Ciência/Política

Curso: Ciência Política (USP)

Émile Durkheim

• A opinião pública é lógica e cronologicamente, anterior as opiniões individuais. • A opinião pública é condição das opiniões individuais. • Acreditar que a opinião pública, seja uma simples somatória das opiniões individuais, é esconder aqueles que estão por trás, da construção efetiva das opiniões dominantes, sobre os temas políticos. • Tese contratualista - a sociedade resulta da livre manifestação de vontade e de adesão a um coletivo que é, a de cada um.

Então a partir de agora, qual é a tese que nós tentaremos desenvolver? Em primeiro lugar: A opinião pública é lógica e cronologicamente, anterior as opiniões individuais. Em segundo lugar: a opinião pública é condição das opiniões individuais. E finalmente em terceiro lugar, a tese de que, acreditar que a opinião pública seja, a somatória das opiniões individuais, interessa a alguém que esconde instâncias de poder e protege àquele que consegue interceder e interferir junto aos caminhos da opinião pública. Se você preferir, para falar mais simples; acreditar que a opinião pública, seja uma simples somatória das opiniões individuais, é esconder aqueles que estão por trás, da construção efetiva das opiniões dominantes, sobre os temas políticos. É uma maneira de se abrigar, é uma maneira de não aparecer, é maneira de camuflar, as reais instâncias construtoras de um entendimento dominante. Então no lugar de você supor, que os grandes conglomerados de comunicação, eles mesmos porta-vozes dos seus patrocinadores, grandes representantes do capital, tenha condição de interceder junto à sociedade, construíndo diariamente um entendimento, sobre o que devemos pensar a respeito disso ou daquilo, no lugar disso eu faço acreditar que a raiz da opinião pública está na somatória democrática, purificada e ingênua de cada um dos agentes sociais e suas convicções pessoais.

Toda vez que você coloca lá, -que cinquenta e seis por cento disso ou sessenta por cento daquilo, acreditam nisso- essa porcentagem que está ali, está no lugar de outras infinitas porcentagens possíveis. Mas ajuda a fazer acreditar que todos nós vivemos num sistema, onde cada um conta de forma equivalente a qualquer outro. Eis aí o que vamos tentar demonstrar, com o auxílio de alguns autores, que já nos são familiares. Eu vou começar com Durkheim e é claro, para aqueles que foram alunos do professor Celso, não haverá dificuldades. Para aqueles que não foram alunos, também não haverá dificuldades. Porque todos que fizeram um semestre de sociologia, deverão ter ouvido falar de Durkheim. Está para a sociologia, como Freud está para a psicanálise e Clóvis Bevilácqua para o código civil, é o seu autor. E o que Durkheim vai nos propor? Já nas regras do método sociológico. Que é um livro chato de ler! Mas também na divisão do trabalho social, livro que tem carne, tem substância, é a tese de doutourado, leitura obrigatória, recomendadíssima. Não adianta fazer pose, usar óculos de tartaruga, se você não leu a Divisão do Trabalho Social, resumo é um clássico!

Ora! Qual é a idéia primeira do pensamento de Durkheim? "A Sociedade é lógica e cronologicamente anterior, aos individuos que a compõe". Lógica e cronologicamente anterior, essa expressão não é minha, é dele! A sociedade veio antes! Então é claro que, para quem está aí, na ingenuidade e na puerilidade dos senso comum, quem jaz na ignorância do sempre sabido, essa proposta é absurda! Como pode a sociedade que é constituída por indivíduos, ser anterior aos indivíduos que a constitui? Durante séculos a forma hegemônica de definir uma sociedade era denominada contratualista. Como o própio nome indica, o contratualismo explica a sociedade a partir de um contrato. E um contrato, você intui, pressupõe a livre manifestação de vontade dos contratantes. Para o contratualismo, que você encontra no Leviatã de Hobbes, no segundo tratado do governo civil de John Lock, no contrato social de Rosseau e até mesmo no espírito das leis de Montesquieu, você encontra a seguinte pressuposição: a sociedade é uma forma de convivência livremente escolhida pelos seus agentes, para alcançar fins que isoladamente não alcançaria. Essa é a definição que você encontra na apostila do Anglo, na apostila do Etapa, é aquilo que você tem que por no vestibular para entrar na USP. É a tese contratualista. A sociedade resulta da livre manifestação de vontade e de adesão a um coletivo, que é a de cada um.

