Ciência/Política

• Sócrates. • Sofistas = monstros sagrados da Ágora. • A Caverna de Platão. • Hino a Mogi

Política na Prática -Argumento

...é por isso que eu uso esse tampão. Se dá bem, é quem convence o maior número. Quem se dá bem é quem toma a palavra e com a palavra consegue a adesão do maior número a uma tese que lhe seja favorável. Então é claro que você rapidamente se dá conta de que havia uma competência imprescindível para triunfar nesse esquema. Que é a capacidade de persuadir, com a palavra. Continuando: se a boa argumentação, era a argumentação que tinha como consequência a adesão do maior número, o que é que tinha de ser dito pelos oradores? Aquilo que despertasse a adesão do maior número. Isso significa o que? Isso significa que os argumentos, eles não eram bons ou ruins, em função deles mesmos, ou eventualmente como consequência de algum atributo de veracidade, não! Os argumentos somente eram bons se e somente se conseguissem a adesão do maior número. Perceba a qualidade do argumento, o valor do argumento, não está na sua lógica interna; a qualidade e o valor do argumento está na consequência, que esse argumento produz, quando em contato com um certo auditório. Em outras palavras, se você trocar o auditório, é muito provável, que você tenha que trocar o argumento. Porque o argumento vale, na medida da eficácia para aquele auditório específico. Isso significa o que? Que talvez você tenha que dizer coisas diferentes; quiça contraditórias entre si, dependendo de quem estiver ouvindo. Isso significa o que? Que pouca importa se você está dizendo a verdade, se o que você está dizendo é logicamente sustentável, se o que você está dizendo é filosoficamente confiável, o que importa é que se aquelas palavras produzirão o efeito desejado de aplauso, condição da vitória na Ágora, do exercício do poder e do triunfo de um desejo em detrimento de outros desejos. Quem eram os grandes nomes da Ágora? Os monstros sagrados da Ágora? Eles eram os comumente denominados de sofistas e havia entre eles alguns melhores do que outros. Verdadeiros demônios da Ágora! Certamente os maiores oradores da história da humanidade.Como parecem ter sido Górgias e Protágoras. Então quem eram esses caras? Do que eles viviam? Como é que eles enriqueceram? Primeiro eles defendiam pontos de vista que lhes fossem favoráveis. Depois eles alugavam a sua verve -calor de imaginação que anima o artista- para quem quisesse ter os interesses defendidos por eles. Então eles eram ao mesmo tempo legisladores e lobistas. Vamos imaginar que você seja gago. O indivíduo gago, na Ágora ateniense, não teria a menor chance de vitória. Então o que faz o gago. O gago é burro? Não ele é gago. Gago é mentiroso?Não ele é gago. o problema é que a gagueira era um obstáculo invencível naquele sistema de jogo. Então o que fazia o gago? Ele contratava Górgias. Ele dizia. Olha, você precisa ir lá