Resumo: A Aliança para o Progresso, política elaborada pelo governo Kennedy, no início dos anos 1960, com fins de promover o desenvolvimento nos moldes capitalistas na América Latina, assentava-se sob um dilema de difícil conciliação. Por um lado, as demandas da região por desenvolvimento econômico não poderiam mais ser ignoradas; por outro, percebia que um desenvolvimento autônomo da América Latina, nos moldes idealizados pela Aliança, poderia levar a uma diminuição da influência regional dos Estados Unidos. Entre as pressões dos países latino-americanos e os interesses hegemônicos dos Estados Unidos, a Aliança foi rapidamente assumindo contornos coercitivos e ideológicos, esvaziando de sentido a proposta de parceria para o bem comum.
No âmbito econômico, o desacordo primordial entre os governos Kennedy e Goulart estava basicamente no modelo de desenvolvimento almejado por ambos para o Brasil. Herdeiro do nacional-desenvolvimentismo varguista e ancorado nas pesquisas cepalinas, o governo Goulart queria reestruturar as bases do desenvolvimento nacional alargando a presença do Estado no financiamento do desenvolvimento, acelerando a industrialização pela inversão de exportações, estabelecendo regramento à circulação de capital estrangeiro e remodelando o comércio exterior de forma a equilibrar a balança de pagamentos do país. Por sua vez, o governo Kennedy, comprometido com os interesses do capital privado e com a posição hegemônica dos Estados Unidos, deveria conduzir sua política externa de modo a facilitar a manutenção da América Latina como um mercado vantajoso ao capital privado de seu país, fechando a região às possíveis diversificações comerciais e ideológicas advindas do bloco socialista. No âmbito político, a abertura do governo Goulart à inclusão das pautas populares por transformações na estrutura social do país – as reformas de base – desagradou tanto aos setores nacionais mais conservadores quanto aos investidores internacionais, o que levou o governo Kennedy a atuar, de maneira consistente e continuada, para influenciar a cena política e enfraquecer o governo Goulart. Isso se deu de forma mais clara em especial a partir de 1962, quando, nas eleições congressuais de outubro, a Agência de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) gastou cerca de 5 milhões de dólares para financiar as campanhas de candidatos a 15 cadeiras no Senado, 8 governos estaduais, 250 cadeiras federais e 600 vagas para as legislaturas estaduais (LEACOCK, 1990). Com os mesmos objetivos, a administração Kennedy também buscou redesenhar o mapa do movimento sindical brasileiro e latino-americano, sobretudo com a nova arma da Guerra Fria: o Instituto Americano de Desenvolvimento do Trabalho Livre (AIFLD, sigla em inglês). Fundada pela Federação Americana do Trabalho (AFL), no fim de 1961, a missão do AIFLD era combater a dita ameaça de infiltração castrista e o eventual controle de importantes movimentos trabalhistas na América Latina. De modo efetivo, entre 1962 e 1967, a AIFLD recebeu 15,4 milhões de dólares, isto é, 89% de seu orçamento, por meio de fundos diretamente ligados à AFP. No Brasil, o AIFLD instruiu os líderes sindicais sobre como organizar greves e manifestações contra o governo nacional, e a organização acabou enviando dez brasileiros para treinamento especial no exterior em técnicas de desestabilização (RABE, 1999; CORREA, 2017). Ainda de acordo com a linha da interferência política e econômica, o governo Kennedy se comprometeu a subscrever um esforço conjunto para desenvolver o Nordeste brasileiro.
Descrição: Ensaio fundamental, acadêmico, para a compreensão da formação social e política brasileira. Partindo das origens portuguesas de nosso patronato político, o autor demonstra como o Brasil foi governado, desde a colônia, por uma comunidade burocrática que acabou por frustrar o desenvolvimento de uma nação independente. Sua análise abarca o longo período que vai da Revolução Portuguesa do século XIV até a Revolução de 1930 no Brasil.
Pág. 51- Do ponto de vista de George Soros (2001), esta questão se expressa assim: “O capitalismo cria riqueza, mas não se pode depender dele para garantir a liberdade, a democracia e o Estado de direito. As empresas estão motivadas pelo benefício, não têm por objetivo salvaguardar os princípios universais. Até a proteção do mercado requer muito mais que o benefício próprio: os participantes no mercado competem para ganhar, e se pudessem eliminariam a concorrência” (Soros, 2001).
