Ciência/Política

Curso: Ciência Política (USP)

Opinião Pública como você nunca viu -continuação...

• segunda premissa: A opinião pública não existe, professor Bourdieu. • nem sempre há opinião individual sobre os temas da opinião pública. • para se atribuir valor é preciso contrastar o objeto, com alguma referência e oferecer a referência, para apreciação. • o que é preciso para que as opiniões individuais, se tornem somáveis? É preciso que você as encaixote em categorias, que você impõe. Tais como: ótimo, bom, regular ou péssimo. • quarta premissa: acreditar que a opinião pública possa ser a somatória das opiniões individuais. • é preciso que haja opiniões individuais sobre temas públicos, antes de qualquer opinião pública.

Muito bem! Segunda premissa: para que a opinião pública possa ser entendida, como a somatória das opiniões individuais, o que é preciso? E aqui vou me servir de um texto cuja leitura obrigatória. Eu tenho certeza que o professor Máximo, se ainda não citou, citará, mas eu tenho por obrigação fazê-lo. Esse texto tem como título: A opinião pública não existe. Opinion public not exist of fact. Esse texto compõe uma obra magistral, de uma reunião de conferências dada pelo professor Bourdieu, chamada questões de sociologia. Pois muito bem, essa premissa se encontra nesse texto. Para que a opinião pública, a que não existe é essta, a somatória das opiniões individuais, para que uma opinião pública pudesse ser a somatória das opiniões individuais, seria preciso que todos tivessem opiniões individuais, sobre os temas da agenda pública. O que manifestamente não é o caso. Eu vou insistir para você degustar, para que você não tenha a desculpa de não ter dado uma pescada, uma viajada.

Se a opinião pública é a somatória das opiniões individuais, obviamente tem que haver opiniões individuais, sobre o que? Sobre os temas próprios da opinião pública. E qual é a reflexão? É que no mínimo, nem sempre há opinião individual sobre os temas da opinião pública. Exemplo: eu passeava pela avenida paulista, e fui abordado por um pesquisador de opinião. Ele me barrou e disse: o senhor me responderia a uma pesquisa de opinião sobre os cem primeiros dias da administração Haddad? -Pois não. -O que você acha da administração Haddad? Ótimo, bom, regular ou péssimo? E eu tentei dizer ao meu indagador, que apesar de ter como profissão, a de ensinar política, eu não saberia responder aquela pergunta. Eu não tenho opinião sobre os cem primeiros dias dessa administração. Primeiro: eu não tenho com a administração um contato direto. Não sou funcionário público municipal, não sou secretário municipal, enfim não pertenço ao governo, e como alguém que está do lado de fora, eu não sou devidamente abastecido, por notícias. Por que? Leia-se revista veja, Isto é e Época, ora são apresentadas por revistas favoráveis ao prefeito, leia-se Carta Capital e tablóides de esquerda. De tal maneira, que eu não consigo ter por parte da mídia, informações que me permitam construir alguma grade de valor por minha própria conta. Então eu não sei responder a sua pergunta. Eu não tenho nada para dizer.

O fulano então me propôs: Ah! Tio, responde aí qualquer coisa. Ora! Mas isso é de uma fertilidade científica extraordinária! E por que? Porque supostamente o instituto de sondagem ele tem por trabalho flagar uma opinião, que existiria mesmo sem o seu flagrante, é claro. Quando eu digo, eu não tenho resposta para te dar, e ele diz: oh! responde assim mesmo é sinal que ele está fazendo surgir uma opinião, que sem ele não existiria. Não sei se me entenderam! Nem sempre temos uma opinião, sobre os temas da agenda pública. Uma outra pergunta desse questionário, Haddad é melhor ou pior que Kassab? Ora, meu amigo também não sei responder. E não sei responder porque não sei atribuir valor a Haddad, e não sei responder porque não sei atribuir valor a Kassab, e potanto os dois parecem turcos! A única coisa que eu poderia dizer para compará-los. Mas eu poderia continuar dando exemplos, porque se eu perguntar para qualquer um de vocês aí, atribua um valor ao governo Alckmin, mas não vem com as suas simpatias, porque isso não nos interessa. Como ´que você vai atribur valor ao governo Alckmin? O governo dele é o objeto da opinião. Mas para ter opinião eu preciso de valor. E qual é a primeira dificuldade para atribur valor ao governo Alckmin? A primeira dificuldade, é você ter uma idéia mais clara desse objeto. Ou seja, o que significa o governo? Sobre o que o governo decide? O que o governo faz? O que ele deixaria de fazer? Então para atribuir valor, você deveria pegar a expressão: governo Alckimin, e saber destrinchar em todas as suas áreas de atuação. E isso exigiria de você, ma educação: pa, pa, pa, escola, professores; incentivo à pesquisa; no transporte: pa, pa, nas estradas, em relação com os pedágios; na saúde: hospitais públicos, remédios, e isso levaria horas, e você avaliando tudo. E aí você tem tudo. O que eu estou tentando te dizer é que se a opinião pública é a somatória das opiniões individuais, pressupõem que as pessoas têm opiniões sobre os temas, e para ter opiniões sobre os temas elas precisam, primeiro: saber qual é o objeto. Segundo: saber atribuir valor a esse objeto. Então, não bastaria conhecer todas as áreas de atuação do governo. Isso não permitiria ainda uma opinião.

