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Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex

Holocausto Brasileiro
autor: Daniela Arbex

Descrição: Neste livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade. Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.


A Conspiração

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autor: Dan Brown

Descrição: O Presidente Zachary Herney está a lutar por uma duríssima reeleição. O seu opositor, o Senador Sedgwick Sexton, é um homem com amigos poderosos e uma missão: privatizar a NASA e reduzir as suas despesas. O Senador tem numerosos apoiantes que beneficiarão com a mudança, especialmente depois do embaraçoso episódio de 1996, em que o governo de Clinton foi informado pela NASA de que havia provas de existência de vida noutros planetas. Lutando para sobreviver a uma série de erros que ameaçam a sua imagem política, a NASA faz uma descoberta atordoadora: um estranho meteorito enterrado no Árctico. O Presidente é informado de que o objecto encontrado vai ter implicações determinantes no programa espacial americano. Contudo, dada a reputação vacilante da agência espacial norte-americana, será a descoberta válida ou não? Rachel Saxton, uma investigadora dos Serviços Secretos da Casa Branca, é destacada para confirmar a autenticidade do achado. Rachel tem como missão resumir relatórios complexos em notas de uma página. Neste caso o Presidente precisa dos seus dados antes da última declaração que fará ao povo americano e que será decisiva na sua reeleição. Acompanhada por uma equipa de especialistas, incluindo o carismático oceonógrafo Michael Tolland, Rachel descobre o impensável: provas de um embuste científico, de uma cilada que ameaça mergulhar o mundo em controvérsia. Mas antes de conseguir contactar o Presidente, Rachel e Michael são vítimas de uma perseguição sem tréguas ao longo do Árctico, refugiam-se num submarino nuclear e acabam por ser aprisionados num pequeno barco na costa de New Jersey, enquanto a capital norte-americana ferve de expectativas relativamente a mais uma fraude científica e os ânimos se exaltam nas antecâmaras do poder no interior da ala esquerda. Aclamado pela mestria e genialidade com que relaciona História, Ciência e Política, Dan Brown destaca-se num novo romance em que nada é o que parece e ao virar de cada página nos espera uma fabulosa surpresa.

(pág. 19)...Em total segredo, o NRO havia construído e mantinha um arsenal impressionante de tecnologias de ponta para espionagem: interceptores electrônicos de alcance global; satélites-espiões; chips de retransmissão não-detectáveis embutidos em produtos de telecomunicações; e até mesmo uma rede de reconhecimento naval conhecida como Classic Wizard, uma teia secreta de 1.456 hidrofones colocados no fundo do mar em diversos pontos do planeta para monitorar o movimento de navios em qualquer lugar da Terra. As tecnologias do NRO não apenas ajudavam os Estados Unidos a vencer conflitos militares, mas também forneciam, em tempos de paz, uma infinita quantidade de dados para agências como a CIA, a NSA e o Departamento de Defesa, ajudando-as a combater terroristas e a detectar crimes contra o meio ambiente, além de fornecer aos legisladores informações para que pudessem embasar suas decisões em uma grande quantidade de tópicos. Rachel trabalhava lá como "depuradora".

(pág.26)...A ilha Wallops era uma das mais antigas bases de lançamento da NASA e continuava sendo usada para lançar satélites e testar aeronaves experimentais. Wallops era a instalação da NASA que ficava longe dos olhares indiscretos das câmaras.

(pág.39)...NASA- Os erros cometidos recentemente pela agência eram tão inaceitáveis que as pessoas não sabiam se deviam rir ou chorar: satélites se desintegravam em órbita, sondas espaciais sumiam sem nunca mandar mensagens de volta, o orçamento da E stação E spacial I nternacional já havia sido multiplicado por 10 enquanto os demais países participantes abandonavam o projecto como ratos tentando escapar de um navio prestes a afundar. B ilhões estavam sendo perdidos, e o senador Sexton usava isso para chegar aonde queria: Pennsylvania Avenue, 1.600 - a Casa Branca.

(pág. 56)...Nos últimos cinco anos, tinha-se envolvido no resgate de reféns no Oriente Médio, no rastreamento e aniquilação de células terroristas dentro dos Estados Unidos e até mesmo na eliminação discreta de homens e mulheres considerados perigosos em diversos locais do planeta. Há apenas um mês sua equipe Delta havia usado um microrobô voador para induzir um ataque cardíaco fatal em um chefão de drogas particularmente perverso na América do Sul. Equipado com uma agulha de titânio tão fina quanto um fio de cabelo e contendo um poderoso vasoconstritor, o robô foi guiado para o interior da casa do alvo através de uma janela aberta no segundo andar, entrou no seu quarto e picou-o no ombro enquanto dormia. Quando o traficante acordou com dores no peito, o microrobô já havia saído sem deixar vestígios. No momento em que a mulher do bandido chamava a ambulância, a equipe Delta encarregada da missão voava de volta para sua base. Nada de arrombamento e invasão de domicílio. Apenas morte por causas naturais. Uma acção elegante.

(pág.156)...Já soube de pedidos de companhias que pretendem construir outdoors em néon para piscar anúncios no céu à noite. Também soube de pedidos para hotéis no espaço e atracções turísticas cujos planos de implementação envolvem ejectar o lixo gerado no vazio do espaço, criando depósitos de lixo em órbita. Na verdade, ontem mesmo eu li uma proposta de uma companhia que deseja transformar uma parte do espaço em um mausoléu, lançando os cadáveres em órbita. Você pode imaginar o que aconteceria com nossos satélites de comunicações, que iriam passar a colidir com caixões espaciais? Semana passada, um bilionário, presidente de uma grande corporação, esteve em meu escritório pedindo permissão para lançar uma missão a um asteróide próximo, a fim de traze-lo para mais perto da Terra e minera-lo, buscando metais preciosos. Eu tive que lembrar a esse cidadão que alterar a órbita de asteróides pode causar uma catástrofe planetária sem precedentes! Senhorita Ashe, pode ter certeza de que, se esse projeto for aprovado, a multidão de empreendedores nessa corrida ao espaço não será composta por cientistas. Serão investidores com vastos recursos e pouca inteligência.

(pág.163)...De acordo com a S FF, sempre que a AT &T precisava que um novo satélite de telecomunicações fosse lançado, recebia ofertas de diversas empresas do sector privado para executar o serviço pela quantia razoável de 50 milhões de dólares. Mas, antes que o negócio fosse fechado, a NASA sempre aparecia e oferecia-se para lançar o satélite por míseros 25 milhões, ainda que a operação custasse cinco vezes mais do que isso. Os advogados da SFF acusavam a agência de operar no vermelho como uma das formas de manter-se no controle do espaço. A conta restante era paga pelos impostos dos contribuintes.

(pág. 181)...Aqueles projécteis de gelo haviam sido sem dúvida alguma manufaturados. Balas de gelo...Como tinha acesso a documentos militares, Rachel estava a par dos novos armamentos que utilizavam munições improvisadas, conhecidas pela sigla I M . I am desde espingardas que compactavam a neve em balas de gelo até espingardas para o deserto capazes de transformar a areia em projécteis de vidro, sem falar nas armas com jactos d'água capazes de atirar pulsos de líquido com tanta força que podiam quebrar ossos. As armas I M tinham uma grande vantagem sobre as tradicionais, pois dispunham de recursos em abundância e literalmente fabricavam seus próprios projécteis no campo de batalha, fornecendo aos soldados uma quantidade infinita de munição sem que eles tivessem que transportar muito peso. Rachel sabia que aquelas bolas de gelo atiradas contra eles estavam sendo comprimidas na hora, usando neve colocada na coronha da espingarda. Como ocorria frequentemente no mundo da inteligência, quanto mais alguém sabia sobre um assunto, mais terrível o cenário ficava. Aquele caso não era uma excepção. Rachel teria preferido um estado de ignorância tranquilo, mas seus conhecimentos de armamentos I M apontavam para um facto estarrecedor: eles estavam sendo atacados por uma dasforças de Operações E speciais dos E stados Unidos, as únicas no país que tinham permissão, naquele momento, para usar aquelas armas experimentais em campo. A presença de uma força militar secreta trazia consigo uma segunda conclusão ainda pior: a probabilidade de sobreviver àquele ataque era quase nula.

(pág. 207)...Há 12 anos você fez uma oferta ao governo - prosseguiu S exton. - Propôs a construção de uma estação espacial americana por apenas cinco bilhões de dólares. - É isso aí. Ainda tenho todos os planos.- P orém, a NASA convenceu o governo de que uma estação espacial americana deveria ser um projecto da NASA. -Exactamente. E a NASA começou a construção há cerca de 10 anos. - Uma década. E, não bastasse o facto de que a estação espacial ainda não está funcionando plenamente, o projecto já custou até agora 20 vezes o valor que você havia proposto. Como cidadão e contribuinte, isso me revolta. Um rumor de aprovação circulou pela sala. O candidato percorreu novamente o grupo com os olhos. -Estou perfeitamente ciente -disse, dirigindo-se agora a todos – de que várias de suas empresas se ofereceram para lançar ônibus espaciais privados por apenas 50 milhões de dólares por vôo. Mais sinais de concordância. -Ainda assim, a NASA promove um dumping no mercado cobrando apenas 38 milhões por voo, mesmo que seu custo real seja superior a 150 milhões de dólares!- O sector privado não tem condições de competir com uma organização que pode se dar ao luxo de lançar vôos com 300% de prejuízo sem quebrar. - É totalmente injusto. Todos assentiram.

(pág. 210)...O boom de filmes sobre a NASA era uma simples questão econômica, como Sexton bem sabia. D epois do grande sucesso de T op G un: Ases I ndomáveis, um dos primeiros filmes de Tom Cruise, que mais parecia uma propaganda de duas horas da Marinha norte-americana, a NASA compreendeu o enorme potencial de Hollywood como centro de divulgação e relações públicas. Discretamente, a agência espacial começou a oferecer aos estúdios de cinema acesso gratuito para filmagens em todas as suas impressionantes locações: torres de lançamento, controle de missões, locais de treino de pilotos, etc. Acostumados a pagar caro para obter esse tipo de autorização, os produtores aproveitaram a oportunidade de economizar milhões em seus orçamentos fazendo filmes de acção que se passam nos cenários "gratuitos" da NASA. Claro que Hollywood só tinha acesso aos locais depois que a NASA aprovasse o roteiro. -Fazem lavagem cerebral em larga escala - reclamou outro executivo. - A pior parte não são os filmes, mas as jogadas publicitárias. Qual o objectivo de enviar um idoso ao espaço? E agora a NASA está pensando em montar uma equipe só de mulheres para o próximo vôo do ônibus espacial. Tudo isso de olho na publicidade!

(pág. 261)...o famoso "caso Roswell", em 1947. Foi quando uma nave supostamente alienígena teria se chocado contra o solo em Roswell, Novo México, que, a partir daquele momento, se tornara um santuário para milhões de amantes de teorias da conspiração e óvnis.Nos anos em que trabalhou para o Pentágono, acabou sabendo que aquele caso não passara de um acidente militar durante uma operação secreta chamada Projecto Mogul, envolvendo um balão-espião que estava sendo projectado para captar os sons dos testes atômicos dos russos. Durante um dos vôos experimentais, um protótipo havia saído de seu curso e caído no deserto do Novo M éxico. Infelizmente um civil encontrou os destroços antes que os militares conseguissem chegar ao local. O fazendeiro W illiam B razel havia se deparado com os pedaços espalhados de um neoprene sintético radicalmente novo e de metais leves que nunca tinha visto, então chamou imediatamente o xerife. Os jornais divulgaram a descoberta dos estranhos destroços, e o interesse do público cresceu rapidamente. Alimentados pela negativa oficial dos militares de que o material fosse deles, os repórteres começaram a investigar, e o segredo em torno do Projeto Mogul ficou seriamente ameaçado. Entretanto, quando parecia que a delicada questão da existência de um balão-espião estava prestes a ser revelada, algo fantástico aconteceu. A mídia chegou a uma conclusão inesperada: aquelas substâncias futurísticas só podiam ter vindo de outro planeta, fabricadas por criaturas cientificamente mais avançadas do que os humanos. O facto de os militares negarem qualquer envolvimento com o incidente só podia significar uma coisa: um contacto secreto com os alienígenas! Apesar de ter ficado bastante surpresa com essa nova hipótese, a Força Aérea não iria reclamar de uma história tão oportuna. Os militares tomaram partido da teoria dos extraterrestres e fizeram com que crescesse. Uma suspeita mundial de que E T’s estavam visitando o Novo México era um risco para a segurança nacional muito inferior à possibilidade de os russos saberem algo a respeito do Projecto Mogul. Para alimentar a história dos alienígenas, a comunidade de inteligência envolveu todo o incidente em completo segredo e começou a planejar "vazamentos de informações" sobre contactos com extraterrestres, espaçonaves recuperadas e até mesmo um misterioso "Hangar 18" na base da Força Aérea de Wright-Paerson, em Daytona, onde o governo estaria mantendo os corpos dos ET’s congelados. O mundo inteiro comprou essa versão, e o interesse por Roswell percorreu o planeta. A partir daquele momento, toda vez que um civil acidentalmente avistava uma aeronave militar americana, a comunidade de inteligência precisava apenas tirar o pó da velha teoria da conspiração. Não era uma aeronave, era um disco voador!

(pág. 321)...O Kiowa era a aeronave perfeita para aquele trabalho. Sua turbina Rolls-Royce Allison e a dupla hélice de quatro pás semi-rígidas podiam operar no modo "silencioso", o que impedia os alvos no solo de ouvirem o helicóptero até que estivesse bem em cima deles. Como era capaz de voar no escuro, sem luz alguma, e geralmente era pintado de preto fosco, sem designações em cores vibrantes na cauda, na práctica era invisível à noite, a menos que o alvo tivesse um radar. Helicópteros pretos e silenciosos. As pessoas que gostavam de "teorias de conspiração" ficavam loucas com aquilo. Alguns diziam que a invasão de helicópteros pretos e silenciosos era uma prova de "tropas de choque da Nova Ordem Mundial", comandadas pelas Nações Unidas. Outros diziam que os helicópteros eram sondas silenciosas dos alienígenas. Os que já haviam visto Kiowas voando em formação cerrada à noite tinham a ilusão de estar vendo luzes piscando em uma aeronave muito maior - um único disco voador que dava a impressão de se locomover verticalmente. Estava tudo errado. Mas os militares adoravam o sigilo que isso lhes proporcionava. Em uma recente missão clandestina, Delta-Um pilotara um Kiowa equipado com uma tecnologia militar americana extremamente secreta: uma engenhosa arma holográfica cujo codinome era S&M . Apesar das associações óbvias com sadomasoquismo, S&M significava smoke and mirrors, fumaça e espelhos -tecnologia que permitia "projectar" imagens holográficas no céu sobre território inimigo. O Kiowa já tinha usado a S&M para projectar hologramas de aeronaves americanas sobre uma instalação anti-aérea inimiga. Em pânico, os soldados atiraram violentamente em cima dos fantasmas voadores que circulavam a base. Quando a munição finalmente acabou, os Estados Unidos lançaram o ataque real.

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Inferno – Uma Nova Aventura de Robert Langdon (2013) – Dan Brown

Inferno – Uma Nova Aventura de Robert Langdon
autor: Dan Brown

Descrição: Neste novo e fascinante thriller Dan Brown retoma a mistura magistral de história, arte, códigos e símbolos que o consagrou em O código Da Vinci, Anjos e demônios e O símbolo perdido e faz de Inferno sua aposta mais alta até o momento. No coração da Itália, Robert Langdon, o professor de Simbologia de Harvard, é arrastado para um mundo angustiante centrado em uma das obras literárias mais duradouras e misteriosas da história: O Inferno, de Dante Alighieri. Numa corrida contra o tempo, Langdon luta contra um adversário assustador e enfrenta um enigma engenhoso que o arrasta para uma clássica paisagem de arte, passagens secretas e ciência futurística. Tendo como pano de fundo o sombrio poema de Dante, Langdon mergulha numa caçada frenética para encontrar respostas decidir em quem confiar, antes que o mundo que conhecemos seja destruído.

(pág. 58)...O Inferno de Dante, pensou Langdon. Inspirando obras de arte sinistras desde 1330. O curso que Langdon dava sobre Dante sempre incluía um módulo inteiro acerca das célebres obras inspiradas pelo Inferno. Além do ilustre Mapa de Botticelli, havia a escultura atemporal de Rodin As três sombras, que é parte da obra A porta do Inferno; a ilustração de Stradanus que mostra Flégias remando em meio aos corpos submersos no rio Estige; os pecadores libidinosos de William Blake rodopiando em uma tempestade eterna; a visão estranhamente erótica criada por Bouguereau de Dante e Virgílio observando dois homens nus atracados em combate; as almas torturadas de Bayros encolhidas sob uma torrencial chuva de pedras escaldantes e gotículas de fogo; a excêntrica série de aquarelas e xilogravuras de Salvador Dalí; e a imensa coleção de gravuras em preto e branco de Doré, que retratava desde o túnel de entrada para o Hades até o Satã alado em pessoa.

(pág. 58)...De repente, um pensamento nítido surgiu na mente de Langdon. Eu acordei em Florença... Nenhuma outra cidade no mundo estava ligada a Dante Alighieri de forma tão íntima. Ali o poeta havia nascido, crescido e, segundo rezava a lenda, se apaixonado por Beatriz; e dali fora cruelmente exilado, fadado a vagar pelo interior da Itália por anos a fio enquanto sua alma ansiava por voltar ao lar. Deverás renunciar àquilo que mais amas, escrevera Dante sobre seu desterro. Eis a flecha primeira que lançará o arco do exílio. Ao recordar esses versos do Canto XVII do Paraíso, ...

(pág. )...Langdon repassou mentalmente as imagens do Inferno, os mortos e moribundos, as dez valas do Malebolge com o médico usando a máscara da peste e aquela palavra estranha: CATROVACER . Refletiu sobre as palavras escritas na parte de baixo do Mappa – A verdade só pode ser vislumbrada através dos olhos da morte – e se perguntou se o aforismo macabro seria uma citação de Dante. Não que eu me lembre. Langdon era bem versado na obra dantesca e sua fama como historiador da arte especializado em iconografia fazia com que fosse frequentemente chamado para interpretar a enorme variedade de símbolos que compunha a paisagem concebida pelo autor. Por coincidência, ou talvez nem tanto, ele dera uma palestra sobre o Inferno de Dante uns dois anos antes. “Divino Dante: Símbolos do Inferno.” Dante Alighieri havia se transformado em um dos verdadeiros objetos de culto da história, o que fizera surgir no mundo todo sociedades dedicadas à sua memória. Seu mais antigo ramo americano fora fundado em 1881, em Cambridge, Massachusetts, por Henry Wadsworth Longfellow. O famoso poeta da Nova Inglaterra, integrante do grupo conhecido como Fireside Poets – formado por poetas que, de tão populares, eram lidos pelas famílias em frente à lareira –, fora também o primeiro americano a traduzir A Divina Comédia. Sua consagrada tradução para o inglês continua sendo uma das mais lidas até hoje.

(pág.70)...achei que seria interessante começar com um breve resumo sobre Dante: sua vida, sua obra e por que ele é considerado uma das figuras mais influentes da história.Mais aplausos. Usando o pequeno controle remoto em sua mão, Langdon fez surgir uma série de imagens de Dante. A primeira delas foi o retrato de corpo inteiro pintado por Andrea del Castagno, que mostrava o poeta parado diante de um portal segurando um livro de filosofia. – Dante Alighieri, escritor e filósofo florentino, viveu entre os anos 1265 e 1321. Neste retrato, como em quase todos os demais, está usando na cabeça um cappuccio vermelho, um gorro justo, trançado, com abas nas orelhas, junto com a túnica vermelha Lucca. Essa é a imagem mais amplamente divulgada de Dante. Langdon avançou os slides até o retrato pintado por Botticelli e exposto na Galleria degli Uffizi que frisava os traços mais salientes do poeta: seu queixo destacado e o nariz adunco.

(pág.70)...Como vocês já sabem, Dante é mais conhecido por sua monumental obra-prima literária, A Divina Comédia, um relato vívido e brutal de sua descida ao Inferno, de sua jornada pelo Purgatório e, por fim, de sua ascensão ao Paraíso para entrar em comunhão com Deus. Pelos padrões modernos, A Divina Comédia não tem nada de cômico. É chamada de comédia por um motivo bem diferente. No século XIV, a literatura italiana era obrigatoriamente dividida em duas categorias. A primeira, a tragédia, representava a alta literatura e era escrita em italiano formal. A outra, a comédia, representava a baixa literatura, era escrita em vernáculo e destinada a ser lida pela população em geral. Langdon avançou os slides até a famosa pintura de Michelino, que mostrava Dante em pé diante dos portões de Florença segurando um exemplar do seu poema épico.

(pág. 72...Langdon trocou os slides na tela. – O que vocês achariam disso na capa do seu livro? O maior dos homens que já pisou nesta Terra. – Michelangelo Um burburinho de surpresa correu pela plateia. – Sim – falou Langdon –, é o mesmo Michelangelo que todos vocês conhecem por conta da Capela Sistina e do Davi. Além de ser um mestre da pintura e da escultura, Michelangelo era um exímio poeta e publicou quase trezentos poemas, entre eles um intitulado “Dante”, dedicado ao homem cujas visões desoladoras inspiraram o seu Juízo final. Se não acreditam em mim, basta que leiam o Canto III do Inferno de Dante e depois visitem a Capela Sistina; logo acima do altar, verão esta imagem familiar. Langdon avançou os slides até o detalhe assustador de uma montanha de músculos que brandia um remo gigante contra um grupo de pessoas encolhidas. – Este é Caronte, o barqueiro infernal de Dante, espancando com um remo um grupo de passageiros que havia se dispersado. Langdon passou para o slide seguinte, outro detalhe do Juízo final de Michelangelo, que mostrava um homem sendo crucificado. – E este é Hamã, o agagita, que, segundo as Escrituras, foi condenado à forca. No poema de Dante, porém, ele é crucificado. Como podem ver neste detalhe da Capela Sistina, Michelangelo preferiu a versão dantesca à bíblica. – Langdon sorriu e baixou a voz até um sussurro: – Não contem ao papa. A plateia riu.– O Inferno de Dante criou um mundo de dor e sofrimento nunca antes imaginado pelo homem e definiu nossas visões modernas do Inferno. – Ele fez uma pausa. – Podem acreditar: a Igreja Católica tem muito a agradecer a Dante. Seu Inferno aterrorizou fiéis por séculos a fio e triplicou o número de frequentadores da Igreja. Langdon trocou o slide. – O que nos leva ao motivo que nos trouxe aqui esta noite. Então o título de sua palestra apareceu na tela: DIVINO DANTE: SÍMBOLOS DO INFERNO . – O Inferno de Dante é tão rico de simbolismos e iconografia...

(pág. )...Antes de encontrarmos Satanás – dissera ele na palestra, a voz grave ressoando nos alto-faltantes –, devemos passar pelas dez valas do Malebolge, nas quais são punidos os fraudulentos, aqueles culpados de más ações deliberadas. Langdon avançou os slides até um detalhe do Malebolge e então foi descendo as valas uma a uma, guiando a plateia. – De cima para baixo, temos: os sedutores açoitados por demônios; os aduladores à deriva num mar de excrementos; os clérigos oportunistas enterrados de cabeça para baixo até a cintura, com as pernas para o ar; os feiticeiros com as cabeças torcidas para trás; os políticos corruptos atolados em piche fervente; os hipócritas usando pesados mantos de chumbo; os ladrões picados por cobras; os conselheiros traidores consumidos pelo fogo; os semeadores de discórdia destroçados por demônios; e, por fim, os mentirosos, irreconhecíveis de tão deformados pela doença. – Ele se virou para a plateia. – Dante provavelmente reservou essa última vala para os mentirosos porque foi uma série de mentiras a seu respeito que fez com que ele fosse exilado de sua amada Florença.

(pág. )...O caminho que conduzia ao Istituto Statale d’Arte era de uma beleza arrebatadora, quase suntuosa. De ambos os lados, enormes carvalhos se curvavam suavemente no alto, criando um dossel que enquadrava o edifício ao longe – uma estrutura imensa em amarelo desbotado, dotada de um pórtico triplo e de um amplo gramado oval. Langdon sabia que aquele prédio, como muitos outros na cidade, havia sido encomendado pela mesma ilustre família que dominara a política florentina durante os séculos XV, XVI e XVII. Os Médici. O simples sobrenome havia se tornado um símbolo de Florença. Durante seu reinado de três séculos, a casa real dos Médici acumulara fortuna e influência imensuráveis, produzindo quatro papas, duas rainhas da França e a maior instituição financeira de toda a Europa. Ainda hoje os bancos modernos usam um método de contabilidade criado pelos Médici: o sistema de dupla entrada para acompanhar créditos e débitos. O maior legado da família, porém, não foi financeiro nem político, mas artístico. Talvez os mais generosos patronos que o mundo das artes já conheceu, os Médici foram responsáveis por um fluxo constante de encomendas que sustentou a Renascença. A lista de artistas patrocinados por eles inclui Da Vinci, Galileu e Botticelli – e o mais célebre quadro deste último, O nascimento de Vênus, foi pintado sob encomenda de Lourenço de Médici, que solicitou uma imagem sexualmente provocante para ser pendurada acima do leito matrimonial de um primo como presente de casamento.

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(pág. 83)...Dentro da van, a mulher de cabelos prateados encostou a cabeça na janela blindada e fechou os olhos. Tinha a sensação de que o mundo girava à sua volta. Os remédios que eles haviam lhe administrado embrulhavam seu estômago. Preciso de um médico, pensou. De todo modo, o guarda armado ao seu lado tinha ordens claras: as necessidades da mulher deveriam ser ignoradas até que a tarefa deles fosse concluída com sucesso. A julgar pelo caos barulhento à sua volta, isso não aconteceria tão cedo. A tontura agora estava aumentando e ela sentia dificuldade para respirar. Enquanto lutava contra uma nova onda de enjoo, pensou como a vida tinha sido capaz de conduzi-la até uma encruzilhada tão surreal. A resposta era complexa demais para ser decifrada naquele estado delirante, mas ela sabia muito bem onde tudo havia começado. Em Nova York. Dois anos antes. Ela havia embarcado para Nova York de Genebra, onde era diretora da Organização Mundial da Saúde – cargo cobiçado e prestigioso que ocupava havia quase uma década. Especialista em doenças contagiosas e epidemiologia, fora convidada pela ONU para dar uma palestra sobre o risco de pandemias em países do Terceiro Mundo. A palestra tinha sido otimista e tranquilizadora, destacando vários novos sistemas de detecção prematura e planos de tratamento desenvolvidos pela OMS e por outras agências. Ao fim, fora aplaudida de pé. Após a palestra, estava no corredor conversando com alguns acadêmicos quando um funcionário do alto escalão da ONU se aproximou e interrompeu o diálogo: – Dra. Sinskey, acabamos de ser contatados pelo Conselho de Relações Exteriores. Um membro do conselho gostaria de conversar com a senhora. Um carro está lá fora à sua espera.Intrigada e um pouco preocupada, a Dra. Elizabeth Sinskey pediu licença e foi buscar sua malinha de viagem. Enquanto a limusine disparava pela Primeira Avenida, começou a se sentir estranhamente nervosa. O Conselho de Relações Exteriores? Como quase todo mundo, Elizabeth Sinskey já tinha escutado os boatos.