Pág. 189- Esta questão está vinculada a certos âmbitos de poder onde se tomam decisões que afetam gravemente a sociedade, sem que ela possa participar dessas discussões. Esses claustros cerrados de decisão econômica e os poderes fáticos legais e ilegais, nacionais ou extraterritoriais, contribuem para esvaziar a política. A democracia abre caminho e convida à participação cidadã; no entanto, se os âmbitos em que essa participação ocorre têm pouco peso nas grandes decisões nacionais, a conseqüência tende a ser a apatia e a desconfiança generalizadas.
Pág. 192- Privatização perversa do Estado: Um meticuloso diagnóstico do desenvolvimento da região pode evidenciar um crônico déficit democrático que, freqüentemente, traduziu-se em fenômenos de autoritarismo, clientelismo, amiguismo e, em casos extremos, de nepotismo, que foram a expressão, em termos de regime político, de uma “captura” das instituições e políticas públicas por interesses particulares (de um partido político ou sindicato ou grupo econômico ou uma família, ou interesses regionais e locais). Essa espécie de “privatização perversa” do Estado, presente na base dos fenômenos de corrupção, conduziu a intervenções estatais desencorajadoras de um funcionamento eficiente do mercado e promotoras da busca de rendas e da especulação.(Enrique V. Iglesias, texto elaborado para o PRODDAL, 2003)
Pág. 195- Modelo único de desenvolvimento- O “fetichismo” das reformas implantadas pelo “fundamentalismo de mercado”, que teve como uma das expressões o “Consenso de Washington”, nega-se a reconhecer a diversidade existente na democracia [...]. Por trás do discurso do chamado “Consenso de Washington”, encontra-se o pressuposto da existência de um modelo único de desenvolvimento, aplicável a todos os países sejam quais forem suas circunstâncias, e uma visão da “economia de mercado” como antagônica ao intervencionismo estatal. Essa idéia, compartilhada pelos organismos de crédito internacionais, é “a-histórica”, nociva e contrária à democracia. (José Antonio Ocampo, texto elaborado para o PRODDAL, 2003.)
Descrição: O livro narra, de forma irônica, os fatos mais importantes que marcaram a história da medicina no mundo. Acentuando a cada momento, os enormes erros cometidos pelos especialistas no trato das doenças ao longo do tempo.
Trechos do livro(Pág.4) A história da medicina não é o testamento de idealistas à procura da saúde e da vida, assim como a história do homem não é mais gloriosa do que uma lista de irracionalidade brutal e egoísta com lampejos espasmódicos de sanidade. A história da medicina é, em grande parte, a substituição da ignorância por mentiras. (Pág.7)...A medicina sempre se revestiu do manto cintilante das realizações, enquanto continuava miseravelmente despida de descobertas importantes. Estas são ao todo uma dúzia, relacionadas no fim do livro, para que os leitores inteligentes possam testar a própria percepção. ...No fim do século XX, a medicina proliferou tanto e seu custo cresceu tanto, que um tratamento adequado está muito além dos meios dos sofredores assustados e, no futuro, estará além dos meios de qualquer cidadão sofredor e pagador de impostos. A não ser que os médicos aprendam a praticar economia, além da medicina, Hipócrates se tornará redundante, porque ninguém mais poderá se dar ao luxo de ficar doente. ...No outro lado do Mediterrâneo, na escola de medicina de Alexandria, fundada em 332 a.C., Herófilo e Erasístrato (c. 300 a.C.) já tinham a solução anatômica: eles dissecavam vivos os criminosos da prisão real. “Sem dúvida, o melhor método para aprender", escreveu Celso, aprovando.
Michael Servetus (1509-53) foi queimado vivo por Calvin, numa fogueira alimentada por seus livros, por ter descoberto a circulação pulmonar. Vesalius foi obrigado a abandonar a anatomia quando tinha 30 anos, e foi ser médico da corte em Madri. Ele dissecou um nobre espanhol, que se moveu alarmantemente sob o bisturi, o que provocou a ira da Inquisição...
