Ciência/Política

O Desejo

• Platão: Eros = desejo = falta - • Sartre náusea = A pessoa age para justificar teatralmente a identidade, que a sociedade lhe conferiu. • Gestão de crise = Quando a Shell prejudicar o meio ambiente. Aí você vai lá para dar a versão mais ensaboada possível, para não ficar muito chato. •A saúde é um negócio como qualquer outro, quem não entendeu isso, não entendeu nada. O resto é sacerdócio é cinismo. • Política é apenas a gestão de desejos em conflitos.

A definição de eros para Platão é uma equação muito simples - amor é desejo e o desejo para Platão é a falta. Não tem como encarar uma reflexão teórica e conceitual sobre política, sem levar isso em consideração. A política é a gestão de desejos em conflito e o desejo é a inclinação do homem, para o que ele não tem.Para o que lhe faz falta. Desejo pelo que não temos, pelo que não somos, pelo que não conseguimos. E portanto eis aí a equação completa. Amar é desejar, e desejar é não ter. Essa equação é muito macabra. Ou porque você ama e deseja o que não tem e você não se conforma; gasta uma energia enorme para que? Para ter o que você deseja. E aí o que acontece? Como o desejo é a falta, quando você tem o que deseja, você não deseja mais. E como o amor é o desejo você ama a cunhada. E passa a amar o que não tem. Na perspectiva platônica, pensemos em Grabiela, Juliana Paes. Quem ama Juliana Paes? O Brasil inteiro; na falta. Quem não pode amar Juliana? O marido, na presença. Presença indesejável. Difícil de amar. É bom que eu faço umas provocações que te deixam perplexos. Amor pelo trabalho. No desemprego. No desemprego você faz ficha. Curso para enganar psicólogo de RH. Leva tres minutos o curso. Você aprende a dizer eu gosto de trabalhar em equipe. Eu sou resiliente. Sabe o que é resiliência? Você retornar a uma forma original, depois de ter sido submetido a violência ou pressão. Resiliência em psicologia: é a capacidade de uma pessoa lidar com seus próprios problemas, vencer obstáculos e não ceder à pressão, seja qual for a situação. A teoria diz que resiliência é a possibilidade do indivíduo de tomar uma decisão quando tem a chance de tomar uma atitude que é correta, e ao mesmo tempo tem medo do que isso possa ocasionar. A resiliência demonstra se uma pessoa sabe ou não funcionar bem sob pressão. Lembram do brinquedo joão bobo? Quanto mais forte se batia mais rápido ele voltava ao natural. E o que se espera de vocês. Que você tenha o seu trabalho explorado e no dia seguinte volte, com frescor primaveril; para uma nova sessão de exploração. A isso chamamos resiliência. Pois muito bem; esse negócio de enganar psicólogo de RH, tem uma história que merece ser contada. Eu sempre acabo abrindo uns parênteses, e nunca acabo o que eu tinha para dizer naquele dia. Mas, isso não tem a menor importância. Isso aqui não é faculdade de medicina. Estou em casa -eu moro perto da Avenida Angélica- e toca o telefone; era um fulano, que se dizia, pró-reitor da faculdade Mackenzie. Doutor, o senhor teria interesse em ocupar o cargo de professor de ética, no curso de jornalismo? Opa! Posso ir agora se quiser. Por lá, me entendi com um japones, passei a régua, perguntei começo quando? Já. O quanto antes. Só que para contratação, temos uma formalidade que é conversar com a psicóloga. Eu disse: há um risco. Não é só um protocolo. Para não ficar chato; diga qualquer coisa e está tudo certo. Na hora aprazada, eu compareci. Era uma jovem, de avental branco, óculos e uma postura de quem é aquilo, que disseram que ela é. Entende isso? Alguma dia entenderá. É o que Sartre chama de náusea. Eu chamo de gente que leva a sério. A pessoa começa a agir para justificar teatralmente a identidade, que a sociedade lhe conferiu. O garçom que é assim. Aliás esse é o exemplo que Sarte dá na Náusea. O Garçom do Café. Disseram que ele é garçom e ele faz de tal maneira a honrar o título. Então ele esforça, ele exagera, ele era serviçal; enfim ele era um mal ator de garçom, fora do teatro. A psicóloga era assim. convencida que