(pág. )...Fundado em 1920 como um think tank particular, a lista de ex-integrantes do CRE incluía quase todos os secretários de Estado norte-americanos, mais de meia dúzia de presidentes, a maioria dos diretores da CIA, senadores, juízes e representantes de dinastias lendárias como os Morgan, Rothschild e Rockefeller. A combinação sem paralelos de poderio intelectual, influência política e riqueza material de seus membros rendera ao Conselho a reputação de “o mais influente clube privado da Terra”. Como diretora da OMS, Elizabeth Sinskey estava habituada a conviver com toda a sorte de figurões. Seu longo mandato, somado a um temperamento franco e direto, havia chamado a atenção de uma revista importante que a listara como uma das vinte pessoas mais influentes do mundo. O Rosto da Saúde Mundial, dizia a legenda abaixo de sua foto, o que Elizabeth achou irônico, pois tinha sido uma criança muito doente. Diagnosticada com asma severa aos 6 anos, fora tratada com uma dose cavalar de um medicamento novo e promissor – o primeiro dos glicocorticoides, também conhecidos como hormônios esteroides –, que havia curado os sintomas como por milagre. Infelizmente, os efeitos colaterais inesperados só tinham vindo à tona anos mais tarde, quando a Dra. Sinskey passara pela puberdade... sem nunca menstruar. Ela jamais se esqueceria do terrível momento no consultório médico quando, aos 19 anos, fora informada de que os danos ao seu sistema reprodutor eram irreversíveis. Elizabeth Sinskey nunca poderia ter filhos. O tempo vai curar o vazio que você está sentindo, dissera o médico, tentando tranquilizá-la, mas sua tristeza e sua raiva só tinham aumentado. O mais cruel de tudo era que o medicamento havia lhe roubado a capacidade de gerar filhos, mas não o instinto maternal.

(pág.85 )...Ele está à sua espera. Tudo bem, mas quem é ele? Seguiu a recepcionista por um luxuoso corredor até uma porta fechada na qual a mulher bateu rapidamente para logo depois abri-la e fazer um gesto para que Elizabeth entrasse. Quando obedeceu, a porta se fechou atrás dela. A pequena e escura sala de reuniões estava iluminada apenas pelo brilho de um monitor de vídeo, em frente ao qual uma silhueta alta e magra encarava a doutora. Embora não conseguisse distinguir o rosto, ela pressentiu uma aura de poder. – Dra. Sinskey – disse uma voz incisiva de homem. – Obrigado por ter vindo. – O sotaque rígido e preciso lhe sugeriu uma origem suíça, talvez alemã. – Por favor, sente-se – continuou ele, indicando uma cadeira próxima à entrada. Ele não vai se apresentar?, pensou então, enquanto se sentava. A imagem bizarra projetada no monitor não ajudou em nada a acalmar seus nervos. Que porcaria é essa? – Assisti à sua palestra hoje de manhã – declarou a silhueta. – Vim de muito longe para isso. Foi uma apresentação impressionante. – Obrigada – respondeu ela. – Devo dizer também que a senhora é bem mais bonita do que eu imaginava... apesar de sua idade e de sua visão míope sobre a saúde mundial. Elizabeth ficou de queixo caído. O comentário era ofensivo sob vários aspectos. – Como disse? – indagou, estreitando os olhos na escuridão. – Quem é o senhor? E por que me chamou aqui? – Perdoe minha tentativa fracassada de ser engraçado – respondeu o vulto alto e magro. – A imagem no monitor vai lhe explicar por que está aqui. A Dra. Sinskey olhou em direção à cena terrível: uma pintura que mostrava um vasto mar de gente, uma multidão de pessoas doentes amontoadas umas sobre as outras em um denso emaranhado de corpos nus. – O grande artista Doré – anunciou o homem. – E sua interpretação incrivelmente macabra da visão do Inferno criada por Dante Alighieri. Espero que não lhe cause desconforto... pois é para isso que estamos nos encaminhando. – O vulto fez uma pausa e se aproximou dela devagar. – Deixe-me explicar por quê. Ele continuou a avançar em sua direção, parecendo ficar mais alto a cada passo.– Se pegássemos este pedaço de papel e o rasgássemos em dois... – Ele se deteve diante da mesa, pegou uma folha de papel e a rasgou ao meio, fazendo barulho. – E depois colocássemos as duas metades uma em cima da outra... – Ele fez o que dizia. – E em seguida repetíssemos tudo outra vez... – O homem tornou a rasgar e empilhar os pedaços de papel. – Produziríamos uma pilha quatro vezes mais grossa do que o papel original, correto? – Os olhos dele pareciam arder como duas brasas na escuridão da sala. Elizabeth não estava gostando de seu tom condescendente nem de sua postura agressiva. Ficou calada. – Hipoteticamente falando – prosseguiu o homem, aproximando-se ainda mais –, se a folha de papel original tivesse apenas um décimo de milímetro de espessura e nós repetíssemos esse mesmo processo... cinquenta vezes, digamos... a senhora sabe qual seria a altura da pilha resultante?

(pág.85)...Elizabeth ficou irritada. Sei, sim – respondeu de forma mais hostil do que pretendia. – Teria uma altura de um décimo de milímetro vezes dois elevado à quinquagésima potência. Chama-se progressão geométrica. Agora posso saber o que estou fazendo aqui? O homem abriu um sorriso afetado e assentiu, impressionado. – Exatamente. E consegue imaginar o que esse valor representaria na realidade? Um décimo de milímetro vezes dois elevado à quinquagésima potência? Sabe qual é a altura da nossa pilha de papel agora? – Ele se deteve apenas por um instante. – Nossa pilha de papel, depois de ser dobrada apenas cinquenta vezes, agora chega... quase até o sol. Elizabeth não ficou surpresa. O poder descomunal da progressão geométrica era algo com que ela lidava o tempo todo no trabalho. Círculos de contaminação... replicação de células infectadas... estimativas de mortalidade. – Perdoe-me se pareço ingênua – falou, sem tentar esconder seu aborrecimento. – Mas não estou entendendo aonde o senhor quer chegar. – Aonde quero chegar? – Ele riu baixinho. – Quero chegar à constatação de que a história do nosso crescimento populacional é ainda mais dramática. A população da Terra, assim como a nossa pilha de papel, teve um início bastante inexpressivo, mas seu potencial é alarmante. Ele voltou a andar de um lado para outro. Pense no seguinte: a população da Terra levou milhares de anos, desde a aurora da humanidade até o início do século XIX, para atingir um bilhão de pessoas. Então, de forma estarrecedora, precisou apenas de uns cem anos para duplicar e chegar a dois bilhões, na década de 1920. Depois disso, em meros cinquenta anos, a população tornou a duplicar para quatro bilhões na década de 1970. Como a senhora pode imaginar, muito em breve chegaremos aos oito bilhões.Só hoje, a raça humana acrescentou outras 250 mil pessoas ao planeta Terra. Um quarto de milhão. E isso acontece todos os dias. Atualmente, a cada ano, acrescentamos ao planeta um pouco mais que o equivalente a toda a população da Alemanha. homem parou de andar, assomando-se diante de Elizabeth. – Quantos anos a senhora tem? Outra pergunta grosseira, mas, como diretora da OMS, ela estava acostumada a usar de diplomacia em situações como essa. – Sessenta e um. Sabia que, se viver mais 19 anos, até os 80, verá a população triplicar ao longo da sua vida? Triplicar, no tempo de uma única vida. Pense nas implicações. Como bem sabe, a Organização Mundial da Saúde voltou a elevar as previsões, calculando que haverá algo em torno de nove bilhões de pessoas na Terra antes da metade deste século. Espécies animais estão entrando em extinção num ritmo aceleradíssimo. A demanda por recursos naturais cada vez mais escassos é astronômica. É cada vez mais difícil encontrar água potável. De acordo com qualquer parâmetro biológico, nossa espécie já excedeu sua sustentabilidade numérica. E, diante desse desastre, a Organização Mundial da Saúde, a guardiã do bem-estar do planeta, investe em coisas como a cura da diabetes, campanhas de doação de sangue, luta contra o câncer. – Ele fez uma pausa e a encarou. – Então eu trouxe a senhora aqui para lhe perguntar diretamente: por que a Organização Mundial da Saúde não tem peito para enfrentar esta questão? Elizabeth agora fervia de raiva. – Seja o senhor quem for, deve saber muito bem que a OMS leva a questão da superpopulação muito a sério. Recentemente, gastamos milhões de dólares mandando médicos para a África com a missão de distribuir preservativos gratuitos e instruir as pessoas sobre métodos anticoncepcionais. – Ah, sim! – zombou o homem alto e magro. – E um exército ainda maior de missionários católicos foi para lá em seguida dizer aos africanos que, se eles usassem os tais preservativos, iriam todos para o Inferno. A África agora tem um novo problema ambiental: lixões transbordando de preservativos não utilizados. Elizabeth obrigou-se a ficar calada. Ele estava certo nesse ponto, mas os católicos mais modernos estavam começando a contra-atacar a interferência do Vaticano em assuntos reprodutivos. Um dos exemplos mais notáveis era Melinda Gates, católica devota que tivera a coragem de se expor à ira da própria igreja ao se comprometer a doar 560 milhões de dólares para ampliar o acesso a métodos anticoncepcionais no mundo todo. Elizabeth Sinskey já havia declarado várias vezes em público que Bill e Melinda Gates mereciam ser canonizados em razão de tudo o que tinham feito por meio de sua fundação em prol da saúde mundial. Infelizmente, a única instituição capaz de conferir santidade não enxergava a natureza cristã dos esforços dos dois. – Dra. Sinskey – continuou o vulto –, o que a Organização Mundial da Saúde não consegue perceber é que só existe uma questão de saúde global. – Ele tornou a apontar para a imagem sinistra no monitor, um copioso e emaranhado mar de corpos humanos. – Essa aqui. – Fez uma pausa. – Entendo que, por ser cientista, a senhora talvez não tenha estudado a fundo os clássicos ou as belas-artes, então deixe-me mostrar-lhe outra imagem em uma linguagem que talvez entenda mais facilmente. A sala ficou escura por alguns instantes, então o monitor se reacendeu. Elizabeth já tinha visto essa nova imagem diversas vezes... e ela sempre lhe trazia uma sensação funesta de inevitabilidade. Um silêncio pesado recaiu sobre a sala. – Sim – disse o homem por fim. – Silêncio horrorizado é uma reação adequada a esse gráfico...

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(pág.87)...Não tenho dúvidas de que entende que a superpopulação é uma questão de saúde pública. Mas temo que não compreenda que ela vai afetar a própria alma humana. Quando submetidos ao estresse da superpopulação, aqueles que nunca cogitaram roubar se tornarão ladrões para alimentar suas famílias. Aqueles que nunca cogitaram matar se tornarão assassinos para sustentar seus filhos. Todos os pecados mortais retratados por Dante começarão a vir à tona. Avareza, gula, deslealdade, assassinato, etc., todos se espalharão entre a humanidade, amplificados pelo fim de nossos confortos. Estamos enfrentando uma batalha pela própria alma do ser humano. – Sou bióloga. Salvo vidas, não almas. – Bem, posso lhe garantir que salvar vidas vai se tornar cada vez mais difícil nos anos que estão por vir. A superpopulação gera mais do que descontentamento espiritual. Há um trecho de Maquiavel...– Sim, eu conheço – disse ela, interrompendo-o para citar de memória o famoso trecho: – “Quando todas as províncias do mundo estiverem abarrotadas a ponto de seus habitantes não conseguirem subsistir onde estão nem migrar para outra parte... o mundo irá purificar a si mesmo.”– Ela ergueu os olhos para o homem. – Todos nós da OMS conhecemos muito bem essa passagem. – Ótimo, então vocês sabem que Maquiavel diz em seguida que as pragas são a maneira natural de o mundo se autopurificar. – Sim. E, conforme mencionei em minha palestra, estamos mais do que cientes da correlação direta entre densidade populacional e probabilidade de epidemias em larga escala, mas desenvolvemos constantemente novos métodos de detecção e tratamento. A OMS ainda está segura de que podemos evitar futuras pandemias. – Que pena. Elizabeth o encarou, incrédula. – Como disse?! – Dra. Sinskey – disse o homem com uma risada estranha –, a senhora fala sobre controlar epidemias como se isso fosse uma coisa positiva. Ela o encarou boquiaberta, sem acreditar no que ouvia.

(pág.)...– O que mais posso dizer? – declarou o homem, soando como um advogado apresentando seus argumentos finais. – Aqui estou, diante da diretora da OMS, o melhor que essa instituição tem a oferecer. Pensando bem, é assustador. Eu lhe mostrei a imagem de um desastre iminente – disse, mais uma vez mostrando a imagem dos corpos na tela. – Lembrei à senhora do incrível poder do crescimento populacional desenfreado. – Ele apontou a pilha de papel. – Fiz questão de esclarecer que estamos à beira de um colapso espiritual. E qual foi a sua reação? – Ele se deteve, virando-se para encarar Elizabeth. – Falar sobre preservativos gratuitos para a África. – O homem riu com desdém. – É como brandir um mata-moscas para se proteger de um asteroide. A bomba-relógio não está mais em contagem regressiva. Ela já explodiu e, se não tomarmos medidas drásticas, a matemática exponencial vai se tornar nosso novo Deus... e “Ele” é um Deus vingativo. Fará com que a senhora veja o Inferno de Dante bem ali na Park Avenue... multidões chafurdando nos próprios excrementos. Um expurgo global orquestrado pela própria Natureza. – É mesmo? – rebateu Elizabeth, perdendo a paciência. – Então me diga, na sua visão de um futuro sustentável, qual é a população ideal da Terra? Qual é o número mágico que daria à humanidade a esperança de se sustentar de forma indefinida... e com relativo conforto? homem sorriu, claramente satisfeito com aquela pergunta. – Qualquer biólogo ou estatístico ambiental lhe dirá que a maior chance de sobrevivência a longo prazo para a humanidade acontece com uma população global de cerca de quatro bilhões de habitantes. – Quatro bilhões? – repetiu Elizabeth. – Nós já estamos em sete bilhões, então é um pouco tarde para isso. Os olhos verdes do homem se incendiaram quando ele perguntou: será?

(pág.)...Mesmo assim, algo ainda incomodava Langdon. Se eu fracassar, só restará a morte. Ele passara a manhã inteira topando com símbolos macabros que representavam risco biológico, pestes e o Inferno de Dante. Por mais que não tivesse provas claras sobre o que estava buscando, seria ingênuo não cogitar ao menos a possibilidade de aquela situação envolver uma doença letal ou uma ameaça biológica em grande escala. Se fosse isso mesmo, então por que seu próprio governo estaria tentando eliminá-lo? Será que eles acham que estou envolvido num possível plano de ataque? Não fazia o menor sentido. Havia alguma outra coisa acontecendo ali. Ele tornou a pensar na mulher de cabelos prateados. – Não podemos esquecer a mulher das minhas visões. Tenho a sensação de que preciso encontrá-la.– Então confie nessa sensação – aconselhou Sienna.

(pág. 114)...Quando a OMS divulgou esse gráfico, políticos, pessoas poderosas e ambientalistas do mundo inteiro organizaram conferências de emergência, todas tentando avaliar quais dessas questões eram as mais graves e quais poderíamos ter esperanças reais de solucionar. E qual foi o resultado? Escondidos, eles cobriram o rosto com as mãos e choraram. Em público, garantiram a todos que estavam buscando soluções, mas que eram questões complexas. – Mas essas questões são complexas! – Besteira! – explodiu o homem. – A senhora sabe muito bem que esse gráfico representa a mais simples das relações, uma função baseada em uma só variável! Cada linha dele sobe em proporção direta a um valor que todos têm medo de discutir. A população global. – Na verdade, acho que é um pouco mais...– Complicado? – ele interrompeu. – Não é, não! Nada poderia ser mais simples. Se quisermos ter mais água potável per capita, precisamos de menos gente no mundo. Se quisermos diminuir as emissões de gases poluentes por veículos automotores, precisamos de menos motoristas. Se quisermos que os oceanos consigam repor seus cardumes, precisamos de menos gente comendo peixe!

(pág.114)...Ele a fuzilou com o olhar e seu tom ficou ainda mais contundente. – Abra os olhos! Estamos à beira do fim da humanidade e o que nossos líderes mundiais fazem éficar sentados em seus gabinetes encomendando estudos sobre energia solar, reciclagem e carros híbridos? Como é que a senhora, uma cientista tão instruída, não consegue enxergar a verdade? Destruição da camada de ozônio, falta d’água e poluição não são a doença... são os sintomas. A doença é a superpopulação. Ou encaramos esse problema, ou estamos só pondo um Band-Aid em cima de um tumor maligno e agressivo. – Você considera a raça humana um câncer? – perguntou Elizabeth. – Um câncer não é nada além de uma célula saudável que começa a se replicar de forma desenfreada. Estou vendo que a senhora considera as minhas ideias de extremo mau gosto, mas posso garantir que a alternativa vai lhe parecer bem mais desagradável quando chegar. Se não tomarmos medidas drásticas... – Drásticas?! – disparou ela. – Drásticas não é bem a palavra que o senhor está procurando. Que tal insanas? – Dra. Sinskey – começou o homem, sua voz agora estranhamente calma –, eu a chamei aqui porque esperava que a senhora, uma voz sábia na Organização Mundial da Saúde, talvez estivesse disposta a trabalhar comigo e estudar uma possível solução. Elizabeth o encarou com uma expressão incrédula. – Acha mesmo que a OMS vai se associar a você... para estudar uma ideia dessas? – Sim, acho – disse ele. – A sua organização é composta por médicos. Quando médicos veem um paciente com gangrena, não hesitam em lhe amputar a perna para salvar sua vida. Às vezes a única solução viável é o menor de dois males. – Mas estamos falando de uma coisa bem diferente. – Não. É idêntica. A única diferença é de escala. Elizabeth já tinha ouvido o bastante. Levantou-se abruptamente. – Preciso pegar um avião. O homem alto deu um passo ameaçador em sua direção, impedindo-a de sair. – Só um aviso: posso muito bem explorar esta ideia sozinho, mesmo sem a sua cooperação. – Só um aviso – retrucou Elizabeth. – Considero o que o senhor acabou de dizer uma ameaça terrorista e é assim que irei tratar o assunto.

(pág.115)...– Não sei quem é você – falou –, mas me chamar aqui foi um erro. Quando eu chegar ao aeroporto, já vou saber seu nome e você estará nas listas de observação da OMS e do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos e da Europa como um bioterrorista em potencial. Pessoas irão vigiá-lo dia e noite. Se tentar comprar materiais, nós vamos saber. Se montar um laboratório, nós vamos saber. Não vai ter onde se esconder. O homem ficou parado por vários instantes, tenso e calado, como se fosse tentar pegar seu telefone. Por fim, relaxou e deu um passo de lado com um sorriso sinistro. – Então parece que nosso jogo começou.

(pág.118)...O Inferno de Dante não é ficção... é uma profecia! Agonia extrema. Angústia torturante. Esse é o retrato do futuro. A humanidade, quando não controlada, funciona como uma praga, um câncer: nosso número se multiplica a cada geração até os confortos terrenos que um dia nutriram nossa virtude e fraternidade se reduzirem a nada, revelando os monstros que vivem dentro de nós quando somos obrigados a lutar até a morte para alimentar nossos filhos. É esse o Inferno de nove círculos de Dante. É isso que nos espera. Enquanto o futuro se aproxima de modo descontrolado, alimentado pela implacável matemática de Malthus, nós tentamos nos equilibrar à beira do primeiro círculo do Inferno... prestes a despencar mais depressa do que poderíamos imaginar.

(pág. 118)...Matemática de Malthus? Uma rápida busca na internet lhe informou sobre o proeminente matemático e demógrafo inglês do século XIX Thomas Robert Malthus, famoso por ter previsto que a superpopulação conduziria a um futuro colapso global. A biografia de Malthus incluía um trecho perturbador de seu livro Ensaio sobre o princípio da população que deixou o facilitador muito alarmado. O poder da população é tão superior à capacidade da Terra de produzir meios de subsistência para o homem que a morte prematura chegará, de uma forma ou de outra, à raça humana. Os vícios da humanidade agem de forma ativa e eficaz no controle da população. Eles são os precursores do grande exército da destruição e muitas vezes terminam eles próprios o terrível trabalho que iniciam. No entanto, se fracassam nessa guerra de extermínio, moléstias sazonais, epidemias e peste avançam em pavorosa sucessão, ceifando milhares, dezenas de milhares de vidas. Se mesmo assim o sucesso não é alcançado, uma fome colossal e inevitável vem em seguida, nivelando com um golpe poderoso a população mundial à quantidade de comida disponível. Com o coração aos pulos, ele tornou a olhar para a imagem imóvel da sombra bicuda.

(pág.)... Obras citadas no livro
autor:Blog do Wagner

(pág. 142)...Ah, sim... – falou com dificuldade, lívida. – Bertrand Zobrist. O famoso bioquímico. Fez fortuna com patentes biológicas ainda jovem. – Ela se calou e engoliu em seco. Então se inclinou para junto de Langdon e sussurrou em seu ouvido. – Zobrist praticamente inventou o campo da manipulação genética de células germinativas. Langdon não fazia ideia do que era manipulação genética de células germinativas, mas a expressão soava ameaçadora, sobretudo à luz da recente enxurrada de imagens relacionadas a pestes e morte. Pensou se Sienna conheceria tanto a respeito de Zobrist por ser médica... ou talvez pelo fato de ambos terem uma inteligência extraordinária. Será que os superdotados costumam acompanhar os trabalhos uns dos outros? – Ouvi falar de Zobrist pela primeira vez alguns anos atrás, quando ele fez declarações bem provocativas na mídia sobre o crescimento populacional – explicou Sienna. Ela se deteve, com uma expressão taciturna. – Ele é um defensor da Equação do Apocalipse Populacional. – Que raio é isso? – Basicamente, uma admissão matemática de que a população da Terra está aumentando, as pessoas estão vivendo mais e nossos recursos naturais estão em declínio. A equação prevê que a única consequência possível da nossa trajetória atual é o colapso apocalíptico da sociedade. Zobrist foi a público e previu que a raça humana não sobreviverá mais um século... a menos que tenhamos algum tipo de evento de extinção em massa. – Sienna deu um suspiro profundo e cruzou olhares com Langdon. – Na verdade, ele chegou a dizer que “a melhor coisa que já aconteceu à Europa foi a Peste Negra”. Langdon a encarou, chocado. Os cabelos em sua nuca se arrepiaram e mais uma vez ele vislumbrou a imagem da máscara da peste. Passara a manhã inteira tentando resistir à ideia de que sua situação atual estava relacionada a alguma praga mortífera... mas essa hipótese estava ficando cada vez mais difícil de refutar.

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(pág.142)...Sem dúvida era um absurdo Bertrand Zobrist descrever a Peste Negra como a melhor coisa que já acontecera à Europa, mas Langdon sabia que muitos historiadores haviam mencionado os benefícios socioeconômicos de longo prazo da extinção em massa ocorrida no continente no século XIV. Antes da epidemia, a Idade das Trevas era caracterizada por superpopulação, fome e dificuldades econômicas. A chegada repentina da peste, embora terrível, havia “reduzido o rebanho humano” de forma eficaz, gerando uma abundância de alimentos e oportunidades que, segundo muitos pesquisadores, fora um dos principais catalisadores do surgimento da Renascença. Ao recordar o símbolo de risco biológico no tubo que continha o mapa modificado do Inferno de Dante, Langdon foi acometido por um pensamento aterrorizante: aquele sinistro projetor havia sido criado por alguém... e Bertrand Zobrist – bioquímico e fanático por Dante – agora parecia ser um candidato provável. O pai da manipulação genética de células germinativas. Langdon sentia que as peças do quebra-cabeça começavam a se encaixar. Infelizmente, a imagem que se formava parecia cada vez mais assustadora.

(pág. 159)...à última parte da Divina Comédia. Suas palavras exatas foram: “Paraíso 25.” Sienna ergueu os olhos. – Ele devia estar se referindo ao Canto XXV. – Concordo – disse Langdon. Grosso modo, cada canto equivalia a um capítulo. A palavra remontava à tradição oral de “cantar” poemas épicos. A Divina Comédia continha um total de cem cantos divididos em três seções: Inferno 1–34 Purgatorio 1–33 Paradiso 1–33 Paraíso 25, pensou Langdon, desejando que sua memória fotográfica fosse boa o suficiente para ele saber o texto inteiro de cor. Infelizmente, não chego nem perto disso: precisamos encontrar um exemplar do livro. ...precisamos ler o Canto XXV do Paraíso. – Ele lhe abriu um sorriso esperançoso. – Você por acaso não saberia toda a Divina Comédia de cor, saberia? Ela o encarou, pasma. Mais de 14 mil versos de italiano arcaico que li quando era criança? – Sienna balançou a cabeça. – Quem tem memória de elefante é você, professor. Eu sou apenas uma médica.

(pág. 170)...Em linhas gerais, o artigo declarava que a raça humana estava à beira da extinção e que, a menos que houvesse algum evento catastrófico que diminuísse drasticamente a população mundial, nossa espécie não sobreviveria por mais cem anos. Langdon se virou para encará-la.– Só mais um século? – Era uma tese bem radical. O cronograma previsto era muito mais pessimista do que asestimativas anteriores, mas era sustentado por dados científicos bem sólidos. Zobrist fez muitos inimigos ao declarar que todos os médicos deveriam deixar de atuar porque aumentar a expectativa de vida humana só estava piorando o problema da superpopulação. Langdon agora entendia por que o artigo havia se espalhado tão rapidamente pela comunidade médica. – Como era de esperar – prosseguiu Sienna –, ele foi atacado por todos os lados: políticos, membros do clero, a OMS, todo mundo o ridicularizou como um maluco apocalíptico que estava apenas tentando gerar pânico. O que causou tanto ressentimento foi a afirmação de que os filhos da juventude de hoje, caso ela decidisse se reproduzir, literalmente testemunhariam o fim da raça humana. Zobrist ilustrava seu argumento com um “Relógio do Apocalipse”, mostrando que, se todo o período da vida humana na Terra fosse concentrado em uma só hora... hoje estaríamos nos últimos segundos. – Já vi esse relógio na internet – disse Langdon. – Pois é. Bem, o relógio é dele e causou um furor e tanto. Mas a reação mais negativa veio quando ele declarou que seus avanços no campo da engenharia genética seriam muito mais úteis à humanidade se fossem usados não para curar doenças, mas para criá-las. – O quê?! – Isso mesmo: ele afirmava que a sua tecnologia deveria ser utilizada para limitar o crescimento populacional por meio da criação de cepas híbridas de doenças que a medicina moderna seria incapaz de curar. Langdon sentiu um temor crescente enquanto surgiam em sua mente imagens de “vírus sintéticos” estranhos e híbridos que, uma vez disseminados, seriam impossíveis de combater.- No espaço de poucos anos, Zobrist deixou de ser o queridinho da comunidade médica e virou um pária. Um excomungado. – Ela se deteve e uma expressão compassiva cruzou seu semblante. –Não é de espantar que ele tenha enlouquecido e se matado. O mais triste é que a tese dele provavelmente está certa. Langdon quase caiu para trás. – O quê? Você acha que ele está certo?! Sienna deu de ombros com um gesto solene. – Robert, de um ponto de vista puramente científico, com base apenas na lógica e sem qualquer emoção, posso lhe afirmar sem sombra de dúvida que, a menos que haja alguma mudança drástica, o fim da nossa raça está chegando. E depressa. O mundo não vai acabar com fogo, enxofre, apocalipse ou uma guerra nuclear... vai acabar com um colapso absoluto em decorrência da quantidade de pessoas no planeta. A matemática é indiscutível. Langdon se contraiu. – Estudei bastante biologia e é muito normal uma espécie entrar em extinção pelo simples fato de ter superpovoado seu habitat – prosseguiu ela. – Imagine uma colônia de algas vivendo na superfície de um pequeno lago na floresta, aproveitando o perfeito equilíbrio de nutrientes do ambiente. Se não forem controladas, elas vão se reproduzir de forma tão agressiva que logo cobrirão toda a superfície do lago, impedindo a luz de entrar e, portanto, impedindo o desenvolvimento de nutrientes na água. Depois de sugar ao máximo os recursos do ambiente, essas algas morrem depressa e desaparecem sem deixar vestígios. – Ela suspirou. – Um destino semelhante pode estar reservado à humanidade. Muito mais cedo e muito mais rápido do que imaginamos.

