Ciência/Política

Curso: Ciência Política (USP)

Mikhail Bakthin - Signo

• Bakhtin - A proposta é de que a nossa consciência tem como matéria prima signo, símbolo. Para melhor entendimento, a nossa consciência é povoada de palavras. A palavra não é o único signo. • Jogados no mundo sem consciência, vamos travando contato com as palavras, porque estamos imersos numa polifonia discursiva. É gente falando o tempo todo, nos bombardeando de palavras que chegam até nós, através da nossa sensorialiedade mais mecânica. As palavras estão para a nossa consciência, assim como os ovos estão para uma omelete. • Bakhtin quer dizer, quando diz: todo signo é ideológico, que o sentido das palavras é resultado de uma construção social, de agentes que nem sempre tem os mesmos interesses. De agentes que lutam. De agentes que se enfrentam. De agentes que querem que as palavras queiram dizer coisas diferentes do que querem dizer, para os seus adversários. • Bakhtin e o conceito de polifonia. Nós, jogados no mundo sem consciência, vamos travando contato com as palavras, porque estamos imersos numa polifonia discursiva. É gente falando daqui, é gente falando de lá. • Para propor uma opinião individual, deve-se estar abastecido de matéria prima semiótica, dada pela polifonia na qual se está inserido.

Mas nós ainda temos um terceiro autor, talvez o mais encantador deles. Porque menos badalado mas, mais próximo de nós. E eu me refiro ao grande Bakhtin. Vygotski, também. Vygotski tem a Formação social da Mente, que também seria excelente. Mas como nós estamos numa faculdade de comunicação a homenagem a ele é obrigatória. Eu não sei como foi o seu contato com Bakhtin! Ele tem chance de ter sido traumático, porque ele não é do tipo que se deixa ler; levianamente. Eu me refiro ao marxismo e filosofia da linguagem, e eu me refiro aos capítulos um e seis e as idéias centrais que passo a expor. Mas eu me refiro a necessidade absoluta que você tem de ir atrás. Então veja bem! Essa aula começa a ficar uma aula digna. Porque nós começamos com Bourdieu: depois de sociologia a opinião pública não existe. Nós passamos para Durkheim: divisão do trabalho social, fomos para Freud e você pode ler: O mal estar na civilização encontre aqui: Obras Completas de Sigmund Freud -cap 21 Você pode ler Totem e Tabu e outras obras lindas que Freud deixa. E nós estamos chegando em Mikhail Bakthin onde você vai ler ao menos o capítulo 1 e o 6 do marxismo e filosofia da linguagem. Você junta tudo isso e começa a se sentir bípede. E qual é a idéia central do pensamento de Bakhtin e porque ela nos ajuda demais?

Bakhtin parte de uma premissa o senso comum acha, que a consciência é alguma coisa inata. Em outras palavras se nós pensamos é porque fomos dotados de condições inatas de pensamento. Naturalmente que Bakhtin não tira isso do nada, e vai nos propor alguma coisa muito consistente nesse sentido. É Kant e todos os seus discípulos, não sei até onde foram no curso de filosofia, mas é Kant que vai nos propor as categorias inatas do conhecimento: como espaço, tempo a causalidade, etc. Você viria apetrechado para pensar. De certa maneira o pensamento decorreria de competências inatas de cognição. Ora, qual é a proposta de Bakhtin?

A proposta é de que a nossa consciência tem como matéria prima signo, símbolo. Para facilitar e dar concretude, a nossa consciência é povoada de palavras. A palavra não é o único signo. Mas é só para facilitar a tua compreensão. A nossa consciência é povoada de palavras. Mas não é só. Essas palavras constituem a consciência, mas a consciência por sua vez é dinâmica e portanto toda consciência pressupõe uma articulação permanente entre essas palavras. Para que essas palavras sejam articuláveis, é fundamental que essas palavras queiram dizer alguma coisa. Em outras palavras: a palavra tem um significado. Então a pergunta é: como eu travo contato com as palavras? Como eu me aproprio das palavras? E como é que eu uso as palavras com um certo significado, permitindo-me a articulação entre elas? É a resposta de Bakhtin, ela vem dada a partir do conceito de polifonia. E o que consiste isso? Consiste na certeza de que nós, jogados no mundo sem consciência, vamos travando contato com as palavras, porque estamos imersos numa polifonia discursiva. É gente falando daqui, é gente falando de lá, é gente falando de tudo que é lado, é gente nos bombardeando de palavras, e essas plavras vão chegando até nós, através da nossa sensorialiedade mais mecânica.

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Eu espero que você tenha entendido que as palavras estão para a nossa consciência, assim como os ovos estão para uma omelete.

