Ciência/Política

Curso: Ciência Política (este)
Ciência Política Aula 6 splitter 05

Partidos Políticos (parte 2)

• Max Weber: os partidos políticos são como empresas de representação. • Ideologia: produto entre outros, oferecido pelo partido político, em troca do voto. • Perde o valor, todo produto que abunda no mercado, sem demanda para ele. • Um candidato na frente da câmera, o que importa ali, não é o que é dito. Mas quem diz, é como é dito. • O cara vai votar no Lula, com a barba aparada. E não quando ele for autêntico. • Sendo a sociedade o que ela é. Os partidos oferecem o que eles tem que oferecer. • Não existe uma campanha boa em si. • Ao pensar em oferta política, deve-se pensar com o mesmo olhar frio, de qualquer coisa. Um produto bom é um produto que tem gente que compre! Só isso! • Não há nada que possa existir numa empresa, que não tenha também em um partido. Para entender: o papel da ideologia num partido é de um produto entre outros. • Estrelinha do PT no peito. • Partido politico é convivência interna, tem alguma coisa a dizer sobre você. Seja petista, seja tucano. É um pouco mais sofisticado do que parece

Muito bem, apresentada essa definição de partidos políticos, é preciso lembrar que os partidos políticos são estudados e estudáveis, depois do surgimento das ciências sociais pela sua estrutura em funcionamento. Em outras palavras nós poderíamos dizer, de acordo com o que pensa Max Weber, que os partidos políticos são como empresas de representação. O que isso quer dizer? Em primeiro lugar: fazem parte de um mercado. Em segundo lugar: buscam um certo tipo de consumo. Que é o consumo eleitoral. Em terceiro lugar: participam de uma concorrência. Em quarto lugar: oferecem produto. E em quinto lugar: adotam estratégias de marketing de mercado, para conferir valor aos seus produtos. Dessa maneira o que é a ideologia? É um produto entre outros, a ser oferecido pelo partido político, em troca do voto. Mas esse produto, ideologia, achamos que o Brasil deve ser assim, achamos que os portos devem ser assados, achamos que os aeroportos devem ser fritos, achamos que não deveria haver copa do mundo aqui, porque ao invés de gastar dinheiro com estádio, poderíamos investir dinheiro na educação pública, na saúde, etc. e tal. Você só deve oferecer esse produto, se tiver um público consumidor para ele. Porque se você não tiver um público consumidor para ele, esse produto será oferecido sem demanda. E ele tenderá a perder completamente o seu valor. Como perde o valor, todo produto que abunda no mercado, sem que haja demanda para ele.

Portanto, os partidos políticos são empresas que oferecem produtos, e essses produtos são de muitos tipos; inclusive idéias. Mas professor quais são os outros produtos? Quando você coloca um candidato na frente da câmera, sabemos muito bem, que o que mais importa ali, não é o que é dito. Mas é quem diz, é como é dito. Portanto, o carisma do seu líder é o produto. E não é ideologia. E é um baita produto! Quando foi que o Lula começou a ganhar? Ele começou a ganhar quando justamente, ele calou a boca. Quando começou a apostar noutro tipo de produto. No lugar de uma barba em batalha, uma voz vociferante, e uma profunda convicção dos seus propósitos; uma barba bem aparada, um terno Armany, uma estrelinha de pelúcia e um bebezinho no colo.

Eu não sei se você percebeu, mas uma empresa política tem muitos produtos a oferecer. Ah! Mas que tipo de produtos ela tem que oferecer? Aqueles compráveis! Aqueles que possam ser trocados por votos. Mas o partido político deveria ser mais ideológico. Sempre tem um idiota, e normalmente é um acadêmico, um imbecil, um pleonasmo. E o que ele diz? Ah! O partido político deveria isso, deveria aquilo. Pois é amigo! O problema é que se ele oferecer o que você quer, talvez só você compre. Um partido político não existe para conseguir o seu apoio. Mas existe para conseguir o apoio da maioria. E a sociedade, acredite, a sociedade é o que ela é. Ela não é o que você gostaria que ela fosse. Isso é tão difícil? Essa é superioridade do marketeiro, em relação ao intelectual. O marketeiro entendeu que a realidade é o que ela é. E o cara vai votar no Lula, quando ele tiver com a barba aparada. E não quando ele for autêntico. Porque não compramos autenticidade. Compramos o que queremos comprar. Sendo a sociedade o que ela é. Os partidos oferecem o que acham que tem que oferecer. Ah! Não tem nada pior do que a elite intelectual! É um horror! Essa que diz que não assiste novela. Ah! Eu detesto a campanha política na televisão. É uma maneira de se discrimar. Aquilo é feito para o povão, e eu sou tão assim especial. E eu não suporto o que é destinado ao povão. É bem bacana. Super legal. Depois não reclama que o seu candidato, não ganha nunca. Empresas políticas de representação. A ideologia é um produto a venda. E o preço da ideologia é o que estão dispostos a pagar por ela, em voto. Jânio Quadros oferecia desmaios. Injeções fictícias. Oferecia teatro. Getúlio Vargas oferecia discursos demagógicos. Afetações teatrais. Assim as empresas políticas oferecem, o que acham que possa ter demanda. É muito comum a sociedade dizer: eu sei que tal candidato pensa isso. Por que ele não diz? Ele não diz, porque ele sabe que não tem ninguém que queira comprar. o que ele pensa. Então ele diz o que ele não pensa. Porque, curiosamente, o que ele não pensa tem gente que queira comprar. Bom, mas isso é uma desgraça de vida! Isso! Agora você entendeu.