era psicóloga de RH, da universidade Mackenzie. Garantiram para ela e ela então se convenceu. E para que não houvesse dúvidas ela representava de maneira impecável o papel. Eu me sentei, e ela percebendo que eu estva ali, dissimulou por alguns segundos, uma ocupação exagerada. Entederam? E aí então, ela resolveu me dar atenção. O senhor é..., falei; Clóvis. Assim me chamam. -O senhor veio para que vaga? -Professor de ética. -Bem. Eu vou pedir para que responda a algumas perguntas, procurando ser o mais sincero possível. (Riso). É de uma idiotice sem precedentes. Imagine se fosse o contrário! Seja o mais cínico possível. E ela perguntou: o que o levou a procurar uma vaga na nossa universidade? Não. Pergunta sem fundamento. Eu estava em casa, tocou o telefone; era um japonês. Que estava me convidando para dar aula numa vaga, que já tem aí. Então eu aceitei. Mas ele falou que deveria vim falar com você, ficava chato se eu não viesse..., ela pediu para ser sincero, não é! -O que o levou a aceitar prontamente a nossa proposta? Eu falei: A proximidade. Eu moro a uma quadra e meia. E isso para fechar o orçamento, não é muito não; mas quebra o meu galho. Ela olhou para mim, incrédula. E fez então a terceira pergunta: se o senhor fosse um bicho, que bicho gostaria de ser? E eu claro respondi: uma girafa. -E porque uma girafa? -Porque passa a maior parte do tempo sem ter que conversar com ninguém. Só fala com alguém quando quer. Destesto trabalhar em equipe! Gosto de fazer tudo sozinho. Se não não for para fazer tudo sozinho, prefiro não fazer. A mulher disse: desse jeito não dá. Claro, ela tinha o gabarito! e eu estava com nota zero. O japonês falou que era só um protocolo. E você disse para eu ser sincero. Se você quiser a gente começa de novo. O bicho formiga. Porque você pode pisar em cima de mim, com a maior facilidade. Fui contratado. Mas eu nunca fiz chamada. E como se não bastasse nunca ter feito chamada, levei o diário para casa, para preencher com p e perdi o diário na padaria. O diário foi encontrado por um aluno, que devolveu para a diretoria. A psicóloga é que tinha razão. Não é para mim. Claro! Se o desejo é pelo que faz falta, se somos todos desejantes, nós temos que fazer um inferência imediata, dessa dupla assertiva. O que nos caracteriza não é a satisfação; o que nos caracteriza é a insatisfação. Ou se você preferir: a busca da satisfação. E portanto, obviamente, a busca da satisfação, é insatisfeita. No jargão de RH, sair da zona de conforto. Por isso você busca a meta. E o que é a meta? Diz para mim! A meta é o que a empresa já conseguiu? Não. Portanto é objeto dos seus desejos. E o que o RH espera de mim? Sangue no olho e faca nos dentes. Energia para ir buscar a meta. A isso Platão chama de eros. O que nos caracteriza não é a satisfação. Mas a busca. Portanto uma insatisfação desejante. Então, qual é a matéria prima da política? A gestão da satisfação? Jamais! A política é a gestão do desejo. E sendo a gestão do desejo é a gestão da busca da redução ininterrupta de uma certa falta. Porque se a política fosse, a gestão da satisfação, nós então pederíamos conquistar, uma solução de convivência boa de uma vez por todas. Pare para pensar: imaginemos a possibilidade de -desejantes- todos nós alcançamos o que queremos. A partir do momento que alcançamos o que queremos, nós nos tornaríamos satisfeitos e nesse momento não buscaríamos mais nada. E não buscando mais nada a política seria a gestão, da satisfação. Portanto a conservação de um status quo de satisfação. Nesse caso nós teríamos uma solução de convivência definitiva. O problema é, que isso não acontece. Todo desejo satisfeito é um desejo extinto. E para o seu lugar; um novo desejo. A lógica é a do saco sem fundo. Você quer, faz de tudo; quando alcança não quer mais, e começa tudo de novo. Você percebe, claro que está permanentemente, numa insatisfação desejante, a política tem que dar conta, não de um movimento de paz satisfeita, mas de guerra insatisfeita, desejante. Portanto profundamente dinâmica.