Para que eu pudesse ter uma opinião, eu precisaria ter, para cada área de atuação do governo, uma referência, em relação a qual estabelecer um contraste. Escolas públicas estaduais. Eu sei que isso faz parte do governo. Eu sei que o governo, paga tanto para os professores, mantem as classes em tal situação, paga tanto para a pesquisa, pa, pa, pa. Eu sei o objeto, mas para atribuir valor eu precisaria de uma referência com a qual estabelecer uma comparação. Eu precisaria ter na cabeça o governo nota dez. A república de Platão, para estabelecer uma referência. Percebeu, a complexidade do eu estou dizendo: a opinião pública é a somatória de todas as opiniões individuais, parte de uma premissa totalmente equivocada. Uma perspectiva de agigantamento do repertório real dos agentes sociais sobre as questões da política. Essa é a segunda premissa. Vamos pegar uma opinião que não é pública: a aula do professor Clóvis. Se alguém perguntar, como foi a aula do professor Clóvis? É a sua opinião. O objeto fica fácil. Diferentemente do governo Alckmin, a minha aula é só aqui. Agora, para você atribuir valor é preciso contrastar essa aula, com alguma referência e oferecer a referência, para apreciação. Você poderia dizer: em relação às aulas do próprio professor, essa foi melhor ou pior. Em relação aos professores do CRP essa foi assim ou assim, etc. Em relação ao modelo de aula que me foi dado, em Quixadá, essa foi uma porcaria! E assim por diante. Então, evidentemente você precisa ter um critério, a partir do qual julgar. Para a aula do professor é normal que você tenha esse critério, uma maior ou menor precisão. Em relação ao governo Dilma, ótimo, bom, regular ou péssimo para o governo Dilma. Nossa! Para responder a essa pergunta, é preciso meses de reflexão.


Terceira premissa:para que a opinião pública seja a somatória de todas as opiniões individuais, é preciso que haja opiniões individuais. E o que mais? É preciso que elas sejam somáveis. Você se lembra da sua tia Dilmar. Era a sua professora do primário. No meu caso ela chamava Maria das Graças. Como se chamava a sua Maria das Graças? Aquela que ensinava de tudo. Eu, fiz direito e jornalismo, depois fiz doutorado em direito e comunicação; e só depois disso me matriculei na faculdade de filosofia, passando pelo crivo do vestibular. O que foi no chute. Me sai bem do vestibular! Redação no site da fuvest, sobre o nazismo. Eu entrei na ....e logo me matriculei em uma disciplina: filosofia da ciência. Entra a professora, e o conjunto da cara dela, me fazia acreditar que eu conhecia aquela mulher de algum lugar. Essa coisa com o sexo oposto, nunca é bom chegar sem ter certeza de quem aquela pessoa, que você supõe conhecer. Porque pode ser que você tenha tido com ela, mais intimidades do que você lembra. É super chato! Mas aquela senhora, não me pareceu o caso. Ela me intigava. Aí terminou a primeira metade da aula, ela saiu e quando estava bem perto eu lembrei! Era a tia Maria das Graças. Eu era o menorzinho da turma. ...A tia ensinou que para somar só são somáveis unidades da mesma espécie. Não tem como somar um liquidificador e um preservativo. Não dá dois! Se a opinião pública é a somatória das opiniões individuais, é imprescindível que as opiniões sejam somáveis. E aí eu pergunto: será? Vamos ver um exemplo: Vamos imaginar que eu pergunte, o que você acha da aula do professor Clóvis? Aí o rapaz lá da ponta, aluno da tia Maria Helena diz: o que ele ensina é interessante, a didática é interessante, mas ele é uma figura um pouco intojada, depois ele fede um pouco. A moça de roxo, do seu lado diz: eu gosto dos exemplos, eu aprendo pelos exemplos, quando ele começa a teorizar, eu me perco completamente. E a outra moça diz: para se distrair, ainda é melhor do que a televisão. Eu pergunto a vocês: essas três frases, dá para colocar uma em cima da outra, dá para somar e chegar num número? Não. Então não são somáveis! A pergunta é: o que é preciso para que as opiniões individuais, se tornem somáveis? É preciso que você as encaixote em categorias, que você impõe. Tais como: ótimo, bom, regular ou péssimo. Todos tem que responder, segundo as mesmas categorias. Aí dá para somar. Será que essas três frases que eu acabei de enunciar sobre a minha aula, elas se deixam traduzir com facilidade, em ótimo, bom, regular ou péssimo? A verdade é que você recebe o questionário com essas categorias e elabora a sua opinião em função dessas categorias. Para que sejam somadas. Mas se você pudesse você as elaboraria, qualitativamente, inviabilizando, qualquer soma.