defender isso aqui. Beleza! Eu cobro tanto. Então está aqui o dinheiro. E lá ia Górgias para a vitória! Em nome do interesse do gago. Se fosse um mudo, e o interesse fosse o contrário do interesse do gago, Górgias ganharia para o mudo. E provavelmente diria o contrário do que disse em favor do gago. Porque o que importa não é a eventual verdade do argumento. Mas a sua eficácia persuasiva. Muito bem, e aí? Aí que Platão não gostava do esquema! E porque que Platão não gostava do esquema? Platão não gostava do esquema porque ele não teria nesse esquema, nehuma chance. É claro que isso você não vai ler na república! Isso é o que está por trás. Isso é a genealogia. Isso é o interesse. Nesse esquema de decisão, Platão seria massacrado. Por quem? Pelos sofistas. Então o que faz Platão? Platão através da Filosofia, cria outras condições de diálogo. Outras condições de debate, que não as da Ágora. E ele coloca para debater, não ele, que ficaria óbvio demais. Mas ele escreve os diálogos e coloca para debater Sócrates, personagem que ele inventou. Mas o senhor está dizendo que Sócrates não existiu? Isso é uma pergunta sem relevância nehuma. Sócrates é curioso isso; nunca escreveu nada, não deixou nada escrito. O Sócrates de quem estou falando é a personagem de Platão. Cujo discurso é escrito por Platão. E Sócrates dialoga contra quem? Contra os campeões da Agora!Pode pegar a lista dos diálogos de Sócrates e Platão e você verá que Sócrates debate contra os campeões da Ágora e Platão coloca o título do diálogo, o nome do campeão da Ágora, jogada de markenting! Esse cara é tão conhecido! É como se eu escrevesse um diálogo, eu e José Dirceu e colocasse o título José Dirceu ou Alckmin, ninguém me conhece mas a eles sim. Eu ponho o campeão da Ágora e uma personagem que eu inventei. E nessas novas condições, em que Platão escreve o discurso de Sócrates e o discurso do sofista, Sócrates ganha sempre. De lavada! E o sofista aparece como um débil mental absoluto. É certo Sócrates, você tem razão Sócrates, puxa como eu não havia percebido isso antes. Então você acha mesmo que o campeão da Ágora, o sujeito ríquissimo que mandava em atenas, ia até esse idiota que vai debater com Sócrates que vai debater e gagueja. Nunca! Isso aí era uma reconstrução, delirante, da realidade. Diante de novas coisas. Agora é claro, fica na história das faculdades de filosofia...Platão nosso herói e os sofistas meia dúzia de imbecis.Só que na época era o contrário! Muito bem. Quem vai fazer todas essas reflexões que eu estou fazendo é Nietzsche, e você pode ler o Crepúsculo dos Ídolos e você pode ler dentro do Crepúsculo dos Ídolos, o capítulo consagrado a Sócrates; aonde Nietzsche vai refletir com eu estou fazendo. A filosofia de Platão como uma impostura. Já que eu não suporto a realidade, porque sou fraco; eu crio novas condições aonde eu me dou melhor. E essas condições são os meus textos.