Pergunta 1 de 1

• Se política é a gestão de desejos, logo é:
• A gestão da satisfação.
• A gestão da insatisfação.Correta
• A gestão dos afetos.

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Desejo como motor da história.

• Que tipo de interesse um discurso esconde? • produto comprado é um produto morto - o que se estimula é a insatisfação de parte a parte. • Se a Shell prejudicar o meio ambiente. Aí você vai lá para dar a versão mais ensaboada possível. • Espinosa na Ética: Você tem uma espécie de essência, energia para viver, segundo a segundo. = potência de agir, lógica do conatus.

A rigor nossa índole desejante, encontra plena tradução, em todas as nossas formas mais consagradas de civilização. No caso da sociedade capitalista, estando você do lado de cá ou do lado de lá do balcão, tudo contribui para a erotização da vida. Quer dizer: a consolidação do desejo como motor da história. Do lado da produção, quando você bate uma meta, o que há é uma nova meta. E assim indefinidamente. Do lado do consumo você nunca terá visto uma publicidade que estimula você, ao deleite eterno com o objeto consumido. Jamais. Do lado do consumo, Do lado do consumo, da mesma forma que do lado da produção a meta conquistada é a meta extinta, do lado do consumo, o produto comprado é um produto morto. Em outras palavras o que se estimula é a insatisfação de parte a parte. E essa insatisfação consagrada pela sociedade capitalista, acaba tendo consequências imediatas, num certo tipo de filosofia moral, em que todo tipo de contentamento, é olhado de forma negativa e condenatória. Afinal de contas, se você está de boa, ou você é ocioso e improdutivo, ou você não tem projeto de vida, ou você não é ambicioso, toda satisfação e todo contentamento é confundido com uma destreza de vida lasseada e sem sonhos.

Fica claro então, que sendo a política a gestão de desejos; desejos que buscam a satisfação de faltas; faltas que serão preenchidas por mundos escassos, a relação entre as pessoas é necessariamente de conflitos. E a política é a gestão do conflito entre entes desejantes. Claro, eu preciso chamar sua atenção, a partir do momento que decido tomar esse segundo degrau como premissa, nós podemos usar as nossas reflexões à guisa de metódos, e nós podemos nos deparar então com os discursos, que por exemplo encontramos nos jornais. E poderemos sempre nos fazer uma pergunta, metodológica. Que tipo de interesse esse discurso esconde? A quem interessa que as coisas sejam como elas são. E esse tipo de pergunta você pode fazer, a qualquer movimento, a qualquer conduta e a qualquer ação de alguém que interage no mundo social. É claro, que no caso dos profissionais da política, esse tipo de reflexão é particularmente fértil. E por que? Porque o trabalho político por excelência, consiste em negar o interesse próprio do representante, esconde-lo, ocultá-lo e maquiá-lo, em proveito do interesse do representado. Dando assim, fundamento ao princípio da representação. Em outras palavras:

Ao invés de dizer: eu quero me candidatar para eu me eleger, para eu decidir, porque eu me alegro, porque eu gosto de exercer o poder, porque eu quero mandar e mandando beneficiar os meus amigos, contar com o apreço dos meus amigos, com isso colher uma adulação e uma bajulação, correspondentes. Eu tenho certeza de que você nunca viu uma campanha de gente dizendo isso. O que você encontra nos discursos é: o Brasil, o povo, a nação. A verdadeira motivação de todo profissional da política é sempre o outro. Essa é a assumida. Existe portanto em todo trabalho político, aquilo que na filosofia chamamos de cinismo. Quer dizer: o ocultamento das verdadeiras motivações do agente, que são substituídas por outras consideradas mais aceitáveis, no teatro da vida social. Que fique claro, que o cinismo não é exclusividade do profissional da política.O cinismo está por toda a parte. E por que? Porque independentemente da atividade que você for exercer, a exigência social é que você tenha uma motivação, que transcenda, o seu próprio desejo. E nós poderíamos começar com o próprio professor. Eu não vou chegar aqui e dizer para vocês: o que eu quero mesmo é me dar bem! Entrei na USP e como professor da USP eu monto um esquema de consultoria e encho a lata de ganhar dinheiro. O fato de não ganhar muito na USP, não tem muita importância. Depois eu passo a régua fora de lá. E ainda sou aplaudido, porque as pessoas supõe, claro, equivocadamente, que quem dá aula lá, é muito inteligente, muito capaz. Já imaginou um curso que começa assim.

