Ciência/Política

Curso: Ciência Política (USP)

Elisabeth Noelle-Neumann - Espiral do Silêncio

• Elisabeth Noelle-Neumann - Espiral do Silêncio. Nos sentimos desconfortáveis, ao defender uma opinião diferente num determinado grupo. • Se aqueles que pensam diferentes calam a boca, a opinião minoritária, se tornará mais. Porque quem pensa daquele jeito não abre a boca.

Durkheim, Freud e Bakhtin são autores contemporâneos entre si. No século vinte, vários modelos de opinião pública vão surgir. Naturalmente se vocês tem uma disciplina para cuidar disso não cabe a mim esmiuçar. Mas eu me permito lembrar, de um modelo de opinião pública que se destaca. E esse modelo de opinião pública é proposto pela professora alemã, Elisabeth Noelle-Neumann, e nome desse modelo é a Espiral do Silêncio Em que consiste? Bom, para entender a Espiral do Silêncio, devem ler o capítulo seis, da obra Ética na Comunicação, de um extraordinário pensador contemporâneo. A Espiral do Silêncio é um modelo que me é muito caro, porque para escrever esse capítulo eu pude debater com a professora, que me ajudou a escrever, me deu pistas. E o modelo da Espiral do Silêncio é um modelo de compreensão muito simples. Ele é um modelo de psicologia social. E a psicologia social tem toda ela uma premissa: a investigação que tem por objeto o que acontece com as pessoas em função do meio social em que estão inscritas. E porque espiral? E porque do silêncio? A premissa é que nos sentimos muito desconfortáveis, quando temos que defender uma opinião que não é dominante num determinado grupo. Mais ou menos como alguém aqui defendendo o Maluf, não é muito fácil! E esse desconforto, vem acompanhado de uma estratégia. Essa estratégia, não é absoluta. Ela é tendencial. Ela é macro sociológica. É uma estatística. E essa estratégia é o silêncio sobre esse assunto.

Em outras palavras, você tende a não falar muito, sobre temas que supõe ter uma opinião contrária a opinião da maioria. Então você percebe que o modelo da espiral do silêncio, parte de uma premissa; todos nós temos uma certa intuição, da opinião da maioria. E essa intuição da opinião da maioria, ela chama de clima de opinião. Você costuma chamar de um indivíduo sem noção. Um indivíduo com o clima de opinião deformado.

É aquele que chega e diz: mulher é forno e fogão, limpar a cozinha tirar leite, conversa de vestiário de clube, depois do jogo. Esse indivíduo é sem noção. Ele não tem o clima de opinião muito alinhado. Mas tirando graves deformações, costumamos ter clima de opinião. Quer dizer; uma intuição do que podemos dizer sem muito desgaste. E do que não devemos dizer, sob pena de muito desgaste. Então naturalmente, se você tem uma opinião, que não coincide com a opinião da maioria, você tende a ficar quieto. E isso não é completamente absurdo, porque eu frequento um clube, que fica na esquina da Augusta com a Estados Unidos, é incrível como eu fico quieto no vestiário. Na verdade, não há nada que seja dito lá, em que eu concorde. Eu tenho a impressão que o Lula ali, não teve um único voto! Um só!

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Então é claro que se você imaginar que uma opinião é aferida em função da polofonia, se aqueles que pensam diferentes tendem a calar a boca, não são todos! Mas é claro que aquela opinião que já é minoritária, se tornará mais. Porque quem pensa daquele jeito não abre a boca. Tornando aqueles que abrem a boca, mais isolados, e portanto mais provavelmente inclinados a calar a boca. Percebeu, o porque da espiral? Existe uma progressividade do medo de abrir a boca. Do desconforto de abrir a boca. Porque no final, quem poderia serrar fileiras com você, não abriu a boca.

Vou dar um exemplo: a Elesabeth pegou essa ideia de um pensador do século dezenove, chamado Tocqueville, que escreveu uma grande obra, intitulada A Democracia na América. Ele escreveu também outra grande obra, menos conhecida: O Antigo Regime e a Revolução onde ele diz que a revolução foi ante clerical. Tinha um monte de gente querendo defender a igreja, mas de medo acabava ficando quieto, e tinha-se a impressão que ninguém era a favor da igreja, numa sociedade onde tinha muita gente a favor da igreja e por uma pressão social acabava se calando. Então nós poderíamos pegar o caso do impeachment do Presidente Color. Como que o impeachment foi proposto? A primeira pesquisa de opinião indicou que, sessenta e cinco por cento da população era favorável ao impeachment. Ma isso indicava que trinta e cinco por cento era contra. Aí eu te pergunto: esses trinta e cinco tendem a virar o que? Eles percebendo que a coisa está feia, tendem a ficar quieto.E o número de defensores do presidente cai para vinte, na seguinte para oito. E quando você está com oito por cento do seu lado, a tendência a calar a boca é imensa. De tal maneira que depois de tres meses, os defensores abertos, da manutenção do presidente eram estatisticamente desprezível. Lembrando que meses antes ele tinha sido eleito, com a maioria dos votos.

Ora meus amigos, o modelo da espiral do silêncio, procura dar conta da dificuldade, que temos todos, de enfrentar uma opinião adversa e dominante. O medo de nos colocar diante de uma opinião adversa e dominante. Portanto, a necessária acomodação de uma espécie de tirania do maior número.

Muito bem, talvez seja exatamente aqui, que nós possamos reencontrar as preocupações de Platão. Platão nunca usou o termo opinião pública. Porque o termo surge com Rousseau, exatamente vinte e dois séculos depois. Mas ele usava a palavra doxa, que era a opinião dominante na Ágora. E essa opinião tinha duas características. Primeira: politicamente forte. Patrocinadora da decisão política, mas filosoficamente frágil. Por que? Porque justamente para uma opinião tornar-se dominante, precisa contar com o apoio e o aplauso do maior número. E o maior número é invariavelmente dotado de repertório acanhado. Razão pela qual, a doxa para Platão era invariavelmente, uma espécie de delta, entre a força política e pobreza filosofica. Platão não hesitou em afirmar: uma sociedade que aplaude o distanciamento da política em relação à busca da verdade, uma sociedade que aplaude sistematicamente a decisão política, em distanciamento progressivo da complexidade da busca da verdade, é uma sociedade que cava a sua própria sepultura.

Pergunta 1 de 1

Sobre o modelo da espiral do silêncio, não podemos afirmar que:
• Existe um “clima” de opinião.
• Aqueles que têm uma opinião diferente da opinião dominante tendem a se calar.
• Aqueles que têm uma opinião diferente da dominante tendem a ser agressivos ao expor a sua própria opinião.Correta

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