Pergunta 1 de 2

Para os gregos, para garantir a democracia, o poder era distribuído a partir de:
• Voto
• Sorteio Correta
• Provas
• relações pessoais

Pergunta 2 de 2

• Sobre Platão:
• Ele era muito conhecido nas ágoras.
• Escreveu 'A República', em que relata as discussões da ágora tais como elas eram.
• Não tinha qualquer chance contra os sofistas da ágora, então escreve 'A República' para recriar as condições de discussão da ágora. Correta

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O filósofo e o Poder - A Caverna de Platão

tags: poder - alma - caverna - essência - ginástica

É nesse momento que se diz: bom se esse esquema está ruim, qual é o bom esquema? É o que você vai encontrar na República. E esse é um trabalho que você vai fazer. É você que vai ler. Por que aí você vai ver a solução que Platão dá. Você vai encontrar essa resposta em vários lugares. Mas tem um lugar onde a coisa é muito explícita. É a famosa alegoria do navio. Tem tres tipos de gente dentro do navio: tem os caras que fazem no muque o navio andar. Tem os caras que saem na luta contra os saqueadores; e tem um terceiro tipo de gente; que nem vai no muque e nem sai para a luta. Se você não é o que faz o navio andar na mão, se você não é o Anderson Silva, o minotauro, o Vanderlei, o Vítor Belfort; então quem você é? Se você não trabalha com as mãos e não dá socos, só te resta pensar. E é exatamente quem pensa que comanda o navio. É aquele que detém o timão. E o timão aqui, nada tem a ver com futebol. O timão aqui é o governo do navio. E deve ser entregue nas mãos de quem pensa. E quem pensa no jargão de Platão é chamado d filósofo. Por isso essa é a tese do rei filósofo. E quem é o filósofo por excelência? É ele mesmo. então você percebeu que não é muito difícil de fazer a genealogia. Toda a filosofia esconde a pretensão de exercer o poder. No lufar da Ágora, aonde quem exerce o poder são os Sofistas. É preciso que Atenas se converta num navio. Aonde quem dirige o navio é o filósofo. A compreensão dessa obra, ela só será possível, se nós tivermos duas ou tres ferramentas conceituais a mais. Essas duas ou tres ferramentas conceituais a mais, já podem ter sido facilitadas em cursos introdutórios de filosofia. Como eu não tenho certeza disso, eu mesmo farei aqui o trabalho. Se você abre um manual qualquer, desses que fazem a varredura da história do pensamento, você vai encontrar que Platão era um filosófo dualista. E essa nomenclatura, esse rótulo, indica dois, óbvio. O dualismo de Platão na verdade faz alusão, a duas coisas divididas em dois. Para falar simples. Para Platão o mundo é dividido em dois; e também o homem é dividido em dois. Então o dualismo de Platão, ele se consubstancia, tanto no mundo, como no homem. O dualismo de Platão, se encontra no mundo e o caminho para essa abordagem você vai encontrar no livro sete da república.Na alegoria mais conhecida, da história do pensamento, na qual certemente você já ouviu falar. É a alegoria da caverna. Muito rapidamente; escravos estão acorrentados e durante toda a sua vida nessa posição, estão voltados para uma parede e nessa parede contemplam sombras. Esse que a vida inteira só contemplou sombras, acredita que as sombras são tudo. Acredita que as sombras são a própria realidade. Acredita que o mundo é só isso. Sombrio. Mas um dos escravos se solta. Sai da caverna. E depois de um momento de dificuldade fotofóbica, ele percebe o que estava acontecendo. Ele percebe que até aquele momento da sua vida, ele havia contemplado sombras. E que na verdade a realidade, que projeta as sombras está fora da caverna. E portanto os escravos que estão acorrentados dentro da caverna, estão contemplando uma parte inferior; uma parte deformada; parte bastarda; daquilo que importa, que é a realidade do lado de fora, daquilo que projeta as sombras. Então esse indivíduo, ávido por avisar seus antigos companheiros de escravidão; volta para a caverna. De novo tem dificuldade de adaptação por conta do escuro, agora. E tenta mostrar para os colegas que eles estão se contentando com as sombras. E que lá fora é muito mais legal. Pois esse indivíduo é agredido e morto. Bom, a estória termina aí. É importante lembrar que cada detalhe dessa estória, está no lugar