Então o que eu teria tendência a dizer no lugar disso. Eu diria que nasci para ser professor, que a minha única preocupação é com o repertório do meu aluno. Que enquanto meu aluno não pensar melhor eu não durmo direito. Nem consigo mais formular; porque me dá um pouco de asco. Na verdade é que é se vim aqui hoje, é porque fica chato dizer que dou aula aqui; sem nunca vim. Então toda quinta feira eu venho e com isso calo a boca daqueles que poderiam dizer porventura, que eu nunca apareço aqui. Faço quetão de cumprimentar todo mundo, para que vejam que eu estou aqui, e ainda comprei uma caixa de som; que é para o apartamento inteiro me ouvir. Como ninguém não dá muita aula, só eu grito e todo mundo saberá, só para isso. Uma simulaçao, uma fraude. O que eu quero é me dar bem, passar a régua em consultorias milionárias. Entenderam! Então não é só o José Dirceu, a Dilma, Alckmin, Kassab; que são asquerosos, quem você imaginar! E você? Você também fará o seu cinismo, é óbvio! Já está na faculdade aprendendo a se virar. Valores, transparência, responsabilidade socio ambiental, um mundo melhor, preocupação com o planeta, e mais um milhão de pataquadas, que você vai aprender. Café da manhã com o chefe, caixa de sugestão e um monte de coisas. Tudo isso para esconder o que? Que você é pago para mentir. Porque se for para dizer a verdade, o presidente mesmo vai lá e diz. Não vai perder essa oportunidade! Você só vai ser chamado quando a Shell prejudicar o meio ambiente. Aí você vai lá para dar a versão mais ensaboada possível, para não ficar muito chato. A isso chamam gestão de crise. Você é pago para que? Você é pago para que todos acreditem que fazem parte de uma família. Você é pago para esconder a luta de classe! Você é pago para esconder a exploração do trabalhador! Você é pago para fazer acreditar, que se o trabalhador toma café da manhã com o chefe é porque eles são a mesma coisa! Lado a lado. Irmãos! Irmãos uma ova! Um é dono do capital, rico. O outro não tem aonde cair morto! Graças ao seu trabalho, você convence o coitado, que é super legal estar aonde ele está. Viu só! Não é só o Alckmin o cínico, não sou eu, é todo mundo. E o médico? Nossa! O médico usa aquela coisa de salvar a vida, aí você paga o seu plano de saúde mas, se você tiver numa situação tal, que não tem muita chance, eu não vou deixar você usar o aparelho da tomografia cerebral, porque isso aumenta a chance e então não paga o aparelho então, dane-se. Afinal a saúde é um negócio como qualquer outro, quem não entendeu isso, não entendeu nada. O resto é sacerdócio é cinismo. Então é claro, esse trabalho de investigação das verdadeiras motivações, é o que por exemplo Nietzsche vai chamar de genealogia. Esse trabalho convertido em método, permitirá a você; uma compreensão mais acurada de porque: pessoas que disseram uma coisa, acabam mudando de idéia rápido. Você entenderá muito melhor as notícias do jornal. Se você partir da premissa que a política é apenas a gestão de desejos em conflitos - esse é o nosso segundo degrau.