Contrato Social

Isso pressupõe o que meus amigos? Isso pressupõe que houve antes. E o que havia antes? Havia um fulano lá, outro lá, outro lá, um outro acolá e curiosamente viviam no mais absoluto isolamento. E aí o indivíduo a encontrou o b, o b encontrou o c, por sua vez chegou o c que encontrou o d, vamos torcer para ter uma mulher no meio, para haver uma chance de reprodução, e aí um diz: oi, então vamos alcançar fins juntos, que sozinhos não alcançaríamos? Eu tenho vaca. E você pelo cheiro faz pão. Se vivermos juntos faremos um churrasquinho! Coisa que sozinhos não conseguiríamos, porque eu fico comendo só pão e você comendo só carne. E qual a chance disso ter acontecido algum dia? Então, não há registro histórico do contrato social. E porque não há? É porque nunca aconteceu! Você percebe o absurdo; para pessoas consigam deliberar sobre as cláusulas de um contrato, é preciso que elas se comuniquem e para isso acontecer é necessário uma linguagem comum. E uma linguagem comum é fundamental que elas já estejam inscritas num contexto de sociabilidade. Porque não há linguagem no isolamento. Então a sociedade é lógica e cronologicamente anterior ao indivíduo.

Então vamos começar pensando em você. Eu não sei se você já se convenceu disso, mas quando você nasceu o mundo já existia! Isso pode parecer óbvio, mas haverá quem o contrário diz. George Berkeley por exemplo. Filósofo irlandês que emprestou nome a universidade californiana. Esse mesmo que estava convencido, que não tem um mundo fora de você. Tudo é um filme. Espécie de patrocinador do matrix. Tirando Berkeley, você costuma acreditar que existe um mundo fora de você. E que também existia um mundo antes de você. Tanto é que nasceu na maternidade y, na família z e na cidade w. Voltou para casa, compartilhou o quarto com a irmã, ou não. Voltou de ônibus, de táxi ou com o próprio carro. A coisa já estava rolando quando você apareceu. Então, no seu caso fica fácil aceitar que a sociedade, é lógica e cronologicamente anterior a você. Aonde que não é fácil. No Adão e Eva. Não é fácil lá atras. Como o primeiro juntou com o segundo? Afinal de contas, aquilo que nós chamamos de homem, é uma categoria, que procura dar conta de uma certa realidade, da evolução de uma certa espécie.

Então o homem lá em Londres se reuniu com outros homens e decidiu: nós vamos chamar de homem, daqui para a frente. E antes daqui? Antes daqui ainda tinha rabo, andava meio curvado, podemos chamar de hominídeo, homóide, primata superior, o que você quiser. Mas não é homem. Homem é daqui para frente! Muito bem. Qual é a graça disso? É que quando esse homem surge como categoria ele já é social. E aquele anterior? Ele já era social. E o orangotango? Ele também já era social. Então quando o homem surge, ele já surge na sociedade. E a evolução dessa espécie se dá na sociedade. E por isso nunca teve um idiota, que chegou para outro idiota e disse: oh! Vamos fazer um churrasquinho. Não teve isso! Por mais que o seu cursinho insista. O contrato social não tem ocorrência histórica registrada. A sociedade é lógica e cronologicamente anterior ao indivíduo. Se você não entendeu isso com clareza, dificilmente conseguirá fazer pesquisas nas área de ciências sociais. Lembrando que a comunicação é ciência social aplicada, e por que? Porque toda pesquisa em ciência social, nada mais é do que a investigação do que a sociedade faz com você e de como você ajuda a compor a sociedade. Essa presunção da anterioridade do social em relação ao sujeito é uma presunção que vai fazer parte da sua vida de pesquisador. É fundamental ter tido um excelente esclarecimento sobre isso com Durkheim e a fundação da sociologia.

E a opinião pública? Ora meus amigos! Se a sociedade é anterior ao indivíduo, é uma inferência imediata, que a opinião pública, que é aquilo que Durkkheim chama de um fato social essa opinião pública é por inferência imediata anterior lógica e cronologicamente as opiniões individuais. Como eu aproximo isso da sua realidade? Basta você se lembrar do que acontecia até pouco tempo atrás. De repente você começou a se perguntar sobre coisas relacionadas à cidade. Mas eu não sei se você percebeu; quando você começou a ter consciência, de que a cidade poderia ser diferente do que ela é o Lula já estava aí. FHC já estava aí. O PT já existia. O PSDB já tinha sido fundado. Portanto toda a matéria prima, que você usa para emitir as suas opiniões, já estavam aí presentes. Quando você começou a articular alguma coisa sobre política, já havia uma avalache de opiniões hegemônicas. Quando você começou a articular alguma coisa, o prefeito Celso Pita já tinha sido condenado. Renan Calheiros já estava sendo posto para fora, blá, blá, blá. Em outras palavras quando você começou a se posicionar, já havia um mundo de opiniões hegemônicas a sua disposição. E você começou a ser perguntando diante de um quadro já consolidado diante de você. Acho que você percebeu, a opinião pública já existia, ela já fazia parte da sua vida, ela já fazia parte das conversas, no momento que você começou a se sentir a vontade, para dizer alguma coisa sobre as coisas da cidade. A leitura de: A divisão social do trabalho de Durkheim, é amplamente recomendada.

Pergunta 1 de 1

A organização social:
• É anterior ao homem. Correta
• É posterior ao homem.
• Foi possível graças ao homem.