Ciência/Política

Curso: Ciência Política (este)
Ciência Política Aula 6 splitter 02

Partidos Políticos (parte 2)

• primeiro atributo: Organização durável, cuja expectativa de vida é superior a de seus dirigentes. • Facções pessoais: grupo de pessoas cuja atividade é catapultar a carreira política de uma pessoa. • Na época de Getúlio, o PTB era o principal partido. • Getúlio e Lula são as duas maiores personalidades da história do país. • Lula é maior do que o PT. • PS hoje governa a França com o presidente François Hollande. • Uma definição é uma descrição dos atributos que aquela coisa tem.

Meus amigos, o que está por trás do doutrinador quando propõe esses critérios? No que ele está pensando? O que ele pretende com isso? Quando por exemplo, ele diz que um partido deve ter a expectativa de vida superior a de seus lideres? Fica evidente, o que ele quer dizer é que não são partidos; aquilo que nós poderíamos chamar de facções pessoais. Um grupo de pessoas cuja atividade, se resume, se limita em catapultar a carreira política de uma pessoa. Essa é a primeira idéia. .Se uma organização tem como único objetivo, que alguém tome o poder, essa organização é uma organização personalista, que tende a acabar com o desaparecimento do seu fundador, do seu líder. E um partido político deve ter uma expectativa mais ampla, do que a simples conquista do poder, por parte do seu líder maior. Além disso o que pretendem os autores, é distiguir os partidos políticos, de organizações estruturadas em torno de uma reivindicação específica. Organizações estruturadas em torno de uma causa. De uma bandeira. Vamos imaginar que várias pessoas se organizem, para reivindicar a nacionalização de uma empresa privada qualquer. Estou dando esse exemplo por que isso aconteceu na França, com a Renault. Então qual é o objetivo daquele grupo? O único objetivo é a nacionalização de uma empresa privada. Ou a privatização de um empresa pública. Uma causa! Ora, quando essa causa é alcançada, a organização perde a razão de ser. Curiosamente, a condição para aquela organização continuar existindo, é o seu fracasso temporário. É paradoxal. Mas quando ela alcançar o sucesso, ela acaba. Portanto para ela durar, ela tem que fracassar. Ora, eu repito: esse primeiro critério visa excluir dois tipos de organização. Uma organização que se estrutura atrás da carreira de uma pessoa, e uma organização que se estrutura atrás de uma causa específica. Um partido político não é uma coisa, nem outra. Muito bem, entendido o que LaPalombara e Weiner pretendiam, cabe a nós vasculhar exemplos e verificar se isso é pertinente.

Eu começaria citando um exemplo nosso: o caso do PTB. Partido Trabalhista Brasileiro. Ora, como vocês haverão de se lembrar, o PTB era a agremiação partidária que dava sustentação ao getulismo. Na época de Getúlio, o PTB era o principal partido. Ele era o partido do poder. Muito bem, aconteceu então o que LaPalombara e Weiner propõe. Getúlio morreu. Suicidou. Aí o PTB continuou. E você dirá: está aí uma organização que sobreviveu ao seu líder maior. Do ponto de vista formal, é incontestável. No entanto é muito fácil perceber que o PTB de Getúlio, nada tinha a ver o com PTB de Campos Machado. Quem é professor, Campos Machado? Pois é, isso basta já para entender o que eu estou dizendo. O PTB que é era um partido central, um partido hegemônico, um partido dominante, tornou-se uma sigla sem identidade, sem consistência, sem pretensão a nehuma vitória significativa e apenas ali, abrigando carreiras políticas de quinto escalão, com pretensão de lutar pelas migalhas e pelas rebarbas da administração pública mediante apoio de circunstância, sem nenhum tipo de consistência ideológica.

E a pergunta é: será que nós podemos dizer que o PTB sobreviveu ao seu líder? Do ponto de vista formal, sim. A sigla continua existindo. Do ponto de vista da potência partidária, da envergadura partidária, da identidade partidária, é perfeitamente possível dizer que o PTB morreu, no dia que Getúlio se suicidou.

