Ciência/Política

• Para Espinosa: Amor é alegria, acompanhado da idéia de sua causa. • Famoso parágrafo (289), da obra alé do bem e do mal de Nietzche. • Ágora grega.

Amor à moda de Platão e de Espinosa

Então agora você tem condição de entender melhor, a idéia do desejo. Porque no final das contas nós não temos garalhadas de coisas. Nós não temos quase tudo. Mas não desejamos quase tudo. Quando não é pelo simples fato de não ter, que você deseja. Eu por exemplo não tenho a minha vizinha! E não quero a minha vizinha. Pelo contrário quero distância dela! Porque? Porque sim. Então você perguntará: além da falta o que mais caracteriza os desejos? A suposição do encontro alegrador. Em outras palavras; a deseja b, quando a imagina que b, determinará a sua alegria. Determina ainda? Não. Porque você pode desejar errado. Você já desejou errado? Oh! Quase sempre! A gente quase sempre se apaixona, por quem não deve se apaixonar. Mas o desejo é isso: desejo pelo mundo supostamente alegrador. O que é um um mundo supostamente alegrador? Um mundo que supostamente alavancará a nossa potência de agir. Que é portanto o amor para Espinosa. O amor é a alegria. Eu não sei se você percebeu. Mas o amor para Espinosa, e Espinosa não é Platão; amor não é desejo. Porque o desejo é pelo encontro, com o mundo que supõe alegrará, e o amor é no encontro com o mundo que alegra. Mas o amor não é só alegria, porque senão seria sinônimo de alegria. Amor para Espinosa é alegria, mais alguma coisa. E esse alguma coisa, que é condição do amor, é a idéia da sua causa. Eis aí a definição: amor é alegria, acompanhado da idéia de sua causa. E o que isso quer dizer. quer dizer o seguinte: eu estou afetado de alegria, me dou conta que ganhei potência, olho para o mundo, porque eu quero identificar o que causou essa alegria. Claro, eu preciso identificar, porque como tenho que escolher para viver daqui para frente é normal que eu escolha; aquilo que um dia me alegrou. Mas a alegria será amor, quando você olhando para o mundo, identificar, a causa da alegria. Mais ou menos assim: eu encontrei você. Você determinou em mim, um afeto alegre. Afeto alegre é passagem para um estado mais potente e perfeito dentro do meu ser. Eu identifiquei você como causa da minha alegria. Eu te amo. Matou? Leve num guardanapo anotado, e você tem um chaveco finíssimo. Porque, se alguém disser eu te amo, você pergunte, Platão? Espinosa? Porque se você me ama à moda de Platão é meio estranho; Porque você me deseja e se eu cismar de fazer amor contigo, não me desejará mais! Então é melhor eu ir embora para que o amor continue. Mas se você me ama à moda de Espinosa; aí eu posso fazer amor com você à vontade. Porque? Porque te alegrarei. E você me identificará como causa da sua alegria. Percebeu! Espinosa salvou o encontro. E Platão é um desmancha prazeres fazendo cada um ir para sua casa. Então é nesse momento, que nós podemos encerrar esse nosso encontro. Deixando claro que a política é a gestão da alegria e da tristeza. Era aonde eu queria chegar. A política sempre pode identificar formas diferentes de organização. E a pergunta é: qual forma de organização social que permite, a melhor gestão possível dos afetos de alegria e de tristeza dentro de um determinado espaço? Eis o objeto do nosso curso, sobre isso falaremos.

