Ciência/Política

A vida contigente

• A vida é contingente -• Aristófanes, o mito do andrógeno - • Transparência - • Maioria dos capitais, só tem valor na escassez e na raridade - • Hobbes no Leviatã. "Se o homem é por natureza desejante, a cidade é por natureza, uma guerra." • Indústria petrolífera.

Nesse momento, em um curso de relações públicas, para dar um exemplo mais próximo da preocupação de vocês, quem diz que a vida é contingente, diz que ela não está pronta. Diferentemente de um gato; cuja vida de gato já está definida pelo seu instinto. A sua vida por falta e pobreza de instinto vai sendo definida ao longo do processo. É claro que se tem de escolher e identificar a alternativa de maior valor. Portanto existe, invariavelmente, no estudo da política; uma preocupação sistemática, com as escolhas. Porque, se você tem uma certa quantidade de dinheiro, essa quantidade de dinheiro é limitada sempre, e você terá no seu país, um milhão de coisas para fazer com aquele dinheiro. E portanto é claro, você terá que escolher. Existe uma disciplina inteira consagrada a isso, denominada políticas públicas. Ou seja, você aprende, dentro de uma perspectiva de racionalidade é possível discutir, como empregar um certo dinheiro, maximizando os seus efeitos dentro de um certo contexto de carência, que é mais ou menos generalizado. Portanto existe por trás da atividade política, necessariamente uma atividade de escolha. Isto em detrimento daquilo. Normalmente quando a gente se refere aos gestores da coisa pública, é muito comum ouvir: não estão fazendo nada. Nunca fazem nada. Não é verdade. Não fazem aquilo que nós gostaríamos que fizessem. Mas é certo que estão fazendo alguma coisa, seja lá o administrador que for. Quem for escolher a vida, vai identificar a alternativa de maior valor. (Definição do Aurélio: escolher é identificar a alternativa de maior valor.) É claro que para escolher a alternativa de maior valor, deve-se previamente atribuir valor a todas as alternativas. Muito bem, na hora de viver, a atribuição de valor, as várias vidas que passam pela sua cabeça é uma atividade problemática. Como é que fazemos normalmente para atribuir valor. Vamos partir de um exemplo que conhecemos todos. Um professor precisa atribuir valor ao aluno para aprová-lo ou não. Ele aplica uma prova, corrige a prova e conclui que o aluno vale oito. Então é claro, que existe aí uma alquimia. Vem pronta e volta oito. Vocês nunca pensaram em identificar que transformação esquisita é essa! De tres horas de redação em oito. Ainda que qundo é oito, vá lá. Mas pode ser tres e meio! Naturalmente seria interessante perguntar: qual é o procedimento do professor? O procedimento do professor é comparar a prova do aluno com alguma referência. A referência, numa prova de múltipla escolha, se chama gabarito. Mesmo que o professor dê provas dissertativas, e mesmo que ele não tenha escrito a resposta certa, ele sempre tem na cabeça, aquilo que ele acha que deveria estar ali. Quando está ali, ele sobe a nota e quando não está ele abaixa a nota. Então você percebeu, que o valor, decorreu de uma comparação. De uma comparação entre o mundo e a sua referência. Para o valor do aluno o problema está resolvido com o gabarito. O problema é que temos que continuar vivendo e enfrentar as nossas escolhas. Certamente alguém vai perguntar: cadê o gabarito da vida? Porque se tivermos o gabarito da vida, nossos problemas acabaram. Nós pensamos na vida, pensamos em várias alternativas e diante de uma referência existencial, vemos a vida que mais vale a pena viver; a de maior valor. Aonde é que as dificuldades começam? As dificuldades começam porque diferentemente da prova do professor, que só tem uma resposta certa, o resto da vida do homem tem infinitos gabaritos. Tem infinitas respostas certas. E o que é pior! Contraditórias entre si. Excludentes entre si. Então como eu faço para comparar? Não dá para comparar! A vida não é uma prova de matemática. Essa constatação é perturbadora porque você é obrigado a considerar que não existe uma