(pág.171)...Langdon sentiu uma angústia profunda. – Mas... isso parece impossível. – Impossível, não, Robert, só impensável. A mente humana tem um mecanismo primitivo de autodefesa que nega qualquer realidade estressante demais para o cérebro. É o que chamamos de negação. – Já ouvi falar de negação, mas não acredito que exista – brincou Langdon. Sienna revirou os olhos. – Muito engraçado! Mas pode acreditar, é muito real. A negação é um elemento essencial do mecanismo de defesa humano. Sem ela, todas as manhãs acordaríamos apavorados só de pensar em todas as maneiras como poderíamos morrer. Em vez disso, nossa mente bloqueia o medo existencial, concentrando-se em estresses com os quais podemos lidar: como não chegar atrasado no trabalho ou como pagar as contas em dia. Mesmo que tenhamos medos mais graves, de natureza existencial, nós os descartamos bem rápido para nos concentrar em tarefas simples e banalidades cotidianas. Langdon se lembrou de uma pesquisa recente sobre os hábitos de navegação na internet dos alunos de algumas das universidades de elite nos Estados Unidos. O estudo revelou que até os usuários mais cultos demonstravam uma tendência instintiva à negação. Ao clicar em algum artigo deprimente sobre o derretimento das calotas polares ou sobre espécies em extinção, a grande maioria dos universitários se apressava em sair da página e passar para algo mais trivial que afastasse o medo de seus pensamentos. Algumas das escolhas preferidas eram manchetes esportivas, vídeos fofinhos de gatos e fofocas sobre celebridades. – Na mitologia clássica – comentou ele –, um herói em negação é a maior manifestação de húbris e orgulho que pode existir. Não há homem mais orgulhoso do que aquele que se considera imune aos perigos do mundo. Dante concordava com isso, claro, pois, segundo ele, a soberba era o pior dos sete pecados capitais, expurgado no primeiro terraço do Purgatório. Sienna passou alguns instantes pensando antes de continuar: – O artigo de Zobrist acusava muitos dos líderes mundiais de estarem em um estado de extrema negação, como um avestruz com a cabeça enterrada na areia. Criticava particularmente a Organização Mundial da Saúde. – Aposto que isso pegou bem.– Eles reagiram comparando-o a um fanático religioso que anda pelas ruas com uma placa dizendo “O fim está próximo”.– Tem alguns desses lá em Harvard Square.– Pois é. E nós sempre os ignoramos porque não imaginamos que vá acontecer de verdade. Mas, acredite, o fato de a mente humana não conseguir imaginar que algo vá acontecer não significa que seja impossível. – Você está quase parecendo uma fã de Zobrist. – Eu sou fã da verdade, por mais duro que seja aceitar isso – retrucou ela. Langdon não respondeu, tornando a se sentir estranhamente distante de Sienna naquele momento, tentando entender sua bizarra combinação de entusiasmo e desapego. Sienna olhou para ele e sua expressão ficou mais suave. – Olhe, Robert, não estou dizendo que Zobrist tem razão ao afirmar que uma praga que extermine metade das pessoas do mundo seja a resposta para o problema da superpopulação. Tampouco que devemos parar de curar os doentes. O que estou dizendo é que o caminho que estamos trilhando éuma fórmula muito simples para a destruição. O crescimento populacional é uma progressão exponencial que ocorre dentro de um sistema de espaço finito e recursos limitados. O fim vai chegar de forma muito abrupta. Não vai ser como um carro cujo combustível vai acabando aos poucos... vai ser como despencar de um precipício.

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(pág. 172)...apontando para o alto à direita, com uma expressão grave. Langdon olhou para cima e viu que estavam passando pela austera fachada de pedra do Museu Bargello. Atrás da construção, a torre da Badia Florentina se erguia afunilada acima das estruturas ao redor. Olhando para o topo da torre, ele se perguntou por que Zobrist havia pulado de lá e torceu que não fosse por ter feito algo terrível e não querer enfrentar as consequências. – Os críticos de Zobrist gostam de ressaltar como é paradoxal que muitas das tecnologias genéticas desenvolvidas por ele estejam agora aumentando de forma drástica a expectativa de vida – disse Sienna. – O que só agrava o problema da superpopulação. – Exato. Zobrist chegou a afirmar publicamente que gostaria de poder recolocar o gênio dentro da lâmpada e eliminar parte de suas contribuições à longevidade humana. Imagino que faça sentido, em termos ideológicos. Quanto maior for nossa expectativa de vida, mais nossos recursos serão destinados a sustentar idosos e doentes. Langdon concordou com um aceno de cabeça. – Certa vez li que, nos Estados Unidos, cerca de 60% da verba da Saúde é usada para tratar pacientes nos últimos seis meses de vida. – É verdade. E mesmo que o nosso cérebro diga “isso é uma loucura”, nosso coração diz “vamos manter vovó viva pelo maior tempo possível”. Langdon tornou a assentir. - É o conflito entre Apolo e Dioniso, um dilema famoso na mitologia. A batalha ancestral entre mente e coração, que raras vezes desejam a mesma coisa. Ele tinha ouvido dizer que essa mesma referência mitológica era agora usada em reuniões dos Alcoólicos Anônimos para descrever o alcoólatra que olha para um copo de bebida: seu cérebro sabe que aquilo lhe fará mal, mas seu coração deseja o conforto proporcionado pela bebida. A mensagem parecia ser: não se sinta sozinho, até os deuses enfrentavam esse dilema. – Quem precisa de agathusia? – sussurrou Sienna de repente. – O quê? Sienna ergueu os olhos. – Acabo de me lembrar do título do artigo de Zobrist: “Quem precisa de agathusia?” Langdon nunca tinha ouvido a palavra agathusia, mas deu seu melhor palpite com base em suas raízes gregas: agathos e thusia. – Agathusia... seria um “bom sacrifício”? – Quase. O verdadeiro sentido é “autossacrifício em prol do bem comum”. – Ela fez uma pausa. – Também conhecido como suicídio altruísta. Aquela expressão Langdon já tinha ouvido – uma vez em referência a um pai falido que se matara para que a família pudesse receber o seguro e outra para descrever um assassino em série arrependido que pusera fim à própria vida por medo de não conseguir controlar o impulso de matar.O exemplo mais arrepiante de que se lembrava, no entanto, era o romance Logan’s Run (A fuga de Logan), de 1967, que descrevia uma sociedade futurista na qual todos aceitavam de bom grado se suicidar aos 21 anos de idade – aproveitando a juventude ao máximo, sem que a idade avançada sobrecarregasse os recursos limitados do planeta. Se bem se lembrava, a adaptação do livro para o cinema, Fuga do Século 23, aumentara a “idade limite” de 21 para 30 anos, sem dúvida na tentativa de tornar o filme mais palatável para o público entre 18 e 25 anos, faixa etária crucial para o sucesso nas bilheterias. – Mas esse artigo de Zobrist... – disse ele. – Acho que não entendi o título direito. “Quem precisa de agathusia?” Ele estava sendo sarcástico? Como se a resposta fosse... todo mundo? – Na verdade, não. O título é um trocadilho. Langdon balançou a cabeça, sem entender.– Em inglês, a palavra quem e a sigla da OMS são iguais: WHO. O título do artigo poderia ser, portanto “A OMS precisa de agathusia”. Nele Zobrist criticava a diretora da organização, Dra. Elizabeth Sinskey, que ocupa o cargo há uma eternidade e, segundo ele, não leva a sério a questão do controle populacional. O artigo afirmava que seria melhor para a OMS se a diretora Sinskey se matasse. – Quanta compaixão.– São os perigos de ser um gênio, imagino. Muitas vezes os cérebros especiais, aqueles capazes de se concentrar com mais intensidade do que os outros, fazem isso em detrimento da maturidade emocional.

(pág.173)...– Aqueles soldados... Os que estão tentando nos matar. Quem são eles? Não faz sentido. Se Zobrist liberou uma praga em potencial, todo mundo não deveria estar do mesmo lado, tentando impedir sua disseminação?– Não necessariamente. Ele podia ser um pária na comunidade médica, mas decerto tem uma legião de fãs ardorosos, gente que concorda que um expurgo é um mal necessário para salvar o planeta. Esses soldados podem muito bem estar tentando garantir que o plano de Zobrist se concretize. (pág.174) Um exército particular de discípulos de Zobrist? Langdon ponderou essa possibilidade...De fato, a história estava repleta de fanáticos e membros de cultos que se matavam por conta de todo tipo de teoria maluca – por acreditarem que seu líder é o Messias, que uma nave espacial os espera atrás da lua ou que o Dia do Juízo Final está próximo. Toda aquela especulação sobre controle da população mundial pelo menos estava embasada em dados científicos, mas mesmo assim algo naqueles soldados não lhe cheirava bem. – Não consigo acreditar que um grupo de soldados treinados fosse aceitar promover uma matança de inocentes... correndo eles próprios o risco de adoecer e morrer. Sienna lhe lançou um olhar de incompreensão. Robert, o que você acha que os soldados fazem quando vão à guerra? Eles matam inocentes e arriscam a própria vida. Tudo é possível quando as pessoas acreditam em uma causa. – Disseminar uma praga? Isso é uma causa? Sienna o encarou com firmeza, sondando-o com seus olhos castanhos. – Robert, a causa não é disseminar uma praga... é salvar o mundo. Ela fez uma pausa. – Um dos trechos do artigo de Bertrand Zobrist que gerou muito debate foi uma provocadora pergunta hipotética. Quero que você a responda. Qual é a pergunta? – Zobrist questionou o seguinte: se você pudesse apertar um botão e matar aleatoriamente metade da população da Terra, faria isso? -Claro que não. – Tudo bem. Mas e se você soubesse que, se não apertasse esse botão agora, daqui a cem anos a raça humana estaria extinta?

(pág.178)...reza a lenda que foi naquela igreja, aos 9 anos, que Dante viu pela primeira vez Beatriz Portinari, por quem se apaixonou à primeira vista e por quem sofreu a vida toda. Para grande agonia de Dante, Beatriz se casou com outro homem e depois morreu muito jovem, aos 24 anos. Foi também naquela igreja, alguns anos depois, que Dante se casou com Gemma Donati, mulher que, segundo o escritor e poeta Boccacio, se mostraria uma péssima escolha como esposa. Apesar de ter tido filhos, o casal dava poucas mostras de afeto e, após o exílio de Dante, nenhum dos dois cônjuges demonstrou grande interesse em se reencontrar. O amor da vida de Dante sempre fora a falecida Beatriz Portinari, moça que o poeta mal conhecera mas cuja lembrança, de tão avassaladora, fez do seu fantasma a musa inspiradora das maiores obras do florentino. O célebre livro de poemas de Dante – La Vita Nuova – é repleto de versos lisonjeiros sobre “a abençoada Beatriz”. De forma ainda mais reverente, A Divina Comédia alça sua musa à condição da redentora que o guia pelo Paraíso. Em ambas as obras, o poeta anseia por sua amada inalcançável. Hoje em dia, a Igreja de Dante é um templo para quem sofre com um amor não correspondido. A própria Beatriz está sepultada dentro da igreja e seu modesto túmulo se tornou um local de peregrinação tanto para os fãs do poeta quanto para os que trazem no peito um coração partido.

(pág.212)...Meu Deus... será que Zobrist pretende atacar Genebra? Zobrist era um homem que gostava de simbolismos, e criar um “marco zero” na sede da OMS de fato tinha certa elegância, levando em conta a batalha que ele vinha travando com a Dra. Sinskey havia um ano. Mas, pensando bem, se Zobrist estivesse mesmo procurando um ponto de conflagração propício para uma peste, Genebra era um péssima escolha. Se comparada a outras metrópoles, a cidade ficava isolada geograficamente e era um tanto fria naquela época do ano. A maioria das pestes se disseminava em ambientes superpopulosos e mais quentes. A cidade suíça ficava mais de 300 metros acima do nível do mar e estava longe de ser um lugar adequado para iniciar uma pandemia. Por maior que seja o desprezo que Zobrist nutra por mim.

(pág. 214)...– O Vaticano me odeia.Langdon lançou-lhe um olhar surpreso. – A senhora também? Pensei que eu fosse o único. Ela deu um sorriso pesaroso. – A OMS tem a firme opinião de que a ampla disponibilidade de métodos contraceptivos é uma das chaves para a saúde mundial, tanto no combate às doenças sexualmente transmissíveis, como a aids, quanto para o controle do crescimento populacional. – E o Vaticano não pensa assim. – Exato. Eles já gastaram uma quantidade colossal de energia e dinheiro para catequizar os países do Terceiro Mundo quanto aos males da contracepção. – Ah, claro – comentou Langdon com um sorriso cúmplice. – Quem melhor do que um bando de octogenários celibatários para ensinar ao mundo como fazer sexo? A cada segundo que passava, Elizabeth Sinskey gostava mais do professor. Ela sacudiu o cilindro para recarregá-lo, tornando a projetar imagem na parede. – Olhe mais de perto, professor. Langdon caminhou em direção à imagem, estudando-a, chegando cada vez mais perto. De repente, parou. Que estranho. O quadro foi modificado. Até que ele foi rápido. – Sim, foi. E gostaria que o senhor me dissesse o que essa modificação significa. Langdon se calou enquanto estudava a imagem, parando para assimilar as dez letras que formavam a palavra catrovacer... depois a máscara da peste... e por fim a estranha inscrição na borda sobre “os olhos da morte”. – Quem fez isso? – perguntou ele. – De onde veio essa imagem? – Na verdade, quanto menos o senhor souber, melhor.

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(pág. 226)...O diretor mudou de ideia quanto a assistir ao vídeo de Zobrist. Knowlton praticamente se atirou sobre o cartão de memória vermelho, que inseriu no computador. O peso da bizarra mensagem de nove minutos de Zobrist assombrava o facilitador, fazendo-o ansiar que outros olhos também a vissem. Não serei mais o único a carregar esse fardo. Knowlton prendeu a respiração e deu início ao vídeo. A tela ficou preta, então um barulho suave de água chapinhando encheu a saleta. A imagem percorreu a névoa avermelhada da caverna e, embora o diretor não tenha demonstrado reação alguma, Knowlton pressentiu que o chefe estava ao mesmo tempo alarmado e perplexo. A imagem interrompeu seu avanço, inclinou-se para baixo sobre a superfície da lagoa, mergulhou na água e afundou vários metros até revelar a reluzente placa de titânio chumbada ao fundo. NESTE LOCAL, NESTA DATA, O MUNDO FOI TRANSFORMADO PARA SEMPRE. O diretor se encolheu de forma quase imperceptível. – Amanhã – sussurrou ao ler a data. – Por acaso sabemos onde “neste local” pode ser? Knowlton fez que não com a cabeça. A imagem então se deslocou para a esquerda, revelando o saco plástico submerso contendo o fluido gelatinoso marrom-amarelado. – Que porcaria é essa?! O diretor puxou uma cadeira, sentou-se e ficou encarando a bolha ondulante, suspensa debaixo d’água como um balão preso por uma cordinha. Um silêncio desconfortável tomou a saleta enquanto o vídeo avançava. Pouco depois, a tela ficou preta e então uma estranha sombra com nariz em forma de bico surgiu na parede da caverna, começando a falar em sua linguagem hermética: Eu sou a Sombra. Fadado ao subterrâneo, devo falar ao mundo das profundezas da terra, exilado nesta caverna sombria em que as águas rubras de sangue se acumulam na lagoa que não reflete as estrelas. Mas este é o meu paraíso... o útero perfeito para o meu frágil rebento. Inferno. O diretor ergueu os olhos. – Inferno? Knowlton deu de ombros. – Como eu disse, é perturbador. O diretor tornou a voltar os olhos para a tela, compenetrado. A sombra bicuda continuou a discursar por vários minutos, falando sobre pestes; sobre a necessidade de a população purgar a si mesma; sobre seu próprio e glorioso papel no futuro; sobre sua batalha contra as almas ignorantes que vinham tentando detê-lo; e sobre os poucos indivíduosleais que de fato compreendiam que medidas drásticas eram a única maneira de salvar o planeta. Fosse qual fosse aquela guerra, Knowlton perdera uma manhã inteira se perguntando se o Consórcio não estaria lutando do lado errado. A voz seguiu falando: Eu criei uma obra-prima de salvação. Ainda assim, meus esforços foram retribuídos não com trombetas e coroas de louros... mas com ameaças de morte. Não temo a morte... pois é ela que transforma visionários em mártires... e converte ideias nobres em movimentos poderosos. Jesus. Sócrates. Martin Luther King. Em breve me juntarei a eles. A obra-prima por mim concebida é uma criação do próprio Deus... um presente Daquele que me imbuiu do intelecto, das ferramentas e da coragem necessários para forjar tal criação. Agora o dia se aproxima. Inferno repousa logo abaixo de mim, preparando-se para irromper de seu útero aquático sob o olhar atento do monstro ctônico e de todas as suas Fúrias. Apesar da virtude dos meus feitos, assim como você, não desconheço o Pecado. Até mesmo eu carrego a culpa do mais tenebroso dos sete – a tentação solitária da qual tão poucos conseguem se proteger. Soberba. O próprio fato de gravar esta mensagem me fez sucumbir à atração instigante da Soberba... ansioso por garantir que o mundo conhecesse o meu trabalho. E por que não? A humanidade precisa conhecer a fonte de sua salvação... o nome daquele que selou para sempre os portões escancarados do Inferno! A cada hora que passa, o desfecho se torna mais certo. A matemática – tão implacável quanto a lei da gravidade – não admite negociação. O mesmo exponencial florescer de vida que quase extinguiu a Humanidade será também a sua redenção. A beleza de qualquer organismo vivo – seja ele bom ou mau – reside no fato de que este sempre seguirá a lei de Deus com singular determinação. Crescei e multiplicai-vos. Sendo assim, eu combato fogo... com fogo. – Chega – disse o diretor em voz tão baixa que Knowlton mal o escutou. – Como disse, diretor? – Pare o vídeo. Knowlton congelou a imagem. – Na verdade, diretor, o final é a parte mais assustadora.

(pág. 234)...O senhor tem talento para símbolos – falou. – Reconhece este aqui? H+ – H mais – sussurrou Langdon, assentindo de leve. – Claro... alguns verões atrás o campus ficou cheio de cartazes com esse símbolo. Imaginei que fosse algum tipo de congresso de química. Elizabeth Sinskey deu uma risadinha. – Não. Eram cartazes anunciando a Cúpula de 2010 da “Humanidade mais”, um dos maiores eventos transumanistas já organizados. “H mais” é o símbolo do movimento transumanista. Langdon inclinou a cabeça, como se tentasse lembrar quando tinha ouvido aquele termo antes. – O transumanismo é um movimento intelectual, uma espécie de filosofia, e está se enraizando depressa na comunidade científica – explicou ela. – Em linhas gerais, afirma que os seres humanos deveriam usar a tecnologia para transcender as fraquezas inerentes a nossos corpos físicos. Em outras palavras, o próximo passo da evolução humana seria começarmos a manipular biologicamente a nós mesmos. – Parece perigoso – comentou Langdon. – Como qualquer mudança, é só uma questão de intensidade. – Parece perigoso – comentou Langdon. – Como qualquer mudança, é só uma questão de intensidade. Tecnicamente, já manipulamos a nós mesmos há muitos anos, desenvolvendo vacinas para tornar as crianças imunes a determinadas doenças, como paralisia infantil, varíola ou tifo. A diferença é que agora, com as decobertas de Zobrist na área da manipulação genética de células germinativas, estamos aprendendo a criar imunizações hereditárias, ou seja, que afetariam o receptor no nível do núcleo das células germinativas, tornando todas as gerações subsequentes imunes a essa doença.Langdon pareceu espantado. – Quer dizer que a espécie humana passaria, por assim dizer, por uma evolução que a tornaria imune ao tifo, por exemplo? – Na verdade, uma evolução assistida – corrigiu a Dra. Sinskey.

(pág. 235)...– Em circunstâncias normais, o processo evolutivo leva milênios para acontecer, seja para um peixe pulmonado desenvolver pés ou para um símio desenvolver polegares opositores. Mas agora podemos realizar adaptações genéticas radicais em uma única geração. Essa tecnologia é considerada pelos seus defensores a expressão definitiva da “sobrevivência do mais apto” de Darwin: os humanos se tornariam uma espécie capaz de aprimorar o próprio processo evolutivo. – Mais parece brincar de Deus – retrucou Langdon. – Concordo plenamente. Zobrist, contudo, assim como muitos outros transumanistas, defendia com fervor o argumento de que usar todos os poderes à nossa disposição, entre eles a mutação genética das células germinativas, para nos aprimorar como espécie seria uma obrigação evolucionária da humanidade. O problema é que nossa estrutura genética é como um castelo de cartas: todos os elementos estão interconectados e se sustentam mutuamente, muitas vezes de maneiras que não compreendemos. Se tentarmos eliminar um único traço humano que seja, podemos levar centenas de outros a se modificarem ao mesmo tempo, talvez com consequências catastróficas. Langdon assentiu. – Não é à toa que a evolução é gradual. – Exatamente! – concordou a doutora, sentindo sua admiração pelo professor aumentar a cada segundo. – Estamos manipulando um processo que levou bilhões de anos para se desenvolver. Vivemos em uma época de grande perigo. Hoje podemos ativar determinadas sequências de genes capazes de tornar nossos descendentes mais hábeis, mais resistentes, mais fortes ou até mesmo mais inteligentes... em suma, uma super-raça. Esses hipotéticos indivíduos “aprimorados” são o que os transumanistas chamam de pós-humanos, e há quem acredite que eles serão o futuro da nossa espécie. – A semelhança com a eugenia é sinistra – comentou Langdon. O comentário fez Elizabeth Sinskey se arrepiar. Na década de 1940, cientistas nazistas haviam feito experimentos com base em uma teoria que batizaram de eugenia – uma tentativa de usar uma engenharia genética rudimentar para aumentar

(pág.235)...taxa de natalidade de indivíduos com determinados traços genéticos “desejáveis”, ao mesmo tempo que diminuía a taxa de natalidade daqueles com traços étnicos “indesejáveis”. Limpeza étnica no nível genético. – Há semelhanças – reconheceu a doutora. – Embora seja difícil imaginar como alguém poderia criar uma nova raça humana por meio da engenharia genética, muitas mentes brilhantes consideram que o início desse processo é essencial para a nossa sobrevivência. Um dos colaboradores da revista transumanista H+ afirmou que a manipulação genética de células germinativas é “obviamente o próximo passo”, acrescentando que ela simboliza o verdadeiro potencial da nossa espécie. – Ela fez uma pausa. – Mas, para ser justa, é bem verdade que eles reproduziram uma matéria da revista Discover intitulada “A ideia mais perigosa do mundo”. – Acho que esse

(pág. 235)...Estamos manipulando um processo que levou bilhões de anos para se desenvolver. Vivemos em uma época de grande perigo. Hoje podemos ativar determinadas sequências de genes capazes de tornar nossos descendentes mais hábeis, mais resistentes, mais fortes ou até mesmo mais inteligentes... em suma, uma super-raça. Esses hipotéticos indivíduos “aprimorados” são o que os transumanistas chamam de pós-humanos, e há quem acredite que eles serão o futuro da nossa espécie. – A semelhança com a eugenia é sinistra – comentou Langdon. O comentário fez Elizabeth Sinskey se arrepiar. Na década de 1940, cientistas nazistas haviam feito experimentos com base em uma teoria que batizaram de eugenia – uma tentativa de usar uma engenharia genética rudimentar para aumentar a taxa de natalidade de indivíduos com determinados traços genéticos “desejáveis”, ao mesmo tempo que diminuía a taxa de natalidade daqueles com traços étnicos “indesejáveis”. Limpeza étnica no nível genético. – Há semelhanças – reconheceu a doutora. – Embora seja difícil imaginar como alguém poderia criar uma nova raça humana por meio da engenharia genética, muitas mentes brilhantes consideram que o início desse processo é essencial para a nossa sobrevivência. Um dos colaboradores da revista transumanista H+ afirmou que a manipulação genética de células germinativas é “obviamente o próximo passo”, acrescentando que ela simboliza o verdadeiro potencial da nossa espécie. – Ela fez uma pausa. – Mas, para ser justa, é bem verdade que eles reproduziram uma matéria da revista Discover intitulada “A ideia mais perigosa do mundo”. – Acho que esse seria o meu lado – disse Langdon.

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(pág. 236)...Bem, suponho que, assim como as cirurgias plásticas, o aprimoramento genético custe muito caro, certo? – Claro. Nem todo mundo teria dinheiro para aprimorar a si mesmo ou os próprios filhos. – Ou seja, a legalização dos aprimoramentos genéticos logo criaria um mundo de favorecidos e desfavorecidos. Nós já temos um abismo cada vez maior entre ricos e pobres, mas a engenharia genética criaria uma raça de super-humanos e de... supostos sub-humanos. A senhora acha que as pessoas estão preocupadas com o um por cento de ultrarricos que manda no mundo? Imagine se esse um por cento fosse também, literalmente, uma espécie superior: mais inteligente, mais forte, mais saudável. É o tipo de contexto perfeito para a escravidão ou a limpeza étnica. Elizabeth Sinskey sorriu para o atraente acadêmico sentado ao seu lado. – Professor, o senhor entendeu bem depressa o que considero ser o maior risco da engenharia genética. – Bom, posso ter entendido isso, mas ainda estou meio confuso em relação a Zobrist. Toda essa filosofia transumanista parece ter o sentido de melhorar a humanidade, de nos tornar mais saudáveis, curar doenças fatais, aumentar nossa longevidade. As opiniões dele sobre superpopulação, por outro lado, parecem defender a matança de pessoas. As ideias sobre transumanismo e superpopulação parecem estar em contradição, não? A Dra. Sinskey deu um suspiro solene. Era uma boa pergunta, e a resposta, infelizmente, era clara e perturbadora. – Zobrist acreditava piamente no transumanismo... no aprimoramento da espécie por meio da tecnologia. No entanto, acreditava também que a nossa espécie se extinguiria antes de termos a chance de fazer isso. De fato, se ninguém tomar uma atitude, o excesso de pessoas vai eliminar a espécie humana antes de conseguirmos realizar as promessas da engenharia genética. Os olhos de Langdon se arregalaram. – Quer dizer que Zobrist queria reduzir o rebanho... para ganhar mais tempo? A Dra. Sinskey assentiu.