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Política na Prática

Nós vínhamos dizendo, que a política tem como matéria prima a interação entre homens, que são antes de mais nada desejantes; por isso interessados, com interesses que se excluem. Incompatíveis entre si. Vínhamos dizendo então, que dentro desse sentido maior da palavra política, nós esbarrávamos na necessidade, de uma ampla discussão, sobre a melhor forma de compatibilizar, interesses contraditórios, no sentido da melhor convivência possível. Dizíamos também que o trabalho lúcido, que tem a política por objeto, implica um primeiro ponto metodológico, que é a identificação do interesse, e está por trás de todo movimento, de toda a decisão, toda a argumentação, que todos nós temos para interagir. Agora é claro a identificação de todo esse interesse só é problemática; porque na hora de interagir, todos nós acabamos por usar nossos discursos, como uma forma de ocultamento dos nossos reais interesses. Isso nós tínhamos dito no nosso primeiro encontro, e portanto eu insisto; existe aqui a necessidade de ir além do que é dito. Em outras palavras a identificação das reais motivações de qualquer discurso, exige ir além da materialidade do discurso. Esse trabalho é particularmente necessário, toda vez que nós nos deparamos com tomadas de posição que envolvam alguma relação de poder. Agora claro, isso que nós estamos dizendo, não tem nada de novo. Pelo contrário; sugerir a você, a necessidade de não se contentar com o que foi dito, e ir escavar o que está por trás, é uma recomendação relativamente antiga. A título de exemplo; eu citaria o famoso parágrafo (289), da obra alé do bem e do mal de Nietzche. Toda palavra é uma máscara. Todo discurso é uma fraude e toda filosofia é uma pantomima. Ora! O que Nietzsche está sugerindo? A palavra máscara, não dá margem a dúvida. É aquilo que cobre o rosto. E a palavra e o discurso são máscaras, exatamente porque cobrem o que importa conhecer. E o que importa conhecer é o que está escondido pelo discurso. E o que está escondido pelo discurso é a verdadeira razão de ser do discurso. E a verdadeira razão de ser do discurso é o desejo de quem anuncia. Os cardeais sairam lá do seu aposento, atravessaram a praça não sei das quantas, e foram para a Capela Sistina para o conclave. E você os abordaria no meio do caminho, e qual é a chance de um cardeal dizer: espero sair daqui papa. Porque quando eu for papa, eu terei uma situação de poder que muito me alegrará. Colocarei meus amigos, farei as coisas do meu jeito e vou acabar com meus adversários. Já imaginou; o papa dizendo isso no meio do caminho. A probabilidade de isso acontecer é zero. É a mesma probabilidade do Alckmin dizer: tudo que eu faço é para ter uma chance de ser presidente da república. Não há nada mais que me interessa. É a mesma probabilidade de você entrevistar um juiz e ele dizer: a única coisa que me interessa agora é ser ministro do supremo. Se não for ministro do supremo você é um juiz mequetrefe. Não aparece na mídia, é a mesma probabilidade de qualquer agente social, dizer o que realmente interessa ao falar. É nula. É claro que dentro dessa perspectiva que Nietzsche chama de genealógica é que nós nos encontramos aqui. E porque genealogia? Porque estuda há gênese. A origem. A gênese de um discurso não está no que é dito. Mas no que está escondido pelo discurso. Nietzsche inclui aí -dizer que o profissional da política mente, é quase uma obviedade- mas dizer que o filósofo mente, esconde o que ele realmente pretende com a sua filosofia, aí é mais sutil. A filosofia tem um discurso infinitamente mais sofisticado e portanto infinitamente mais competente para camuflar o que o filósofo de fato queria com aquilo. Sendo assim, nós então chegamos num determinado ponto, que foi o de mostrar que a política partia de um pressuposto que é a possíbilidade de viver diferentemente. E nós dissemos que da mesma maneira que um gato gateia, e que o formigueiro é o único que poderia ser, a nossa vida em muitos momentos poderia ser diferente do que ela é; porque resulta de uma decisão, e a nossa convivência também poderia ser muito diferente do que ela é. Mostramos então a necessidade dos valores. Os valores o que são? Os valores são referências para a vida e para a convivência. O que é fundamental aprender aqui? É que sem a referência não tem com escolher. Então é claro que essa referência serve para a nossa vida privada, bem como serve para a nossa vida pública. E na hora de discutirmos propostas para a nossa cidade, nós precisamos ter na cabeça uma referência. É claro essa referência tem que ser uma idealidade, uma cidade ideal.