de outra coisa. A caverna é o mundo onde nos encontramos. As sombras são as percepções sensoriais do mundo que temos. Os escravos somos nós; que acreditamos que o mundo é constituído por percepções sensoriais. O escravo que se solta é Sócrates, filósofo. Fora da caverna é onde está a realidade, que projeta as sombras. E essa realidade que projeta as sombras são as ideias. O mundo das idéias. O retorno à caverna, para avisar os escravos que eles vivem uma vida pobre; é a luta que trava o filósofo como o senso comum. A agressão que Sócrates sofre, é a agressão que Sócrates sofreu; condenado que foi: à morte. Muito bem! Vale aqui, um esclarecimento sobre essa idéia de Platão. Ela nos interessa de perto. E naturalmente, eu vou começar com um exemplo o mais chucro possível. É um exemplo que você encontra na obra de divulgação, o mundo de Sofia. Uma obra quase infantil. E o exemplo é o de uma galinha. Você encontra uma galinha; e eu espero que todos já tenham visto uma galinha viva! E a pergunta que eu faço é: essa galinha viva que você viu, é igual a outras galinhas vivas? E a resposta, se for uma resposta lúcida é; não. Claro que não. E porque não? Porque no mundo das percepções que é o nosso, nada é igual a nada. A igualdade é recurso da lógica. E só é aplicável na matemática. No mundo das percepções não há igualdade. O que há, são galinhas particulares, diferentes umas das outras. Então você se depara com uma galinha, que você nunca viu antes. E rapidamente você conclui; que aquela coisa particular que está diante de você é uma galinha. E a pergunta que se faz é: como você sabe? Afinal de contas, se aquela galinha que você nunca viu é uma galinha particular diferente de qualquer outra, como você tem tanta certeza tratar-se de uma galinha? O que significa chamar galinhas diferentes com a mesma palavra; galinha? Porque conferir a mesma palavra, a animais diferentes entre si? É porque por trás da particularidade de cada galinha, jaz uma essência de galinha. Aquilo que toda galinha tem que ter para merecer o título de galinha.Por detrás da diferença há uma espécie de essência sem a qual galinha não é galinha. Toda cadeira particular é diferente uma da outra. Mas você olha e diz: senta aí, sem medo de errar; porque você vê naquela cadeira, aquilo que toda cadeira tem que ter, para ser cadeira. Que é aquilo que se chama, idéia de cadeira. Então tem idéia de galinha, idéia de cadeira. Tem idéia de tudo que você vê. E como você tem acesso à idéia? Se o mundo das coisas sensíveis, você tem acesso pela sensoraliedade do seu corpo; o mundo das idéias você tem acesso pela razão. Aquilo que Platão chamava de "alma". Então, para dois mundos, um homem em duas partes. O corpo e suas percepções; a alma e suas idéias. Muito bem! A pergunta que é preciso fazer agora é: a vida boa para Platão; se o corpo é constituído por corpo e alma; se o corpo é constituído por um corpo sensorial e apetitoso e uma alma pensante; vive bem, quem faz o que? E a resposta de Platão é uma resposta que não dá margem a dúvida. A vida boa é a vida daquele que vive segundo os princípios da razão. Isto é: governado pela alma. E os apetites do corpo? Serão satisfeitos à medida que contribuírem para o pleno desenvolvimento da alma. Portanto Platão está convencido de que: existe no homem a possibilidade de colocar o corpo a serviço da alma? Isso que dizer: o corpo a serviço do pensamento. Mas existe a possibilidade contrária: aquela que infelizmente, para os Platônicos nos é mais familiar: que é colocar a alma a serviço do corpo. E colocar o pensamento como lacaio da satisfação dos apetites. E você passa a sua vida pensando onde vai comer, onde vai beber, que estratégia usar para ter uma transa e assim por diante. Pois a boa vida é a contrária: eu vou fazer ginástica? Vou. Aliás Platão é apelido de quem tem ombros largos. Platão era atleta olímpico. Mas sem colocar o esporte como fim último da sua existência. Na verdade o corpo é instrumento para que a alma alcance o mais longe que puder alcançar. É claro que o sujeito que tem doenças de corpo, ele terá maiores difículdades de desenvolver a alma. Por isso o corpo é fundamental. Como instrumento. Secundariamente. Pois muito bem, a vida boa é governada pela alma.

