Ciência/Política

Curso: Ciência Política (este)
Ciência Política Aula 5 splitter 03

Partidos Políticos (parte 1) vídeo-3

• Romário disse: ou você joga o jogo como é jogado ou não conseguirá gol nenhum. • Inglaterra -grupos parlamentares whigs e os tories. • Dar nome a grupos faz virar coisa, entidade que vai além dos seus membros; eles passam a existir. • Quando você institucionaliza empresta a um coletivo artificialmente construído, atributos que são de uma pessoa.

Com outras palavras, Romário disse coisa parecida: ou você joga o jogo como é jogado ou será uma figura decorativa e não conseguirá emplacar gol nenhum. Nós estamos na Inglaterra na virada do séc. dezoito para o século dezenove, onde vai surgir dois grandes grupos parlamentares os whigs e os tories. Eu chamo a sua atenção para o fato de que esses grupo já tinham nomes. E o que isso quer dizer? Dar nome a grupos faz virar coisa. Uma entidade que vai além dos seus membros. Chamado nas ciências humanas de coisificação. Acontece fenômenos interessantes a estudar. Porque o grupos assim institucionalizados, eles passam a existir enquanto grupo. Passam a ter projetos, tomar decisões, os grupos se convertem em atores políticos. A primeira condição para isso é justamente o fato de terem um nome.

Se você pegar frase como o PSDB o que quer é ganhar as eleições. Eu não sei se você percebe, mas essa frase empresta a uma coisa chamada PSDB, o desejo de ganhar as eleições. O PT jamais vai admitir o sucateamento da saúde pública. Ora, você percebeu que o Pt agora fica bravo... e ontem na campanha gratuíta o PSC ama as mães. Você pecebe que quando você institucionaliza, você empresta para a instituição, pensamentos, afetos, decisões, golpes de raiva, estratégias, ou seja você faz daquele grupo, uma pessoa só. Claro que isso não é especifico a partidos políticos. Afinal de contas isso acontece com a Nestlé, com a USP, com a Bayer, você institucionaliza e empresta a um coletivo artificialmente construído, atributos que são de uma pessoa. A primeira consequencia dessa institucionalização, é que toda vez que alguém toma a palavra em nome de uma instituição desse tipo, não fala mais em seu próprio nome. Mas fala em nome dessa instituição. Eu estou aqui para dizer que o PT, blá, blá, blá. Essa é uma operação simbolicamente rica. Porque a partir do momento que eu estou autorizado a falar em nome de uma instituição, eu transfiro o capital institucional para mim. Eu sou o porta-voz de outra coisa que tem força, tem projeto, tem desejos. Portanto você percebe que de certa maneira a presença, num grupo parlamentar, não só era necessária para aprovar projetos. Uma questão funcional. Mas era necessária até mesmo como forma de existir politicamente. Eu sou tories, eu sou do PT; em outras palavras o pertencimento a uma instituição é uma credencial de pertencimento ao próprio jogo. É uma condição de jogador. Quem é você? Da onde você vem? É claro a primeira coisa que um jogador da política diz, quando é cobrada a senha para o jogo, é o partido ao qual pertence.