grade de valores que se imponha universalmente. A grade fica a mercê das circunstâncias que você vive. [O antropólogo, sociólogo e filósofo francês] Edgar Morin chama de complexidade. A complexidade está no fato de a “disciplina” ser valor e o “repouso” ser valor também. E um desmente o outro. E no seu livro Ética vai chamar de Valores complexos. São contraditórios entre si. No curso de Ética vamos esmiuçar isso. A disciplina no exército é valor; e você levanta as 5:00 da manhã. O repouso é valor do asilo; e você não levanta. Vou pegar valores da moda. Valores que gente como vocês repetem aí ad nauseam. Transparência. Transparência é fazer de tal maneira que todo mundo saiba de tudo sobre todos, o tempo inteiro em qualquer lugar. Essa definição você encontra em James Grunig quando fala da casa de vidro. Nessa entrevista o filósofo Clóvis de Barros Filho fala sobre Valor. Só que é claro quando a lady Dy morre perseguida por um paparazzi o mundo inteiro fica indignado. Afinal de contas não se respeitou a privacidade. E o execrável paparazzi, nada mais é do que; um paladino da transparência. Porque a privacidade é um dos valores contrários. E não é o único! Eu poderia de dar um mais encafifante. Vamos imaginar que você resolva jogar cartas, regido pelo princípio da transparência. Quer saber como são minhas cartas? Estão aqui. Uma coisa que eu sou é transparente. Ora! Você acabou com o jogo. Porque a condição do jogo, a condição do sucesso da estratégia do jogo é o sigilo. E o sigilo, obviamente é o contrário da transparência.E o mercado? É um jogo como outro qualquer. ...Você entra na empresa e o que encontra? Um banner. E o que tem no banner? Valores! Não foram vocês que decidiram. Claro. Vocês não decidem nada. Vocês só fazem a arte. E o valor qual é? Transparência. Isso significa o que? Vamos imaginar que a sua empresa tenha um concorrente. Quem sabe coca e pepsi. E você vai lançar um produto que vai acabar com seu concorrente em junho. Pelo banner você vai lá no concorrente e diz: você já era. Porque eu vou lançar isso assim, assim, assim e como você não tem; vem todo mundo para mim. Vai dar certo? Não. Não vai. A estratégia pressupõe o sigilo. A transparência no banner é uma fraude. Uma cosmética. Mais um engano. Outro dia a gente pega os outros. Para chacotear! No fim do curso sobrará o que? A certeza de uma escolha equivocada no vestibular. Não! Não! Brincadeirinha.A certeza de novas bases para o exercício profissional. A complexidade dos valores tem uma consequência política evidente. E porque? Porque na hora de decidir você tem que escolher; para onde vai o dinheiro dos royalties do petróleo? No caso da indústria petrolífera, os royalties são a compensação financeira dada antecipadamente pelas empresas que fazem a exploração por eventuais catástrofes e danos ambientais que possam produzir. Esse dinheiro ele vai para os estados aonde estão os bolsões petrolíferos, ou esse dinheiro é distribuído entre todos os estados da união? Alguém levanta e diz: o critério tem que ser geográfico. Se os danos são aqui, nada mais normal que o dinheiro fique aqui. Outro diz: o petróleo é todo ele do Brasil. portanto nada mais normal que seja distribuido entre os estados da união. Do mesmo jeito que transparência é valor e sigilo é valor, a proximidade geográfica é valor. Também o espírito federativo dos recursos naturais é valor. E para eu escolher tenho que me ver, com a necessidade de atribuir valores; a duas decisões contraditórias; a partir de dois gabaritos também contraditórios. Porque se houvesse uma só verdade, a resposta já estaria dada por todos. Rapidamente! A mesma resposta. Mas é porque não há uma só verdade, o que há é complexidade, e o que você tem é a necessidade de escolher sem referência. Eu vou subir um degrau. Qual era mesmo o primeiro degrau? Só faz sentido pensar em política, enquanto possibilidade de deliberação livre autônoma e soberana, sobre formas de convivência e organização da convivência, que não estão inexoravelmente definidos por nenhuma instância a priori.