Se eu sou um profissional da política, eu preciso de voto, eu tenho que oferecer nessa gestão do que oferecer não dá para atirar para todo o lado! Porque os recursos são sempre escassos. Eu tenho que fazer escolhas. E é com base nessas escolhas estratégicas que eu poderei obter melhores ou piores resultados. Eu vou dar um exemplo: Max Weber, empresas política de representação. Houve uma campanha presidencial em que concorreram Color, Lula, Covas, Afif, Caiado e eu imagino que para a maioria de vocês, isso é objeto de história do Brasil. Coisa que se aprende em livro didático. muito bem. Ganhou Color como vocês sabem. Mas o candidato mário Covas, ele tinha um programa, cem pontos para mudar a vida. Em 1981, François Mitterrand se elegeu com um programa que era ...Qualquer semelhança...Nada como a elite paulistana para imitar os franceses. Sabem o que aconteceu? É que os cem pontos para mudar a vida do Mitterrand, o levaram a vitória, e os cem pontos para mudar a vida do Mário Covas levaram a uma votação pífia. porque um francês tem estômago para cem pontos, cem com c e um brasileiro! Isso é revelador de uma estupidez! Já conversou com o seu zelador? Você acha que ele vai ler um documento com cem pontos? Enquanto o Covas ofereceu cem pontos; que o mesmo que não oferecer nenhum, o ganhador da contenda ofereceu um ponto. O caçador de marajás! E o que quer dizer caçador de marajás? Nada. O resto, o que era? Era ele lutando karatê, era ele andando de ferrari, andando de asa delta, pilotando fórmula 1. Quer dizer nada. Um playboy. Um cara que nunca trabalhou no dia a dia. Era aquele programa. Era o caçador de marajás. Portanto um ponto ganhou de cem pontos. Por que? É preciso que alguém compre. Ouça-me. Qual é a conclusão que você tira? A conclusão é muito simples: não existe uma oferta política boa. Não existe uma campanha boa em si. não existe um programa bom em si. Não existe um candidato bom em si. Mas existe uma oferta adequada a um demanda. isso funciona para cartões com chip. Para a indústria de tecelagem, bifê, isso funciona para palestrante. Não existe palestra boa. Existe palestra que faz as pessoas darem risada. Professor o senhor está se depreciando. Não. Eu estou dizendo as coisas como elas são. O que é um bom palestrante? É um palestrante esquisito o suficiente, que faz as pessoas darem risadas. E o conteúdo? Não importa o conteúdo! Ninguém entende nada! Entra por uma orelha e sai pela outra. Se der para dar risada, eu levo nota fedback, nota dez. Todo mundo se divertiu. São sinceros. Alguém me diz nota dez, todo mundo aprendeu, nunca! O ano passado eu dei trezentos e quatro palestras, eu fiz trezentos e quatro fedbacks, cem por cento, em cima de toques de palhaço. O que é no mínimo curioso para um professor dessa universidade que uma universidade triste. Alguém vai dizer: o senhor deveria dar uma palestra assim, assim, assado. Porque você não entra no mercado e não faz como você acha, seu verme. Eu me lembro de um colega desse departamento que me disse: Clóvis você se rendeu ao capital! Ainda bem que foi só eu. Aí ele me disse: eu fiz a opção pela pobreza. Aí eu disse: eis uma boa maneira de tornar a vida suportável: acreditar que a pobreza é uma opção. Vai ser muito mais triste quando você descobrir que no seu caso a pobreza é falta de opção.