(pág. 241)...Langdon tentou afastar quaisquer imagens da peste, mas não adiantou. Muitas vezes já havia se perguntado como devia ter sido aquela incrível cidade no auge de seu poder, antes de a peste enfraquecê-la a ponto de ser conquistada primeiro pelos otomanos e depois por Napoleão, na época em que Veneza reinava gloriosa como centro comercial da Europa. Segundo todos os relatos, não havia no mundo cidade mais bela ou cuja população possuísse tamanha riqueza e cultura. Por ironia, foi justamente o gosto de seus habitantes por luxos importados que causou a derrocada de Veneza – foram os ratos escondidos nos navios mercantes que levaram a peste mortal da China até a cidade. A mesma peste que havia dizimado inimagináveis dois terços da população chinesa aportou na Europa, onde matou depressa uma em cada três pessoas – sem diferenciar jovens e velhos, ricos e pobres. Langdon já tinha lido descrições da vida em Veneza durante os surtos de peste. Como havia pouca ou nenhuma terra firme onde enterrar os mortos, cadáveres inchados boiavam nos canais. Em algumas áreas a quantidade era tão grande que os trabalhadores precisavam fazer como os madeireiros e empurrar os corpos para o mar. Por mais que se rezasse, nada parecia diminuir a fúria da peste. Quando os governantes se deram conta de que eram os ratos que estavam causando a doença, já era tarde demais. Mesmo assim, Veneza instituiu um decreto obrigando todas as embarcações que chegassem a ficar ancoradas longe da costa durante quarenta dias completos antes de poderem descarregar suas mercadorias. E essa foi a sombria origem da palavra quarentena.

(pág.258)...Grosso modo, o transumanismo é uma filosofia que defende que os seres humanos usem todas as tecnologias disponíveis para manipular nossa própria espécie de modo a torná-la mais forte. A sobrevivência do mais apto. O diretor deu de ombros, aparentemente impassível. – De modo geral, o movimento transumanista é composto por indivíduos sensatos: cientistas com responsabilidade ética, futuristas, visionários – continuou. – No entanto, como em muitos outros movimentos, existe uma facção pequena porém militante que acredita que eles não estão avançando depressa o bastante. Há pensadores apocalípticos segundo os quais o fim está próximo, e alguém precisa tomar atitudes drásticas para garantir o futuro da espécie. – Deixe-me adivinhar: Bertrand Zobrist era uma dessas pessoas? – indagou o diretor. – Isso mesmo – respondeu Sinskey. – Ele era um líder do movimento. Além de muito inteligente, tinha enorme carisma e escreveu artigos catastróficos que deram origem a toda uma facção de defensores radicais do transumanismo. Hoje em dia, muitos de seus discípulos fanáticos usam codinomes, todos com um formato semelhante: duas letras e um número de quatro algarismos. Por exemplo, DG-2064, BA-2103 ou esse que o senhor acabou de citar.s

(pág. 274)...Por favor, professor, apenas ouça. Prometo que tudo vai se esclarecer. Langdon tornou a se recostar na cama da enfermaria. Sua mente era um verdadeiro turbilhão. A Dra. Sinskey prosseguiu: – O agente Brüder e seus homens são uma equipe de SMI: Suporte ao Monitoramento e Intervenção. Eles trabalham sob as ordens do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, o ECDC. Langdon olhou de relance para o emblema no uniforme dos soldados: ECDC. Prevenção e Controle de Doenças? – A especialidade desse grupo é identificar e conter ameaças envolvendo doenças contagiosas – continuou ela. – São basicamente uma equipe da SWAT encarregada de conter graves riscos de saúde em larga escala. Como o senhor era a minha principal esperança de localizar o agente infeccioso desenvolvido por Zobrist, depois do seu sumiço incumbi a equipe de SMI de localizá- lo... Fui eu quem os chamei a Florença para me dar suporte. Langdon não conseguia acreditar. – Esses soldados trabalham para a senhora? Ela assentiu.

(pág. 278)...Parem o vídeo – disse a doutora no escuro. A imagem congelou, mostrando um saco plástico amarrado ao chão, flutuando debaixo d’água – uma nuvem lacrada de líquido suspensa no espaço. – Imagino que o senhor já tenha adivinhado o que é esse objeto – prosseguiu Elizabeth Sinskey. – A questão é: por quanto tempo ele vai permanecer lacrado? – Andando até o monitor, ela apontou para uma marca quase imperceptível no saco transparente. – Infelizmente, isto aqui nos informa de que material o saco é feito. Consegue ler? Com a pulsação acelerada, Langdon estreitou os olhos para ler as letras que pareciam indicar a marca de um fabricante: Solublon © . – O maior fabricante mundial de plástico hidrossolúvel – informou a doutora. Langdon sentiu o estômago embrulhar. – A senhora quer dizer que esse saco está... se dissolvendo? A Dra. Sinskey assentiu com um ar soturno. – Entramos em contato com o fabricante e fomos informados de que, para nosso azar, eles produzem esse plástico em dezenas de espessuras diferentes, que podem se dissolver em intervalos que variam entre dez minutos e dez semanas, dependendo do uso pretendido. A velocidade de degradação varia ligeiramente conforme a qualidade e a temperatura da água, mas não temos dúvida de que Zobrist estudou todos esses fatores com muito cuidado. – Ela fez uma pausa. – Achamos que esse saco vai se dissolver... – Amanhã – interrompeu o diretor. – Foi essa a data que Zobrist marcou no meu calendário. A mesma data da placa. Sentado no escuro, Langdon não sabia o que dizer. – Mostre o restante a ele – falou a Dra. Sinskey. No monitor, a imagem mudou, deslocando-se por sobre as águas iluminadas e a escuridão cavernosa. Langdon teve certeza de que aquele era o lugar ao qual o poema se referia. A lagoa que não reflete as estrelas. A cena evocava imagens das visões infernais de Dante... as águas do rio Cócito a correr pelas grutas do mundo inferior. Onde quer que estivesse situada aquela lagoa, suas águas eram delimitadas por paredes íngremes e cobertas de limo que, na opinião de Langdon, só podiam ser uma construção humana. Ele também notou que a câmera revelava apenas uma parte bem pequena de uma enorme área interna, e as fracas sombras verticais refletidas nas paredes sustentavam seu palpite. Essas sombras eram largas, tubulares e espaçadas a distâncias regulares. Colunas, concluiu Langdon. O teto da tal caverna era sustentado por colunas.Aquela lagoa não ficava dentro de uma gruta, mas no interior de um enorme recinto. Descei às profundezas do palácio afundado... Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, sua atenção foi atraída pela aparição de outra sombra na parede: uma silhueta humanoide com nariz comprido em formato de bico. Ai, meu Deus... A sombra então começou a falar, suas palavras abafadas, meros sussurros se propagando por sobre as águas em um ritmo poético, sinistro. Eu sou a sua salvação. Eu sou a Sombra. Langdon passou vários minutos assistindo ao filme mais aterrorizante que já vira

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(pág. 281)... Sienna Brooks se sentia sozinha desde criança. Por ter crescido com uma inteligência excepcional, havia passado toda a juventude se sentindo uma estranha em uma terra desconhecida... uma alienígena presa em um mundo solitário. Tentara fazer amigos, mas as pessoas da sua idade viviam imersas em frivolidades pelas quais ela não nutria o menor interesse. Tentara respeitar os mais velhos, mas era como se a maioria dos adultos não passasse de crianças envelhecidas, que não tinham sequer a mais básica compreensão do mundo à sua volta, ou – o que era ainda mais perturbador – qualquer curiosidade ou preocupação em relação a ele. Eu tinha a sensação de não fazer parte de nada. Assim, Sienna Brooks havia aprendido a ser um fantasma. Invisível. Aprendera a ser um camaleão, uma atriz, fingindo ser apenas mais um rosto em meio à multidão. Tinha certeza de que a sua paixão infantil pela arte da representação dramática vinha daquilo que se transformaria no sonho de uma vida inteira: tornar-se outra pessoa. Uma pessoa normal....O médico a enchera de perguntas que a própria Sienna já havia feito a si mesma, prescrevendo em seguida uma combinação de amitriptilina e clorodiazepóxido.Furiosa, ela se levantou do divã do psiquiatra com um pulo. – Amitriptilina?! – exclamou, com um tom desafiador. – Eu quero ficar mais feliz... não virar um zumbi! O psiquiatra, justiça seja feita, permaneceu muito calmo diante daquela explosão e propôs uma alternativa. – Sienna, se você preferir não tomar remédios, podemos tentar uma abordagem mais holística. ...E como eu faço para usar um combustível diferente? – É preciso mudar o seu foco intelectual – disse ele. – Hoje, você pensa basicamente em si mesma. Fica se perguntando por que você não se enquadra... e o que há de errado com você. – É verdade, mas eu estou tentando solucionar o problema. Estou tentando me enquadrar. Como vou solucionar o problema sem pensar nele? O médico riu. – Acho que pensar no problema... é justamente o problema. A sugestão do psiquiatra foi que ela tentasse mudar o foco, afastá-lo de si mesma e de seus próprios problemas e voltar a atenção para o mundo à sua volta... e para os problemas dele. Foi então que tudo mudou. Sienna começou a dedicar toda a sua energia a não sentir pena de si mesma... mas dos outros. Criou uma iniciativa filantrópica, foi distribuir sopa nos abrigos para os sem-teto e ler para os cegos. Para sua surpresa, nenhuma das pessoas que Sienna ajudava parecia reparar que ela era diferente. Ficavam apenas gratas pelo fato de alguém se importar com elas. Ela trabalhava mais duro a cada semana e mal conseguia dormir pensando em quantas pessoas precisavam da sua ajuda. “Sienna, pegue leve!”, viviam lhe repetindo. “Você não pode salvar o mundo inteiro!”

(pág. 263)...Quando eles a convidaram para uma viagem de um mês às Filipinas, ela aceitou na hora. Imaginava que fosse dar comida a pescadores ou agricultores carentes da zona rural daquele país, que, pelo que tinha lido, possuía uma beleza geológica paradisíaca, com solos oceânicos vibrantes de vida e belíssimas planícies. Assim, quando o grupo montou acampamento em meio aos aglomerados humanos da cidade de Manila, tudo o que conseguiu fazer foi ficar boquiaberta de horror. Nunca tinha visto tamanha pobreza. Como é possível uma pessoa só fazer diferença? Para cada indivíduo alimentado, havia centenas de outros que a fitavam com uma expressão desconsolada. Manila tinha engarrafamentos de seis horas, uma poluição sufocante e uma indústriasexual aterrorizante, cuja mão de obra era formada, sobretudo, por crianças pequenas – muitas das quais eram vendidas a cafetões por pais que encontravam consolo no fato de que, desse modo, os filhos pelo menos não morreriam de fome. Em meio a esse caos de prostituição infantil, pedintes, batedores de carteira e coisas ainda piores, ela se viu subitamente paralisada. À sua volta, tudo o que via era a humanidade subjugada por seu instinto mais primitivo de sobrevivência. Diante do desespero, os seres humanos se tornam animais. A depressão de Sienna voltou com toda a força. De repente, ela havia compreendido o que a humanidade era de fato: uma espécie à beira do colapso. Eu me enganei, pensou. Não posso salvar o mundo. Tomada por um surto frenético, Sienna saiu correndo pelas ruas da cidade, abrindo caminho em meio à multidão, derrubando as pessoas, seguindo sempre em frente à procura de um espaço aberto. Estou sendo sufocada por carne humana!

(pág. 285)...O ataque de pânico nas ruas apinhadas de Manila despertara em Sienna uma profunda preocupação com o crescimento descontrolado da população mundial. Foi nessa época que descobriu os escritos de Bertrand Zobrist, geneticista que havia proposto algumas teorias muito progressistas sobre a questão. Esse cara é um gênio, percebera ao ler o trabalho dele. Nunca havia sentido nada por nenhum outro ser humano. Quanto mais textos de Zobrist ela lia, mais tinha a sensação de estar olhando para dentro do coração de uma alma gêmea. Seu artigo intitulado “Você não pode salvar o mundo” trouxe à memória de Sienna aquilo que todos costumavam lhe dizer quando ela era pequena... só que Zobrist defendia exatamente o contrário. Você PODE salvar o mundo, escrevia ele. Se não você, quem? Se não agora, quando? Sienna estudou com afinco as equações matemáticas de Zobrist, informando-se sobre suas previsões de uma catástrofe malthusiana e do iminente colapso da espécie. Seu intelecto adorava aquelas especulações de alto nível, mas, conforme vislumbrava o futuro à sua frente... matematicamente garantido... tão óbvio... inevitável... ela sentia seu nível de estresse aumentar. Por que ninguém está prevendo isso? Por mais que as ideias de Zobrist a amedrontassem, Sienna ficou obcecada por ele: assistia a vídeos com suas apresentações, lia tudo o que ele escrevia. Quando ouviu dizer que ele daria uma palestra nos Estados Unidos, soube que precisava ir vê-lo falar. E foi nessa noite que o seu mundo se transformou.

(pág. 287)...Segundo o diretor, Sienna Brooks e Bertrand Zobrist haviam tido um longo relacionamento. Os dois agiam juntos, numa espécie de movimento clandestino, o transumanismo. O nome todo dela era Felicity Sienna Brooks, mas ela também era conhecida pelo codinome FS-2080... suas iniciais e a data de seu centésimo aniversário. Nada disso faz sentido! – Conheci Sienna Brooks em circunstâncias diferentes e confiava nela – dissera o diretor a Langdon. – Portanto, quando ela me procurou ano passado me pedindo que encontrasse um possível cliente muito rico, eu aceitei. Era Bertrand Zobrist. Ele me contratou para lhe providenciar um lugar seguro onde pudesse trabalhar em segredo na criação de sua “obra-prima”. Imaginei que estivesse desenvolvendo uma nova teconologia que não queria que ninguém copiasse, ou talvez realizando alguma pesquisa genética inovadora que contrariasse os regulamentos éticos da OMS. Não fiz perguntas, mas, acredite, nunca imaginei que ele estivesse criando... uma peste.

(pág. 293)...Como deve saber, quando alguém passa por uma experiência terrível, como um acidente de carro ou uma agressão sexual, as memórias de longo prazo do ocorrido podem ter um efeito debilitante permanente. Com o uso das benzodiazepinas, os neurocientistas conseguem tratar o estresse pós-traumático antes mesmo de ele se instalar. Langdon ouvia em silêncio, incapaz de imaginar o rumo que aquela conversa poderia tomar. – Quando as lembranças novas se formam – prosseguiu o diretor –, os acontecimentos ficam armazenados na memória de curto prazo durante cerca de 48 horas antes de migrarem para a memória de longo prazo. Usando novas combinações de benzodiazepinas, é perfeitamente possível atualizar a memória de curto prazo... apagando seu conteúdo antes de as lembranças recentes migrarem e se transformarem em memórias de longo prazo. Por exemplo, se uma vítima de agressão for medicada com uma substância dessa família poucas horas depois do ocorrido, as lembranças podem ser eliminadas para sempre e o trauma jamais fará parte da sua psique. A única desvantagem é que vários dias da vida dela também serão apagados de sua memória. Langdon o encarava com uma expressão incrédula. – Vocês provocaram a minha amnésia!

(pág. 302)...O conteúdo... – começou Langdon. – Vocês têm alguma ideia do que seja? Exatamente? Sei que se trata de um patógeno, mas... – Nós analisamos as imagens com cuidado – respondeu Brüder – e elas sugerem que de fato seja algo biológico, não químico... ou seja, uma substância viva. A julgar pela pequena quantidade que está dentro do recipiente, calculamos que seja altamente contagiosa e tenha a capacidade de se replicar. Ainda não temos certeza se é algo que se propaga pela água, como uma bactéria, ou algo que, uma vez liberado, tem a capacidade de se propagar pelo ar, como um vírus. As duas coisas são possíveis.

(pág. 305)...Langdon começou a perceber a lógica perversa que levara Zobrist a escolher o centro de Istambul como epicentro de uma pandemia. Onde o Oriente encontra o Ocidente. A encruzilhada do mundo. Em diversas ocasiões ao longo da história, Istambul havia sido assolada por pestes mortais que dizimaram fatias imensas de sua população. Na realidade, durante a fase final da Peste Negra, passara a ser conhecida como o “núcleo difusor da peste” no império. Segundo relatos, a doença chegara a matar mais de dez mil habitantes por dia. Muitos quadros otomanos famosos mostravam cidadãos desesperados cavando valas comuns para enterrar montanhas de cadáveres nos campos de Taksim, que ficava nos arredores da cidade. Langdon torceu para Karl Marx ter se enganado ao afirmar: “A história se repete.”

(pág.308)...A internet estava repleta de organizações com nomes como Alibi Company, que faziam fortuna em todo o mundo proporcionando a cônjuges infiéis meios de trair sem serem pegos. Com a promessa de “fazer o tempo parar” para permitir a seus clientes escapar durante um certo período de maridos, mulheres ou filhos, essas empresas eram mestres na arte de criar ilusões: inventavam congressos, consultas médicas e até mesmo casamentos – que sempre incluíam falsos convites, brochuras, passagens de avião e confirmações de reserva em hotéis, chegando até a fornecer números de telefone que tocavam nas centrais da Alibi Company, onde profissionais treinados se faziam passar por quaisquer recepcionistas ou contatos necessários à farsa. O diretor, contudo, nunca perdera seu tempo com artifícios tão fúteis. Dedicava-se apenas às farsas em grande escala, atendendo a clientes dispostos a pagar milhões de dólares por serviços da mais alta qualidade. Governos. Grandes corporações. Um ou outro milionário. Para alcançar seus objetivos, esses clientes teriam à sua disposição todos os recursos e funcionários, toda a experiência e criatividade do Consórcio. Mas, acima de tudo, pagavam pelapossibilidade de negar tudo – pela garantia de que qualquer ilusão fabricada para sustentar sua farsa jamais seria rastreada até eles. Fosse para valorizar um mercado de ações, justificar uma guerra, ganhar uma eleição ou atrair um terrorista para fora de seu esconderijo, os poderosos do mundo dependiam da disseminação de informações enganosas para ajudar a moldar a opinião pública. Era assim desde sempre. Nos anos 1960, os russos haviam construído toda uma falsa rede de espionagem encarregada de transmitir informações ilegítimas que os britânicos passaram anos interceptando. Em 1947, a Força Aérea americana havia fabricado um complexo factoide envolvendo óvnis para desviar a atenção de um acidente aéreo ultrassecreto em Roswell, no Novo México. Mais recentemente, o mundo fora levado a acreditar na existência de armas de destruição em massa no Iraque. O diretor passara quase três décadas ajudando os poderosos a proteger, conservar e aumentar seu poder. Embora tomasse muito cuidado com os contratos que fechava, sempre temera que um dia aceitasse o trabalho errado. E agora esse dia chegou.

(pág.320)...Ele criou um bioaerossol – declarou o agente. Elizabeth Sinskey assentiu e seus ombros caíram. – E isso significa? – quis saber Langdon. – Significa que o agente infeccioso é capaz de se propagar pelo ar – explicou Brüder. Langdon se calou e a doutora pôde ver que ele agora estava entendendo a magnitude daquela emergência. Não era de agora que a diretora cogitava a possibilidade de um patógeno que se propagasse pelo ar. Contudo, quando ainda acreditava que a cisterna abastecesse a cidade, torcera para que Zobrist tivesse escolhido um organismo vivo que se propagasse pela água. Bactérias que viviam na água eram robustas e resistentes a mudanças climáticas, mas, em compensação, sua propagação era lenta. Patógenos que se progavam pelo ar se espalhavam depressa. Muito depressa. – Se o agente se propaga pelo ar, deve ser um vírus – afirmou Brüder. Um vírus, concordou a Dra. Sinskey. O patógeno de propagação mais veloz que Zobrist poderia ter escolhido. Liberar debaixo d’água um vírus que se propagava pelo ar sem dúvida era uma escolha estranha, mas havia muitas formas de vida que incubavam em líquido para depois eclodir no ar: mosquitos, esporos de mofo, as bactérias causadoras da legionelose, micotoxinas, marés vermelhas e até mesmo os seres humanos. Elizabeth Sinskey teve uma sombria visão do vírus permeando a lagoa da cisterna... e depois das microgotículas infectadas se espalhando pelo ar úmido. Mirsat agora olhava para o outro lado de uma rua engarrafada com uma expressão apreensiva.

(pág. 321)...Faz uma semana que a sinfônica está tocando esse concerto – disse Langdon, examinando as letras miúdas do cartaz. – É um espetáculo gratuito. Patrocinado por um doador anônimo. Elizabeth Sinskey achava que sabia quem era o doador. Pelo visto, o pendor de Zobrist para a teatralidade era também uma impiedosa estratégia prática. Aquela semana de concertos gratuitos atrairia milhares de turistas a mais do que o normal para dentro da cisterna, colocando-os em uma área congestionada... onde iriam respirar o ar contaminado para em seguida retornar a suas casas, tanto em Istambul quanto no resto do mundo. – Senhor? – disse o porteiro, chamando Brüder. – Temos lugar para mais duas pessoas. O agente se virou para a Dra. Sinskey. – Chame as autoridades locais. Independentemente do que encontrarmos lá embaixo, vamos precisar de ajuda.

(pág. 331)...Dessa vez a voz do agente soou bem mais nítida: – ... repetindo... o agente contaminante se dispersou! A Dra. Sinskey se lançou para a frente e quase caiu ao pé da escada na entrada da cisterna. Como é possível?! – O saco plástico se dissolveu – disse a voz de Brüder, bem audível. – O agente contaminante está na água! A doutora sentiu um suor frio brotar de sua pele. Ergueu os olhos para tentar entender que vasto mundo subterrâneo era aquele que agora se estendia à sua frente. Em meio à névoa avermelhada, viu uma ampla superfície de água da qual brotavam centenas de colunas. Mais do que tudo, porém, viu pessoas. Centenas de pessoas. Ficou olhando para aquela multidão alheia ao perigo, presa na armadilha mortal subterrânea de Zobrist. Reagiu por instinto. – Agente Brüder, suba imediatamente. Vamos começar a evacuar as pessoas agora mesmo. A resposta do agente foi instantânea. – De jeito nenhum! Lacrem a porta! Não deixem ninguém sair! Como diretora da OMS, Elizabeth Sinskey estava habituada a ter suas ordens acatadas sem questionamento. Por um segundo pensou que não havia entendido direito as palavras do chefe da equipe de SMI. Lacrar a porta?! – Dra. Sinskey! – gritou o agente, mais alto que a música. – Está me entendendo?! Fechem a droga da porta! Brüder repetiu a ordem, mas era desnecessário. A Dra. Sinskey sabia que ele estava certo. Diante de uma possível pandemia, a contenção era a única alternativa cabível. Por reflexo, ela ergueu a mão e segurou com força o amuleto de lápis-lazúli. Sacrificar poucos para salvar muitos. Mais decidida, levou o rádio à boca. – Confirmado, agente Brüder. Vou dar a ordem para lacrarem a porta.

(pág.341)...Pronto, espalhou-se. Parada ao pé da escada da cisterna, Elizabeth Sinskey fitava o vazio da caverna evacuada. Tinha respiração dificultada pela máscara de gás. Embora sem dúvida já houvesse sido exposta a qualquer patógeno que pudesse haver lá embaixo, sentiu-se aliviada por estar usando uma roupa de proteção quando ela e a equipe de SMI entraram no espaço deserto. Todos vestiam volumosos macacões brancos conectados a capacetes hermeticamente fechados e pareciam um bando de astronautas invadindo uma nave alienígena. Ela sabia que, lá em cima, centenas de espectadores e músicos assustados continuavam aglomerados na rua, muitos sendo atendidos por conta de ferimentos sofridos durante a correria. Outros haviam fugido. Sentia-se com sorte por ter escapado apenas com um hematoma no joelho e o amuleto quebrado. Só existe um contaminante que se propaga mais depressa que um vírus, pensou. O medo. A porta da cisterna estava trancada, lacrada de modo a impedir a troca de ar e protegida

(pág.342)...Brüder teve uma desconfortável sensação de estar deixando passar alguma coisa. Mesmo assim, concentrou-se na nova estratégia de contenção, que exigia resposta a uma pergunta crítica. Qual é o atual raio de dispersão do agente contaminante? Sabia que essa pergunta seria respondida em poucos minutos. Sua equipe havia montado nas passarelas uma série de unidades de PCR portáteis a distâncias cada vez maiores da água. Esses aparelhos usavam algo conhecido como reação em cadeia da polimerase – PCR, na sigla em inglês – para detectar uma contaminação por vírus. O agente de SMI ainda tinha esperança. Como a água da lagoa era parada e pouco tempo havia transcorrido, estava confiante de que os aparelhos detectariam uma área de contaminação relativamente pequena, que poderia ser tratada com substâncias químicas e sucção. – Tudo pronto? – perguntou um técnico por um megafone. Os agentes espalhados pela cisterna fizeram um sinal de positivo com o polegar. – Podem analisar as amostras – chiou a voz. Por toda a caverna, os peritos se agacharam e ligaram seus aparelhos de PCR. As máquinas começaram a analisar amostras do ponto da passarela em que estavam, espaçadas em arcos cada vez maiores ao redor da placa de Zobrist. Um silêncio tomou conta do recinto enquanto todos aguardavam, rezando para ver apenas luzinhas verdes. E então aconteceu. Na máquina mais próxima de Brüder, uma luz de detecção viral vermelha começou a piscar. Ele tensionou os músculos e olhou para a máquina seguinte. Nela também piscava uma luz vermelha. Não. Murmúrios estupefatos ecoaram pela caverna. Horrorizado, Brüder viu os aparelhos de PCR começarem a piscar com uma luz vermelha por toda a cisterna, um após outro, até a entrada. Meu Deus. O mar de luzes vermelhas pintava um quadro inconfundível. O raio de contaminação era enorme. Toda a cisterna estava infestada de vírus.