Isso é tão explícito que qualquer país democrático ocidental que você for, a filiação partidária é condição legal para a candidatura. Então, não é só uma questão simbólica, claro, é legal ela é jurídica. No Brasil se você chrgar para se candidatar a deputado e você não for de um partido você não se inscreve, no tribunal eleitoral que regulamenta aquela eleição. Você será excluído. Então, perceba o que tudo isso quer dizer: do ponto de vista histórico e a sua consequência até hoje, a coisa surge para você poder trabalhar; uma questão funcional, uma questão digamos que é pragmática. Mas ela vai ganhando contorno, e se impõe, depois de um certo tempo não é uma livre escolha. Vamos montar um grupo para aprovar nossos projetos. Não. Ou é assim, ou não é. E mais interessante do que isso. Quando os candidatos se apresentavam para o embate eleitoral, já comunicavam aos eleitores a que grupo parlamentar pertenciam, ou pretendiam pertencer. Então quer dizer: no final das contas o pertencimento a esse grupo tornou-se uma espécie de chancela de garantia eleitoral. Espero que tudo isso tenha ficado claro, como é que as coisas aconteceram, elas aconteceram dentro do parlamento, com as necessidades próprias do jogo parlamentar e ganharam um importância fantástica. Então a institucionalização dos grupos fez com que a existência dos mesmos, fez com que transcedessem a própria pessoa. Quer dizer: não é porque fulano de tal não conseguiu se reeleger, que o grupo não vai existir. O grupo existe, independentemente de quem estiver lá. Esse é um traço fundamental de toda instituição: a transcendência em relação à particularidade das pessoas que o constituiu. Mas do que isso. Uma das razões pela qual o grupo existe, é a eficácia de aprovação de projetos. Isso significa, que quando você pertence a um grupo o que se espera de você? É que esteja lá para votar os projetos propostos pelos membros do seu grupo. Então vamos imaginar, que em algum momento, você diga: esse projeto eu não gostei. Vou votar contra. Ah! Não vai não. E qual é a força da repressão? Qual é a força da imposição? Se você não votar, eu te expulso. Se você for expulso, a coisa fica feia. E fica feia por que? Porque o outro grupo não te aceitará. E sem grupo você não trabalhará. Viu só! Se você pisar na bola, as consequências de defecção são quase tão sinistras, quanto tentar sair da organização de Lívia Marine, como alguns fazem cara de poquer para fingir que não sabem do que eu estou falando. São pessoas tristes. Gente erudita. Na Máfia é assim. Quanto mais rígida a instituição, menor a chance de você sair. Porque não existe um ex-mafioso. Então você percebe como é difícil sair desses grupos parlamentares. Sobretudo os da Inglaterra. E isso é até hoje. Isso que é interessante. Pelos menos na Inglaterra. A gente vai classificar os partidos políticos, e você verá que eles serão classificados em rígidos e flexíveis. O critério é esse: posso pisar na bola ou não posso pisar na bola.

O fato é que quando você faz parte da bancada de um partido, o que se espera é que você vote de acordo com o interesse do partido e da maioria dos membros do partido. Eu vou te dar um exemplo interessantíssimo.

O PT é um partido rígido, parlamentar, não pode pisar na bola. Na constituinte, você sabe que escremos a constituição 1984 até 1988, e na constituinte elegeu-se um cidadão chamado Plínio de Arruda Sampaio. A bancada do PT curiosamente tinha 13 deputados. E o Plínio ele se elegeu com o apoio da igreja. Essa parte da igreja de esquerda. Que é com quem ele é relacionado até hoje. Ele que foi candidato pelo PSOL aí. A presidência. Então claro, um dos temas debatidos era a legalização do aborto. A bancada do PT se reúne e diz, como é que nós vamos votar. Porque se houver projeto será em função do ponto de vista da maioria da bancada. E a maioria da bancada era a favor da legalização do aborto. Então é claro, por uma questão de disciplina partidária, o Plínio teria que votar a favor da legalização do aborto. O que não é muito fácil para alguém que tem a sua base eleitoral na igreja. Você tem aí o tipo de sinuca de bico, espetacular! Porque ou você trai o partido ou a instituição que te catapultou ao posto de deputado. Ele teve que sair. Ele não é militante do PT, ele não é candidato; porque o que se espera é que você vote de acordo com o nosso time. Vote nos projetos do nosso time. Porque quando você propuser alguma coisa, todo mundo vai apoiar você, mesmo que nem todo mundo esteja rigorosamente de acordo, com tudo que você tenha posto ali. É uma questão de construção de uma marca partidária, a partir de uma certa coerência da propositura de projetos. Todo mundo fechado nessa mesma ideia. Nós somos a favor disso. Nós somos contra aquilo. E acabou. Então a vida parlamentar com os grupos, ela se torna mais eficaz, mas ela se torna mais engessada e menos sutil. Porque se você tiver leves discordâncias aqui e ali, é possível que você tenha que engolir com batatas e mesmo que as discordâncias sejam grandes, talvez você tenha que engolir com batatas, sob pena de exclusão. O PT botou para fora muita gente, quando não botou para fora as pessoas já sairam antes. Eu diria: Beth Mendes, Airton Soares, Luísa Erundina, Plínio E tanta gente interessante para o partido, saíram antes por questão de disciplina.

Pergunta 1 de 1

Indique a alternativa incorreta:
• A institucionalização dos grupos fez com que eles transcendessem as próprias pessoas.
• O grupo existe, entre outros, para a eficácia da aprovação de projetos. Correta
• Quanto mais rígida a instituição, maior é a chance de deixá-la.

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