...O microscópio foi inventado acidentalmente por um óptico holandês que introduziu duas lentes num tubo. Antony van Leeuwnhoek (1632-1723), de Delf, explorou a invenção — ele tinha 247 microscópios e foi o primeiro homem a ver o próprio espermatozóide. O microscópio, de Marcello Malpighi (1628-94), de Bolonha, revelou o elo que Harvey procurava, mostrando o corpo todo percorrido por capilares minúsculos que canalizavam as artérias para as veias...Os humildes microorganismos herdaram a terra antes de nós, são em número infinitamente maior do que nós, eles nos matam sorrateiramente, restringem nosso prazer sexual, eles pilotaram nossa história e comandaram nossos pensamentos, eles nos massacraram intermitentemente, eles nos reduzem ao medo abjeto e à meticulosidade absurda, eles estarão aqui depois de nós.
(Pág.30)...A Morte Negra começou nas praias do montanhoso Lago Issyk-Kul, a leste do Mar de Arai, além de Tashkent, no canto entre a Rússia e a China, ao norte do Himalaia. Em 1346, a Morte Negra estava matando indianos, armênios, tártaros e curdos, o que não preocupou muito pessoa alguma na Europa. No ano seguinte ela chegou á Criméia, depois a Messina, na Sicília, levada pelos ratos das galeras genovesas. Em seguida, Gênova, Pisa e Veneza. Depois disso, nada mais podia contê-la. No Natal de 1348 foi importada para a Inglaterra, através de Bristol, e um ano depois tinha varrido as Terras Altas da Escócia. Os médicos armaram-se com longos aventais de couro, luvas e protótipos das máscaras contra gases do ano de 1939, com óculos de aviador e anti-sépticos aromáticos no tubo de ar. Os pacientes queimavam ervas e cantavam salmos. A mortalidade entre os religiosos que atendiam os doentes foi heróica. Foi chamada Morte Negra porque os mortos ficavam pretos. Sangravam horrivelmente ao nível da pele. Havia dois tipos, a bubônica, com os glânglios da virilha e das axilas intumescidos como laranjas podres, os terríveis "bubos”, ou a pneumônica, transmitida pela respiração, uma pneumonia hemorrágica, com morte certa e rápida. ...Em covas abertas apressadamente eram enterrados os corpos putrefatos, malcheirosos e ameaçadores, 25 milhões deles na Europa, um quarto da população. Metade de Londres pereceu, talvez umas 50.000 pessoas. Ninguém sabia o que causava a peste, mas acreditavam que os judeus estavam envenenando os poços de água.
(Pág.32)...No úmido mês de setembro de 1665, quando em Londres morriam 12.000 pessoas por semana, os patriarcas da cidade mandaram acender fogueiras nas ruas durante três dias seguidos, para purificar o ar. Mas o céu, chorando seus mortos, as extinguiu. Os médicos não haviam concordado com essa idéia, que consideravam supérflua, teatral e dispendiosa. Exatamente um ano depois, o Grande Incêndio levou exatamente o mesmo tempo para provar que os médicos estavam errados. ...A peste começou a diminuir, mas houve quatro graves epidemias de gripe na Grã-Bretanha, no século XVII, 10 no século XVIII, seis no século XIX e, nov século XX, a pandemia de 1918, que matou 0,5% da população da Grã-Bretanha e dos EUA e 25 milhões de pessoas no mundo todo. A guerra, há pouco terminada, havia matado 8.538.313 soldados, portanto o vírus da gripe matou três vezes mais em um quarto do tempo que durou a guerra. Então esse tipo de vírus mortal da gripe desapareceu. Talvez tenha recuado para os porcos, de onde pode voltar de modo alarmante, como voltaram os vencidos da Grande Guerra. Nada cura a gripe. Porém, hoje, os antibióticos podem evitar a pneumonia, assim como podem deter o tifo, a disenteria e a peste bubônica....
(Pág.33 )...Em 1967 o mundo se espantou com o aparecimento de uma nova doença. Era trazida pelos macacos verdes importados para experiências de laboratório num instituto de pesquisa em Marburg, na Alemanha Ocidental. Sete seres humanos morreram, entre o pessoal do laboratório e as enfermeiras que trataram deles. Os macacos trouxeram um vírus desconhecido da África Central, de algum lugar ao norte do Lago Vitória, provavelmente originário da aranha de teia de túnel, um inseto que, evidentemente, deve ser evitado. Dessa área — onde, infelizmente, o sexo não é feito exclusivamente em colchões Terra dos Sonhos e atrás das cortinas de Laura Ashley, quando terminam os programas da televisão —veio o vírus da AIDS. Não há cura para nenhum desses vírus importados. Nem vai haver cura para outro, e mais outro, que aparecerão misteriosamente para nos dar mais uma forma de morte...