(pág.343)...or Zobrist e, se você não tivesse entrado na água... – Robert, eu não liberei o vírus! – gritou ela. – Quando entrei na água, estava tentando encontrá- lo, mas já era tarde. Não havia mais nada lá. – Não acredito – disse Langdon. – Eu sei que não. E não o condeno. – Sienna pôs a mão no bolso e pegou um folheto encharcado. – Mas talvez isto aqui possa ajudar. – Ela jogou o papel para ele. – Encontrei pouco antes de entrar na lagoa. Langdon pegou o folheto e o abriu. Era o programa das sete apresentações da Sinfonia Dante marcadas para acontecer na cisterna. – Veja as datas – disse ela. Ele leu as datas uma vez e depois tornou a ler, intrigado. Por algum motivo, tivera a impressão de que o espetáculo daquela noite era a estreia – o primeiro de sete concertos naquela semana destinados a atrair pessoas para dentro de uma cisterna infectada. Mas aquele programa dizia outra coisa. – Hoje era o encerramento? – perguntou Langdon, desviando os olhos do papel. – A orquestra se apresentou a semana inteira? Sienna assentiu. – Fiquei tão surpresa quanto você. – Ela fez uma pausa. Sua expressão era sombria. – Robert, o vírus já foi liberado. Há uma semana. – Não pode ser – insistiu Langdon. – A data é amanhã. Zobrist fez até uma placa. – Sim. Eu a vi debaixo d’água. – Então sabe que ele tinha uma fixação com o dia de amanhã. Sienna suspirou.– Robert, eu conhecia Bertrand muito bem. Mais do que admiti para você. Ele era um cientista. Para ele, o que importava era o resultado. Agora entendo que a data na placa não é o dia da liberação do vírus. É outra coisa, mais importante para o objetivo dele. – O quê? Da lancha, Sienna ergueu os olhos para ele, com um ar solene. – É uma data de saturação global, uma projeção matemática de quando o vírus teria se espalhado pelo mundo inteiro... e infectado toda a população. Essa ideia fez Langdon estremecer, mas ele não pôde deixar de suspeitar de que ela estivesse mentindo. Sua história tinha uma falha crucial e Sienna Brooks já provara ser capaz de mentir sobre qualquer coisa. – Só tem um problema, Sienna – disse, encarando-a. – Se essa peste já se espalhou pelo mundo, por que as pessoas não estão adoecendo? Ela virou a cabeça, subitamente incapaz de sustentar seu olhar. – Se a peste foi liberada há uma semana, por que as pessoas não estão morrendo? – insistiu Langdon. Ela tornou a se virar para ele devagar. – Porque... – começou, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. – Porque Bertrand não criou uma peste. – Seus olhos tornaram a ficar marejados. – Ele criou uma coisa muito mais perigosa.

(pág. 345)...O vírus se propagava pelo ar. Pelo visto, o conteúdo do saco de Solublon havia borbulhado até a superfície, liberando partículas virais no ar por aerossol. Não seria preciso muitas, Elizabeth Sinskey sabia. Principalmente em uma área tão confinada. Ao contrário de uma bactéria ou de um patógeno químico, um vírus podia se espalhar com velocidade e poder de penetração espantosos. Com um comportamento parasítico, os vírus entravam em um organismo e se vinculavam a uma célula-hospedeira num processo chamado adsorção. Então injetavam nela seu próprio DNA ou RNA, cooptando a célula invadida e forçando- a a replicar o vírus. Uma vez produzido um número suficiente de cópias, as novas partículas virais matavam a célula e rompiam sua membrana, saindo em busca de novas células para atacar e repetindo todo o processo. Em seguida, um indivíduo infectado projetava gotículas respiratórias no ar por meio da expiração ou do espirro; essas gotículas permaneciam suspensas até serem inaladas por outros hospedeiros, e o ciclo recomeçava. Crescimento exponencial, refletiu a Dra. Sinskey, recordando os gráficos de Zobrist que ilustravam a explosão demográfica. Ele está usando o crescimento exponencial dos vírus para combater o crescimento exponencial da população. A pergunta mais urgente, porém, era a seguinte: Qual seria o comportamento desse vírus? Friamente falando: Como iria atacar seu hospedeiro? O Ebola comprometia a capacidade de coagulação do sangue, causando hemorragias impossíveis de conter. O hantavírus provocava falência pulmonar. Toda uma série de vírus conhecidos como oncovírus causava câncer. E o HIV atacava o sistema imunológico e causava a aids. Não era segredo na comunidade médica que, se o vírus HIV se propagasse por contágio aéreo, poderia ter causado a extinção da espécie humana. Então o que faz esse vírus de Zobrist?

(pág.346)...Fosse o que fosse, era óbvio que os efeitos demoravam a aparecer. Nenhum hospital das redondezas havia relatado casos de pacientes com sintomas fora do normal. Ansiosa para obter respostas, Elizabeth Sinskey foi até o laboratório. Viu Brüder em pé junto aopoço da escada, onde seu celular conseguira captar um sinal fraco. O agente falava com alguém em voz baixa. A diretora se aproximou depressa e chegou bem na hora em que ele encerrava a ligação. – Certo, entendido – disse Brüder. Sua expressão transmitia uma emoção entre a incredulidade e o terror. – Vou repetir mais uma vez para que fique bem claro: essa informação é totalmente confidencial. Por enquanto, só você pode saber. Me ligue assim que tiver mais informações. Obrigado. – Ele desligou. – O que está acontecendo? – perguntou a Dra. Sinskey. Brüder expirou bem devagar. – Acabei de falar com um velho amigo, um virologista de ponta no CDC de Atlanta. A diretora da OMS fechou a cara. – Você alertou o CDC sem a minha autorização? – Achei que valia a pena correr esse risco – respondeu ele. – Meu contato sabe ser discreto e nós vamos precisar de dados bem mais específicos do que conseguiremos obter aqui neste laboratório improvisado. Elizabeth Sinskey olhou para os agentes de SMI recolhendo amostras de água ou curvados junto a aparelhos eletrônicos portáteis. Ele tem razão. – Meu contato no CDC está em um laboratório de microbiologia bem equipado – continuou Brüder – e já confirmou a existência de um patógeno viral altamente contagioso e nunca visto. – Espere aí! – interrompeu a doutora. – Como conseguiu mandar uma amostra para ele tão depressa? – Não mandei – respondeu Brüder, tenso. – Ele analisou o próprio sangue. Elizabeth Sinskey só precisou de alguns instantes para processar o significado daquela informação. O vírus já é global.

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(pág.347)...inteligência dele me enfeitiçaram. Bertrand acreditava, assim como eu, que a nossa espécie está à beira do colapso... que enfrentaremos um fim horripilante que está vindo depressa em nossa direção, muito mais rápido do que qualquer um se atreve a aceitar. Langdon não comentou nada. – Passei a infância querendo salvar o mundo – continuou ela. – E todos me diziam: “Você não pode fazer isso, então não sacrifique a sua felicidade tentando.” – Ela se calou, o rosto tenso, tentando conter as lágrimas. – Então conheci Bertrand, um homem lindo, inteligentíssimo, que me disse não só que salvar o mundo era possível, mas que era um imperativo moral. Ele me apresentou a todo um círculo de pessoas que pensavam da mesma forma, indivíduos com capacidades e intelectos impressionantes... gente que podia mesmo mudar o mundo. Pela primeira vez na vida, Robert, eu não me senti sozinha. Ao ouvir seu tom sofrido, Langdon abriu um sorriso discreto. – Já passei por algumas coisas horríveis na vida – prosseguiu Sienna com a voz cada vez menos firme. – Coisas que tive dificuldade de superar... – Ela desviou os olhos e passou a mão pelo crânio calvo com um gesto ansioso antes de se recompor e tornar a se virar para ele. – E talvez sejapor isso que a única coisa que me faz seguir em frente é acreditar que podemos ser melhores do que somos... que podemos tomar atitudes para evitar um futuro catastrófico. – E Bertrand também acreditava nisso? – indagou Langdon. – Piamente. Sua esperança em relação à humanidade não tinha limites. Ele foi um transumanista que acreditava que estávamos no limiar de uma brilhante era “pós-humana”... uma era de genuína transformação. Tinha um raciocínio futurista e olhos capazes de enxergar à frente de maneiras que outros nem concebiam. Entendia os poderes notáveis da tecnologia e acreditava que, em algumas gerações, nossa espécie se tornaria um animal muito diferente: geneticamente aprimorado para ser mais saudável, mais inteligente, mais forte e até mais generoso. – Ela fez uma pausa. – Só havia um problema. Ele não achava que a nossa espécie fosse viver o suficiente para que esse futuro se concretizasse. – Por causa da superpopulação – disse Langdon. Ela assentiu. – A catástrofe malthusiana. Bertrand costumava dizer que se sentia como São Jorge tentando matar o monstro ctônico. Langdon não entendeu o que ela quis dizer. – A Medusa? – Metaforicamente falando, sim. A Medusa e todo o grupo de divindades ctônicas vivem no subterrâneo porque têm associação direta com a Mãe Terra. De um ponto de vista alegórico, os ctônios são sempre símbolos de... – Fertilidade – completou Langdon, surpreso por não ter pensado antes naquele paralelo. Frutificação. População. – Isso mesmo. Fertilidade. Bertrand usava a expressão “monstro ctônico” para se referir à perigosa ameaça da nossa própria fecundidade. Ele descrevia nossa produção exagerada de descendentes como um monstro à espreita no horizonte... um monstro que precisávamos conter agora, antes que consumisse a todos. Estamos ameaçados por nossa própria virilidade, entendeu Langdon. O monstro ctônico. – E como Bertrand combateu esse monstro? – Por favor, entenda – disse ela, na defensiva. – Esses não são problemas de fácil solução. A avaliação é sempre um processo confuso. Um homem que corta a perna de uma criança de 3 anos comete um crime hediondo... a menos que ele seja um médico e salve a criança da gangrena. Às vezes a única escolha possível é o menor de dois males. – Seus olhos tornaram a ficar marejados. – Na minha opinião, o objetivo de Bertrand era nobre, mas os seus métodos... – Ela desviou o olhar, prestes a cair em prantos. – Sienna – sussurrou Langdon em tom brando. – Eu preciso entender tudo isso. Preciso que você me explique o que Bertrand fez. O que foi que ele soltou no mundo? Sienna tornou a encará-lo e seus olhos castanhos suaves irradiavam agora um medo mais sombrio. – Um vírus – respondeu ela, também com um sussurro. – Um tipo de vírus muito específico. Langdon prendeu a respiração. – Por favor, me explique. – Bertrand criou um vetor viral. É um vírus fabricado de forma intencional para inserir informações genéticas na célula que está atacando. – Sienna fez uma pausa para permitir que ele racionalizasse o conceito. – Em vez de matar a célula hospedeira, um vírus-vetor insere nessacélula um fragmento de DNA predeterminado e basicamente modifica o genoma da célula. Langdon teve que se esforçar para entender o que ela estava dizendo. Esse vírus muda o nosso DNA? – A natureza insidiosa desse tipo de vírus está no fato de ninguém saber que foi contaminado – continuou ela. – Ninguém adoece. Não há sintomas claros que indiquem uma modificação genética. Por alguns instantes, Langdon pôde sentir o sangue pulsando em suas veias. – E que mudanças ele causa? Sienna fechou os olhos por alguns instantes. – Robert, na hora em que esse vírus foi liberado na água da cisterna, uma reação em cadeia se iniciou. Todos que desceram lá e respiraram aquele ar foram contaminados. Eles se tornaram hospedeiros, cúmplices involuntários, transmitindo o vírus para outras pessoas e iniciando uma proliferação exponencial da doença, que a esta altura já varreu o planeta como um incêndio florestal. O vírus já deve ter penetrado a população do mundo inteiro. Você, eu... todo mundo. Langdon se levantou do banco e começou a andar na frente dela como um louco, de um lado para outro. – E o que ele faz? – tornou a perguntar. Sienna demorou um bom tempo para responder. – Ele tem a capacidade de tornar o corpo humano... infértil. – Ela se remexeu, pouco à vontade. – Bertrand criou a praga da esterilidade. As palavras atingiram Langdon de forma brutal. Um vírus que nos torna estéreis? Sabia que alguns vírus podiam causar esterilidade, mas um patógeno altamente contagioso por via aérea capaz de fazer isso alterando nossos genes parecia ser coisa de outro mundo... uma espécie de distopia do futuro à George Orwell. – Bertrand muitas vezes teorizou sobre um vírus assim, mas nunca pensei que ele fosse tentar criá-lo... muito menos que conseguiria – disse Sienna, baixinho. – Quando recebi a carta e soube o que ele tinha feito, fiquei chocada. Tentei desesperadamente encontrá-lo e implorar para que destruísse sua criação. Mas cheguei tarde demais. – Espere aí – interpôs Langdon, enfim recuperando a voz. – Se o vírus torna todo mundo infértil, não haverá novas gerações e a raça humana vai entrar em ameaça de extinção... imediatamente. – É isso mesmo – concordou ela, com a voz tão baixa que era quase inaudível. – Só que a extinção não era o objetivo de Bertrand. Na verdade, o objetivo dele era o contrário. Foi por isso que ele criou um vírus que se ativa de maneira aleatória. Apesar de Inferno ser agora endêmico a todo DNA humano e embora ele vá ser transmitido por todos nós a partir desta geração, só será “ativado” em uma determinada porcentagem de pessoas. Em outras palavras, o vírus agora é carregado por toda a população do planeta, mas só vai causar esterilidade em uma parcela selecionada de forma aleatória. – E... que parcela é essa? – indagou Langdon, sem acreditar que estava perguntando aquilo. – Como você já percebeu, Bertrand tinha fixação pela Peste Negra, a praga que dizimou de modo indiscriminado um terço da população da Europa. Na opinião dele, a natureza sabia conter a si mesma. Quando fez as contas sobre infertilidade, ficou entusiasmado ao descobrir que a taxa de mortalidade da peste, uma em cada três pessoas, parecia ser exatamente o necessário para começar a selecionar a população mundial em um ritmo manejável. Que monstruosidade, pensou Langdon. – A Peste Negra diminuiu o rebanho e preparou o caminho para a Renascença – disse Sienna

(pág.350)...Na carta que me escreveu, Bertrand parecia bastante orgulhoso e dizia que considerava Inferno uma solução muito elegante e humana para o problema. – Novas lágrimas brotaram de seus olhos e ela as secou. – Comparada à virulência da Peste Negra, reconheço que a abordagem dele tem certa compaixão. Não haverá hospitais transbordando de gente doente e agonizante, corpos apodrecendo nas ruas nem sobreviventes angustiados tendo que suportar a morte de seus próximos. Os seres humanos simplesmente vão parar de ter tantos filhos. Nosso planeta vai passar por uma diminuição gradual da taxa de natalidade até a curva populacional se inverter e a população começar a se reduzir. – Ela fez outra pausa. – O resultado será bem mais duradouro do que o da peste, que só controlou nosso número por um breve período, criando uma depressão temporária no gráfico do crescimento populacional. Com Inferno, Bertrand criou uma solução de longo prazo, permanente. Uma solução transumanista. Ele era um geneticista que manipulava células germinativas. Solucionava os problemas no nível mais elementar. – Isso é terrorismo biológico... – sussurrou Langdon. – É mudar quem nós somos, quem sempre fomos, no nível mais fundamental. – Bertrand não pensava assim. Ele sonhava ser capaz de consertar a falha crucial da evolução humana: o fato de a nossa espécie ser prolífica demais. Somos um organismo que, apesar do intelecto ímpar, parece incapaz de controlar a própria quantidade. Anticoncepcionais gratuitos, campanhas educativas, incentivos do governo, nada disso funciona, seja em que intensidade for. Querendo ou não, não paramos de ter filhos. Você sabia que o CDC acabou de divulgar que quase metade das gestações nos Estados Unidos não são planejadas? E nos países subdesenvolvidos esse número passa dos setenta por cento! Apesar de já ter visto essas estatísticas, só agora Langdon começava a entender suas implicações. Como espécie, os seres humanos eram iguais aos coelhos introduzidos em certas ilhas do Pacífico e deixados livres para se reproduzir de modo desenfreado até destruírem o ecossistema e entrarem em extinção. Bertrand Zobrist reprojetou nossa espécie: na tentativa de nos salvar, ele nos transformou em uma população menos fértil. Langdon respirou fundo e deixou que seus olhos se perdessem nas águas do Chifre de Ouro, sentindo-se tão sem chão quanto os barcos que navegavam ao longe.

(pág.350)...– O mais assustador de tudo não é o fato de Inferno causar infertilidade, mas de ter essa capacidade – declarou Sienna. – Um vetor viral transmitido por contágio aéreo é um salto quântico muitos anos à frente do nosso tempo. Da noite para o dia, Bertrand nos retirou da idade das trevas da engenharia genética e nos lançou de cabeça no futuro. Ele destravou o processo evolutivo e proporcionou à humanidade a capacidade de redefinir a espécie de forma ampla e abrangente. A caixa de Pandora se abriu e não há como tornar a fechá-la. Bertrand criou uma chave para modificar a raça humana e, se essa chave cair nas mãos erradas... Deus nos proteja! Essatecnologia nunca deveria ter sido criada. Assim que li a carta em que Bertrand explicava como havia alcançado seus objetivos, eu a queimei. Então jurei encontrar o tal vírus e destruí-lo até o último vestígio. – Não entendo – disse Langdon, deixando transparecer uma certa raiva em seu tom. – Se você queria destruir o vírus, por que não cooperou com a Dra. Sinskey e com a OMS? Deveria ter ligado para o CDC ou para algum outro lugar. – Você não pode estar falando sério! As agências governamentais são as últimas organizações no mundo que deveriam ter acesso a uma tecnologia dessas! Pense um pouco, Robert. Ao longo de toda a história da humanidade, todas as tecnologias inovadoras desenvolvidas pela ciência foram transformadas em armas, do simples fogo à energia nuclear, e quase sempre pelas mãos de governos poderosos. De onde você acha que vêm nossas armas biológicas? Elas são criadas a partir de pesquisas realizadas em lugares como a OMS e o CDC. A tecnologia de Bertrand, um vírus pandêmico usado como vetor genético, é a mais poderosa arma já criada. Ela prepara o caminho para horrores que não podemos sequer imaginar, incluindo armas biológicas com alvo definido. Imagine um patógeno que ataque apenas pessoas cujo código genético contenha determinados marcadores étnicos. Isso possibilitaria uma limpeza étnica generalizada em nível genético! – Entendo suas preocupações, Sienna, de verdade, mas essa mesma tecnologia não poderia ser usada para o bem? Essa descoberta não é uma dádiva para a medicina genética? Uma nova forma de ministrar vacinas em nível global, por exemplo?

(pág. 356)...u acredito nela – disse Langdon num tom inflexível. – E, se ela está dizendo que é um vírus- vetor, acho melhor a senhora levá-la a sério. De repente a doutora sentiu-se exausta. Seu cérebro penava para analisar as palavras de Langdon. Ela foi até a janela e olhou para fora. Um vetor viral capaz de alterar o DNA? Por mais improvável e horripilante que essa possibilidade lhe soasse, tinha que admitir que havia nela uma certa lógica sinistra. Afinal, Zobrist era geneticista e sabia muito bem que a mais insignificante mutação em um único gene podia ter efeitos catastróficos no corpo: cânceres, falências de órgãos, anomalias sanguíneas. Até uma doença tão horripilante quanto a mucoviscidose, que afoga suas vítimas em muco, devia-se a nada mais do que uma minúscula falha em um gene regulador do cromossomo 7. Os especialistas agora haviam começado a tratar esses distúrbios genéticos usando vírus-vetores rudimentares, injetados no paciente. Esses vírus não contagiosos eram programados para viajar pelo organismo e substituir os fragmentos de DNA danificados por outros. Mas essa nova ciência, assim como todas as demais, também tinha seu lado obscuro. Dependendo das intenções do geneticista, os efeitos de um vírus-vetor podiam ser favoráveis ou destrutivos. Se fosse programado de maneira mal-intencionada para inserir DNA danificado em células saudáveis, os resultados seriam devastadores. Além disso, se o vírus destrutivo de alguma forma fosse manipulado para se tornar altamente contagioso por via aérea... A possibilidade fez a Dra. Sinskey se arrepiar. Que aberração genética Zobrist terá imaginado? Como ele planeja diminuir o rebanho dos homens? Sabia que poderia levar semanas para encontrar a resposta. O código genético humano continha um labirinto aparentemente infinito de permutações químicas. A ideia de vasculhar sua totalidade na esperança de encontrar a única alteração específica feita por Zobrist seria como procurar uma agulha num palheiro... sem nem ao menos saber em que planeta estava localizado o palheiro em questão.

(pág. 358)...ertrand Zobrist tentou conversar com pessoas influentes como a senhora sobre essa crise iminente. Visitou inúmeras organizações que acreditava poderem implementar mudanças: o Instituto Worldwatch, o Clube de Roma, a organização Population Matters, o Conselho de Relações Exteriores. Mas nunca encontrou ninguém com coragem para ter uma conversa séria sobre alguma solução real. Vocês todos respondiam com planos para melhorar a educação sobre métodos anticoncepcionais, incentivos fiscais para famílias menores ou mesmo sugestões de colonizar a lua! Não é de espantar que Bertrand tenha ficado louco. Elizabeth Sinskey a encarou sem reagir. Sienna respirou fundo. – Dra. Sinskey, Bertrand a procurou pessoalmente. Implorou que a senhora reconhecesse que estávamos à beira do abismo e que iniciasse algum tipo de diálogo. Mas a senhora, em vez de ouvir suas ideias, chamou-o de louco, pôs o nome dele em uma lista de pessoas a serem vigiadas e o obrigou a mergulhar na clandestinidade. – A voz de Sienna ficou carregada de emoção. – Bertrand morreu sozinho porque pessoas como a senhora se recusaram a ter a mente aberta o suficiente para ao menos admitir que a nossa situação catastrófica talvez precise de uma solução incômoda. Tudo o que ele fez foi dizer a verdade, nada mais... e foi proscrito. – Ela secou os olhos e encarou a Dra. Sinskey por cima da mesa. – Acredite, eu sei como é se sentir sozinho... e o pior tipo de solidão que existe é a solidão de ser incompreendido. Ela pode fazer as pessoas perderem a noção de realidade. Sienna parou de falar e um silêncio tenso recaiu sobre a sala. – Era só isso que eu queria dizer – sussurrou.

(pág. 360)...Minha crença é que tentar desfazer o que já foi feito é muito perigoso. Bertrand era um geneticista de perícia e visão excepcionais. Estava anos à frente de seus pares. Não tenho certeza se hoje eu confiaria em alguma outra pessoa para manipular o genoma humano na esperança de consertá-lo. Mesmo que vocês conseguissem criar algo que talvez pudesse funcionar, para testá-lo teriam que reinfectar a população inteira com outra coisa. – É verdade – disse Elizabeth Sinskey, sem aparentar surpresa com o que acabara de ouvir. – Mas é claro que existe uma questão maior. Talvez nós nem queiramos reverter o vírus. Aquelas palavras pegaram Sienna desprevenida. – Como é que é? – Eu posso até discordar dos métodos de Bertrand, mas a avaliação que ele fez da situação mundial procede. Nosso planeta está enfrentando uma questão populacional séria. Se conseguirmos neutralizar o vírus dele sem um plano alternativo viável... vamos voltar à estaca zero. O choque de Sienna deve ter sido aparente, pois Elizabeth Sinskey deu uma risadinha cansada e completou: – Você não esperava me ouvir dizer isso, não é? Sienna balançou a sabeça. – Acho que eu não sei mais o que esperar. – Então talvez eu vá surpreendê-la outra vez – continuou a Dra. Sinskey. – Como lhe disse mais cedo, líderes das principais agências de saúde mundiais vão se reunir em Genebra daqui a poucas horas para discutir esta crise e preparar um plano de ação. Até onde eu me lembre, é a reunião mais importante em todos os meus anos de OMS. – Ela encarou a jovem médica. – Sienna, eu gostaria que você participasse desse debate.

(pág. 360)...Bertrand não foi o primeiro a fazer isso. – Não. Nem vai ser o último – interveio Elizabeth Sinskey. – Todos os meses a OMS descobre novos laboratórios nos quais cientistas estudam as regiões obscuras da ciência. Há de tudo, desde amanipulação de células-tronco humanas até a criação de quimeras, espécies mistas que não existem na natureza. É inquietante. A ciência está progredindo tão depressa que ninguém mais sabe como estabelecer limites. Sienna teve que concordar. Havia pouco tempo, dois respeitados virologistas – Fouchier e Kawaoka – haviam criado um vírus mutante H5N1 altamente patogênico. Apesar de sua intenção ser apenas acadêmica, a nova criação tinha determinadas capacidades que deixaram alarmados os especialistas em biossegurança e provocaram uma gigantesca controvérsia na internet. – Meu medo é que essa situação fique cada vez mais confusa – disse a Dra.Sinskey. – Estamos prestes a descobrir novas tecnologias que ainda não conseguimos sequer imaginar. – E novas filosofias também – acrescentou Sienna. – O movimento transumanista está a ponto de sair das sombras e virar tendência. Um de seus preceitos fundamentais é que nós, seres humanos, temos a obrigação moral de participar de nosso processo evolutivo, de usar nossas tecnologias para aprimorar a espécie e criar pessoas melhores: mais saudáveis, mais fortes, com cérebros mais funcionais. Em breve tudo será possível. – E você não acha que essas crenças entram em conflito com o processo evolutivo? – Não – respondeu Sienna sem hesitar. – Os seres humanos foram evoluindo aos poucos ao longo de vários milênios e inventaram novas tecnologias nesse tempo: esfregaram um graveto no outro para obter calor, desenvolveram a agricultura para se alimentar, inventaram vacinas para combater doenças. Agora criaram ferramentas genéticas para ajudar a adaptar nosso corpo de modo a nos tornarmos aptos a sobreviver neste mundo em mutação. – Ela fez uma pausa. – Na minha opinião, a engenharia genética é apenas mais um passo em uma longa lista de avanços da humanidade...

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Origem – Dan Brown

Origem
autor: Dan Brown

Descrição: De Onde Viemos? Para Onde Vamos? Robert Langdon, o famoso professor de Simbologia de Harvard, chega ao ultramoderno Museu Guggenheim de Bilbao para assistir a uma apresentação sobre uma grande descoberta que promete “mudar para sempre o papel da ciência”. O anfitrião da noite é o futurólogo bilionário Edmond Kirsch, de 40 anos, que se tornou conhecido mundialmente por suas previsões audaciosas e invenções de alta tecnologia. Um dos primeiros alunos de Langdon em Harvard, há 20 anos, agora ele está prestes a revelar uma incrível revolução no conhecimento… algo que vai responder a duas perguntas fundamentais da existência humana. Os convidados ficam hipnotizados pela apresentação, mas Langdon logo percebe que ela será muito mais controversa do que poderia imaginar. De repente, a noite meticulosamente orquestrada se transforma em um caos, e a preciosa descoberta de Kirsch corre o risco de ser perdida para sempre. Diante de uma ameaça iminente, Langdon tenta uma fuga desesperada de Bilbao ao lado de Ambra Vidal, a elegante diretora do museu que trabalhou na montagem do evento. Juntos seguem para Barcelona à procura de uma senha que ajudará a desvendar o segredo de Edmond Kirsch. Em meio a fatos históricos ocultos e extremismo religioso, Robert e Ambra precisam escapar de um inimigo atormentado cujo poder de saber tudo parece emanar do Palácio Real da Espanha. Alguém que não hesitará diante de nada para silenciar o futurólogo. Numa jornada marcada por obras de arte moderna e símbolos enigmáticos, os dois encontram pistas que vão deixá-los cara a cara com a chocante revelação de Kirsch… e com a verdade espantosa que ignoramos durante tanto tempo.