Energia para viver - Spinoza

Ora, supondo que você tem uma certa quantidade de energia para viver; e esssa energia você vai disponibilizar para buscar coisas que você supõe possam te fazer bem, objeto de desejo, nós nos encontramos numa situação muito bem explicada por Espinosa na parte tres da Ética.Você tem uma espécie de essência e essa essência é a energia que você tem para viver, segundo a segundo. Essa essência Espinosa chama também potência de agir. Só que acontece uma coisa muito simples: você não vive blindado. Você vive no mundo. E portanto viver é relacionar-se com o mundo. E quem diz: relacionar-se com o mundo diz: afetar o mundo e ser afetado pelo mundo. Transformar o mundo e ser transformado por ele, de tal maneira, que o mundo me transforma segundo a segundo, e eu transformo o mundo segundo a segundo. O mundo não seria o que é; se eu não fosse. E eu não seria o que sou; se o mundo não fosse. Estamos em relação com o mundo, ininterruptamente. Muito bem! Essa energia que você usa para viver, você pode investigar em você. Quando você acorda, acorda borocoxó. Assim é o meu caso. Hoje acordei cinco e pouco. Quando eu acordo a minha potência de agir é muito próxima do zero. Eu levo muito tempo para levantar da cama. Eu vou até o banheiro, melhoro um pouco, faço isso melhoro um pouco, tomo um banho, tomo um café. Tem gente que acorda cantando. É detestável. São pessoas impossíveis de conviver. Saio de casa cedo, gosto de onde eu moro, passei pelo estádio do Pacaembú, não tinha uma nuvem no céu, não peguei muito trânsito, cheguei aqui sete horas, começaram a chegar os alunos, comecei a dar aula. Tem uma coisa: eu adoro me ouvir. É impressionante! Como eu entendo, quando eu explico. Então, às dez horas da manhã, eu estava gritando em cima da mesa. Você então perguntará: o que aconteceu das cinco até as dez da manhã. A minha potência de agir só aumentou. E quando a potência de agir aumenta, Espinosa dá a isso um nome. Assédio de alegria. Que é passar a um estado mais potente e mais perfeito do próprio ser. E porque passagem. Passagem porque transformação. E porque transformação? Porque o mundo te transforma. E alegria, não é um estado. É um assédio. Eu estou alegre. Uma contradição. Tres palavras; quatro erros. Alegria é afeto. Passei de um estado a para um estado b e b maior do que a. E porque perfeição? Porque eu sou essencialmente a minha potência, se eu me alegro -quando você encontra alguém com a potência elevada- você na verdade está encontrando mais desse alguém, naquele corpo. E um dia dando essa aula, em escola de publicidade, alguém saiu dali levando um slogan pronto para um cursinho. E o slogan permanece até hoje. Mais de você em você mesmo.Definição Espinosana de alegria. Porque quando você me pega com a potência de agir em alta, você tem num mesmo corpo mais densidade, mais Clóvis no mesmo lugar. A tristeza é a rarefação da nossa essência, naquele espaço de corpo.Portanto, o que é que nós passamos o nosso tempo fazendo? Passamos o nosso tempo procurando encontrar mundos que; supomos nos alegrarão e fugir de mundo que; supomos nos entristecerão. Essa é lógica que Espinosa denomina lógica do conatus busca pela alegria, escape da tristeza; em nome da própria potência.

Pergunta 1 de 1

• Espinosa denomina como a 'lógica de conatus':
• A busca da pelo poder em prol da própria potência de agir.
• A busca da pela alegria e o fim da miséria em prol da potência de agir coletiva.
• A busca da pela alegria e o escape da tristeza em prol da própria potência de agir. Correta

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Posição Social - Legitimidade do porta-vozes