Ainda dentro dessa premissa, para que essas opiniões fossem somáveis, seria necessário que elas se equivalessem. E a equivalência das opiniões individuais é outra barbaridade, que não se sustenta. Em outras palavras somar o que pensa Joaquim, o que pensa Manoel, o que pensa Pedro e o que pensa João e acreditar que isso são quatro unidades de opinião, com a mesma influência de persuasão na sociedade, é ignorar que cada porta-voz tenha a sua competência específica, tenha as sua legitimidade específica e a sua zona de influência completamente particular e diferente dos demais. Exemplo: -aquele que quiser mais sobre isso, pode ler um artigo que eu gosto muito,dos números as letra, que está presente numa obra, coleção de artigos, intitulada: Comunicação na Pólis editado pela editora vozes. O autor desse artigo, Dos números as Letras, é também o organizador do livro, Barros Filho. C. O exemplo me encanta! Estou dormindo; toca o telefone, três da manhã, e quem me chama, amigo e colega da época,. Pertencíamos ao mesmo departamento de jornalismo da Cásper Líbero, fomos todos demitidos na mesma greve e esse meu amigo ainda é crítico de cinema da folha de são paulo. Amigo de disputas, de solidariedade de classe, o que autoriza ligar às três horas da manhã. Eu queria conversar com você, estou com problema pessoal. Eu falei: amanhã. Ele disse: mas amanhã já é hoje! Vamos assistir uma sessão de pornochanchada. porque você sabe, os críticos de cinema tem sessões específicas para eles de madrugada. Para não atrapalhar o horário comercial. A sugestão era assistirmos a uma pornochanchada e depois comer alguma coisa no Frevinho. Eu que tenho dificuldades para dormir, vi que a noite estava perdida, disse; então vamos. Pornochanchada me atrai, porque tem a palavra porno me faz pensar em mulher pelada; o que me valeu um crédito de cinco minutos ao filme. A hora que a mulher apareceu, uma pornochanchada da década de sessenta e aquilo foi deprimente e hoje nós estamos inflacionados pela estética das paniquetes. E aquela mulher, foi uma homenagem à lei da gravidade. Uma busca inexorável pelo chão. Uma coisa medonha! Era uma espécie de tortura. A tristeza era tamanha, que eu adormeci no cinema. Quando as luzes acenderam, eu pude ver os outros críticos, eles tem até um uniforme, sapatos guilhotinados, óculos extravagantes, coisas bizarras assim, e eu rapidamente fui identificado como um alienígena. Meu amigo teve de se posicionar e dizer: não ele está aqui comigo, para que não houvesse menosprezo. Passaram uma pesquisa de opiníão ótimo, bom, ruim ou péssimo. E eu por conta das mamas da protagonista, marquei péssimo e entreguei.