A Conspiração – Dan Brown

A Conspiração
autor: Dan Brown

Descrição: O Presidente Zachary Herney está a lutar por uma duríssima reeleição. O seu opositor, o Senador Sedgwick Sexton, é um homem com amigos poderosos e uma missão: privatizar a NASA e reduzir as suas despesas. O Senador tem numerosos apoiantes que beneficiarão com a mudança, especialmente epois do embaraçoso episódio de 1996, em que o governo de Clinton foi informado pela NASA de que havia provas de existência de vida noutros planetas. Lutando para sobreviver a uma série de erros que ameaçam a sua imagem política, a NASA faz uma descoberta atordoadora: um estranho meteorito enterrado no Árctico. O Presidente é informado de que o objecto encontrado vai ter implicações determinantes no programa espacial americano. Contudo, dada a reputação vacilante da agência espacial norte-americana, será a descoberta válida ou não? Rachel Saxton, uma investigadora dos Serviços Secretos da Casa Branca, é destacada para confirmar a autenticidade do achado. Rachel tem como missão resumir relatórios complexos em notas de uma página. Neste caso o Presidente precisa dos seus dados antes da última declaração que fará ao povo americano e que será decisiva na sua reeleição. Acompanhada por uma equipa de especialistas, incluindo o carismático oceonógrafo Michael Tolland, Rachel descobre o impensável: provas de um embuste científico, de uma cilada que ameaça mergulhar o mundo em controvérsia. Mas antes de conseguir contactar o Presidente, Rachel e Michael são vítimas de uma perseguição sem tréguas ao longo do Árctico, refugiam-se num submarino nuclear e acabam por ser aprisionados num pequeno barco na costa de New Jersey, enquanto a capital norte-americana ferve de expectativas relativamente a mais uma fraude científica e os ânimos se exaltam nas antecâmaras do poder no interior da ala esquerda. Aclamado pela mestria e genialidade com que relaciona História, Ciência e Política, Dan Brown destaca-se num novo romance em que nada é o que parece e ao virar de cada página nos espera uma fabulosa surpresa.


O Simbolo Perdido – Dan Brown (1095 págs.)

O Simbolo Perdido
autor: Dan Brown

Descrição: Depois de ter sobrevivido a uma explosão no Vaticano e a uma caçada humana em Paris, Robert Langdon está de volta com seus profundos conhecimentos de simbologia e sua brilhante habilidade para solucionar problemas. Em O símbolo perdido, o célebre professor de Harvard é convidado às pressas por seu amigo e mentor Peter Solomon – eminente maçom e filantropo – a dar uma palestra no Capitólio dos Estados Unidos. Ao chegar lá, descobre que caiu numa armadilha. Não há palestra nenhuma, Solomon está desaparecido e, ao que tudo indica, correndo grande perigo. Mal’akh, o sequestrador, acredita que os fundadores de Washington, a maioria deles mestres maçons, esconderam na cidade um tesouro capaz de dar poderes sobre-humanos a quem o encontrasse. E está convencido de que Langdon é a única pessoa que pode localizá-lo. Vendo que essa é sua única chance de salvar Solomon, o simbologista se lança numa corrida alucinada pelos principais pontos da capital americana: o Capitólio, a Biblioteca do Congresso, a Catedral Nacional e o Centro de Apoio dos Museus Smithsonian. Neste labirinto de verdades ocultas, códigos maçônicos e símbolos escondidos, Langdon conta com a ajuda de Katherine, irmã de Peter e renomada cientista que investiga o poder que a mente humana tem de influenciar o mundo físico. O tempo está contra eles. E muitas outras pessoas parecem envolvidas nesta trama que ameaça a segurança nacional, entre elas Inoue Sato, autoridade máxima do Escritório de Segurança da CIA, e Warren Bellamy, responsável pela administração do Capitólio. Como Langdon já aprendeu em suas outras aventuras, quando se trata de segredos e poder, nunca se pode dizer ao certo de que lado cada um está. Nas mãos de Dan Brown, Washington se revela tão fascinante quanto o Vaticano ou Paris. Em O Símbolo Perdido, ele desperta o interesse dos leitores por temas tão variados como ciência noética, teoria das supercordas e grandes obras de arte, os desafiando a abrir a mente para novos conhecimentos.


CLUBE BILDERBERG: Os Senhores do Mundo - Daniel Estulin

CLUBE BILDERBERG: Os Senhores do Mundo
autor: Daniel Estulin

Uma camarilha formada por alguns dos homens mais ricos, poderosos e influentes do Ocidente que se reúnem secretamente para planejar eventos que depois, simplesmente, acontecem. The Time (Londres-1977).Nesta obra, pretendo contar parte da verdade do nosso presente e futuro próximo que ninguém traz à luz. Clube Bilderberg: os Senhores do Universo documenta a história da implacável subjugação da população por parte dos seus governantes. O leitor assistirá ao nascimento de um Estado policial mundial que transcende o pior pesadelo de Orwell, com um governo invisível, onipotente, que puxa os cordelinhos na sombra, controlando o Governo dos Estados Unidos, a União Europeia, a OMS, as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e qualquer outra instituição similar. Está tudo aqui: a história do terrorismo promovido pelos governos, do estabelecimento recente do controlo da população com base no medo e, o mais espantoso de tudo, os projectos futuros da Nova Ordem Mundial.


Trechos do livro: O maior Segredo - David Icke

Baixar o livro O Maior Segredo-David Icke
Trechos do livro: O maior Segredo
autor: David Icke


A Mágica de Pensar Grande – David J. Schwartz

A Mágica de Pensar Grande
autor: David J. Schwartz

Descrição: A Mágica de Pensar Grande – Em “A Mágica de Pensar Grande”, o leitor encontra um conjunto de métodos e técnicas originais que vão ajudá-lo a adquirir confiança, estabilidade e desembaraço para ir ao encontro daquilo que sempre sonhou: um padrão de vida excelente, um bom relacionamento familiar e profissional e a tranqüilidade necessária para desfrutar as boas coisas que, a partir de agora, passarão a fazer parte da sua vida.


A Dieta da Mente - Dr. David Perlmutter

A Dieta da Mente
autor: Dr. David Perlmutter

(pág. 13)...Ou será que a indústria farmacêutica está empenhada em nos desestimular a perceber que escolhas de vida têm uma profunda influência em nossa saúde cerebral? O autor adverte: não serei gentil com a indústria farmacêutica. Conheço muito mais histórias de pessoas prejudicadas por ela do que beneficiadas. Nas páginas a se​guir você conhecerá algumas des​sas histórias....Este livro trata das mudanças de estilo de vida que você pode realizar hoje para manter um cérebro saudável, vibrante e alerta, ao mesmo tempo reduzindo o risco de doenças cerebrais degenerativas no futuro. Dediquei mais de 35 anos ao estudo das doenças do cérebro. Minha rotina diária se concentra na criação de programas integrais destinados a reforçar as funções cerebrais de pessoas atingidas por males devastadores. Tenho contato diário com parentes e outros entes queridos cujas vidas foram viradas pelo avesso por causa de doenças cerebrais.

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(pág. 16)...Se você necessitar de material de apoio e atualizações, entre em meu website, drperlmutter.com. Nele, você terá acesso aos es​tu​dos mais re​centes, po​derá ler meu blog e baixar ma​terial que o ajudará a adap​tar as in​formações des​te li​vro às suas preferências pes​soais.

(pág. 17)...Tendemos a pensar nas doenças do cérebro como algo que pode nos atingir a qualquer momento, sem razão aparente a não ser a predisposição genética. Ao contrário das doenças cardíacas, que progridem ao longo do tempo devido a uma combinação de certos fatores genéticos e de modo de vida, problemas cerebrais parecem sobrevir por acaso. Alguns de nós escapam, enquanto outros são “atingidos”. Mas esse pensamento é errado. As disfunções cerebrais, na verdade, nada têm de diferente das disfunções cardíacas. Desenvolvem-se ao longo do tempo em decorrência de nosso comportamento e nossos hábitos. A boa notícia é que isso significa que podemos conscientemente prevenir os transtornos de nosso sistema nervoso, e até mesmo o declínio cognitivo, mais ou menos da mesma forma que podemos evitar problemas car​día​cos: co​men​do do jei​to cer​to e fa​zen​do exer​cíci​os. A ci​ên​cia atu​al afirma, na verdade, que muitas das doenças relacionadas ao cérebro, da depressão à demência, têm uma relação direta com nossas escolhas de alimentação e estilo de vida. Apesar disso, apenas uma em cada cem pessoas atravessará a vida sem qual​quer dim​nuição das facul​da​des mentais.

(pág.26)Imagine-se transportado de volta ao período Paleolítico, quando os primeiros seres humanos viviam em cavernas e cruzavam as savanas, milhares de anos atrás. Faça de con​ta, por um ins​tante, que o idi​oma não é uma barreira e que você pode se comunicar facilmente com eles. Você tem a oportunidade de lhes contar como é o futuro. Sentado de pernas cruzadas, no chão poeirento, na frente de uma fogueira aconchegante, você começa pela descrição das maravilhas do nosso mundo tecnológico, com seus aviões, trens, automóveis, arranha-céus, computadores, televisões, smartphones e a supervia de informação que é a internet. O ser humano já viajou à Lua — e voltou. Em algum momento, a conversa muda para outros assuntos relativos ao estilo de vida, e como é, de verdade, a vida no século XXI. Você mergulha numa descrição da medicina moderna e sua estupenda variedade de remédios para tratar problemas e combater vírus e doenças. As ameaças graves à sobrevivência são poucas e raras. Poucos são os que têm de se preocupar com predadores, fome e pestes.

(pág. 27)...os homens do Paleolítico fazem perguntas sobre os desafios enfrentados pelo homem moderno. A primeira coisa que lhe vem à mente é a epidemia de obesidade, que tem recebido tanta atenção da mídia. Não é um tema de fácil compreensão para eles, com seus corpos esguios e torneados, nem tampouco seu relato sobre as doenças crônicas que são cada vez mais comuns na humanidade — problemas cardíacos, diabetes, depressão, doenças autoimunes, câncer, demência. O que é uma “doença autoimune”? O que causa “diabetes”? O que é “demência”? Neste momento você está falando outra língua. Na verdade, à medida que faz a lista do que mata no futuro, tentando descrever cada mal da melhor maneira possível, você se depara com olhares confusos e incrédulos. Você pintou um quadro belo e exótico do futuro na mente daquelas pessoas, mas em seguida o destruiu com causas de morte mais assustadoras do que morrer de uma infecção ou devorado por um predador de nível mais alto na cadeia alimentar. A ideia de viver com uma condição crônica, que leva a uma morte lenta e dolorosa, soa terrível. E quando você tenta convencê-los de que as doenças degenerativas prolongadas podem ser o preço a se pagar para ter uma vida mais longa que a deles, seus ancestrais pré-históricos não concordam. E, então, tampouco você. Algo pa​re​ce er​ra​do nes​se qua​dro. Como espécie, somos genética e fisiologicamente idênticos a esses humanos que viveram antes da aurora da agricultura.

(pág. 28)...Quando eu estava na faculdade de medicina, décadas atrás, minha formação girou em torno do diagnóstico e do tratamento das doenças, ou, conforme o caso, como curar cada mal com remédio ou terapia. Aprendi a reconhecer os sintomas e a chegar a uma solução que os atacasse. Desde então, muita coisa mudou, não só porque diminuiu a probabilidade de encontrarmos doenças de tratamento e cura fáceis, mas porque viemos a compreender muitas de nossas doenças crônicas contemporâneas pela lente de um denominador comum: o processo inflamatório.

(pág.28)...Os futuros médicos já não aprendem apenas como diagnosticar e tratar; eles recebem formação para pen​ sar de uma maneira que ajude a lidar com as epidemias contemporâneas, muitas delas en​rai​zadas em pro​cessos in​fla​matórios fora de con​tro​le. Antes de chegar à conexão entre esses processos inflamatórios e o cérebro, proponho uma reflexão sobre aquilo que considero uma das mais monumentais descobertas de nosso tempo: a origem dos problemas cerebrais é, em muitos casos, predominantemente alimentar. Embora diversos fatores contribuam para a gênese e a evolução dos problemas cerebrais, diversos males neurológicos refletem, em grande parte, o equívoco de ingerir carboidratos em excesso e gorduras saudáveis abaixo do necessário.

(pág. 34)...Estimativas recentes indicam que o Alzheimer deverá afetar 100 milhões de pessoas em 2050, um número insuportável para nossos sistemas de saúde e que fará a atual epidemia de obesidade parecer pequena. A prevalência do diabetes tipo 2, que representa 90% a 95% de todos os casos de diabetes nos Estados Unidos, triplicou nos últimos quarenta anos.

(pág. 35)...Quando digo às pessoas que a sensibilidade ao glúten representa a maior e mais subestimada ameaça à saúde humana, a resposta que ouço é mais ou menos a mesma: “Você está brincando. Nem todo mundo é intolerante ao glúten. Tirando, claro, quem so e de doença celíaca”. E quando lembro que todos os estudos recentes apontam que o veneno do glúten está provocando não ape​nas de​mên​cia, mas epi​lep​sia, do​res de ca​be​ça, de​ pressão, es​qui​zofrenia, TDAH e até redução na libido, costuma prevalecer o mesmo discurso: “Não entendo o que você quer dizer”. Dizem isso porque tudo o que grande parte das pessoas sabe sobre o glúten diz respeito à saúde intestinal, e não ao bem-estar neu​ ro​ló​gi​co.

(pág. 35)...O glúten não é um problema apenas para quem sofre de doença celíaca, um transtorno autoimune que atinge uma minoria diminuta. Pelo menos 40% de nós não conseguimos processá-lo corretamente, e os 60% restantes podem estar correndo riscos sem saber. A pergunta que deveríamos estar fazendo é: E se do ponto de vista do cérebro fôssemos todos sensíveis ao glúten? Infelizmente, o glúten pode ser encontrado não apenas em derivados de trigo, mas nos produtos mais insuspeitados — de sorvete a cremes para as mãos. Um número cada vez maior de estudos confirma o elo entre sensibilidade ao glúten e disfunções neurológicas...Muitos dos meus pacientes só me procuram depois que “tentaram de tudo” e visitaram vários outros médicos em busca de auxílio. Sejam dores de cabeça e enxaquecas, síndrome de Tourette, convulsões, insônia, ansiedade, TDAH, depressão ou um conjunto variado de sintomas neurológicos sem rótulo definido. Uma das primeiras coisas que faço é prescrever a eliminação total do glú​ten em suas di​etas. Já faz algum tempo que os pesquisadores sabem que o marco de todas as condições neurológicas, inclusive os transtornos cerebrais, são os processos inflamatórios. Mas até agora os desencadeadores desses processos inflamatórios não haviam sido estudados. E o que os estudos vêm mostrando é que o glúten e, por consequência, uma dieta rica em carboidratos estão entre os principais estimulantes de processos inflamatórios que atingem o cérebro. O

(pág. 36)...A boa notícia é que seu destino genético pode ser controlado, mesmo que você tenha nascido com uma tendência natural a desenvolver um problema neurológico. Isso exige se libertar de alguns mitos aos quais as pessoas con​tinu​am a se agar​rar. Os dois mai​ores: 1. uma di​eta po​bre em gor​dura e rica em carboidratos é boa; e 2. o co​les​terol é ruim. A história não acaba com a eliminação do glúten. O glúten é apenas uma peça do quebra-cabeça. Nos capítulos a seguir, você compreenderá por que o colesterol desempenha um papel dos mais importantes na manutenção da saúde e das funções do cérebro. Estudos mostram que o colesterol alto reduz o risco de doenças cerebrais e aumenta a longevidade. Da mesma forma, níveis elevados de gordura (do tipo certo) na dieta sese mostraram decisivos para a saú​de do cé​rebro e para seu fun​cionamento ideal. Estudo do Coração de Framingham

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(pág.40)...Mas a correlação entre os processos inflamatórios e os problemas cerebrais, apesar de bastante descrita na literatura científica, por algum motivo parece difícil de aceitar — e continua praticamente desconhecida. Um dos motivos para as pessoas não conseguirem visualizar as “inflamações cerebrais” como algo envolvido com todo tipo de problema — do Parkinson à esclerose múltipla, da epilepsia ao autismo, do Alzheimer à depressão — é o fato de o cérebro não ter receptores para a dor, ao contrário do resto do corpo. Não con​se​gui​mos sen​tir uma in​fla​ma​ção no cé​rebro.

(pág. 41 )...Não é de surpreender que pessoas com altos níveis de oxidação soam de uma extensa lista de sintomas: cansaço, confusão mental, baixa resistência a infecções, aqueza muscular, dores nas articulações, transtornos digestivos, acne, ansiedade, dores de cabeça, depressão, ir​ri​ta​bi​li​da​de, aler​gias... e por aí vai. Como você pode supor, tudo que reduz a oxidação reduz os processos inflamatórios, e tudo que reduz esses processos reduz a oxidação. Isso explica em parte porque os antioxidantes são tão importantes. Esses nutrientes generosos (entre eles as vitaminas A, C e E) doam elétrons aos radicais livres, o que interrompe a reação em cadeia e ajuda a prevenir os danos provocados por estes últimos. Ao longo da história, o ser humano ingeriu alimentos ricos em antioxidantes, como plantas, frutos silvestres e castanhas. A indústria alimentícia atual tira de nossas dietas muitos desses nutrientes, extremamente necessários para um me​ta​bo​lismo saudável.

(pág. 43)...É interessante notar que essa proteína transportadora, o LDL, recebeu o rótulo pejorativo de “colesterol ruim”. Na verdade, o LDL não é uma molécula de colesterol, nem bom nem ruim. É uma lipoproteína de baixa densidade (daí a abreviatura em inglês, de low-density lipoprotein), e não há absolutamente nada de mau nela. O papel fundamental do LDL no cérebro, repita-se, é capturar o colesterol vital e transportá-lo ao neurônio, onde ele desempenha funções de im​ por​tân​cia cru​ci​al. Atualmente possuímos evidências na literatura científica que provam que quando o nível de colesterol está baixo, o cérebro simplesmente não funciona direito; indivíduos com colesterol baixo têm um risco muito maior de demência e outros problemas neurológicos. Precisamos mudar nossa atitude em re​la​ção ao co​les​terol e ao LDL. Eles são ami​gos, e não ini​mi​gos...É realmente possível controlar o destino do nosso cérebro com nossos hábitos pessoais, apesar do DNA que herdamos? A indústria farmacêutica tem interesses escusos para omitir o fato de que é possível prevenir, tratar e às vezes curar naturalmente — sem drogas — uma série de males relacionados ao cérebro, como TDAH, depressão, ansiedade, insônia, autismo, síndrome de Tourette, dores de cabeça e mal de Alzheimer? A respostaa essas três perguntas é um retumbante “sim”. Irei ainda mais longe e sugerirei que também é possível prevenir problemas cardíacos e diabetes.

(pág.50)...Glúten — ou “cola”, em latim — é uma proteína composta que atua como material adesivo, aglutinando a farinha para a panificação, incluindo bolachas, biscoitos e massa de pizza. Quando você morde um muf​ fin macio ou um pãozinho ou uma massa de pizza não cozida, agradeça ao glúten. Na verdade, a maior parte dos derivados de pão macios e mastigáveis hoje disponíveis no mercado deve sua consistência ao glúten. Ele desempenha um papel fundamental no processo de fermentação, fazendo o pão “crescer” quando o trigo é misturado ao fermento. Para ter nas mãos uma bola basicamente feita de glúten, basta misturar água e farinha de trigo, criar uma massa e por fim enxaguá-la sob água corrente para eliminar o amido e as fibras. O que sobra é uma mis​tu​ra aglu​ti​na​da de pro​te​ína.

(pág. 51 )...Tenha em mente que quando o corpo reage negativamente a um alimento, ele tenta controlar os danos enviando moléculas inflamatórias mensageiras, que rotulam as partículas de alimento como inimigas. Isso, por sua vez, leva o sistema imunológico a enviar continuamente substâncias químicas inflamatórias, entre elas algumas que matam células, num esforço para exterminar os inimigos. Esse processo muitas vezes danifica os tecidos, comprometendo as paredes do intestino, um problema conhecido como “intestino permeável”. Quando você sofre de intestino permeável, torna-se altamente suscetível a sensibilidades alimentares no futuro. E o surgimento de um processo inflamatório também pode au​men​tar o ris​co de so​frer de uma do​en​ça au​toi​mu​ne. Os processos inflamatórios, a base de muitos problemas cerebrais, podem ser ini​ci​ados quan​do o sis​te​ma imu​no​ló​gi​co re​age a uma subs​tância no cor​po do indivíduo.

(pág.57)...Há mais um detalhe desse estudo para o qual eu gostaria de chamar a atenção. Quando os pesquisadores realizaram tomografias nos cérebros desses pacientes, encontram alterações perceptíveis na “substância branca”, que poderiam ser facilmente confundidas com esclerose múltipla ou até pequenos derrames. Essa é a razão pela qual eu sempre peço exames de sensibilidade ao glúten nos pacientes que me consultam com um diagnóstico de esclerose múltipla; em diversos casos encontrei pacientes cujas alterações cerebrais não tinham, na verdade, qualquer relação com a esclerose múltipla, e se deviam mais provavelmente à sensibilidade ao glúten. Para sorte deles, uma dieta sem glú​ten re​ver​teu os pro​ble​mas.

(pág. 57)...Ele não tinha controle do tônus muscular, o que resultava em espasmos repentinos e intensos no corpo todo, impedindo-o de levar uma vida normal. Embora casos assim costumem ser atribuídos a distúrbios neurológicos ou efeitos colaterais de medicamentos, acredito que muitos casos de distonia e de transtornos motores podem estar relacionados à sensibilidade ao glúten. No caso do meu paciente, assim que retiramos o glúten de sua dieta os tremores e as contrações convulsivas pararam de uma hora para outra. Outros transtornos motores, como a ataxia, que eu descrevi acima, a mioclonia e certas formas de epilepsia costumam ser objeto de diagnósticos errados: são atribuídas a um problema neurológico sem explicação, em vez de algo simples como a sensibilidade ao glúten. Vários de meus pacientes epiléticos, que chegaram a cogitar cirurgias arriscadas e regimes de medicação diária para controlar suas convulsões, tornaram-se completamente livres destas por meio de simples mu​dan​ças na di​eta.

(pág. 58)...O dr. Hadjivassiliou, da mesma forma, examinou tomografias cerebrais de pacientes com cefaleia e registrou anomalias terríveis causadas pela sensibilidade ao glúten. Até o leitor leigo, cujo olhar não é treinado, é capaz de per​ce​ber fa​cil​men​te o im​pac​to. Veja este exem​plo: Obs: ressonância magnética de cérebro...

(pág. )...Du​rante mais de uma déca​da o dr. Hadjivassiliou mostrou vá​rias vezes que uma dieta sem glúten pode resultar na cura total das dores de cabeça de pacientes com sensibilidade ao glúten.... Para ele e seus colegas, não há nada mais crucial que espalhar a notícia da correlação entre a sensibilidade ao glúten, aparentemente invisível, e as disfunções cerebrais. Eu concordo. É impossível ignorar os relatos do dr. Hadjivassiliou, de pacientes com sinais evidentes de déficits cog​nitivos e sensibilida​de ao glúten do​cumentada. Como discutimos, uma das conclusões mais importantes sobre a doença celíaca é que ela não está confinada ao intestino. Arrisco-me a ir mais longe e afirmar que a sensibilidade ao glúten sem​pre afeta o cérebro. O dr. Aristo Vojdani, um colega neurobiologista que publicou inúmeros artigos sobre sensibilidade ao glúten, diz que a incidência de sensibilidade ao glúten nos povos do Ocidente pode chegar a 30%. E como a maior parte dos casos de doença celíaca passa despercebida clinicamente, hoje se reconhece que a prevalência da doença propriamente dita é vinte vezes maior do que se acreditava duas décadas atrás. Compartilho o que propôs o dr. Rodney Ford, da Clínica de Alergia e Gastroenterologia Infantil, da Nova Zelândia, num artigo de 2009, apropriadamente intitulado “The Gluten Syndrome: A Neurological Disease” [A síndrome do glúten: uma enfermidade neurológica]. O problema fundamental com o glúten é sua “interferência com as redes neurais do corpo [...]. O glúten está ligado a danos neurológicos nos pacientes, tanto na presença quanto na ausência de doença celíaca”. Ele acrescentou: “As evidências apontam para o sistema nervoso como o sítio primordial dos danos do glúten”, e con​cluiu de ma​neira as​sertiva que “o glú​ten cau​sar danos à rede neurológica tem enormes consequências. Estimando-se que pelo menos uma pessoa em cada dez seja afetada pelo glúten, o impacto sanitário é enorme.

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(pág.61)...Se o glúten é tão ruim assim, como pudemos sobreviver tanto tempo nos alimentando dele? A resposta simples é: não comemos hoje o mesmo tipo de glúten consumido quando nossos ancestrais descobriram a forma de plantar e moer o trigo. Os grãos que comemos hoje guardam pouca semelhança com aqueles que entraram para nossa dieta cerca de 10 mil anos atrás...A indústria alimentícia moderna, inclusive a bioengenharia genética, nos permitiu produzir grãos que contêm até quarenta vezes mais glúten que os grãos cultivados algumas décadas atrás.18 Se isso foi intencional, para aumentar a produtividade, atrair o paladar do consumidor ou as duas coisas, não vou discutir. Mas uma coisa é certa: os grãos contemporâneos, repletos de glúten, são mais vi​ciantes do que nunca. Se você já sentiu o prazer invadi-lo ao ingerir uma rosquinha, um pãozinho ou um croissant, não está louco nem sozinho.Desde o final da década de 1970 é sabido que o glúten é decomposto no estômago e torna-se uma mistura de polipeptídios que podem atravessar a barreira hematoencefálica. Uma vez lá dentro, podem aderir ao receptor de morfina do cérebro, produzindo bem-estar. Esse é o mesmo receptor ao qual aderem as drogas opiáceas, gerando seu efeito prazeroso e viciante. A primeira cientista a descobrir essa atividade, a dra. Christine Zioudrou (e seus colegas do National Institutes of Health), batizou esses polipeptídios invasores do cérebro como “exorfinas”,

(pág.63)...O dr. William Davis descreve esse fenômeno no livro Bar​riga de tri​go: Este é seu cérebro viciado em trigo: a digestão gera componentes similares à morfina, que aderem aos receptores opiáceos do cérebro. Isso induz uma forma de recompensa, uma euforia moderada. Quando esse efeito é bloqueado e não se consomem alimentos liberadores de exorfina, algumas pes​soas so​frem de uma abs​ti​nência per​ceptível e de​sagradável. Considerando tudo o que foi dito, causa alguma surpresa que a indústria alimentícia tente enfiar a maior quantidade possível de glúten em seus produtos? E causa alguma surpresa encontrar tanta gente viciada nos alimentos repletos de glúten de hoje em dia — insuflando as chamas não apenas dos processos inflamatórios, mas da epidemia de obesidade? Acredito que não. A maioria de nós conhece e aceita o fato de que o açúcar e o álcool possam ter propriedades que causam boas sensações, que nos induzem a voltar a consumi-los. Mas alimentos que contêm glúten? Seu pão de forma integral e seus cereais instantâneos? É surpreendente a ideia de que o glúten possa mudar nossa bioquímica, chegando até o centro de prazer e vício do nosso cérebro. Surpreendente e assustadora.

(pág.63)...Mas mesmo deixando de lado o fator glúten, devo observar que uma das principais razões pelas quais ingerir tantos grãos e carboidratos pode ser tão danoso é que eles elevam o açúcar no sangue a níveis que outros alimentos, como carnes, pei​xes, aves e ve​ge​tais, não fa​zem. Níveis elevados de açúcar no sangue, lembre-se, produzem insulina elevada, que é liberada pelo pâncreas para que as células possam absorver oaçúcar. Quanto maior o nível de açúcar no sangue, mais insulina é preciso. E quanto mais sobe a insulina, menos sensíveis a seu sinal se tornam as células. Basicamente, as células deixam de escutar a mensagem da insulina.