... Descobertas no escuro; as grandes descobertas da medicina aconteceram sem que se tivesse a menor idéia do que estava sendo descoberto.
(Pág.37)...Os chineses antigos talvez praticassem a inoculação contra a varíola aspirando uma quantidade de pus. Os turcos certamente praticavam a inoculação há várias gerações. Eles davam pequenas festas, nas quais velhas mulheres, usando agulhas, os inoculavam com o veneno da varíola humana guardado numa casca de noz. Essas funções sociais entusiasmaram a mulher do embaixador britânico em Constantinopla, Lady Mary Wortley Montague (1689-1762). Ela tivera varíola aos 26 anos, e ficou desfigurada por toda a vida. ...Logo começaram a brotar em Londres inoculadores elegantes, como o quacre Thomas Dimsdale (1712-1800), que foi chamado em 1768 para inocular Catarina, a Grande, da Rússia e seu filho, o Grã-Duque Paulo. A idéia foi de Voltaire. É difícil imaginar se isso reprimiu ou fortificou sua idéia de que os médicos dão medicamentos que mal conhecem, para curar doenças que conhecem menos ainda, para seres humanos dos quais não sabem absolutamente nada.
...Assim, o espírito de Jenner, em 1867, enfrentou a Liga Antivacinação. Cortar com instrumento agudo o braço do seu bebê pequeno e saudável, nascido há poucas semanas, e pôr nos cortes uma matéria imunda tinida de uma vaca dizia a Liga. ...Em 1971, a vacinação voluntária rotineira das crianças foi abolida. Em 1977, a varíola estava erradicada do mundo todo. Como é agradável terminar assim, com uma simplicidade tão gratificante.
(Pág.52)...Lind receitou suco de limão ou de lima. Ele havia encontrado o remédio específico, sem idéia de tomo funcionava, para uma doença cuja causa ninguém conhecia. Um ano depois da sua morte, o almirantado concordou com ele. Duzentos gramas de suco de limão, com 100 gramas e meio de açúcar, eram distribuídos para toda a tripulação depois de seis semanas no mar. O escorbuto desapareceu como o Holandês Voador.
(Pág.53)...experimentou o arroz polido nas galinhas, complementando com gordura e sais minerais. Não adiantou. Tentou arroz polido e um extrato do polimento do arroz, e as galinhas logo voltaram a ciscar e a pôr ovos. Eijkman declarou, em 1901, que os itens conhecidos da dieta necessitavam de um “algo mais” desconhecido, em quantidades mínimas e sem valor nutritivo, para nos manter vivos. Mas ninguém deu muita atenção. Seu algo mais era a vitamina B do germe do arroz, que eraretirado pelo polimento, saindo com a pele escura. Isso se tornou aparente só depois que Hopkins aplicou sua imaginação ao enigma. Tudo acabou bem, e em 1929 eles ganharam o prêmio Nobel. As outras vitaminas foram identificadas e sintetizadas antes de 1940. A vitamina A no leite, na manteiga, nos ovos e no óleo do fígado de peixes prevenia certas formas de cegueira. A vitamina B é formada por várias vitaminas dos cereais e evita vários problemas graves da pele, pelagra (dermatite, diarréia e demência) e o beribéri das galinhas de Eijkman e também de 40% da marinha japonesa, entre 1878 e 1882. A vitamina D, que vem junto com a A, evita o raquitismo; a K, nos vegetais verdes, evita hemorragias. Ninguém sabe o que faz a vitamina E. Quando foi descoberta, em 1936, acreditaram que aumentava a fertilidade, e os idosos médicos de Cambridge cantaram em uníssono:
Pág.53)...Withering administrou chá de dedaleira a um construtor de 50 anos que sofria de asma e excesso de fluidos no abdome, o qual “fez uma grande quantidade de água. Sua respiração gradualmente ficou mais fácil, a barriga desapareceu e dentro de 10 dias ele começou a comer com enorme apetite”. Ao contrário da velha senhora, Withering compreendeu que a hidropsia fora bombeada para os esgotos de Birmingham pelo coração, estimulado pela dedaleira. Como digitalis, o nome dado à dedaleira em 1542, a feitiçaria de Wenlock Edge entrou respeitavelmente para a Farmacopéia de Edimburgo em 1783. O relato de Withering, História da dedaleira, foi o enorme sucesso de 1785. Por acaso ele havia descoberto o poderoso medicamento cardíaco cujos
(Pág.61)...Quem foi o pai da penicilina? Florey e Fleming foram o esperma e o ovo? Quem se lembra ainda das palavras do grande médico eduardiano Sir William Osler: “Na ciência, o crédito vai para o homem que convence o mundo, não para o homem que teve a idéia em primeiro lugar”? E quem se lembra ainda das ordenhadoras de Gloucestershire e dos meninos de Shropshire que, inteligentemente, evitavam que seus cortes fossem infectados fazendo um curativo com pão embolorado?