tags: alma soberana - governar a si mesmo

Muito bem! E o que tem isso a ver com a política? É que Platão estabelece um paralelo que nos interessa de perto. E que paralelo é esse? Platão estabelece um paralelo entre o homem e a cidade. Esse paralelo é conhecidíssimo. Não tem como abrir mão dele, num curso dessa natureza. Da mesma maneira que o homem pode ser governante da própria vida. Ele será governante da própria vida, quando a alma soberana, definir os caminhos da nossa vida privada. Só pode pretender governar a cidade, quem consegue governar a si mesmo. Fica mais fácil perceber agora porque, quem tem que governar é o filósofo. Mas fica também fácil perceber; porque o esquema da Ágora é inaceitável. É inaceitável por que? Porque o melhor argumento acaba sendo o argumento para seduzir o maior número. E Platão está convencido de que o maior número, isto é: a maioria das pessoas; é chucra, burra, de alma pequena, de intelecto apequenado, gente que não adianta. Então veja só que paradoxo: a cidade é governada segundo argumentos, que são propostos para convencer os mais idiotas. Então essa cidade fracassará. Necessariamente fracassará. Porque para convencer os mais idiotas é necessário enunciar o argumento mais idiota possível! E o argumento mais idiota possível, uma vez vitorioso se converterá em lei. Então somos governados por imbecis.É claro que quem se deixa governar por imbecis, evidentemente está assinando o naufrágio da própia cidade. Ora, eu não preciso te dizer que a tese de Platão é muito mais elitista, do que a democracia ateniense. Mas não preciso dizer também que essa tese está presente também no mercado ideológico. Ela não é uma erudição. Ela não é uma veleidade histórica! Ela não é uma curiosidade sobre as origens. Não. Esse argumento está presente em todo lugar. Primeiro é impossível você não comparar a ágora a um programa de auditório. Tipo o Faustão. E ali você percebe que bastam duas ou tres tiradas mais assim; emotivas e já está todo mundo emocionado e fora de si. Ali você percebe, com as vídeos cacetadas, que se o japinha se estaboca lá de cima, que todo mundo é convidado a rir; ali você percebe que podem ser enunciadas propostas contraditórias e as duas serão aplaudidas. Ali você percebe que a preocupação com a verdade do que é dito é nula. De fato o que Platão diz, não é completamente absurdo! Quando o presidente Lula foi eleito; isso provocou um certo alvoroço nas elites. E você ouvia aos quatro cantos, reflexões como: ah! Quando ele for aos Estados Unidos, que língua ele vai falar se nem português ele fala direito. Como é que nós temos um presidente que não tem curso superior. E aí a comparação com FHC ficava ainda mais gritante. É claro que esses argumentos pouco a pouco foram diminuíndo, porque quando o Lula virou "o cara" ele fez todo mundo engolir o português e ainda virou figura exponencial da geopolítica mundial, sem curso superior nehum. O argumento também vai caindo por terra, porque todos os outros presidentes da república tinham curso superior, e o Brasil sempre foi um paisinho de nada e se deixou de ser, foi justamente nas mãos de quem não tinha curso superior. Então é claro, aqui não se trata de defender um argumento ou outro, mas de mostrar a complexidade em que nos encontramos. Eu aqui, subo um degrau na nossa análise. Por que no final das contas o elitismo de Platão: quem tem que mandar é o filósofo. Quem tem que mandar é quem pensa. Ele acaba encontrando no mundo contemporâneo, um correspondente que é a legitimidade institucional do porta-voz. E o que isso quer dizer? Isso quer dizer; que o que a gente fala só tem valor, a partir do reconhecimento da posição social que ocupamos, enquanto porta-vozes. Em outras palavras: o valor do que dizemos tem menos a ver com o que dizemos e mais a ver, eu diria, com a legitimidade da posição social que ocupamos. Eu poderia dar muitos exemplos. Mas vou dar três. Eu me lembro de um debate para prefeito, a campanha vencida por Marta Suplicy. Esse debate é absolutamente memorável e irrepetível. Nesse debate estavam presentes: Enéas, Color, Marin, Alckimin, Marta, Maluf, José de Abreu e outros. E num determinado