Pergunta 1 de 1

O maior valor incompatível com a estratégia é:
• A ética
• O sigilo
• A transparência Correta
• A cidadania

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Segundo Degrau

• A política é a gestão de desejos contraditórios • A maioria dos capitais, só tem valor na escassez • Aristófanes que Platão considera uma pataquada? O mito do andrógeno. Todo romantismo é Aristofânico

Fiquem tranquilos. Serão apenas dois na aula de hoje. O fato de eu ter dito; que na natureza tudo é necessariamente do jeito que é e na ética, na política e porque não dizer; na cultura, o que há é escolha e deliberação livre; isso não significa que na política, nada tem a ver com a nossa natureza. Pelo contrário, afinal de contas, aqueles que vão decidir; aqueles que vão participar de toda e qualquer dicisão, aqueles que vão levantar a mão; são entes com corpo, corpo que sente e antes de mais nada; deseja. E é exatamente esse o nosso segundo degrau. A política é a gestão de desejos contraditórios. Desejos que no espaço público se materializam em interesses; desejos que no espaço público, se materializam, em estratégias, em cartas de intenção, em propostas e programas, em ideologias inteiras, mas desejos antes de nais nada. E é claro; se a política é a tentativa permanente de viabilizar uma convivência entre seres desejantes, a política só é problemática, porque a ídole desejante do homem, esbarra num mundo escasso. Porque se houvesse mundo para todos os desejos, não haveria muita preocupação em administrar; desejos conflitantes. Mas é exatamente porque não há mundo para todo mundo, porque não há troféu para todo mundo, porque não há consagração para todo mundo, porque não há capital simbólico para todo mundo; até porque a grande maioria dos capitais, só tem valor na escassez e na raridade mesmo é que o fato de sermos desejantes todos; implica problema. E aqui eu pediria que você anotasse a famosa frase de Hobbes no Leviatã. E o que diz Hobbes: "se o homem é por natureza desejante, a cidade; se você quiser chamar de pólis, facilita para nós, a cidade é por natureza, uma guerra." Uma guerra de todos contra todos. Porque os desejos quando manifestos, não se deixam organizar a priori, como uma orquestra sinfônica. Pelo contrário, apontam para mundos escassos, e toda satisfação de qualquer desejo, implica na exclusão de desejos que lhes façam obstáculos. Não tem como todo mundo ser campeão olímpico! Não tem como todo mundo ser presidente da Nestlé! Não tem como todo mundo ser presidente da República! Então é claro, que haverá quem fique de fora. E que o visto de professor, serve para aluno, vocês sabem disso. A exigência para vocês é muito maior que para nós. Por isso você, aluno da ECA, é muito melhor que nós, professores. Ficou gente de fora; o vestibular é um instrumento político, de consagração de certos desejos, em detrimento de muitos outros desejos, claro não foram satisfeitos. Então, nesse momento valeria a pena abrir um parêntesis e insvestigar um pouquinho or trás da palavra desejo. Afinal de contas ela acabou se ser convocada para nos ajudar a definir política. A mais antiga e a mais clássica reflexão sobre o desejo, você encontrará no Banquete de Platão. O Banquete é um dos trinta e cinco diálogos de Platão; como tudo que é do diálogo de Platão é de leitura enroscada, não pense que você vai comprar e ler e tem a ver com a revista caras, é enroscado de ler e de interpretar. Mas o Banquete tem por objeto, o conceito de Eros, e alguém aqui poderia levantar a mão e argumentar: mas Eros é amor! Mas como para Platão amor é desejo, o problema está resolvido. O objeto do banquete é o desejo. Que é também, o amor. Se você pegar o Banquete para ler vai se deparar com sete discursos sobre Eros e Platão usava a palavra eros porque ele não falava portugues. Seria muito bacana um dia, reunir interessados para apresentar os sete discursos; já fiz isso. No meu site tem uma aula para cada discurso do Banquete. Fedro, Pausânias, Aristófanes, Agatão, Sócrates e Erixímaco.