Eu não sei se você percebeu, mas esse critério só encontra problema em um caso específico. Quando uma agremiação partidária conta com um líder e concentra em torno de sua pessoa, boa parte do capital daquela organização. É quando existe a concentração de capital em torno de uma pessoa específica. Ora, nada impede que lancemos mão de um segudo exemplo que é o PT. Não é muito difícil identificar que Getúlio e Lula são as duas maiores personalidades da história do país. A pergunta que surge é, o que acontece com o PT, depois de Lula? Na época de Lula um e Lula dois, nos oito anos de governo Lula, costumava-se dizer que Lula é maior do que o PT. Essa afirmação se fundava numa constatação elementar: enquanto o PT nunca conseguia passar de 30 a 35% enquanto partido, Lula obtinha sempre mais de cinquenta por cento dos votos nas eleições que venceu. Tem gente que não vota no PT, mas vota no Lula, então Lula é maior do que o PT. Ora, o fato é que, poderíamos dizer que ele ter saído da presidência e o fato dele não ter imediatamente ocupado nenhum cargo, nem eletivo e nem administrativo de nehuma ordem, poderiamos imaginá-lo numa espécie de aposentadoria. No entanto o presidente seguinte foi eleito nas condições que assistimos. Alguém que só conseguiu a eleição por causa do apoio de Lula, simples assim. O mesmo poderíamos dizer da campanha de Haddad a prefeitura de São Paulo. Talvez possamos dizer, de qualquer tipo de vitória que o partido tenha tido. É porque Lula pegou pela mão e foi lá pedir voto para. Então naturalmente a pergunta é: o que acontecerá quando Lula não existir mais. Bom, alguém dirá: sobra o Suplicy, o José Dirceu, o Genoíno. Então não é difícil antecipar o barco. Não é difícil imaginar, que possa acontecer com o PT, alguma coisa semelhante com o PTB de Getúlio Vargas.

Terceiro exemplo: É o PSDB. Teve um grande líder, Fernando Henrique Cardoso que foi presidente por oito anos, e venceu duas campanhas na disputa pelo poder central. FHC praticamente saiu de cena. E o que acontece com o PSDB? É um fenômeno curioso. Uma relativa distribuição do capital do partido entre várias pessoas. De tal maneira que a perda do seu líder maior, tenderá a ser menor. Claro que Serra poderia se candidatar indefinidamente, Alckimin, vamos ver agora Aécio, para ver quem é que perde demais. No entanto se FHC morre hoje, o PSDB mais ou menos continua amanhã. Isso certamente não acontecerá com o PT. Vamos citar um outro exemplo. E esse exemplo é o partido socialista francês. É o PS, que foi comandado por pelo menos trinta anos, por um fulano chamado François Mitterrand. E como você sabe ele candidatou-se a presidência da república, quatro vezes. Ganhou duas e perdeu duas. ....Ele foi líder desse partido por trinta anos. Então a pergunta é: o PS sobreviveu à morte do seu grande líder? Formalmente sim. Essa crença é ainda tanto mais justificável que o PS hoje governa a França com o presidente François Hollande...Porém é forçoso admitir que depois de Mitterrnad nós tivemos Jacques René Chirac 1, Chirac 2 e Nicolas Sarkozy 1. O PS fez o vexame de não ir para segundo turno. Ele foi à beira do desaparecimento. E se elegeu no ano passado, apenas porque de um lado Sarkoky tinha níveis de iimpopularidade mostruosa e segundo porque a Europa está metida numa crise, onde qualquer candidato de oposição ganha, não tem como perder, é só ser contra o que acontece. Então você pergunta: será que houve mesmo sobrevivência do PS a morte de François Mitterrand. A resposta é: sim e não. Sim porque o partido está aí. E não porque o partido é formalmente o mesmo, mas é materialmente outro. É outra vida, é outra liderançã, é outra perspectiva é outra pegada, é outra pretensão, é outra envergadura, é outra presença na sociedade, definitivamente é outro partido. Tudo isso que estou dizendo é para problematizar esse tripé.

Aqui vai um comentário, meus amigos: uma definição não é um conjunto de atributos que alguma coisa deve ter. Uma definição é uma descrição dos atributos que aquela coisa tem.

É muito discutível que os partidos tenham essa característica. Que eles sobrevivam a seus líderes. Eu nem vou citar, os partidos de maiores vinculação personalistas. Como foram o partido nacionalista alemão de Hitler, e o partido fascista de Mussolini. Você dizer que sobreviveram a seus líderes é esquisito. Você dizer que eles não eram paridos é mais esquisito ainda. Portanto é perfeitamente possível você levantar a mão e dizer: eu não sei se concordo com esse critério. Está claro isso? Eu também não estou falando em José Maria Eimael e sua democracia cristã, eu não estou falando dessas migalhas, porque são partidos! Um: e não sobrevivem a seus líderes. Dois: e colocando em dificuldade a definição. Porque a definição tem quer dar conta da realidade.

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