(Pág.83)...Thomas Sydenham (1624-89) escreveu Tratado sobre a gota, em 1863, onde diz: “A vítima vai para a cama e dorme com boa saúde. Mais ou menos às duas da manhã é acordada por uma dor forte no dedo grande do pé... é tão acentuada a sensibilidade da parte afetada que não suporta o peso das cobertas nem a vibração de passos no chão do quarto. A noite é passada em tortura e insônia...” O médico escreveu com tanta percepção clínica porque sofria horrivelmente de gota também.
(Pág.84)...Três dos eixos centrais da medicina não eram médicos. Charles Darwin era um naturalista navegador, Louis Pasteur era um químico industrial e Florence Nightingale era enfermeira. Florence Nightingale (1820-1910) é lendária pelos motivos errados. ...Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) era também um pesquisador muito hábil,cuja descoberta da salivação do cachorro ao ver ou farejar o alimento, ou até mesmo ao ouvir uma campainha, deu o nome ao freqüentemente adaptado “reflexo condicionado” de Pavlov.
(Pág.116)...Vivemos mais tempo e melhor. O efeito desse avanço vitorioso é menos de júbilo universal do que a reclamação generalizada de nossos políticos no sentido de que vencer essa guerra significa a falência do Serviço Nacional de Saúde e o aumento do lucro das indústrias farmacêuticas.
(Pág.117)...hélice dupla da molécula ADN. A descoberta do esqueleto arquitetônico do ADN deu origem a um livro de suspense fascinante, leve, erudito, escrito por James Watson, no gênero de Dorothy Sayers, na época.
O diálogo com o meio acadêmico foi uma das prioridades do programa de trabalho que me propus executar quando assumi a Embaixada do Brasil em Washingtonem junho de 1999. Uma das iniciativas que a Embaixada tomou nessa direção foi apoiar os trabalhos para recuperar a memória sobre o Brasil nos EUA. Quando o projeto me foi apresentado pelo Ministro Paulo Roberto de Almeida e por Esther Caldas Bertoletti, apoiei de imediato e com entusiasmo porque entendi a importância de sua execução para os pesquisadores e historiadores brasileiros. Procurando identificar a documentação sobre nosso pais existente nos arquivos norte-americanos (Departamento de Estado, do Comércio, da Defesa, do CIA, entre outros), o Projeto Resgate se inseriu como uma das vertentes do esforço de tornar o Brasil e as relações com os EUA melhor conhecidos tanto nos EUA, como no Brasil. Muitos documentos americanos sobre o Brasil já se encontram depositados em arquivos brasileiros, como o Arquivo Nacional e o do Itamaraty, ambos no Rio de Janeiro, graças ao trabalho pioneiro do sociólogo Luciano Martins e do Embaixador Rubens Ricupero. Basicamente, o Itamaraty e o Arquivo Nacional têm as series relativas ao século XIX e o Arquivo Nacional os papeis do século XX, com lacunas que caberia agora preencher. A Embaixada, sob a competente coordenação do Ministro Paulo Roberto de Almeida, preparou um volume de referência, o guia das fontes de documentos sobre o Brasil existentes nos EUA, que inclui o conjunto de recursos documentais nos EUA sobre nosso País, que ficou inédito até agora. Por uma serie de razões, depois de minha saída de Washington em 2004, o Guia não pôde ser publicado.