momento do debate, a discussão versava sobre transportes. E um candidato nanico: José de Abreu, propôs a legalização das peruas. E o que aconteceu: o auditório riu.E qual é a impressão que você tem? A impressão que você tem é que a risada é uma reprovação à proposta. Mas não é verdade! A risada é uma denúncia da ilegitimidade do porta-voz. Porque quando a Marta foi perguntada, ela propôs a mesma coisa, com as mesmas palavras. E ninguém riu. Deixando claro que não é a proposta que é risível. É quem enuncia. Segundo exemplo: a uns dois anos, comemorou-se pelo mundo o centenário da psicanálise. Aqui no Brasil a Hebraica, sediou um série de encontros, entre eles uma aula magna, da nossa maio pensadora, Marilena Chauí sobre Freud, eu que fui aluno da Marilena arrumei um jeito de assistir. Fui com aquela pulga atrás da orelha; de quem achava estranho que ela fosse falar sobre Freud. Ela entrou; o auditório coalhado de psicanalistas, -evento chancelado pela sociedade brasileira de psicanálise- e ela disse: eu vinha vindo para cá; aí eu já tinha entendido tudo. E eu vi que tenho nada para falar sobre Freud. Então eu vou falar de Spinoza. Eu não sei se você percebe; mas se outra pessoa que diz: ei! Você aí! Veio me ouvir de falar de tal coisa e eu vou falar de outra. Isso poderia suscitar uma reação violenta da platéia. Mas por se tratar de alguém com a legitimidade que tem, ninguém saiu. E quem tinha dois neurônio entendeu; que ao falar de Spinoza, ela estava oferecendo todos os fundametos filosóficos da psicanálise. Terceiro exemplo: tão logo eu decidi ser professor universitário, um dos lugares que me deixaram dar aulas foi a universidade de Brás Cubas em Mogi das Cruzes. Nós estamos aí, em mil novecentos e noventa e um. Eu era diferente nessa época. Eu era muito melhor professor do que eu sou, nessa época. Essa universidade me fez piorar muito. E uma das razões que eu piorei muito aqui, é o aluno! Você deve estar perplexo com a minha afirmação. Mas é que você só vira professor, dando aula para aluno ruim. Por isso que todo professor que só deu aula aqui, é horroso! Por que você diz o que te dá na veneta, e o problema é do aluno. Em outro lugar, não funciona assim. Se o cara não te entendeu ele levanta a mão e diz: se vira meu, eu não entendi. Então você mastiga, mastiga, mastiga e aprender a mastigar, é aprender a ser um bom professor. Necessidade que aqui não há. Eu sei que eu estava na universidade, nessa época eu também arrumei um emprego no estado de são paulo. Eu sai do Estadão e pegava o trem para Mogi. Era edificante! Eu ia com os alunos. Nós íamos cantando o hino de Mogi. Você conhece o hino de Mogi? Não! Ah! Mas é um hino consagrado. É assim: Nó íamos batendo com a mão do lado de fora do trem.
Eu fui prestar vestibular
Eu me ferrei eu me ....
Eu sou refugo da fuvest
Eu sou aluno de Mogi
Mas em Mogi eu aprendi
A viver em glórias mil
E agora eu quero que a fuvest
Vá para a .... .... ....! -E aí vem o refrão. Era a apoteose!
Mogi! Mogi! A terra do caqui.
Se existe o .. do mundo; o .. do mundo é aqui!
Então claro! Eu que tinha feito doutorado na França, eu estava num trem velho; sem portas e sem janelas, gritando sobre a terra do caqui. Para você ver; como os momentos felizes não tem nada a ver, com o que as pessoas costumam achar! Eu ainda guardo com saudades o carinho com que o alunos me tratavam. Porque era gente carente mesmo. Isso é só um aperitivo! Eu estava passeando pelos corredores da universidade e eu vi um cartaz! E no cartaz estava escrito assim: primeiro encontro de professores de jornalismo, na Universidade Federal da Bahia. E uma das mesas era ética. E eu era professor ali de ética no jornalismo. Então eu fui falar com o coordenador do curso. Que também era meu chefe no estadão. Francisco Ornelas. E eu disse: Chico, arruma para eu ir nesse evento! Ele respondeu: eu não tenho...