Pergunta 1 de 1

Indique a alternativa errada:
• O corpo é instrumento para desenvolver a alma.
• A vida boa é a vida governada pelo corpo. Correta
• Só pode pretender governar a cidade quem consegue governar a si mesmo.
• Usamos nossos discursos como modo de ocultamento de nossos interesses.

Posição Social - Legitimidade do porta-vozes

tags: alma soberana - governar a si mesmo

Muito bem! E o que tem isso a ver com a política? É que Platão estabelece um paralelo que nos interessa de perto. E que paralelo é esse? Platão estabelece um paralelo entre o homem e a cidade. Esse paralelo é conhecidíssimo. Não tem como abrir mão dele, num curso dessa natureza. Da mesma maneira que o homem pode ser governante da própria vida. Ele será governante da própria vida, quando a alma soberana, definir os caminhos da nossa vida privada. Só pode pretender governar a cidade, quem consegue governar a si mesmo. Fica mais fácil perceber agora porque, quem tem que governar é o filósofo. Mas fica também fácil perceber; porque o esquema da Ágora é inaceitável. É inaceitável por que? Porque o melhor argumento acaba sendo o argumento para seduzir o maior número. E Platão está convencido de que o maior número, isto é: a maioria das pessoas; é chucra, burra, de alma pequena, de intelecto apequenado, gente que não adianta. Então veja só que paradoxo: a cidade é governada segundo argumentos, que são propostos para convencer os mais idiotas. Então essa cidade fracassará. Necessariamente fracassará. Porque para convencer os mais idiotas é necessário enunciar o argumento mais idiota possível! E o argumento mais idiota possível, uma vez vitorioso se converterá em lei. Então somos governados por imbecis.É claro que quem se deixa governar por imbecis, evidentemente está assinando o naufrágio da própia cidade. Ora, eu não preciso te dizer que a tese de Platão é muito mais elitista, do que a democracia ateniense. Mas não preciso dizer também que essa tese está presente também no mercado ideológico. Ela não é uma erudição. Ela não é uma veleidade histórica! Ela não é uma curiosidade sobre as origens. Não. Esse argumento está presente em todo lugar. Primeiro é impossível você não comparar a ágora a um programa de auditório. Tipo o Faustão. E ali você percebe que bastam duas ou tres tiradas mais assim; emotivas e já está todo mundo emocionado e fora de si. Ali você percebe, com as vídeos cacetadas, que se o japinha se estaboca lá de cima, que todo mundo é convidado a rir; ali você percebe que podem ser enunciadas propostas contraditórias e as duas serão aplaudidas. Ali você percebe que a preocupação com a verdade do que é dito é nula. De fato o que Platão diz, não é completamente absurdo! Quando o presidente Lula foi eleito; isso provocou um certo alvoroço nas elites. E você ouvia aos quatro cantos, reflexões como: ah! Quando ele for aos Estados Unidos, que língua ele vai falar se nem português ele fala direito. Como é que nós temos um presidente que não tem curso superior. E aí a comparação com FHC ficava ainda mais gritante. É claro que esses argumentos pouco a pouco foram diminuíndo, porque quando o Lula virou "o cara" ele fez todo mundo engolir o português e ainda virou figura exponencial da geopolítica mundial, sem curso superior nehum. O argumento também vai caindo por terra, porque todos os outros presidentes da república tinham curso superior, e o Brasil sempre foi um paisinho de nada e se deixou de ser, foi justamente nas mãos de quem não tinha curso superior. Então é claro, aqui não se trata de defender um argumento ou outro, mas de mostrar a complexidade em que nos encontramos. Eu aqui, subo um degrau na nossa análise. Por que no final das contas o elitismo de Platão: quem tem que mandar é o filósofo. Quem tem que mandar é quem pensa. Ele acaba encontrando no mundo contemporâneo, um correspondente que é a legitimidade institucional do porta-voz. E o que isso quer dizer? Isso quer dizer; que o que a gente fala só tem valor, a partir do reconhecimento da posição social que ocupamos, enquanto porta-vozes. Em outras palavras: o valor do que dizemos tem menos a ver com o que dizemos e mais a ver, eu diria, com a legitimidade da posição social que ocupamos. Eu poderia dar muitos exemplos. Mas vou dar três. Eu me lembro de um debate