(pág. 65 )...Abaixo segue uma lista de sintomas e doenças associados à sensibilidade ao glúten: es​clerose la​te​ral amiotrófica (als); infertilidade; abortos; in​to​lerân​cia à lac​to​se; al​co​olismo; an​siedade; má absorção de alimentos; ata​xia; per​da de equilíbrio; au​tismo; câncer; confusão mental; con​vulsões/epi​lepsia; depressão; erupções cutâne​as; de​sejo in​con​tro​lá​vel por açúcar; mal de Parkinson; mal-es​tar constante; náu​sea/vô​mitos; trans​tor​nos neu​ro​ló​gi​cos; (de​mên​cia, mal de Alz​heimer, es​quizofrenia etc.); en​xaque​cas; do​res ós​se​as/ osteopenia/ os​te​opo​ro​se; ur​ticária/ erupções cutâneas;

(pág. 79)...Ironicamente, desde que tornamos a nossa nutrição “científica”, nosso estado de saúde piorou. Decisões em relação àquilo que comemos e bebemos deixaram de ser hábitos culturais, herdados, e se tornaram escolhas calculadas, baseadas em teorias nutricionais de visão estreita, que não levam em conta como, antes de tudo, o ser humano chegou onde está. E não podemos esquecer todos os interesses comerciais. Você acha que os fabricantes de cereais de café da manhã, ricos em carboidratos (leia-se: um corredor inteiro de supermercado), es​tão mes​mo pre​ocu​pados com a sua saúde?

(pág.82)...A propaganda, a indústria da perda de peso, os supermercados e os best-sellers estão promovendo a ideia de que precisamos de uma dieta o mais pobre possível em gordura (se possível sem gordura) e em colesterol. É fato que certos tipos de gordura estão associados a problemas de saúde, e ninguém pode negar a ameaça diretamente relacionada às gorduras e aos óleos modificados comercialmente. Há evidências científicas convincentes de que as gorduras trans são tóxicas e têm ligação clara com diversas doenças crônicas. Mas o que falta nessa mensagem é simples: nossos corpos prosperam quando lhes damos “gorduras boas”, e o colesterol é uma delas....É interessante notar que a dieta humana exige praticamente zero carboidrato; podemos sobreviver com uma quantidade mínima de carboidratos, que pode ser fornecida pelo fígado na medida do necessário. Mas não podemos ir muito longe sem gordura. Infelizmente. Muitos de nós achamos que ingerir gordura é o mesmo que ficar gordo, quando na verdade a obesidade — e suas consequências metabólicas — não tem quase nada a ver com a ingestão de gordura e tudo a ver com o vício em carboidratos. O mesmo se aplica ao colesterol: ingerir alimentos ricos em colesterol não tem impacto nos nossos níveis reais de colesterol, e a suposta relação entre colesterol elevado e risco car​díaco eleva​do é uma com​ple​ta fa​lá​cia.

(pág.92)...podemos sobreviver com uma quantidade mínima de carboidratos, que pode ser fornecida pelo fígado na medida do necessário. Mas não podemos ir muito longe sem gordura. Infelizmente. Muitos de nós achamos que ingerir gordura é o mesmo que ficar gordo, quando na verdade a obesidade — e suas consequências metabólicas — não tem quase nada a ver com a ingestão de gordura e tudo a ver com o vício em carboidratos. O mesmo se aplica ao colesterol: ingerir alimentos ricos em colesterol não tem impacto nos nossos níveis reais de colesterol, e a suposta relação entre colesterol elevado e risco car​dí​aco ele​vado é uma com​ple​ta falácia.

(pág.93)...A hipótese da dieta cardíaca, que sugere que uma ingestão elevada de gordura ou colesterol causa problemas cardíacos, mostrou-se diversas vezes falsa. Mesmo assim, por razões complexas de orgulho, ganância e preconceitos, essa hipótese continua a ser explorada por cientistas, empresas em busca de financiamento, a indústria alimentícia e até agências governamentais. O público está sendo enganado pela maior fraude sa​ni​tária do século.

(pág.95)...Se você for como a maioria, em algum momento da vida já comeu mais margarina que manteiga, teve a sensação de estar abusando quando limpou um prato de bife, ovos e queijo, e girou em torno de produtos com os dizeres “baixa gordura”, “sem gordura” ou “sem colesterol”. Não é culpa sua ter feito essas escolhas. Todos nós integramos uma sociedade que confia em “especialistas” para nos dizer o que é bom e o que é ruim. ...Tornamo-nos mais educados, mais bem informados e cada vez mais sofisticados. Mas, em vários aspectos, também nos tornamos cada vez mais impressionáveis e enganáveis por informações que ainda não foram totalmente decifradas e comprovadas. Talvez você não se lembre da época em que os médicos recomendavam, por exemplo, fumar cigarros, mas no campo da nutrição esse tipo de ignorância aconteceu, numa escala muito mais sutil. E, infelizmente, par​te dele con​tinua até hoje.

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(pág.102)...a gordura. Ela é, e sempre foi, um pilar fundamental da nutrição humana. Além do fato de que o cérebro humano consiste em mais de 70% de gordura, ela desempenha um papel essencial na regulagem do sistema imunológico. Em poucas palavras, gorduras boas como o ômega 3 e as monoinsaturadas reduzem processos inflamatórios, enquanto as gorduras hidrogenadas modificadas, tão comuns nos alimentos industrializados, elevam drasticamente essas inflamações. Certas vitaminas, sobretudo as vitaminas A, D, E e K, exigem gordura para serem absorvidas adequadamente pelo corpo. É por isso que a gordura alimentar é necessária para transportar essas vitaminas “solúveis em gordura”. Como essas vitaminas não se dissolvem na água, elas só podem ser absorvidas por seu intestino delgado em combinação com a gordura. São sempre graves as deficiências provocadas por uma ab​sorção in​completa dessas vitaminas de importância vital, e qualquer uma dessas deficiências pode ter relação com males do cérebro, entre outras.

(pág.106 )...Parte da razão pela qual eu me concentro em gordura, e no colesterol mais especificamente, não é simplesmente por esses ingredientes terem tudo a ver com a saúde do cérebro, mas porque vivemos numa sociedade que continua a demonizá-los como se se tratasse de cianureto, e a gigantesca indústria farmacêutica se aproveita da desinformação do público e perpetua inverdades, muitas das quais podem nos destruir fisicamente. Para entender realmente aonde quero chegar, vamos analisar uma questão problemática: a epidemia de estatinas.

(pág. 107 )...Era um estudo grande — mais de 160 mil mulheres pós-menopausa. Por isso, não dá para ig​norar sua importância e sua gravidade. Se reconhecermos que o diabetes tipo 2 é um poderoso fator de risco para o Alzheimer, é fácil en​tender a re​la​ção en​tre as es​ta​ti​nas e o de​clí​nio das fun​ções cog​nitivas. Em 2009, Stephanie Seneff, pesquisadora sênior do Laboratório de Informática e Inteligência Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) que tem se interessado pelos efeitos dos remédios e da alimentação na saúde, publicou um convincente ensaio explicando por que as estatinas e uma dieta pobre em gordura podem causar Alzheimer. No ensaio, ela descreve aquilo que já sabemos a respeito dos efeitos colaterais das estatinas e pinta um quadro impressionante de como o cérebro sofre na presença delas. Ela também resume as descobertas científicas mais recentes e as contribuições de outros especialistas nessa área. Como explica a dra. Seneff, uma das principais razões pelas quais as estatinas provocam transtornos cerebrais é o fato de prejudicarem a capacidade do fígado de produzir colesterol. Em consequência, o nível de LDL no sangue cai significativamente Como acabei deexplicar, o colesterol desempenha um papel vital no cérebro, possibilitando a comunicação entre os neurônios e incentivando o crescimento de novas células cerebrais. Ironicamente, a indústria das estatinas propagandeia seus produtos dizendo que eles interferem na produção de colesterol, tanto no cérebro quanto no fí​gado.

(pág. 133)...Quanto Mais Você Engorda, Menor Fica o Seu Cérebro= A maioria das pessoas tem uma ideia razoável de que carregar peso extra é ruim para elas. Mas se você precisa de apenas uma razão a mais para perder os quilos em excesso, talvez o medo de perder a cabeça — física e literalmente — vai mo​tivá-lo a ti​rar o tra​seiro da ca​deira. Quando eu estava na faculdade de medicina, o pensamento corrente era que as células adiposas eram, basicamente, armazenadoras onde o excesso indesejável podia ser mantido silenciosamente à parte. Mas essa perspectiva estava completamente errada. Hoje sabemos que as células adiposas desempenham na fisiologia humana um papel muito maior do que simplesmente armazenar calorias. As massas de gordura corporal formam órgãos hormonais complexos e sofisticados, que são tudo, menos passivos. Sim, você leu isso mesmo: a gordura é um ór​gão. E um órgão que pode ser um dos mais industriosos do corpo, desempenhando várias funções além de nos manter aquecidos e protegidos. Isso é particularmente verdadeiro em relação à gordura visceral — aquela que envolve nossos órgãos internos, “viscerais”, como o fígado, os rins, o pâncreas, o coração e os intestinos. A gordura visceral foi muito abordada pela mídia, nos últimos anos, por um bom motivo: hoje sabemos que é o tipo de gordura mais devastador para nossa saúde. Podemos lamentar coxas que se encostam, o músculo do tchauzinho, os pneuzinhos, as celulites e os popozões, mas o pior de todos os tipos de gordura é aquele que não podemos ver, sentir ou tocar. Em casos extremos, podemos vê-la em barrigas salientes e dobrinhas, que são sinais exteriores de órgãos internos envolvidos por gordura (exatamente por isso, a medida da cintura costuma ser uma medida de “saúde”; quanto maior a circunferência da cintura, maior o ris​co de do​en​ças e mor​te). Já está evidenciado que a gordura visceral tem uma capacidade singular de desencadear processos inflamatórios no corpo, assim como de sinalizar moléculas que perturbam as ações hormonais normais do corpo.

(pág.144)...Mais especificamente, descobriu-se que os exercícios aeróbicos aumentam o BDNF, revertem o declínio de memória nos idosos e, além disso, aumentam o surgimento de novas células no centro de memória do cérebro. O exercício não serve apenas para ter uma aparência esbelta e um coração forte; talvez seu efeito mais poderoso passe a maior parte do tempo despercebido no andar de cima, onde nosso cérebro habita. Basta dizer que a visão científica emergente da evolução humana e do papel da atividade física dá um novo sentido à expressão “exercitar a memória”. Um milhão de anos atrás, nós conseguíamos percorrer grandes distâncias porque éramos capazes de andar e correr mais longe que a maioria dos outros animais. Isso nos tornou os seres humanos inteligentes que somos hoje. Quanto mais nos mexemos, mais aguçado ficou nosso cérebro. E ainda hoje o funcionamento saudável do cérebro exige atividade física regular, ape​sar da passagem do tem​po e dos ma​les do pro​cesso de en​velhecimento.

(pág.148)...a chamada “dieta cetogênica” tem sido um tratamento para a epilepsia desde o início dos anos 1920 e agora está sendo reavaliada como uma poderosíssima opção terapêutica no tratamento de Parkinson, Alzheimer, als e até autismo. Em um estudo de 2005, pacientes de Parkinson tiveram uma melhora notável em seus sintomas, comparável à de medicamentos e até de cirurgia cerebral, depois de adotar uma dieta cetogênica por apenas 28 dias. Especificamente, constatou-se que o consumo de gorduras cetogências (isto é, triglicérides de cadeia média, ou óleo MCT) gera uma melhora significativa nas funções cognitivas dos pacientes de Alzheimer. O óleo de coco, do qual de​rivamos o MCT, é uma fonte rica de uma importante molécula precursora do beta-hidroxibutirato e uma abordagem eficiente para o tratamento do Alz​heimer.

(pág.151)...Pesquisas mostram que quem medita tem um risco muito menor de sofrer do​enças cerebrais, entre ou​tras. Aprender a meditar exige tempo e prática, mas a atividade gera diversos comprovados, benefícios todos eles com um papel importante em nossa longevidade. Em meu site, www.dr​perlmutter.com, você poderá recursos que ler sobre ajudam a apren​der essa téc​ni​ca....Atualmente, a curcumina, principal ingrediente ativo da cúrcuma, é objeto de intensas pesquisas científicas, principalmente no que diz respeito ao cérebro. Tem sido usada na medicina tradicional chinesa e indiana (ayurvédica) há milhares de anos. Embora seja bastante conhecida por suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antifúngicas e antibacterianas, é especificamente sua capacidade de aumentar a BDNF que tem atraído o interesse de neurocientistas do mundo inteiro, principalmente epidemiologistas em busca de pistas que expliquem por que a prevalência de demência é especialmente reduzida em comunidades onde a cúrcuma é usada em abundân​cia.

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(pág.155)...Se o senso comum não nos dissesse que manter o cérebro intelectualmente estimulado é bom para a saúde, então as palavras cruzadas, os cursos de educação continuada, as visitas aos museus e até mesmo a leitura não seriam tão populares. Todos nós sabemos que desafiar a mente fortalece novas redes neurais, mais ou menos como nossos músculos ganham força e funcionalidade quando são desafiados fisicamente pelo exercício. Não apenas nosso cérebro se torna mais rápido e eficiente em sua capacidade de processamento, mas também consegue armazenar mais informações.

(pág.165 )...foram identificados vários compostos naturais que acionam processos antioxidantes e desintoxicantes por meio da ativação do sistema Nrf2. Entre eles estão a curumina, da cúrcuma; o extrato de chá verde; a silimarina, do cardo mariano; o extrato de bacopa; o DHA; o sulforafano, presente no brócolis; e a ashwa​ ganDHA. Cada uma dessas substâncias é eficaz no acionamento da produção inata, pelo corpo, de antioxidantes-chave, inclusive a glutationa. E se nenhum desses compostos parece algo que você esteja acostumado a usar diariamente na sua dieta, você ficará satisfeito de saber que o café é um dos ativadores de Nrf2 mais poderosos da natureza. Várias moléculas no café, algumas delas parcialmente presentes no café bruto, outras geradas durante o pro​ces​so de tor​re​fa​ção, são res​pon​sá​veis por esse efei​to positivo. Além da função antioxidante, a ativação do processo da Nrf2 aciona os genes que produzem uma ampla gama de substâncias químicas protetoras, que dão ainda mais sustentação aos processos de desintoxicação do corpo, ao mesmo tempo que reduzem os processos inflamatórios. Tudo isso é bom para a saú​de ce​rebral.

(pág. 169)...O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um dos diagnósticos mais equentes nos consultórios pediátricos. Os pais de crianças hiperativas são levados a crer que seus filhos têm alguma forma de uma doença que limitará a capacidade de aprendizado. Frequentemente, o establishment médico convence os pais de que os medicamentos são a solução mais rápida. Toda a noção de que o TDAH é uma doença específica, rapidamente remediada por uma pílula, é convincente, mas alarmante. Em várias escolas americanas, até 25% dos alunos recebem regularmente medicação poderosa e modificadora da men​te cu​jas consequências de longo prazo nunca foram es​tu​dadas! ...“há uma tremenda pressão para que, se o comportamento da criança for considerado, entre aspas, anormal — se ele não estiver sentado quietinho em sua mesa —, trata-se de uma patologia, em vez de simplesmente infância”. O que isso significa, então, quando nossa definição de infân​cia é substituída por diagnósticos vagos como o TDAH?

(pág. 181)...a depressão é a maior causa de incapacidade no planeta. Também dá a quarta maior contribuição para o fardo das doenças no mundo inteiro. A Organização Mundial de Saúde estimou que até 2020 a depressão se tornará a segunda maior causa de so imento — perdendo apenas para as doenças cardíacas. Em muitos países desenvolvidos, como os Estados Uni​ dos, a de​ pres​ s ão já está en​ tre as mai​ o ​ r es cau​ s as de mor​ ta​ l i​ da​ de.19 Mas o que é mais inquietante é o elefante sentado nos consultórios médicos de muitas pessoas com depressão: os vidrinhos dos chamados “antidepressivos”. Medicamentos como Prozac, Paxil, Zoloft e incontáveis outros são, de longe, o tratamento mais comum contra a depressão nos EUA, apesar de em muitos casos não terem se mostrado mais eficazes que um placebo, e de em alguns casos serem excessivamente perigosos e até conduzir a suicídios. Novas pesquisas estão começando a mostrar até que ponto esses medicamentos podem ser assassinos. Anote: quando pesquisadores em Boston analisaram mais de 136 mil mulheres entre as idades de cinquenta e 79 anos, descobriram uma relação indiscutível entre aquelas que estavam tomando antidepressivos e o risco de derrames e de morte em geral. Mulheres tomando antidepressivos tinham uma probabilidade 45% maior de so er derrames e um risco 32% de morrer, somadas todas as causas.

(pág.182)...Já apresentei meus argumentos em favor do colesterol como nutriente para a saúde do cérebro. Ocorre que inúmeros estudos demonstraram que a depressão é muito mais equente em pessoas com colesterol baixo. E quem começa a tomar remédios redutores de colesterol (isto é, estatinas) pode ficar muito mais deprimido. Em meu trabalho, testemunhei isso pessoalmente. Não está claro se a depressão é um resultado direto da droga propriamente dita ou se é simplesmente uma consequência da redução do nível de colesterol. Ten​do a acreditar nesta última ex​plicação. Estudos que remontam a mais de uma década mostram uma correlação entre a depressão e um colesterol total baixo, sem mencionar comportamentos impulsivos, inclusive suicídios e violência.

(pág. 184)...Uma pergunta se impõe: como a depressão pode ter a ver com um intestino maltratado? Quando o revestimento intestinal é ferido pela doença celíaca, ele se torna ineficaz na absorção de nutrientes essenciais, muitos dos quais mantêm o cérebro saudável, como o zinco, o triptofano e as vitaminas do complexo B. Além disso, esses nutrientes são ingredientes necessários para a produção de substâncias químicas neurológicas, como a serotonina. A grande maioria dos hormônios e das substâncias químicas que causam bem-estar também é produzida na região dos intestinos, por aquilo que os cientistas passaram a chamar de “segundo cérebro”. As células nervosas no seu intestino não apenas regulam músculos, células imunes e hormônios, mas também fabricam cerca de 80% a 90% da serotonina do corpo. Na verdade, seu cérebro intestinal fabrica mais serotonina que o cérebro que fica dentro do seu crâ​ nio.

(pág. 185)...O dr. James M. Greenblatt, que eu mencionei anteriormente, escreveu muitos textos sobre esse tema. Ele, como eu, examina vários pacientes em quem os antidepressivos acassaram, mas quando eles param de ingerir alimentos contendo glúten seus sintomas psicológicos se resolvem. Em outro artigo para a revista Psychology Today, ele escreveu: “A do​en​ça celíaca não di​agnostica​da pode exa​cer​bar os sin​to​mas de de​pres​são ou até ser sua causa subjacente. Pacientes com depressão devem ser submetidos a testes de deficiência nutricional. Quem sabe se a doença celíaca é o diagnóstico correto, e não depressão?”. Muitos médicos ignoram deficiências nutricionais e nem sequer lhes ocorre pedir testes de sensibilidade ao glúten porque eles estão muito acostumados (e à vontade) com a prescrição de me​dicamentos. Esta é a ver​da​de. É importante observar que um elemento comum em muitos desses estudos é o espaço de tempo necessário para que as transformações no cérebro ocorram. Como é o caso com outros transtornos de comportamento, como o TDAH e o transtorno de ansiedade, pelo menos três meses podem transcorrer até que o indivíduo sinta uma sensação completa de alívio. É crucial perseverar quando se entra numa dieta sem glúten. Não perca as esperanças caso não haja melhora significativa imediata, mas tenha em mente que é provável que você vivencie uma melhora drástica, sob diversos aspectos.

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(pág.187)...Foi só na Segunda Guerra Mundial que começou a aflorar a suspeita de uma correlação entre transtornos psiquiátricos e sensibilidade alimentar materna. Um pesquisador do exército americano, o dr. F. Curtis Dohan, foi um dos pri​meiros ci​entistas a per​ceber uma relação entre a escassez de ali​mentos na Europa do pós-guerra (e, consequentemente, uma falta de trigo na dieta) e um número consideravelmente menor de hospitalizações por esquizofrenia. Embora essa observação, na época, não tenha permitido provar uma associação, desde então temos o benefício de estudos de longo prazo e tecnologias mo​dernas para jul​gar os ar​gumentos contra o glú​ten. Os estudos também mostraram que uma dieta pobre em carboidratos e rica em gorduras, pode mitigar não apenas a depressão, mas também a esquizofrenia.

(pág.193)...Você já sabe que a gordura abdominal é a pior e que aumenta o risco de uma série de problemas de saúde (doenças cardíacas, diabetes, demência, entre outras). Mas as pessoas não pensam no maior risco de dores de cabeça provocado pela circunferência da cintura. Surpresa: a circunferência é um previsor melhor de crises de enxaqueca que a obesidade em geral, tanto em homens quanto em mulheres, até os 55 anos. Somente nos últimos anos foi possível mostrar cientificamente a força dessa relação, em parte graças aos pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Drexel, na Filadélfia, que analisaram dados de mais de 22 mil participantes na Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (na sigla em inglês, NHA​ NES), ainda em andamento.

(pág. 207)...Mas, mais do que isso, nas palavras do professor George F. Cahill, da Faculda​de de Medicina de Harvard: estudos recentes mostraram que o beta-hidroxibutirato, a principal cetona, não apenas é um combustível, mas também um supercombustível, que produz energia ATP de maneira mais eficiente que a glicose. Ele tambémprotegeu as células neuronais, em uma cultura de tecidos, contra a ex​posição a toxinas as​so​ciadas ao Alz​heimer ou ao Parkin​son. De fato, o dr. Cahill e outros pesquisadores estabeleceram que o beta-HBA, que pode ser obtido facilmente pelo acréscimo de óleo de coco à dieta, melhora a função antioxidante, aumenta o número de mitocôndrias e estimula o crescimento de no​vas células cerebrais.

(pág. 209)...O jejum durante buscas espirituais é uma parte integral da história das religiões. Todas as grandes religiões promovem o jejum como algo mais que um ato simplesmente cerimonial. O jejum sempre foi uma parte fundamental da prática espiritual, como no Ramadã muçulmano ou no Yom Kippur judeu. Os iogues praticam a austeridade em suas dietas e os xamãs jejuam durante suas buscas visionárias. O jejum também é uma prática comum entre os cristãos devotos, e a Bíblia tem exemplos de jejuns de um, três, sete e qua​ren​ta dias....Ao longo de nossa história recorremos à gordura como uma fonte alimentar densa em calorias. Ela nos manteve esbeltos e nos foi útil nos tempos de caçadores-coletores. Como você já sabe, ingerir carboidratos estimula a produção de insulina, que leva à produção e à retenção de gordura, e a uma capacidade menor de queimá-la. Além disso, ao consumir carboidratos estimulamos uma enzima chamada lipoproteína lipase, que tende a transportar a gordura para as células; a insulina liberada quando consumimos carboidratos piora as coisas ao desencadear enzimas que prendem a gordura em nossas cé​lu​las adi​po​sas. Como já expliquei, quando queimamos gordura, em vez de carboidratos, entramos na cetose. Não há nada intrinsicamente errado nisso. Nosso corpo está preparado para essa atividade desde que começamos a caminhar pela Terra. Um leve estado de cetose é, na verdade, saudável.

(pág.211)...O programa alimentar delineado no capítulo 10 respeita os princípios cetogênicos gerais ao reduzir significativamente os carboidratos, obrigando o corpo a queimar gorduras, ao mesmo tempo que aumenta as gorduras alimentares e acrescenta nutrientes para elevar a produção de beta-HBA. Você limitará seu consumo de carboidratos a apenas trinta a quarenta gramas diárias, durante quatro semanas, após o que aumentará essa quantidade para sessentagramas. O grau de cetose que você é capaz de atingir pode, na verdade, ser medido com tiras de teste de cetona, como as usadas pelos diabéticos, disponíveis em qualquer farmácia. Exigem apenas uma ou duas gotas de urina e fornecem imediatamente informação sobre o grau de cetose que você atingiu. Procure traços de níveis reduzidos de cetose, em torno de cinco a quinze; a maioria das tiras de teste de cetona, como a Ketostix, usa um código de cores, e o rosa claro costuma indicar a presença de traços e quantidades bem pequenas. Isso significa que seu organismo está usando as cetonas de forma eficaz como energia. Se você seguir meu programa, a expectativa é que se torne levemente cetótico depois de mais ou menos uma semana, e pode ter interesse em fazer o teste por conta própria para verificar esse efeito.

(pág. 212)...A dura realidade na profissão médica atual é que é improvável que você obtenha muitos bons conselhos sobre como evitar transtornos cerebrais durante uma visita ao seu clínico. Hoje em dia, você não consegue mais que quinze minutos (se tanto) com o médico, que pode ou não estar treinado em relação aos conhecimentos mais recentes sobre como manter suas faculdades mentais. O que é mais perturbador é o fato de muitos dos médicos de hoje, originalmente treinados décadas atrás, não terem qualquer noção de nutrição e de seus efeitos sobre a saúde. Não digo isso para desprezar meus colegas, estou simplesmente apontando uma verdade que é, em grande parte, consequência da situação econômica. Minha esperança é de que a próxima geração de médicos esteja mais bem preparada para fazer a balança pender para o lado da pre​venção, em vez de se con​centrar tanto no tratamento.

(pág. 215)...A cúrcuma (Curcuma longa), integrante da família do gengibre, é tema de intensas pesquisas científicas, muitas delas para avaliar os efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes que vêm de seu ingrediente ativo, a curcumina. A cúrcuma é um tempero que dá a cor amarelada ao pó do curry e, como mencionei acima, é usada há milhares de anos nas medicinas chinesa e indiana como medicamento natural para uma série de males. Em um estudo para o American Journal of Epidemiology, pesquisadores investigaram a correlação entre o nível de consumo de curry e as funções cognitivas em idosos asiáticos. Aqueles que consumiam curry “ocasionalmente” e “frequentemente” ou “muito frequentemente” tiveram resultados muito melhores em testes específicos criados para medir as funções cognitivas, em relação àqueles que “nunca” ou “ra​ramente” ingeriam curry. Uma das armas secretas da curcumina é a capacidade de ativar genes que produzem uma vasta gama de antioxidantes que servem para proteger nossas preciosas mitocôndrias. Ela também melhora o metabolismo da glicose. Todas essas propriedades ajudam a reduzir o risco de doenças cardíacas.

(pág. 216)...probióticos: Novas e impressionantes pesquisas mostraram que ingerir alimentos ricos em probióticos — microrganismos vivos que auxiliam asbactérias residentes no nosso intestino — pode influenciar o comportamento do cérebro e ajudar a aliviar o estresse, a ansiedade e a depressão. Essas tribos de “bactérias boas” que moram no seu intestino e auxiliam a digestão são estimuladas e nutridas pelos probióticos. Eles desempenham um papel na produção, na absorção e no transporte de substâncias neuroquímicas como a serotonina, a dopamina e o fator de crescimento nervoso, essenciais para um cé​rebro sau​dável e para a função nervosa.