Platão - O Banquete Não temos tempo! Nunca temos tempo. Temos que ir direto ao assunto. O que acontece quando você compra um livro de Platão? Lá está escrito: o banquete. E você começa a ler e Fedro está falando. Você pensa; se foi Platão quem escreveu é o que ele pensa. Na verdade ele apresentou seis discursos, antes de apresentar o que ele acha certo. E é claro, como acontece invariavelmente no platonismo quem apresenta o que ele acha certo é a personagem Sócrates. Então você tem o eros definido pelo Fedro, o eros definido pelo Erixímaco, o eros definido pelo Agatão e tudo isso não é o que Platão pensa. E o que é pior. Platão coloca aquilo ali para destruir e o pior ainda; ele o destrói numa fina ironia. E aí a chance de você não entender a ironia é enorme.E aí você compra gato por lebre. Vou dar um exemplo: você vai encontrar no Banquete, o discurso de Aristófanes. Um comediante. Porque o diálogo tem como enredo um jantar. Acontece que Aristófanes é o indivíduo que Platão mais odiava sobre a terra. Eu pergunto a você; se Platão põe Aristófanes num diálogo e o odeia enquanto pessoa física e vivente na época, que tipo de discurso ele coloca na boca de Aristófanes? Aquilo que no olhar dele é a maior estupidez que ele podia imaginar. Só que isso não é dito. Platão não abre o discurso dizendo: eu odeio Aristófanes. Então eu vou colocar na boca de Aristófanes a maior besteira que me vier a cabeça. Não tem essa explicação. Pelo contrário; sabe o que você encontra? Sócrates elogiando Aristófanes. E curiosamente seu discurso ficou mais famoso na posteridade do que, o do próprio Sócrates. Porque a consagração de um texto literário dependem de variáveis que transcendem a vontade do seu autor. E qual é o discurso de Aristófanes que Platão considera uma pataquada? O mito do andrógeno. E o que Aristófanes diz: antes dos tempos místicos, todo homem não era como é hoje. Ou seja; dois braços, duas pernas, uma cabeça e um sexo. O homem era duas vezes isso. Ele tinha quatro braços, quatro pernas, duas cabeças e dois sexos. Pensava rápido, forte, era autosuficiente e resolveu investigar onde viviam os deuses. Zeus então e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o que se devia fazer com eles, e embaraçavam-se; não podiam nem matá-los e, após fulminá-los como aos gigantes, fazer desaparecer-lhes a raça - pois as honras e os templos que lhes vinham dos homens desapareceriam — nem permitir-lhes que continuassem na impiedade. Depois de laboriosa reflexão, diz Zeus: “Acho que tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas parem com a intemperança, tornados mais fracos. Agora com efeito, continuou, eu os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo tempo eles serão mais fracos e também mais úteis para nós, pelo fato de se terem tomado mais numerosos; e andarão eretos, sobre duas pernas. De maneira que você vira uma metade. Por acaso você sabe o que acontece quando você vira uma metade? Uma metade se basta? Não. Ela precisa da outra metade. Então você passará sua vida procurando sua unidade fundamental. Não só encaixa bem, como era você. Esse alguém é tão especial para você, que quando você encontra! Nossa! É para sempre. É a tua cara metade. É a metade da laranja. É a alma gêmea. É a tampa da panela. É o anel do dedo. É a rolha do garrafão. Não há nenhuma cultura, que não preste homenagem a Aristófanes. Porque ele é o discurso fundador do romantismo, vinte e quatro séculos antes do romantismo. Todo romantismo é Aristofânico. Existe alguém muito especial e quando você encontra tudo muda. Ou você nunca falou coisas do tipo, nossa! Parece que a gente se conhece a tanto tempo. Coisa de pele mesmo! Você ri para esconder as barbaridades, que você já disse inspirado por Aristófanes. Você diz: olha como nos damos bem, se tiver bêbado então...o discurso de Aristófanes encaixa como uma luva. Então o que é o amor na definição Aristoténica? O amor é o momento a partir do qual se restabelece uma unidade que havia sido destruida pela amputação Quais são as características desse sentimento? Em primeiro lugar ele é único. Porque é claro você foi amputado uma única vez. Em segundo lugar; ele é para sempre. Porque é único! Em terceiro lugar ele é completo, integralizador. Porque duas metades fazem um todo, e esse todo reconstituído se torna auto suficiente, dentro da bolha da relação tudo é completo, perfeito e acabado.

Pergunta 1 de 4

O mito de andrógeno é fundador do:
• Romantismo Correta
• Existencialismo
• Idealismo

Pergunta 2 de 4

A política é a gestão de desejos:
• Contraditórios Correta
• Complementares
• Improváveis
• Coletivos

Pergunta 3 de 4

Indique a alternativa falsa. No livro O Leviatã, o filósofo inglês Thomas Hobbes diz que:
• A cidade tem por natureza um caos, pois os desejos individuais, quando manifestos, não se deixam organizar em uma única ordem.
• Toda a manifestação de qualquer desejo implica a exclusão de desejos que lhes façam obstáculos.
• Os governantes devem ignorar seus desejos pessoais para governar com justiça e seriedade. Correta

Pergunta 4 de 4

• O discurso de Aristófanes:
• Representa o pensamento de Platão
• Representa parte do pensamento de Platão
• Representa o oposto do pensamento de Platão Correta

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