Descrição: A Invenção do Povo Judeu – A invenção do povo judeu ficou 19 semanas na lista de mais vendidos em Israel, em 2008, e é alvo de polêmica acirrada onde quer que seja lançado. Neste trabalho iconoclasta, ao questionar a identidade dos judeus como nação, o Shlomo Sand, ele mesmo judeu, sugere as bases para uma nova visão do futuro político da “Terra Prometida”. Amparado em farta pesquisa, o autor questiona o discurso historiográfico canônico e formula a tese de que os judeus sempre formaram comunidades religiosas importantes em diversas regiões do mundo, mas não constituem uma nação portadora de uma origem única. O conceito de estado-nação é, portanto, posto em xeque, assim como a ideia de Israel como um Estado pertencente aos judeus do mundo todo – aqueles que escolheram outra pátria em vez de retornar à terra de seus ancestrais. Para o autor, Israel deveria reconhecer seus habitantes, sejam eles israelenses ou palestinos. Publicado em dez línguas, este é um livro questionador, e por isso mesmo necessário, assim como todos os que se propõem a lançar novas luzes sobre a História e seus mitos.
Descrição: Este livro esboça a história das ideias humanas, dos filósofos da Antiguidade Clássica ao século XVIII europeu, passando pelos escolásticos cristãos da Idade Média e o desenvolvimento do pensamento renascentista, culminando na filosofia de Descartes. O desenvolvimento do pensamento moderno é então traçado por meio de uma sequência de perfis acessíveis dos pensadores mais influentes em todos os domínios da atividade intelectual desde 1789. Estão entre eles os alemães Kant, Fichte, Schelling e Hegel; os utilitaristas Bentham e Mill; os transcendentalistas Emerson e Thoreau; Kierkegaard e os existencialistas; fundadores de novos campos de pesquisa como Weber, Durkheim e C.S. Peirce; os filósofos analíticos Russell, Moore, Whiteheade Wittgenstein; líderes políticos de Mohandas K. Gandhi a Adolf Hitler; teóricos do século XX, de Barthes e Foucault a Lacan e Chomsky; e, finalmente, os quatro formadores chave do nosso mundo moderno: o filósofo, historiador e teórico político Karl Marx; o naturalista Charles Darwin, que propôs a teoria da evolução; Sigmund Freud, pai da psicanálise; e o físico teórico Albert Einstein, criador das teorias especial e geral da relatividade e fundador da física pós-newtoniana.
Descrição: Sven Hassel descreveu a Segunda Guerra Mundial de maneira crua e realista, com uma visão única de quem realmente presenciou os acontecimentos da década de 40. Não temos aqui um romance escrito sobre uma pesquisa histórica. Hassel viveu no front, ele foi a guerra. Ele era um nazista, foi um soldado do Exército Alemão a quem serviu no período de 1937 até o fim da guerra, em 45. Ele mostra que apesar dos horrores da guerra, os alemães que nela lutaram não eram monstros inumanos desprovidos de emoção (ou meras coisas para se atirar, como na maioria dos jogos em primeira pessoa onde os nazistas se tornaram alvos humanos clássicos). Travam-se de homens e mulheres com desejos, sonhos e vontades. E a maioria deles estava tão tristes e apavorados com a guerra quanto o resto do mundo. Gestapo narra uma parte desta sua vida de soldado na pele de oito companheiros sobreviventes da 5ª Companhia do 27º Regimento Blindado. Os últimos oito que restaram após um ataque das tropas russas. Mas não havia glória na derrota, e os oito apenas regressaram à Alemanha – mais calejados, preparados e um pouco menos humanos – para aguardar novas ordens. Citando um trecho no livro, numa interpretação um tanto quanto livre: “A primeira coisa que aprendemos na guerra é mijar nas próprias botas“. Não há um herói dentre os oito soldados, tampouco alguém querendo bancar o herói. Tudo o que eles fazem é seguir as ordens recebidas, e tentar sobreviver aos ditames (nem sempre muito inteligentes) de seus superiores. A história não se preocupa muito em ser linear ou empolada. Ela é nua e crua. Sua linguagem é feroz, chula em vários pontos, mas incrivelmente familiar. Você não consegue deixar de se sentir envolvido com a velocidade do texto e se ver compartilhando com os personagens os momentos em que eles se davam ao luxo de rir, insultarem-se e blasfemar. E o bacana é que não se trata de uma história de companhia militar “holliwodiana” onde temos o bonzão, o pateta e o personagem-alvejado-no-início-do-filme. O grupo é imprevisível. Em um momento, o capturam um bando de refugiados russos, noutro, auxiliam este mesmo bando a fugir das ordens de enforcamento de um general alemão que jamais colocara seus pés no front. Enfim, Gestapo é uma história de contrastes, de escolhas inevitáveis de homens inseridos num sistema hostil de guerra. E no ar ressoa a pergunta que para mim é um dos norteadores da história: Até que ponto você está diposto a trair ou lutar por sua pátria mesmo indo na direção contrária aos seus princípios? Cada um dos oito soldados respondeu a esta pergunta moldando-se à guerra da sua forma. Mesmo que isso vá contra tudo o que eles eram antes dos combates. Sapateiros, músicos, agricultores. Soldados. De navalhas e pistolas em punho, eles avançam levando dentes de ouro furtados dos cadáveres nos bolsos num novo mergulho ao inferno do combate no front.
