O segundo degrau..., o segundo autor que vai nos ajudar muito aqui é Freud. E naturalmente não são poucos a relacionar Freud com a política. Aqueles que quiserem fazer esse trabalho fino; taí, vai que no meio de vocês tem um alucinado, que gostaria de pegar uma grande obra, para resenhar para ou comentar como trabalho final de curso. Ah! Professor é necessário algum trabalho final, o senhor não falou nada...não. Estou dizendo, vai que. É preciso dar alguma chance ao improvável. O improvável é você pouco a pouco ir ficando de pé. Abandonando a condição de rastejante e ir ganhando dignidade. Talvez intelectual. E para isso é que nem musculação; é preciso um pouco de sacrifício. E eu dou uma sugestão de leitura. Que vai justamente abordar, aquilo que nós vamos fazer um poquinho aqui agora. A relação da psicanálise de Freud com a política. E esse livro se chama: da Horda ao Estado. E o autor desse livro é um fulano chamado Eugène Enriquez com E não com H. É um baita livro, para entender de uma perspectiva psicanalíca, o surgimento das nossas organizações políticas. atividades em homenagem a Eugène Enriquez USP.
Muito bem. O que vai nos propor o Dr. Freud? O que vai nos interessar aqui, é o que ele chamava de instâncias da personalidade. Mais especificamente duas delas. A primeira diz do seu estado psíquico ao nascer. Que quando você nasce, explica a psicanálise de Freud: você é uma pura energia. Esse estado vai receber na psicanálise o nome de id. E a energia em questão recebe o nome de libido. E essa energia funciona como? Funciona segundo um princípio. Que Freud denominará princípio de prazer. A energia é uma energia que busca prazer. Tanto é assim, que um recém-nascido, diante da mais mínima limitação do seu prazer, esbraveja. Como se fosse o fim do mundo. Então eu pergunto a você: Pode uma figura dessa ficar desse jeito no mundo? Não pode. Ele vai produzir desconforto. Ele vai atrapalhar os outros. Sobretudo, porque esse indivíduo, quando nasce, ele não é jogado em qualquer lugar. Ele é jogado em um lugar que já funciona, segundo certas regras. Certas regras que condicionam a obtenção do prazer. Esse funcionamento recebe o nome de princípio de realidade. Olha que legal! Você funciona pelo princípio de prazer, e é jogado num lugar que funciona segundo princípio de realidade, junto de pessoas que se articulam segundo regras e que vão receber, enquanto coletivo, o nome de civilização por Freud. Em alemão kultur, que quer dizer civilização. Então o que acontece, você energia libidinal, é jogado na civilização, você busca prazer o tempo inteiro e a civilização, não pode permitir, que você tenha prazer o tempo inteiro. Então, há ali uma tensão e essa tensão não acabará nunca mais.
De um lado a energia que cobra prazer, você tem energia que cobra prazer, não tem? Mais você do que eu! Porque é claro que a medida que o mundo vai socando, você vai arqueando, dentro de certos limites de idade. Mas a sociedade ou para usar os termos adequados a civilização vai proporcionar a você, aquilo que Freud denomina, trabalho civilizatório. Que é em grande medida, a inculcação das condições autorizadas de obtenção de prazer. Se você quiser ter relações aqui, vai ter problema! Mas se você sair e pegar um matinho ali atrás, se bobear rola; mas pode ter problema. Agora se esperar um pouquinho, tem um hotelzinho aqui perto, rola melhor. É só não arrumar confusão com a clientela. A civilização define as condições de obtenção de prazer, e o teu id cobra prazer o tempo inteiro. E por conta dessa tensão, você vai se dotar, de uma instância diplomática. De uma instância de negociação. De uma instância econômica, de uma instância de acordo entre o id que cobra prazer e a civilização com todos os seus condicionamentos.
E que instância é essa? Essa instância é o que Freud vai chamar de ego. E ego nada mais é do que tudo que você consegue articular em termos de cognição, de razão, de juízo, de atribuição de valor, se você preferir, em suma tudo que passa pela sua cabeça. O ego é a consciência, em todos seus atributos. O ego é a inteligência, é a articulaçãodos dos discursoa, a propositura de princípios, o conhecimento. O ego é portanto uma competência, um diferencial competitivo, que nos apresentam e permite a sobrevida de um id, num espaço civilizatório condicionador. Ora meus amigos! Essa história toda, merece ser contada por que? simplesmente porque: a psicanálise de Freud está nos dizendo que no começo era o id, jogado na civilização. E só depois surge o ego, como instância avançada de negociação, de acomodação, de distensão, entre forças que se opõem. O Ego é lógica e cronologicamente posterior ao encontro do id com a civilização. o ego vem depois. E o que tem no ego? No ego tem as opiniões individuais. E o que tem na civilização? na civilização tem a opinião pública. Eu espero que você tenha entendido, que também na psicanálise, as opiniões individuais, elas só existem por conta de condições materiais muito específicas. A saber de um lado o id, funcional cobrando prazer e a civilização juridicamente organizada, e restringindo o prazer. E só por isso que surge o ego. Razão pela qual, também na psicanálise fica demonstrada a tese, de que a opinião pública é condição das opiniões individuais.
Eugene Enriquez