para prefeito, a campanha vencida por Marta Suplicy. Esse debate é absolutamente memorável e irrepetível. Nesse debate estavam presentes: Enéas, Color, Marin, Alckimin, Marta, Maluf, José de Abreu e outros. E num determinado momento do debate, a discussão versava sobre transportes. E um candidato nanico: José de Abreu, propôs a legalização das peruas. E o que aconteceu: o auditório riu.E qual é a impressão que você tem? A impressão que você tem é que a risada é uma reprovação à proposta. Mas não é verdade! A risada é uma denúncia da ilegitimidade do porta-voz. Porque quando a Marta foi perguntada, ela propôs a mesma coisa, com as mesmas palavras. E ninguém riu. Deixando claro que não é a proposta que é risível. É quem enuncia. Segundo exemplo: a uns dois anos, comemorou-se pelo mundo o centenário da psicanálise. Aqui no Brasil a Hebraica, sediou um série de encontros, entre eles uma aula magna, da nossa maio pensadora, Marilena Chauí sobre Freud, eu que fui aluno da Marilena arrumei um jeito de assistir. Fui com aquela pulga atrás da orelha; de quem achava estranho que ela fosse falar sobre Freud. Ela entrou; o auditório coalhado de psicanalistas, -evento chancelado pela sociedade brasileira de psicanálise- e ela disse: eu vinha vindo para cá; aí eu já tinha entendido tudo. E eu vi que tenho nada para falar sobre Freud. Então eu vou falar de Spinoza. Eu não sei se você percebe; mas se outra pessoa que diz: ei! Você aí! Veio me ouvir de falar de tal coisa e eu vou falar de outra. Isso poderia suscitar uma reação violenta da platéia. Mas por se tratar de alguém com a legitimidade que tem, ninguém saiu. E quem tinha dois neurônio entendeu; que ao falar de Spinoza, ela estava oferecendo todos os fundametos filosóficos da psicanálise. Terceiro exemplo: tão logo eu decidi ser professor universitário, um dos lugares que me deixaram dar aulas foi a universidade de Brás Cubas em Mogi das Cruzes. Nós estamos aí, em mil novecentos e noventa e um. Eu era diferente nessa época. Eu era muito melhor professor do que eu sou, nessa época. Essa universidade me fez piorar muito. E uma das razões que eu piorei muito aqui, é o aluno! Você deve estar perplexo com a minha afirmação. Mas é que você só vira professor, dando aula para aluno ruim. Por isso que todo professor que só deu aula aqui, é horroso! Por que você diz o que te dá na veneta, e o problema é do aluno. Em outro lugar, não funciona assim. Se o cara não te entendeu ele levanta a mão e diz: se vira meu, eu não entendi. Então você mastiga, mastiga, mastiga e aprender a mastigar, é aprender a ser um bom professor. Necessidade que aqui não há. Eu sei que eu estava na universidade, nessa época eu também arrumei um emprego no estado de são paulo. Eu sai do Estadão e pegava o trem para Mogi. Era edificante! Eu ia com os alunos. Nós íamos cantando o hino de Mogi. Você conhece o hino de Mogi? Não! Ah! Mas é um hino consagrado. É assim: Nó íamos batendo com a mão do lado de fora do trem.
Eu fui prestar vestibular
Eu me ferrei eu me ....
Eu sou refugo da fuvest
Eu sou aluno de Mogi
Mas em Mogi eu aprendi
A viver em glórias mil
E agora eu quero que a fuvest
Vá para a .... .... ....! -E aí vem o refrão. Era a apoteose!
Mogi! Mogi! A terra do caqui.
Se existe o .. do mundo; o .. do mundo é aqui!
Então claro! Eu que tinha feito doutorado na França, eu estava num trem velho; sem portas e sem janelas, gritando sobre a terra do caqui. Para você ver; como os momentos felizes não tem nada a ver, com o que as pessoas costumam achar! Eu ainda guardo com saudades o carinho com que o alunos me tratavam. Porque era gente carente mesmo. Isso é só um aperitivo! Eu estava passeando pelos corredores da universidade e eu vi um cartaz! E no cartaz estava escrito assim: primeiro encontro de professores de jornalismo, na Universidade Federal da Bahia. E uma das mesas era ética. E eu era professor ali de ética no jornalismo. Então eu fui falar com o coordenador do curso. Que também era meu chefe no estadão. Francisco Ornelas. E eu disse: Chico, arruma para eu ir nesse evento! Ele respondeu: eu não tenho...