Descrição: Até a descoberta da América e o desenvolvimento das modernas técnicas de cartografia, os mapas-múndi circulares desenhados pelos povos cristãos tinham como centro geométrico as coordenadas de Jerusalém. Esse fato dá uma medida da importância política e espiritual por eles atribuída ao palco histórico do drama da paixão, da morte e da ressurreição de Jesus Cristo. Do mesmo modo, os judeus consideram essa cidade milenar – que acolheu o Templo de Salomão e é a atual sede do governo israelense – o centro de sua vida espiritual e temporal, bem como o cenário do futuro advento do Messias e do fim dos tempos. Por sua vez, os muçulmanos acreditam que, durante sua ascensão celestial, Maomé visitou Jerusalém montado em seu cavalo alado, tornando-a um centro incontornável do culto islâmico. A sobreposição dessas três religiões no mesmo espaço apinhado das ruelas da cidade antiga tem ocasionado inúmeros relatos de milagres e outros acontecimentos prodigiosos ao longo dos séculos – e, do mesmo modo, conflitos em torno do controle do acesso aos lugares sagrados. Neste livro, o historiador britânico Simon Sebag Montefiore explica como e por que peregrinos, místicos, reis, guerreiros e políticos têm disputado entre si o privilégio de possuir essa cidade-símbolo da religiosidade monoteísta.
Descrição: A história das guerras costuma ser contada sob o ponto de vista masculino: soldados e generais, algozes e libertadores. Trata-se, porém, de um equívoco e de uma injustiça. Se em muitos conflitos as mulheres ficaram na retaguarda, em outros estiveram na linha de frenteÉ esse capítulo de bravura feminina que Svetlana Aleksiévitch reconstrói neste livro absolutamente apaixonante e forte. Quase um milhão de mulheres lutaram no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas a sua história nunca foi contada. Svetlana Alexiévitch deixa que as vozes dessas mulheres ressoem de forma angustiante e arrebatadora, em memórias que evocam frio, fome, violência sexual e a sombra onipresente da morte.
Descrição: A brutalidade da guerra soviético-afegã é retratada neste livro extraordinário, com o olhar sempre preciso e humano de Svetlana Aleksiévitch. Entre 1979 e 1989, as tropas soviéticas se envolveram em uma guerra devastadora no Afeganistão, que causou milhares de baixas em ambos os lados. Enquanto a URSS falava de uma missão de “manutenção da paz”, levas e levas de mortos eram enviadas de volta para casa em caixões de zinco lacrados. Este livro apresenta os testemunhos honestos de soldados, médicos, enfermeiras, mães, esposas e irmãos que descrevem os efeitos duradouros da guerra. Ao tecer suas histórias, Svetlana Aleksiévitch nos mostra a verdade sobre o conflito soviético-afegão: a destruição e a beleza de pequenos momentos cotidianos, a vergonha dos veteranos que retornaram, as preocupações com todos que ficaram para trás. Publicado pela primeira vez em 1991, Meninos de zinco provocou enorme controvérsia por seu olhar perspicaz e angustiante sobre as realidades da guerra. “A proeza de Aleksiévitch elevou a história oral a uma dimensão totalmente diversa.” ― Antony Beevor