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(pág. 217)...ÓLEO DE COCO: Conforme já descrevi, o óleo de coco pode ajudar a prevenir e tratar doenças neurodegenerativas. Ele não apenas é um supercombustível para o cérebro, mas também reduz processos inflamatórios. Você pode tomar diretamente uma colher de chá ou usá-lo na preparação de refeições. O óleo de coco tem boa estabilidade térmica. Por isso, você pode usá- lo para cozinhar em altas temperaturas. Na parte de receitas, eu lhe darei al​gu​mas idei​as para tra​ba​lhar com o óleo de coco na co​zi​nha....VITAMINA D: É um erro chamar a vitamina D de “vitamina”, porque na verdade ela é um hormônio esteroide lipossolúvel. Embora a maioria das pessoas a associe simplesmente à saúde dos ossos e ao nível de cálcio — daí ser ela adicionada ao leite —, a vitamina D tem efeitos de longo alcance sobre o corpo e, especialmente, sobre o cérebro. É sabido que existem receptores de vitamina D em todo o sistema nervoso central;

(pág. 219)...Os exercícios têm inúmeros efeitos positivos para a saúde do corpo — principalmente do cérebro. Têm um papel importante no mundo da epigenética. Simplificando: quando você se exercita, literalmente exercita sua configuração genética. Exercícios aeróbicos não apenas acionam os genes relacionados à longevidade, mas também influenciam o gene que tem o código do BDNF, o “hormônio do crescimento” do cérebro. Constatou-se que exercícios aeróbicos revertem o declínio da memória nos idosos e até aumentam o surgimento de cé​lulas no centro de memória.

(pág. 236)...Os exercícios têm inúmeros efeitos positivos para a saúde do corpo — principalmente do cérebro. Têm um papel importante no mundo da epigenética. Simplificando: quando você se exercita, literalmente exercita sua configuração genética. Exercícios aeróbicos não apenas acionam os genes relacionados à longevidade, mas também influenciam o gene que tem o código do BDNF, o “hormônio do crescimento” do cérebro. Constatou-se que exercícios aeróbicos revertem o declínio da memória nos idosos e até aumentam o surgimento de cé​lulas no centro de memória.

(pág.236)...Gedgaudas chama a leptina de “vizinho novo que manda no bairro inteiro”, e a definição não poderia ser mais perfeita. Da próxima vez que você largar o garfo e levantar-se da mesa do jantar, agradeça à sua leptina. Quando você está de estômago cheio, as células adiposas liberam leptina para dizer a seu cérebro que pare de comer. É seu freio. Isso explica por que quem tem níveis reduzidos de leptina tende a comer em excesso. Um estudo que virou referência, publicado em 2004, mostrou que pessoas com uma queda de 20% na leptina só em um aumento de 24% na fome e no apetite, levando-as a ingerir alimentos ricos em calorias e carboidratos, principalmente doces, salgadinhos e alimentos com amido. E o que causa essa queda na leptina? Privação de sono. Descobrimos muito a respeito dos hormônios apenas com estudos sobre o sono. Estes, por sua vez, nos deram informações a respeito do valor do sono na re​gulagem de nossos hormônios.

(pág. 252)...Co​mece se livrando do seguinte: • Todas as fontes de glúten (veja a lista completa nas páginas 78-9), inclusive grãos e pães integrais, noodles, massas, doces, biscoitos e ce​reais. • Todas as formas de carboidratos, açúcares e amidos processados: milho, inhame, batata, batata-doce, batata chips, docinhos, cookies, muffins, massa de pizza, bolos, donuts, barras energéticas, sorvete/ iogurte frozen, geleias, ketchup, queijos processados de passar no pão, sucos, frutas secas, isotônicos, refrigerantes, alimentos fritos, mel, ágave, açúcar (branco e mascavo) e xarope de mi​lho. • Alimentos empacotados com o rótulo “sem gordura” ou “baixo teor de gordura” (a menos que sejam autenticamente “sem gordura” ou “baixo teor de gordura” e dentro do protocolo, como água, mostarda e vinagre balsâmico).

(pág. 254)...Os seguintes itens podem ser consumidos de forma livre (sempre que possível, dê preferência a produtos orgânicos e integrais; aqueles submetidos a con​gelamento ins​tantâneo também são bons). • Gorduras saudáveis: azeite de oliva extravirgem, óleo de gergelim, óleo de coco, banha de animais alimentados no pasto e manteiga de animais alimentados com pasto ou orgânicos, manteiga clarificada (ghee), leite de amêndoas, abacates, cocos, azeitonas, nozes e manteiga de karité, queijo (ex​ceto os azuis) e se​mentes (li​nhaça, girassol, abóbora, gergelim, chia. • Proteínas: ovos inteiros; peixes selvagens (salmão, peixe-carvão, dourado- do-mar, garoupa, arenque, truta, sardinha), mariscos e moluscos (camarão, caranguejo, lagosta, mexilhão, amêijoa, ostra); carne de animais alimentados no pasto, aves e carne de porco (carne de boi, cordeiro, bisão, fran​go, peru, pato, aves​truz, vitela); carne de caça. • Vegetais: salada verde e alface, couve, espina e, brócolis, acelga, repolho, cebola, cogumelos, couve-flor, couve-de-bruxelas, alcachofra, broto de alfafa, vagem, aipo, couve chinesa, rabanete, agrião, nabo, aspargo, alho, alho-poró, funcho, chalota, cebolinha, nabo mexicano, salsinha, cas​tanheiro de água. • Frutas e legumes com pouco açúcar: abacate, pimentão, pepino, tomate, abo​brinha, abóbora, berinjela, limão, lima. • Ervas, temperos e condimentos: neste pormenor você tem ampla escolha, desde que preste atenção nos rótulos. Diga adeus ao ketchup e ao chutney, mas aproveite a mostarda, a raiz-forte, a tapenade e a salsa, desde que sem glúten, trigo, soja e açúcar. Não há qualquer restrição a ervas e temperos; tome cuidado com os produtos industrializados, porém, que vêm de in​dústrias que pro​cessam trigo e soja. Os produtos abaixo podem ser consumidos com moderação (por “moderação” entenda-se comer pequenas quantidades desses ingredientes uma vez por dia ou, me​l hor ain​da, ape​nas duas ou três ve​zes por semana): • Grãos sem glúten: amaranto, trigo mourisco, arroz (integral, branco, arbóreo), milheto, quinoa, sorgo, painço (uma observação sobre a aveia: embora ela não contenha glúten naturalmente, sofre muitas vezes contaminação de glúten, por ser processada em fábricas que também mexem com trigo;

(235)...Sinto-me na obrigação de falar bem dos ovos, um dos alimentos mais falsamente acusados do mundo contemporâneo. De início, queria reafirmar dois fatos importantes, mas pouco lembrados: 1. Em inúmeras oportunidades, os cientistas acassaram ao tentar relacionar as gorduras de origem alimentar (isto é, as gorduras saturadas) e o colesterol tanto aos níveis de colesterol sérico quanto ao risco de doenças cardíacas coronarianas. A crença de que o colesterol que ingerimos se converte diretamente em colesterol no sangue é inequivocamente falsa...

(pág. 312)...Epílogo- A es​pan​tosa verdade. No século XVI​II, um médico alemão formado em Viena montou um consultório para estudar o chamado “magnetismo animal”, que ele transformou num método de tratamento, o hipnotismo. Esse método também foi nomeado mesmerismo, por conta de seu nome: Franz Anton Mesmer. O dr. Mesmer afirmava poder curar problemas do sistema nervoso pelo uso do magnetismo... Hoje se acredita que Mesmer, na verdade, tratava males psicossomáticos e tirou enorme proveito da credulidade das pessoas. Olhando para trás, suas teorias e práticas soam ridículas, mas, na verdade, a história de Mesmer guarda muitos paralelos com casos de hoje. Não é tão ridículo imaginar que algumas pessoas são presa fácil para produtos, procedimentos e crenças médicas vendidas de forma brilhante. Todos os dias recebemos alguma informação nova sobre saúde. Somos bombardeados com notícias — boas, ruins e confusamente contraditórias. E somos literalmente mesmerizados por essas mensagens. Até mesmo os consumidores inteligentes, instruídos, cautelosos e céticos são mesmerizados. É difícil separar a verdade da ficção e saber a diferença entre o que é saudável e o que é nocivo, quando as informações e os endossos vêm dos “es​pecialistas”.

(pág. 313)...Se você refletir a respeito de alguns dos conselhos distribuídos nos últimos cem anos pelos chamados “especialistas”, dar-se-á conta rapidamente de que muitas coisas nem sempre são o que parecem. É muito comum testemunhar reviravoltas totais quando se trata da validade de certos fatos, práticas e afirmações. As hemorragias ainda eram um tratamento comum no final do século XIX. Achávamos que os ovos eram nocivos e que a margarina era mágica, mas agora sabemos que os ovos estão entre os alimentos mais ricos em nutrientes e que a margarina contém gorduras trans letais. Os médicos de meados do século XX posavam para anúncios de cigarros e, tempos depois, começaram a dizer que o leite em pó era melhor que o materno para as cri​anças. E em​bora pa​reça difícil conceber hoje em dia, não faz mui​to tem​po que se pensava que a dieta não tinha influência nenhuma sobre as doenças. Hoje sa​bemos que é o contrário.Para acessar outros estudos e uma lista atualizada de referências, visite o site www.dr​perl​mutter.com.

(pág. 344)...Dr. David Perlmutter é neurologista, presidente do Perlmutter Health Center, cofundador da Perlmutter Brain Foundation e membro do American College of Nutrition. Recebeu diversos prêmios, inclusive o prêmio Humanitário do Ano do American College of Nutrition e o prêmio Linus Pauling. É o autor de The Better Brain Book, Raise a Smarter Child By Kindergarten e Power Up Your Brain, ne​nhum de​les pu​blica​ do no Brasil.


Mussolini e a Ascensão do Fascismo – Donald Sassoon

Mussolini e a Ascensão do Fascismo
autor: Donald Sassoon

Descrição: Benito Mussolini bem que tentou passar à história a ideia de que tomou o poder à força na Itália. De fato, não foi nada disso. Mussolini foi nomeado primeiro ministro pelo rei Vítor Emanuel III em 31 de outubro de 1922. Mas o que faz o líder de um partido minoritário e impopular, sem uma base nacional e desprovido do apoio dos militares chegar ao comando do governo italiano e permanecer por mais de 20 anos? Para o historiador Donald Sassoon, este é o ponto chave para se entender o surgimento e a ascensão do fascismo na Itália e a entrada deste país na Segunda Guerra Mundial.


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Lou Andreas-Salomé – Dorian Astor

Lou Andreas-Salomé
autor: Dorian Astor

Descrição: Romancista, ensaísta e psicanalista, Lou Andreas-Salomé (1861-1937) foi acima de tudo um espírito livre. Aos vinte anos, ela começa uma amizade filosófica com Nietzsche e brinca com o fogo de seu amor. Aos trinta, companheira do poeta Rainer Maria Rilke, guia-o no caminho da criação e foge de sua paixão. Aos quarenta, é acolhida por Freud como sua discípula mais brilhante. Mulher entre homens, ela sonha com um “mundo de irmãos”, de casamento sem sexualidade, de maternidade sem procriação, de inconsciente sem instintos destrutivos. Filosofia, poesia e psicanálise são os instrumentos da única afirmação que interessa a essa provocante mulher: o laço indissolúvel do indivíduo com a vida como um todo.


Lincoln - Doris Kearns Goodwin

Lincoln
autor: Doris Kearns Goodwin

Descrição do livro: Ao fazer uma análise do estilo de liderança de Abraham Lincoln, da maneira como ele entendia o comportamento humano e das alianças que construiu em seu governo, a premiada historiadora Doris Kearns Goodwin escreveu uma detalhada biografia política de um dos mais importantes presidentes norte-americanos. Um livro fundamental para o entendimento da Guerra Civil americana e seus principais personagens.


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A Mulher do Oficial Nazista - Edith Hahn Beer

A Mulher do Oficial Nazista autor: Edith Hahn Beer

Descrição do livro: Edith Hahn era uma mulher austríaca extrovertida e de opinião forte quando a Gestapo aprisionou os judeus em um gueto e, depois, em um campo de trabalhos forçados. Quando Edith retornou à Viena, ela sabia que seria cassada pelos nazistas. Resolve, com a ajuda de uma amiga cristã, criar uma nova identidade. Assim emerge Grete Denner. Foi como Grete que ela conheceu Werner Vetter, um membro do partido nazista que se apaixonou perdidamente por ela. Apesar de seus protestos e de confessar ser judia, Werner a pediu em casamento e manteve sua identidade em segredo. Neste relato incrível, Edith conta como era viver em constante medo. Ela revela como os oficiais nazistas casualmente questionavam a linhagem de seus pais; como ela recusou analgésicos durante o parto de sua filha; o momento em que seu marido foi capturado pelos soviéticos e ela foi expulsa de sua casa, escondendo-se em escombros porque soldados russos bêbados estupravam mulheres na rua. Suas experiências formam um testemunho emocionante de um dos períodos mais avassaladores da história. “Uma história incrível.” Jewish Post “Um exemplo inspirador de perseverança diante de adversidades terríveis.” Publishers Weekly “Este livro cativante mostra como o instinto de sobrevivência nos leva a dormir com nosso inimigo.” Kirkus Review “Uma linda história de sobrevivência e superação de seus maiores medos.” Washington Jewish Weekly


Última parada: Auschwitz: meu diário de sobrevivência - Eddy de Wind

Última parada: Auschwitz
autor: Eddy de Wind (1916-1987)

Eddy de Wind chega a Auschwitz em 1943 com sua esposa, Friedel. Ele é médico e ela é enfermeira. Lá, eles são separados. Friedel vai para o Bloco 10, onde ficam os prisioneiros destinados aos cruéis experimentos médicos do Dr. Mengele. Eddy vai para o Bloco 9, onde trabalha ajudando a cuidar de prisioneiros políticos. Quando a Alemanha está prestes a perder a guerra e os russos se aproximam de Auschwitz, os nazistas fogem do campo. Em uma tentativa de cobrir seus rastros, mandam os prisioneiros sobreviventes, entre eles Friedel, a caminhar em direção à Alemanha. Mais tarde, essas caminhadas foram chamadas de Marchas da Morte. Eddy conseguiu se esconder e ficou no campo, a espera dos russos. Lá, com a memória fresca, começou a escrever sua rotina diária. Descreveu em detalhes as atrocidades que presenciou e o que ouviu de outros prisioneiros, inclusive da mulher. Até hoje, este é o único livro inteiramente escrito dentro do campo de concentração.


Guerra Contra Los Debiles - Edwin Black

Guerra Contra Los Debiles - Edwin Black

(pág. 72)... La fortuna de John D. Rockefeller también contribuyó a la financiación. Un funcionario filantrópico de Rockefeller se interesó mucho en la eugenesia y parece dispuesto a ayudar en el trabajo del Dr. Davenport", informó un líder eugenésico a la Sra. Harriman en una carta escrita a mano. "Su preferencia es dar una pequeña suma al principio ... aumentar la cantidad a medida que avance el trabajo". Las contribuciones iniciales de Rockefeller ascendieron a solo $ 21.650 en efectivo y se destinaron a sufragar los gastos de los trabajadores de campo. Pero las entidades filantrópicas Rockefeller altamente estructuradas donaron más que solo efectivo; proporcionaron personal y apoyo organizativo, así como el nombre visible de Rockefeller. Claramente, la eugenesia y su objetivo de purificar a la población de Estados Unidos ya era más que un complejo de teoremas y pronunciamientos racistas sin apoyo. La eugenesia era nada menos que una alianza entre el racismo biológico y el poderoso poder, posición y riqueza estadounidenses contra los más vulnerables, los más marginales y los menos empoderados de la nación. Los cruzados eugenésicos habían movilizado con éxito a los fuertes de Estados Unidos contra los débiles de Estados Unidos. Más soluciones eugenésicas estaban en la tienda.

(pág. 73)... El 2 y el 3 de mayo de 1911, en Palmer, Massachusetts, los comités de investigación de la sección eugenésica de la ABA adoptaron una resolución que crea un nuevo comité especial. "Resuelto: que el presidente designe un comité encargado de estudiar e informar sobre los mejores medios prácticos para cortar el plasma germinal defectuoso de la población estadounidense". Laughlin era el secretario del comité especial. Él y sus colegas reclutarían un panel asesor entre las autoridades más estimadas del país en ciencias sociales y políticas, medicina y jurisprudencia. El panel asesor eventualmente incluye al cirujano Alexis Carrel, M.D., del Instituto Rockefeller de Investigación Médica, que meses después ganaría el Premio Nobel de Medicina; O.P. Austin, jefe de la Oficina de Estadísticas en Washington, D.C .; fisiólogo W.B. Cannon y el experto en inmigración Robert DeCourcy Ward, ambos de Harvard; el psiquiatra Stewart Paton de Princeton; el profesor de asuntos públicos Irving Fisher de Yale; el economista político James Field de la Universidad de Chicago; el reconocido abogado Louis Marshall; y muchos otros hombres eminentes del saber

(pág. 76)... na opción fue más allá que cualquier otra. Era muy temprano para implementar. Sin embargo, el punto ocho del plan de la American Breeders Association exigía la eutanasia

(pág. 82)... El gobernador de Nueva Jersey, Woodrow Wilson, firmó la ley el 21 de abril de 1911. Al año siguiente, fue elegido presidente de los Estados Unidos por su campaña de derechos personales conocida como las "Nuevas Libertades". Haciendo hincapié en las libertades individuales, Wilson ayudó a crear la Liga de las Naciones. El presidente Wilson hizo una cruzada por los derechos humanos para todos, incluidos los indefensos, proclamando al mundo las palabras inmortales: "Lo que buscamos es el reino de la ley, basado en el consentimiento de los gobernados y sostenidos por la opinión organizada de la humanidad "

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As Veias Abertas da América Latina – Eduardo Galeano

As Veias Abertas da América Latina
autor: Eduardo Galeano

Descrição: Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada em 1977, quando a maioria dos países do continente padecia facinorosas ditaduras, este livro tornou-se um ‘clássico libertário’, um inventário da dependência e da vassalagem de que a América Latina tem sido vítima, desde que nela aportaram os europeus no final do século XV. No começo, espanhóis e portugueses. Depois vieram ingleses, holandeses, franceses, modernamente os norte-americanos, e o ancestral cenário permanece – a mesma submissão, a mesma miséria, a mesma espoliação.


De Pernas Pro Ar – Eduardo Galeano

De Pernas Pro Ar
autor: Eduardo Galeano

Descrição: Em De pernas pro ar – A escola do mundo ao avesso, Eduardo Galeano provoca nossas emoções e nossas consciências, como já o fizera no clássico As veias abertas da América Latina no início da década de 70. Nestas páginas, que transitam pela ironia e, não raro pela indignação, desfilam uma enorme quantidade de fatos, eventos históricos e jornalísticos que comprovam que o mundo está, de fato, de pernas pro ar, refletindo a nossa incapacidade de harmonizar justiça e liberdade.Verdadeiro, generoso, lírico e às vezes cruel, este livro é um inventário da nossa dura, estranha e injusta realidade. Dono de uma obra emblemática e importante, Eduardo Galeano é um dos mais importantes escritores latino-americanos, com seu nome projetado em todo o mundo com traduções em mais de 20 línguas

Os modelos do êxito: O mundo ao avesso gratifica o avesso: despreza a honestidade, castiga o trabalho, recompensa a falta de escrúpulos e alimenta o canibalismo. Seus mestres caluniam a natureza: a injustiça, dizem, é lei natural. Milton Friedman, um dos membros mais conceituados do corpo docente, fala da “taxa natural de desemprego”. Por lei natural, garantem Richard Herrnstein e Charles Murray, os negros estão nos mais baixos degraus da escala social. Para explicar o êxito de seus negócios, John Rockefeller costumava dizer que a natureza recompensa os mais aptos e castiga os inúteis. Mais de um século depois, muitos donos do mundo continuam acreditando que Charles Darwin escreveu seus livros para lhes prenunciar a glória. Sobrevivência dos mais aptos? A aptidão mais útil para abrir caminho e sobreviver, o killing instinct, o instinto assassino, é uma virtude humana quando serve para que as grandes empresas façam a digestão das pequenas empresas e para que os países fortes devorem os países fracos, mas é prova de bestialidade quando um pobre-diabo sem trabalho sai a buscar comida com uma faca na mão. Os enfermos da patologia antissocial, loucura e perigo de que cada pobre é portador, inspiram-se nos modelos de boa saúde do êxito social. O ladrão de pátio aprende o que sabe elevando o olhar rasteiro aos cumes: estuda o exemplo dos vitoriosos e, mal ou bem, faz o que pode para lhes copiar os méritos. Mas “os fodidos sempre serão fodidos”, como costumava dizer Dom Emílio Azcárraga, que foi amo e senhor da televisão mexicana. As possibilidades de que um banqueiro que depena um banco desfrute em paz o produto de seus golpes são diretamente proporcionais às possibilidades de que um ladrão que rouba um banco vá para a prisão ou para o cemitério.


A Bailarina De Auschwitz - Edith Eva Eger

A Bailarina De Auschwitz
autor: Edith Eva Eger - A Bailarina De Auschwitz

Descrição do livro: A História de Superação, Resilência e Coragem de Uma Sobrevivente do Holocausrto “Um lindo livro de memórias que evoca as grandes obras de Anne Frank e Viktor Frankl. Muito mais que um livro; uma obra de arte.” – Adam Grant, autor de Originais “Não consigo imaginar uma mensagem mais importante para os tempos modernos. O livro de Edith Eger é triunfal, e deve ser lido por todas as pessoas que se importam com a própria liberdade interior e com o futuro da humanidade.” – The New York Times “Não existe uma hierarquia do sofrimento. Não há nada que torne a minha dor maior ou menor que a sua, nenhum gráfico no qual possamos registrar a importância relativa de uma dor sobre a outra. Não quero que você leia minha história e diga, ‘Meu sofrimento é menos importante’. Quero que você afirme ‘Se você pode fazer isso, eu também posso!’.” Edith Eger A bailarina de Auschwitz é a história inspiradora e inesquecível de uma mulher que viveu os horrores da guerra e, décadas depois, encontrou no perdão a possibilidade de ajudar outras pessoas a se libertarem dos traumas do passado. Edith Eger era uma bailarina de 16 anos quando o Exército alemão invadiu seu vilarejo na Hungria. Seus pais foram enviados à câmara de gás, mas ela e a irmã sobreviveram. Edith foi encontrada pelos soldados americanos em uma pilha de corpos dados como mortos. Mesmo depois de tanto sofrimento e humilhação nas mãos dos nazistas, e após anos e anos tendo que lidar com as terríveis lembranças e a culpa, ela escolheu perdoá-los e seguir vivendo com alegria. Já adulta e mãe de família, resolveu cursar psicologia. Hoje ela trata pacientes que também lutam contra o transtorno de estresse pós-traumático e já transformou a vida de veteranos de guerra, mulheres vítimas de violência doméstica e tantos outros que, como ela, precisaram enfrentar a dor e reconstruir a própria vida. Este é um relato emocionante de suas memórias e de casos reais de pessoas que ela ajudou. Uma lição de resiliência e superação, em que Edith nos ensina que todos nós podemos escapar à prisão da nossa própria mente e encontrar a liberdade, não importam as circunstâncias.


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Avareza: Os papéis que revelam riquezas, escândalos e segredos do Vaticano

Avareza: Os papéis que revelam riquezas, escândalos e segredos do Vaticano
autor: Emiliano Fittipaldi

Descrição: A imensa repercussão deste Avareza na Itália fez com que, de investigador, seu autor passasse a ser investigado no Vatileaks, o escândalo envolvendo o vazamento de documentos secretos da igreja. “Um santo negócio: os escândalos financeiros do Vaticano”.


A Agulha Envenenada -Fatos suprimidos sobre vacinação

Fatos suprimidos sobre vacinação
autor: Eleanor McBean

O objetivo deste volume é fornecer uma referência de trabalho de várias declarações relativas à vacinação e não oferecer uma "cura" de qualquer doença específica em qualquer indivíduo específico. Opiniões pré-concebidas sobre vacinação não serão alteradas da noite para o dia, nem pela leitura de um único livro. Aqui estão as opiniões de muitos grandes cientistas e médicos (de muitas escolas). Muitos passaram uma vida inteira pesquisando - de tentativa e erro antes de fazer suas declarações. O leitor tem o privilégio de aceitar ou rejeitar as declarações após a devida deliberação. Assim, sentimos que este volume não deve ser considerado um livro perigoso para o leigo, mas um tratado instigante. O editor.


O Papa Negro-Ernesto Mezzabota (207 Pág)

O Papa Negro (207 Pág)
autor: Ernesto Mezzabota

O Papa Negro Livro imprescindível para se entender a história da Europa medieval e seus costumes. Uma narrativa fantástica de como surgiu a ordem dos Jesuítas, bem como a história de seu fundador, Ignácio de Loyola. Suas tramas de controle de poder, formas corruptas para alcançá-lo, e manter a todo custo a riqueza adquirida por meio de embuste e traições. Ernesto MezzabotaTexto Revisado por: Milton Barros de Carvalho Corrigido por: Milton Barros de Carvalho. Tempo da narrativa: Entre 1500 -70 E. C. Obs. A devida correção do texto visava corrigir e atualizar a linguagem para os dias atuais. Não obstante, foi mantido o sabor e sentido original, conservando algumas palavras, que esperamos, contribua para a erudição dos leitores sem nenhum dano ao autor e seus devidos direitos autorais. Milton Barros de Carvalho, Belém – Pará. Brasil.13 de junho de 2009 Introdução: estamos na parte mais rude e montanhosa da selvática província de Catalunha. A capital desta província, a rica e populosa Barcelona, é o centro de comércio, de literatura e de patriotismo, como não encontra segundo em nenhuma cidade da Europa; mas, mal saem as portas da cidade, acha-se a gente logo no reino do deserto, e principiam a encontrar-se os seus sombrios habitantes; -o mendigo e o salteador. Claro está que não falamos da Catalunha moderna, que não é inferior a nenhuma outra província de Espanha pela sua civilização adiantada e liberal. A ação do drama, que vamos narra passou-se há três séculos e meio, remontando ao terrível começo do século dezesseis, e aos princípios dessa luta religiosa, que deve fazer correr rios de sangue em toda a Europa...


À Margem Da História – Euclides Da Cunha

À Margem Da História
autor: Euclides Da Cunha

Academia Brasileira de Letras

(Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha), engenheiro militar, jornalista, ensaísta e historiador, nasceu em Cantagalo, RJ, em 20 de janeiro de 1866, e faleceu no Rio de Janeiro em 15 de agosto de 1909.) Descrição: Desbravador, consciência rebelde em conflito entre ciência e arte, entre pesquisa e denúncia, Euclides da Cunha trouxe para o primeiro plano, para o centro de sua obra, o homem do interior do Brasil. Seu interesse pela Amazônia leva-o a ser nomeado chefe da missão exploradora do Alto Purus, o que lhe ofereceu material para ‘À Margem da História’ (1909), publicado postumamente. O volume é a reunião de artigos publicados em revistas e jornais da época.