é o diretor; vai lá! Eu fui. E falei: eu queria que você me arrumasse um jeito de eu ir até Salvador participar desse evento. -Como assim? Sei lá. Pagar minha passagem, e um dia de estadia. Aí o fulano riu e perguntou: o que você quer mais? Quer acompanhante? Ou você quer uma verba para se divertir lá? Aí eu falei: não precisa pagar a passagem. Paga só uma noite. Ele disse não. Falei: Pelo menos não me desconta aqui. =Não! -Bom então ......eu vou de qualquer jeito! Então eu peguei o busungas e fui até Salvador. Me apresentei e fui para o anfiteatro da ética. E haveria uma palestra de abertura que seria proferida pelo professor Bernardo Cusisk? Dava aulas aqui no CJE. A palestra foi muito boa! Eu gostei muito! Aí quando abriram para perguntas eu fui o primeiro a levantar a mão. -Nome e instituição de onde vem? -Clóvis de Barros Filho UBC. -Nunca ouvi falar de você e você vem de um lugar! -É que na verdade eu acho que a ética não deveria ser uma disciplina do curso. E sabe o que aconteceu nesse momento? Cortaram a eletricidade do microfone. Eu continuei falando, mas ninguém me ouvia. E passaram para outro! E eu que tinha feito doutorado com Bordieux sabia exatamente o que estava acontecendo. Sabia que eu não valia nada! E que portanto eu não era porta-voz legítimo de uma proposta erética. Por isso cortaram o meu microfone. Eu estava desautorizado a falar. Peguei meu busungas de volta e essa história morreu, até dois mil e quatro; quando vi um cartaz: décimo quarto encontro de professores de jornalismo. Lembrei com saudade. Dois dias depois recebi uma carta do evento. Você não gostaria de abrir com uma conferência, o grupo de ética? Era um convite. Eu pergunto a você? Aonde eu estava dando aula? No CJE, no lugar do Bernardo C... Então eu aceitei, era em Campo Grande, mesa, anfiteatro grande, mesma coisa de quatorze anos atrás. E eu não falei enem obrigado, aquela coisa...agradecer, coisa nenhuma! Eu peguei e falei: eu estava fazendo um comentário, há quatorze anos e cortaram a minha eletricidade! Então eu vou continuar da onde eu parei! A ética não é disciplina. É tema transdisciplinar. Então o professor de fotojornalismo tem que falar de ética, o professor de jornalismo informativo tem que falar de ética, o professor de jornalismo de revista tem que falar de ética... E uma disciplina para isso é um absurdo! Você tem que chamar alguém que curiosamente não é jornalista, alguém de fora. E o que nós precisamos é que a ética esteja presente em tudas as diciplinas, trabalhada por quem é do ramo. Porque ética é prática. Por isso eu defendo a existência de um departamento de ética e não de uma disciplina isolada para isso. Com a presença do conselho nacional de educação, a minha proposta foi digitada, transformada em proposta, e no final; só não foi grade curricular de curso de comunicação, porque ela perdeu no congresso nacional. Aí você pergunta: o que mudou? A proposta era a mesma! Eu era muito melhor quatorze anos antes. Eu teria explicado muito melhor quatorze anos antes. Só que antes eles cortaram o microfone. Quatorze anos depois, quase virou lei! O que mudou é a legitimidade do porta-voz. A legitimidade do porta-voz, nada tem a ver com o que é dito. A legitimidade do porta-voz, tem a ver com o reconhecimento da posição social ocupada por quem fala. E o último exemplo que eu te dou, é de um evento que eu tenho participado regularmente. Evento chamado HSMexpomanage. E nesse último de novembro; aconteceu uma coisa muito curiosa! O que aconteceu é que eu dei palestras em dois dias; e no segundo dia eu fui aplaudido antes de começar a falar. E ser aplaudido antes de começar a falar é muito explicativo do que eu estou tentando te ensinar. O aplauso não é por aquilo que eu vá dizer: quando você aplaude antes, o que você está dizendo é que o merecedor do aplauso é a história, é a trajetória, a posição ocupada e não o que você eventualmente venha a dizer. Portanto, eu espero que você tenha entendido: que o valor social dos discursos é inseparável da legitimidade de quem enuncia. Isso é fortemente relevante na nossa discussão.

Pergunta 1 de 1

Sobre a legitimidade do discurso, podemos afirmar que:
• O valor social dos discursos não depende da posição social de quem o enuncia.
• A legitimidade do porta-voz tem a ver com o que é dito.
• Improváveis
• O valor social dos discursos é indissociável à posição social de quem enuncia. Correta

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