Se você escolhe candidatos é porque escolhe candidaturas. Se escolhe candidaturas é porque escolhe propostas. E para concluir que uma proposta é melhor que outra, isso só é possível se você tiver na cabeça, uma idéia da cidade ideal. E é nesse momento que nós paramos. Eu não poderia deixar de sugerir vivamente aqui, a leitura da obra A República de Platão. E você vai ler, com as dificuldades óbvias de quem está lendo um texto, que tem dois mil e quinhentos anos, mas você vai ler assim mesmo. E justamente porqu você vai ler? Não me importa tanto, que você conheça o que Platão considerava ideal. E porque não? Porque isso é em grande medida, marcado por uma realidade histórica que não é a nossa. Mas me importa muito que você conheça, a mais completa referência de cidade ideal, de que temos notícia. Então é claro, o que diz Platão? Se eu quero fundamentar as minhas propostas, eu só posso fazê-lo, provando que algumas são melhores do que outras. E para provar que umas são melhores que outras, eu só posso fazê-lo tendo na cabeça uma cidade ideal. Porque aí a melhor proposta é a que mais provavelmente levará a essa cidade ideal. E Platão não economizou esforços e ele conta para você qual é a cidade ideal dele. E a obra que platão usa para contar para você, qual é a cidade ideal dele é A República. Então é por isso que eu gostaria muito que você lesse! Claro que a República não é o único modelo de cidade ideal que virou obra de pensamento. Eu poderia propor a você uma segunda leitura, tão apetitosa quanto a primeira ou mais. E que tem rigorosamente o mesmo objetivo. Qual é mesmo o objetivo? Já que eu acho que devo me manifestar, sobre o que eu acho que deve acontecer na cidade, eu preciso de uma referência; coisa que os nossos candidatos, não se preocupam em apresentar. Eles apresentam um programa, mas não fundamentam esse programa. E o fundamento do programa é a referência. Em outras palavras; quando alguém diz que o bilhete único, ônibus, metrô etc., ou um bilhete mensal, que envolva todos os meios de transporte é melhor do que picotado, ora! Um diz que é melhor outro diz que não é melhor, resta saber com relação a que? Porque sem essa referência é somente um jogo de cabo de guerra. É apenas uma questão de legitimidade e prestígio do porta voz. Então é claro que a referência parece fundamental. E a segunda referência antes que eu me esqueça; é outra obra, cuja leitura eu recomendo de coração que é a obra A Utopia. Utopia quer dizer: não lugar, e não lugar quer dizer um lugar que não existe, não se trata de uma realidade, não se trata de uma ilha que efetivamente existe, mas sim de uma construção intelectual. Tanto a República de Platão, quatro séculos antes de Cristo, quanto Thomas More, no início da modernidade, os dois propuseram o que? Um ideal de cidade. Que seria bem bacana que você tivesse oportunidade de ler, esses dois clássicos da história do pensamento. Apenas para se dar conta do que eu estou falando. Um ideal de referência a partir do qual as propostas tem maior ou menor valor e por isso elas podem ser discutidas.

Pergunta 1 de 1

• Sobre a obra 'Além do bem e do Mal', de Nietzsche, é incorreto afirmar que:
• Toda filosofia representa uma verdade. Correta
• Todo discurso é uma fraude.
• Toda palavra é uma máscara.

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Política na Prática

Nesse momento o aluno atento poderia perguntar: mas se Nietzsche tem razão, A República também é uma máscara. A Utopia também é uma máscara. Sem dúvida! E no caso da República uma máscara fácil de desmascarar. E porque fácil de desmascarar? Porque o próprio autor não esconde suas pretensões. Ou pelo menos não esconde completamente. Então o que está por trás da república? Para entender o que está por detrás da República é fundamental que saibamos o que acontecia na época em que a república foi escrita. E é claro, o que acontecia nessa época em atenas era; aquilo que você aprendeu na história geral como a atenas democrática. Uma primeira experiência de democracia. E veja que você aprendeu essa esperiência de democracia, com o título de democracia direta. E mais do que isso; você aprendeu essa experiência de democracia direta nos livros de história geral, como sendo o máximo. O momento de maior democracia que o homem já teria vivido. Pois muito bem! Não é exatamente essa a perspectiva a partir da qual Platão observa e analisa a realidade do seu tempo. Compareciam a Ágora,

Normalmente era um espaço livre com edificações, onde os cidadãos costumavam ir, configuradas pela presença de mercados e feiras livres em seus limites, assim como por edifícios de caráter público. Enquanto elemento de constituição do espaço urbano, a Ágora manifesta-se como a expressão máxima da esfera pública na urbanística grega, sendo o espaço público por excelência, da cultura e a política da vida social dos gregos. Estava normalmente rodeada pelos edifícios privados e públicos mais importantes, como as stoas (pórticos colunados), pritaneus (gabinetes administrativos), buletério (edifício para as reuniões da bulé) e balaneia (banhos). É nela que o cidadão grego convive com o outro para comprar coisas nas feiras, onde ocorrem as discussões políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da cidadania. Por este motivo, a Ágora (assim como a Pnyx, o espaço de realização das eclésias) era considerada um símbolo da democracia direta, e, em especial, da democracia ateniense, na qual todos os cidadãos tinham igual voz e direito a voto. A de Atenas, por este motivo, também é a mais conhecida de todas as Ágoras nas pólis da Antiguidade. Nelas estavam presentes em maioria os aqueus, que se destacavam pela habilidade comercial e de mercado. (Fonte: Wikipédia)