é o diretor; vai lá! Eu fui. E falei: eu queria que você me arrumasse um jeito de eu ir até Salvador participar desse evento. -Como assim? Sei lá. Pagar minha passagem, e um dia de estadia. Aí o fulano riu e perguntou: o que você quer mais? Quer acompanhante? Ou você quer uma verba para se divertir lá? Aí eu falei: não precisa pagar a passagem. Paga só uma noite. Ele disse não. Falei: Pelo menos não me desconta aqui. =Não! -Bom então ......eu vou de qualquer jeito! Então eu peguei o busungas e fui até Salvador. Me apresentei e fui para o anfiteatro da ética. E haveria uma palestra de abertura que seria proferida pelo professor Bernardo Cusisk? Dava aulas aqui no CJE. A palestra foi muito boa! Eu gostei muito! Aí quando abriram para perguntas eu fui o primeiro a levantar a mão. -Nome e instituição de onde vem? -Clóvis de Barros Filho UBC. -Nunca ouvi falar de você e você vem de um lugar! -É que na verdade eu acho que a ética não deveria ser uma disciplina do curso. E sabe o que aconteceu nesse momento? Cortaram a eletricidade do microfone. Eu continuei falando, mas ninguém me ouvia. E passaram para outro! E eu que tinha feito doutorado com Bordieux sabia exatamente o que estava acontecendo. Sabia que eu não valia nada! E que portanto eu não era porta-voz legítimo de uma proposta erética. Por isso cortaram o meu microfone. Eu estava desautorizado a falar. Peguei meu busungas de volta e essa história morreu, até dois mil e quatro; quando vi um cartaz: décimo quarto encontro de professores de jornalismo. Lembrei com saudade. Dois dias depois recebi uma carta do evento. Você não gostaria de abrir com uma conferência, o grupo de ética? Era um convite. Eu pergunto a você? Aonde eu estava dando aula? No CJE, no lugar do Bernardo C... Então eu aceitei, era em Campo Grande, mesa, anfiteatro grande, mesma coisa de quatorze anos atrás. E eu não falei enem obrigado, aquela coisa...agradecer, coisa nenhuma! Eu peguei e falei: eu estava fazendo um comentário, há quatorze anos e cortaram a minha eletricidade! Então eu vou continuar da onde eu parei! A ética não é disciplina. É tema transdisciplinar. Então o professor de fotojornalismo tem que falar de ética, o professor de jornalismo informativo tem que falar de ética, o professor de jornalismo de revista tem que falar de ética... E uma disciplina para isso é um absurdo! Você tem que chamar alguém que curiosamente não é jornalista, alguém de fora. E o que nós precisamos é que a ética esteja presente em tudas as diciplinas, trabalhada por quem é do ramo. Porque ética é prática. Por isso eu defendo a existência de um departamento de ética e não de uma disciplina isolada para isso. Com a presença do conselho nacional de educação, a minha proposta foi digitada, transformada em proposta, e no final; só não foi grade curricular de curso de comunicação, porque ela perdeu no congresso nacional. Aí você pergunta: o que mudou? A proposta era a mesma! Eu era muito melhor quatorze anos antes. Eu teria explicado muito melhor quatorze anos antes. Só que antes eles cortaram o microfone. Quatorze anos depois, quase virou lei! O que mudou é a legitimidade do porta-voz. A legitimidade do porta-voz, nada tem a ver com o que é dito. A legitimidade do porta-voz, tem a ver com o reconhecimento da posição social ocupada por quem fala. E o último exemplo que eu te dou, é de um evento que eu tenho participado regularmente. Evento chamado HSMexpomanage. E nesse último de novembro; aconteceu uma coisa muito curiosa! O que aconteceu é que eu dei palestras em dois dias; e no segundo dia eu fui aplaudido antes de começar a falar. E ser aplaudido antes de começar a falar é muito explicativo do que eu estou tentando te ensinar. O aplauso não é por aquilo que eu vá dizer: quando você aplaude antes, o que você está dizendo é que o merecedor do aplauso é a história, é a trajetória, a posição ocupada e não o que você eventualmente venha a dizer. Portanto, eu espero que você tenha entendido: que o valor social dos discursos é inseparável da legitimidade de quem enuncia. Isso é fortemente relevante na nossa discussão.

Pergunta 1 de 1

Sobre a legitimidade do discurso, podemos afirmar que:
• O valor social dos discursos não depende da posição social de quem o enuncia.
• A legitimidade do porta-voz tem a ver com o que é dito.
• Improváveis
• O valor social dos discursos é indissociável à posição social de quem enuncia. Correta

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