Vá vender o que você tem a dizer. E você pode ter a triste constatação que ninguém quer comprar. Nem por um centavo. Nem um mixto frio. Não te pagam nem a passagem.Quem disse foi a professora Basseg. Não foi qualquer um. Enquanto eu pagava a gasolina do meu bolso, ia com meu carro e não cobrava nada, eu ia todo mês. Aí eu resolvi cobrar. Nunca mais me chamaram! O que eu pude constatar: que o que eu tenho a dizer não vale nada. Aonde? No mercado. Ah! Mas o mercado é constituído por idiotas! Ótimo! Excelente constatação. Você é o único esperto! Fique aí! Você e a sua esperteza! Até a fome terminar de te corroer as tripas. Eu estou tentando te dizer: que quando você pensa em oferta política, você deve pensar com o mesmo olhar frio, de um vendedor de cuecas. O mesmo olhar frio de um vendedor de qualquer coisa. Um produto bom é um produto que tem gente que compre! Só isso! Ah! Mas os partidos deveriam oferecer ideologia! Claro que não. Porque se você oferecer ideologia ninguém compra. E se a sociedade fosse outra? Aí sim. Como ela não é vá se candidatar na Noruega. Porque aqui, você não se elege. Professor, mas isso é desencantador. Eu falei: mas isso é o papel de um curso desse. Ah! Se tudo fosse diferente, tudo seria diferente. Como nada é diferente, tudo é o que é. Era um debate na França. Ah! O senhor fala muito da França. É que morei quatro anos lá sem voltar e abou ficando sequelas. Uma delas é ogeriza a banho. Por isso eu faço um poco de ginástica de vez em quando, só para ter um pretexto para tomar banho. Só tomo banho quando eu mesmo não aguento mais. Quando eu começo a me envergonhar. Mas outra sequela, é o apreço por esses debates políticos, se tem uma coisa que eles fazem com perfeição é debater. Aliás eles sabem duas coisas: debater e manifestação de rua. Nossa! É outra categoria! Uma manifestação de rua muito legal que eles fizeram, eles deram o nome de Revolução Francesa. É outro naipe. Concorriam à presidência, Chirac e Mitterrand já presidente. E Chirac, um Alkmin turbinado. falava, falava, e quando ele passou a vez para Mirterrand ele disse que Chirac poderia terminar o que estava dizendo. O que você implicitamente está dizendo: quanto mais esse verme falar, mais voto eu ganho.

O partido também é uma empresa, por que? Porque o que caracteriza uma empresa é a diversidade funcional, a complementaridade funcional, o fato de cada um fazer uma coisa diferente para obter um certo resultado. Um partido é uma empresa poque tem recursos, mobiliza recursos, o partido é uma empresa porque mobiliza recursos com vistas a um fim, com certo tipo de lucro, e o lucro é: buscar a ocupação de postos eletivos do estado. O partido é uma empresa, porque tem processo seletivo para entrar. O partido é uma empresa porque põe para fora quem não dá lucro. O partido é uma empresa porque tem uma hierarquia interna. O partido é uma empresa porque tem dirigentes que não se confundem com seu produto principal. Em outras palavras não há nada que possa existir numa empresa, que não tenha também em um partido. Mas agora meus amigos, é que você consegue entender, qual é o papel da ideologia num partido. É um produto entre outros.

Você sabe que os partidos oferecem produtos simbólicos extremamente valiosos. Eu não sei se você viveu o tempo, que as pessoas usavam uma estrelinha do PT no peito. E você deverá admitir, que uma estrelinha do PT no peito queria dizer um monte de coisas. Queria dizer que em primeiro lugar é filiado a um partido. Segundo lugar que você se preocupa com política. Em terceiro que você é politizado, que você se interessa por questões políticas. Que você tem uma certa ideologia. Pertencer a um partido, é um elemento importante da identidade de cada um. Aquilo que oferecemos para cada um,já foi mais do que é. São produtos. Partido político, são bandeiras que você carrega com orgulho em manifestações populares. Partido politico é convivência interna, é produto. Venha se juntar a nós. Tenha alguma coisa a dizer sobre você. Seja petista, seja tucano. Então você percebe, que é um pouco mais sofisticado do que parece. Você percebe que de certa maneira, o pertencimento a um partido político, tanto quanto o pertencimento a um time de futebol, a uma seita religiosa ou a uma universidade, permite a você oferecer alguma coisa, que tem uma série de ramificções simbólicas. Permite a você oferecer um verdadeiro cardápio, de inferências a que dialoga com você. Sobretudo numa sociedade pouco afeita a esse tipo de pertencimento. É discriminante, ajuda a identificar. Muito bem.

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