para debate e decisão sobre os caminhos da cidade, os cidadãos atenienses. E os cidadadãos atenienses correspondiam a mais ou menos 10% da população de atenas. Nesse momento você poderia pensar; eis aí a primeira crítica de Platão. As decisões eram tomadas por pouca gente. Saiba, não é o caso! Essa não é uma crítica de Platão. Muito pelo contrário. Esse não é o problema. Compareciam a Ágora os cidadãos; e isso excluia mulheres, estrangeiros, escravos, crianças, velhos, etc., e isso dava 10%. Como a presença nas reuniões não era obrigatória, compareciam a àgora em torno de 10% dos cidadãos; o que dava mais ou menos 1% da população de atenas. Os números são mais ou menos cento e vinte mil, doze mil e mil e duzentos. A coisa se resumia a mil e duzentos. Isso numa reunião média. Claro que havia reuniões excepcionais, com mais gente ou menos gente. Como é que as coisas aconteciam? Que temas eram debatidos na Ágora? Eram debatidos na Ágora, temas propostos pelos cidadãos. Então, naturalmente, você me ouve e tira daí duas conclusões: A primeira conclusão inteligente é: só temas propostos pelos cidadãos eram debatidos na Ágora. Então o critério que separa o dentro e o fora, ou se você quiser falar de outra forma; a fronteira entre o público e o privado era uma fronteira exclusivamente marcada pela cidadania. Prerrogativa dos cidadãos de levar para a Ágora um tema que lhe interessasse. Que conclusão que você tira do que eu estou dizendo? Eu estou dizendo o seguinte: o tema que não fosse apresentado por algum cidadão, não seria debatido nunca. Fosse o tema que fosse. Percebam o critério; a fronteira do público e do privado, não era uma fronteira substantiva. Do conteúdo do tema. Você poderia pensar assim: o orçamento de atenas vai ser discutido mesmo que ninguém levante a mão para discutí-lo! Seria um tema que se imporia pelo seu conteúdo. Não. Isso não existia! Se um cidadão levantasse a mão para discutir, ótimo! Se não levantasse a mão para discutir, aquele tema não seria debatido. A fronteira entre o público e o privado era uma fronteira exclusivamente cidadã. Um pouco diferente do que acontece hoje! Porque hoje você tem, uma série de temas discutidos no Congresso Nacional, que mesmo que nehum deputado ou senador estivesse a fim de discutir, teria que discutir. Porque o tema se imporia. Ele se impõe por exigência constitucional. Tem que ser debatido. Ali não havia isso! Inversamente. São levados todos os temas levados pelos cidadãos. Por mais bizarros que eles fossem. Então? Quais eram os temas mais debatidos? O tema mais debatido na Ágora ateniense, era a organização de festas. Tem até um livrinho, cuja leitura eu recomendo vivamente -tem professor que recomenda tres, quatro livros por dia, e às vezes muito mais!- Então, mais não dá tempo! O problema é seu não é meu. Eu por exemplo já li todos eles. Isso não é uma bibliografia obrigatória. Aqui nada é obrigatório! Nem a existência é obrigatória! O livro que eu recomendo é do Renato Janine Ribeiro da coleção folha explica. A Democracia Renato - Janine Ribeiro É um lindo livro! Muito didático. Ele pega você pela mão, aliás ele escreve maravilhosamente. E o que ele conta? Ele conta que, a Ágora ateniense, lembrava demais o que hoje é um centro acadêmico. Ô! Vem aqui comigo! Não tem essa não. Um centro acadêmico. Excursão de festa! Um centro acadêmico da GV. A discussão de festas era o principal tema. País mediterrâneo, até hoje imagino que seja assim. Isso é o que mais interessa. Vamos discutir as festas. Se você tinha a idéia que na Ágora as pessoas discutiam sobre a natureza do bem, porque existe algo no lugar do nada, ou as características do... nada disso! Por que nada disso? Porque a impressão que te dá de Atenas, um livro de História, é um impressão muito equivocada. A impressão que dá o livro de história é que em Atenas só existia teatrólogos, filósofos, matemáticos, só imortais! Falta no livro de História é o Jé Mané. Gente como você e eu! Os que não ficaram famososos. Em outras palavras; você e eu. É esse que vai para a Ágora! Platão mesmo, nunca compareceu. Então é claro, você tem aí essa primeira temática. A segunda temática; só a título de exemplo é a discussão sobre a composição da delegação ateniense nos jogos olímpicos. A terceira temática é a vida privada dos atores das tragédias e comédias gregas. Uma espécie de Leão Lobo, Nelson Rubens, vamos debater sobre...viram não sei quem, de caso com fulano...e ficavam horas debatendo sobre