou em enriquecer, ele transformou-se em educador sanitário infatigável, cuja divisa passa a ser "curar as pessoas, eliminar os parasitas que devoram os brasileiros". Ele morre aos 89 anos, com a satisfação de ter cumprido seu dever.

(pag. 145)...o óleo chenopódio, por exemplo, empregado na cura da ancilostomíase (o diretor do programa da Fundação Rockefeller no Brasil, o Dr. Lewis Hackett, reconheceu que, de fato, 14 pessoas haviam morrido no Brasil em consequência desse tratamento). Alves acrescenta que os especialistas da Fundação Rockefeller faltam com o respeito ao país que os acolhe. Dois médicos brasileiros que assistiram a uma conferência na Universidade de Harvard, intitulada "As aventuras de um expert sanitáio no Brasil", relataram que o Brasil havia sido apresentado como um país atrasado, povoado de selvagens, e que precisava dos americanos para importar os conhecimentos médicos de base - e não como a pátria de grandes médicos como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas.

(pag. 147)...U m a vez formado de maneira conveniente aos métodos de laboratório em microbiologia, parasitologia e bioquímica, o aluno aprendia co m o efetuar controles sanitários nos espaços públicos, nas instalações, nos serviços de distribuição de água, na rede de esgotos, nos mercados, nas lojas, nas escolas e outros. O decreto de 1 de abril de 1931 detalha as matérias ensinadas no Instituto de Higiene no quadro da formação dos médicos higienistas: estatísticas vitais, epidemiologia e engenharia sanitária, fisiologia aplicada à higiene, higiene industrial e profissional, higiene pessoal, higiene da infância, nutrição e dietética, administração sanitária, legislação sanitária nacional, hereditariedade e eugenia, os problemas sociais, enfim, ligados à higiene.

(pag. 150)...Sebastião Barroso, responsável pelos serviços do DNSP em Salvador, Bahia, demite-se em 1923, explicando ter descoberto que a assim chamada colaboração com os especialistas da Fundação Rockefeller limitava-se, na prática, ao firme convite a deixar todas as responsabilidades nas mãos dos especialistas norte-americanos e a aceitar sem reservas seus métodos de eliminação das larvas dos mosquitos.

(pag. 153)...Nos anos de 1920, o método de eliminação favorito dos especialistas da Fundação Rockefeller foi a introdução de peixes que se alimentavam das larvas que fervilhavam nas grandes caixas d'água. Os peixes coletados nos rios e lagos dos arredores foram distribuídos pelos inspetores do Serviço da Febre Amarela. Os habitantes muitas vezes viram essa medida como um incômodo, queixando-se porque dejeções e, ocasionalmente, cadáveres de peixes contaminavam a água potável. Segundo eles, a água tinha, muitas vezes, mau cheiro, e também apresentava riscos à saúde pois os peixes provinham, freqüentemente, de rios poluídos por esgotos.

(pag. 154)...O código sanitário autorizou as sanções punitivas, tais como a aplicação de petróleo nos recipientes de água em que fossem encontradas larvas, ou a imposição de multas aos proprietários das casas que não conseguissem eliminar os focos de mosquitos em seu quintal.

(pag. 157)...Entretanto, alguns médicos brasileiros, como Sebastião Barroso, ex-diretor do Serviço de Saúde Pública da Bahia, continuou a contestar o saber dos especialistas norte-americanos. Barroso recusou as afirmativas segundo as quais a febre amarela já havia sido erradicada ou estava a ponto de ser erradicada no Brasil, e sustentou que a doença estava intensamente presente no interior do país. Em um artigo publicado em agosto de 1926, ele assinalava o surgimento de vários casos de febre amarela no norte do Brasil, fato que podia, segundo ele, invalidar as promessas dos especialistas da Fundação Rockefeller de erradicá-la muito rapidamente. Os especialistas norte-americanos foram cobertos de elogios, apesar de terem falhado no cumprimento de sua promessa, ao passo que seus detratores são ridicularizados e chamados de imbecis - aí está, explica Barroso, "um verdadeiro prodígio de habilidade, de savoir-faire e de eficiência". Barroso também exortou o governo a pensar bem antes de dar a poderosos estrangeiros permissão para "intervir diretamente nos aspectos mais íntimos da vida nacional: o poder de dar ordens, de ameaçar, de introduzir mudanças, de definir normas de vida doméstica, de penetrar nos espaços mais secretos dos lares".

(pág. 158)...Schmidt criticou a falta de interesse testemunhada pela Fundação Rockefeller pelas pequenas localidades do interior, afirmando: "é desumano deixar os mosquitos propagarem a febre amarela nesses lugares, quando é certo que sua eliminação interromperá a doença, ou pelo menos limitará sua extensão". Em 1928, Barroso, comentando as expedições dos especialistas da Fundação Rockefeller na Africa, explicou que a fundação representava o ponto de vista dos poderes coloniais: Os trabalhos visam unicamente aos europeus e não se interessam pelos habitantes da região, permitindo, assim, que o germe da febre amarela se mantenha indefinidamente, visto que uma profilática incompleta é ineficaz do ponto de vista da eliminação definitiva do flagelo. Entretanto, o combate à febre amarela é empreendido até agora unicamente nos lugares que são importantes para os dominadores, abandonando-se os outros lugares à própria sorte.

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