E o que isso quer dizer? Isso quer dizer, em primeiro lugar, que sem os ovos não tem omelete. Mas quer dizer em segundo lugar, que você pode com meia dúzia de ovos fazer infinitos tipos de omeletes diferentes. E o que tudo isso significa? Que você não é uma cópia xerox daquilo que ouvi. Você está banhado numa polifonia discursiva, você ouve, ouve, ouve, e essas palavras de que você se apropria, são os ovos. Mas na hora que você vai enunciar um discurso, você vai propor a sua omelete. E essa omelete poderia ser outra, outra, outra. Portanto existe um espaço criativo. Mas não um espaço criativo idealista; do tipo do gênio que tira tudo do nada. Não. É um espaço feito de ovos. Em outras palavras, você não é nem um gênio que tira tudo do nada, e nem uma cópia xerox daquilo que ouve. Um exemplo excelente é a minha aula de hoje. Sem Bourdieu, sem Durkheim, sem Freud, sem Bakhtin a aula não seria possível. Porém, ninguém dirá, que essa aula, é a reprodução mecânica, da justaposição de textos clássicos de outrora. Esta aula, para começar já teve o mérito de reunir esses autores, que não nasceram no mesmo orfanato. E portanto já houve aí uma reunião que foi uma interferência de quem produz a aula. Uma interferência criativa. Depois dada a idéia, destacada de tantas outras, também é o resultado de uma escolha. Depois os exemplos que são atualizados e depois a relação entre os autores. Depois as teses que perpassam todos esses autores. Tudo isso é produção do professor. O professor enuncia. Ele é criativo. Participa da polifonia, mas sem os ovos não poderia fazer nada disso.

Ora! No caso da aula é fácil perceber os ovos. Eles são Bourdieu, Bakhtin, Freud. Agora, é importante você perceber é que sempre há ovo. Ou seja, mesmo que você não saia por aí falando como se fosse um permanente comentador de autores, saiba, que você só fala, porque ouviu, sempre. Claro que você poderá ter mais ou menos consciência, da gênese ou da origem da matéria prima semiótica que você usa para construir discursos. Mas ela será sempre social. A sua consciência é construída de fora para dentro. A sua consciência é construída dentro de um pertencimento na sociedade. A sociedade é que te oferece os ovos. É a sociedade que te oferece as ferramentas. É a sociedade que te oferece uma maneira de pensar. É a sociedade que te oferece portanto todas as condições materiais de que você precisa, para articular aquela matéria prima semiótica estudo dos símbolos. que você usa para falar. E mais do que isso. É a sociedade que te propõe o significado das palavras que você usa.

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É claro, é isso que Bakhtin quer dizer, quando diz: todo signo é ideológico. Significa que o sentido das palavras é resultado de uma construção social, de agentes que nem sempre tem os mesmos interesses. De agentes que lutam. De agentes que se enfrentam. De agentes que querem que as palavras queiram dizer coisas diferentes do que querem dizer, para os seus adversários. Vamos dar como exemplo o termo: Universidade Pública. Como você pode perceber, universidade pública é constituída por duas palavras, e o atributo pública, deve querer dizer alguma coisa. Mas o que fica claro é que; o que pública quer dizer não é a mesma coisa segundo os interesses de uns e de outros.

Veja por exemplo o caso de Porto Rico. Eu estive em San Ruan e lá eu ministrei palestra, na Universidade Pública Porto Rico. E, acredite se quiser, a universidade é paga. Porque público lá, quer dizer o seguinte: quem quiser estudar e puder pagar, estude. Eu também estive na UBA: Universidade de Buenos Aires. E a UBA, é uma universidade muito impressionante! Você imagina, por exemplo, que no primeiro ano da faculdade de direito tem quatro mil alunos. Diferente dos quatrocentos daqui da São Pedro. E aí, você olha e diz: mas quatro mil alunos! E aí o cara, o argentino, olha para mim e diz: isso é uma universidade pública. E aí você percebe que o que ele entende por pública, não é que em Porto Rico se entende por pública, e não é o que aqui entendemos por pública. Porque quando eu trouxe esse argentino aqui na ECA e ele se deparou com essa classe de trinta e poucos alunos, uma classe branca e higienizada; ele se perguntou: como puede ser? Porque o público lá, é o seguinte: terminou o ensino médio, passou no enem, entra na universidade. E você só não vai estudar na UBA, se de fato você quiser pagar. Então no primeiro ano tem quatro mil. E aí é claro, é preciso dar uma brecada, do primeiro para o segundo ano. Então, nove de cada dez, já são reprovados do primeiro para o segundo ano. Também não entende por universidade pública a mesma coisa o pessoal da FIA. Se você for na FFLCH, Faculdade de Filosofia Letras e Ciencias Humanas, e se você for na FEA, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, e perguntar o que é universidade pública, você terá respostas muito diferentes. Então o que é que você conclui? Existe uma luta social pela difinição do que devemos entender por universidade pública. É isso que Bakhtin quer dizer com todo signo é ideológico.

E você dirá: mas qual é a verdade sobre a universidade pública? Não. É justamente isso que ele quer dizer. É ideológico, e como nós já explicamos verdadeiro e falso, não tem a ver com ideologia. Não há o conceito verdadeiro de universidade pública. Não há quem tenha razão. Só há mesmo luta. Luta pela imposição da concepção legítima de universidade pública. Todos predenderão a verdade. Justamente porque não há verdade. A única verdade está no conflito. Está na luta. Está no enfrentamento. Porque? Porque o significado das palavras é um troféu. É um troféu em disputas. E o que tudo isso tem a ver com a opinião pública? Ora, você já fez. A inferência. Se a minha consciência é povoada por signos em articulaçao, e esses signos em articulaçao, só se articulam em função de significados em circulação na polifonia social, é evidente que eu só consigo articular, isto é: propor uma opinião individual, se eu tiver sido devidamente abastecido por uma matéria prima semiótica, que me é dada pela polifonia na qual eu estou inserido. A opinião pública é logica e cronologicamente anterior as opiniões individuais.

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Pergunta 1 de 1

O significado das palavras:
• É invariável.
• Depende dos interesses daqueles que determinam seu significado.Correta
• A polifonia discursiva não interfere nas opiniões individuais.