aquilo. Não sei se você percebeu; eles discutiam o que eles queriam e o que eles queriam era o público. Eles queriam o político. Ou seja aquilo que interessavam a toda a Pólis. E o que eles não queriam discutir, eles não apresentavam e ponto final. Esse debate se dava mediante a organização de um mediador. E esse mediador, claro, tinha muitos poderes. O papel desse mediador é o mesmo papel que hoje é desempenhado pelo presidente da Câmara e pelo presidente do Senado. É o cara que fica no meio da mesa, dá a palavra para um, para outro, propõe a pauta, caça a palavra, encerra as discussões, propõe a votação, verifica quem ganhou e manda cumprir. Um enorme poder esse mediador! Então cumpre investigar, como esse mediador era escolhido. Os historiadores nos ensinam que esse mediador era escolhido por sorteio. Ora, o metódo de sorteio era extremamente indicativo do que os gregos entendiam por democracia. E o que eles entendiam por democracia não é exatamente a mesma coisa que nós entendemos por democracia. Como é que são escolhidas as autoridades de estado, contemporâneas? Nós temos fundamentalmente dois mecanismos. O concurso público que abastece a base do estado, e as eleições que abastecem a cúpula do estado. Tudo que não é isso é cargo de confiança que depende de alguém que passou por um desses dois critérios. Muito bem! Comecemos pelo concurso público. O concurso público é uma forma de seleção, de futuras autoridades de estado. E qual é o espírito do concurso público? O espírito do concurso público é a identificação dos mais capazes, mais competentes para um certo exercício. portanto, resumindo; o concurso público busca a identificação dos melhores, para entregar aos melhores o poder. Pois muito bem. Os gregos tinham um nome para isso. poder entregue aos melhores. E o nome que os gregos davam a isso é: aristoscracia. Portanto o concurso público, tal como nós o entendemos hoje, é um procedimento que no olhar dos gregos, seria um típico procedimento aristocrático. Poder entregue nas mãos dos melhores. No que tange ao sufrágio universsal -maneira pomposa de dizer o que você chama de voto, -não falo porque consagrarei a isso uma aula inteira- mas o que é fato, para os gregos, nem concurso, nem a eleição; são procedimentos democráticos. E porque? Porque para um grego, democracia é o poder entregue nas mãos de qualquer um! E se o poder é entregue nas mãos de qualquer um, nada mais normal do que o sorteio. método fácil e rápido. Qualquer um! Claro. Dos cidadãos. Porque quem não é cidadão, não tem direitos políticos, não pertence a pólis, não decide, nada. Tem estatuto de coisa. Então dentre os cidadãos, o poder deve ser entregue na mão de qualquer um. Então é só sortear. Para evitar a tirania, e o que é tirania para os gregos? Tendência a perenizar, um situação de poder, o mediador ficava tres ou quatro reuniões como mediador e aí era imediadamente substituído por outro. Sorteava-se outro, sendo ele bom, sendo ele ruim, era substituído. Esse é o quadro de realidade, que existia na época de Platão. Muito bem! Quando você vai começar a ler A Répública, o que é que você tem que ter, como primeira chave do castelo. A certeza de que Platão vai escrever A República como uma peça filosófica de crítica à realidade do seu tempo. Em outra palavras: o mais importante pensador da história, estava longe de ser um democrata. Pelo contrário, ele tinha a mais feroz ogeriza, ao que acontecia no seu tempo. Ele antecipava a decadência absoluta de Atenas, por conta do que acontecia; isso é, da maneira como as decisões eram tomadas na Ágora. Muito bem! O que é que irritava tanto Platão? Conforme eu já disse: o que irritava Platão, não era a natureza já! elitista do critério grego de cidadania. O que irritava Platão era outra coisa. Que eu passo a expor já. Venha comigo. Vamos invadir! Eu pergunto a você: nesse esquema, de propositura de um tema, oradores levantam para defender essa ou aquela posição, e a partir dos debates é proposta uma votação, e a idéia mais votada é aplicada. A pergunta que eu faço é: Nesse esquema quem é que se dá bem? Quem é que acaba levando? Quem é que acaba tendo os seus interesses e os seus desejos convertidos em realidade. Quem? Diga. Quem?

Perguntas

Na ágora grega, quem é que se dava bem?
• Aqueles que possuíam a lógica mais sólida.
• Aqueles que tinham o maior poder de persuasão nas discussões. Correta
• Aqueles que tinham mais amigos.

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