Chegando na lanchonete, ele me perguntou: o que você marcou? Eu disse: marquei péssimo. Claro. Ele presumia que eu havia marcado péssimo, pelas mesmas razões que ele. Então ele se deu ao luxo de explicar todos os itens, que justificavam o seu péssimo. O que é chatíssimo! Não entendo nada de cinema e nem quero entender. Tenho esse direito. Estava dormindo, na verdade. Sobre o cenário, luzes, dinâmica, trama. Mas o fato é que o pesquisador foi para casa com dois péssimos, o meu e o dele. Na hora de contar, dois péssimos: um de quem dormiu, o outro de quem é crítico de cinema. Um péssimo de quem fez de tudo para recalcar a imagem do que viu. E o outro péssimo de quem is escrever um artigo de jornal, que seria lido no dia seguinte por centenas de milhares de leitores, essa é a diferença. Na contabilidade o meu péssimo é igual ao dele. A pesquisa passa a régua, faz equivaler aquilo que não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Quarta premissa:acreditar que a opinião pública possa ser a somatória das opiniões individuais, faz acreditar que os temas objetos de pesquisa e sondagem, são mesmo os temas mais relevantes e politicamente mais problemáticos e mais sensíveis, para os agentes sociais daquele lugar. Submeter uma sociedade a uma pesquisa sobra alguns temas e não sobre outros temas, parte da premissa de que aqueles temas são mais relevantes, mais importantes, mais candentes, mais políticos do que os temas ignorados pela própria pesquisa. Na verdade perguntar sobre alguns temas é pressupor um acordo social sobre a importância daqueles temas. o que está longe de corresponder à verdade.

Pergunta 1 de 2

Para a soma de opiniões individuais:
• É preciso que as opiniões sejam de natureza igual, o que é impossível, visto a diversidade de opções de respostas qualitativas.Correta
• É preciso que as opiniões sejam de natureza igual, o que é possível graças à categorização de respostas.
• É preciso que as opiniões sejam não equivalentes, o que é impossível, já que as pessoas não têm a mesma legitimidade social.
• É preciso que as opiniões sejam equivalentes, o que é impossível já que as pessoas não têm a mesma legitimidade social.

Pergunta 2 de 2

Para que haja Opinião Pública:
• É preciso que a mídia seja neutra
• É preciso diversas pessoas com a mesma opinião.
• É preciso que haja opiniões individuais antes de haver uma opinião pública.Correta

Muito bem! Isso foi ligado agora? A Constituição de 1988 prevê, consulta popular e essa consulta aconteceu em torno de três temas, você sabe disso, não é? Eu tenho certeza que você estudou isso nos livros de história. Isso incrível para mim, porque nós votamos. Quais foram os temas consultados? Você tem uma consulta sobre presidensialismo e parlamentarismo. A pergunta era: você quer que um rei volte? Porque tem um herdeiro dos Orleans de Bragança que mora em parati, uma espécie de galã, um playboy aristocrata, e ele aparecia dizendo imagine-se com um rei e ele sorria. Era um negócio incrível, a quem poderia passar pela cabeça, gastar fortunas, para perguntar para a sociedade se ela quer um rei? Mas nem rei momo! É incrível! E a terceira sobre o desarmamento. Então você imagina, que aquilo que se pergunta, nem sempre é aquilo que você quer responder. Vai perguntar sobre pena de morte! Sabem porque não abrem? Porque o resultado que se espera não é o que a maioria dos legisladores defenderiam. Evidentemente, o melhor jeito de acontecer o que eu não quero é não perguntar.

Estatização de fábrica de chiclete. Lembram do chiclete ping-pong? Lei prevendo uma espécie mínima, para o fim da virgindde. Eu acho essa pergunta, muito mais interessante, do que o rei. Todas essas premissas nos permitem concluir, gostaria mesmo que encontrassem o artigo do professor Borgieu, em torno do qual estou me manifestando aqui. Todas essas premissas, discutíveis e frágeis, nos permitem chegar a uma conclusão. A conclusão de que a definição de opinião pública, como simples somatória das opiniões individuais, é um definição que não convém. Mas a transição para a segunda proposta, será a da premissa mais óbvia. Para que a opinião pública possa ser a somatória das opiniões individuais, é preciso que haja opiniões individuais sobre temas públicos, antes de qualquer opinião pública. Essa é a premissa. Se a opinião pública é a somatória das opiniões individuais é preciso que haja opiniões individuais, porque é somando que se chega na opinião pública. Evidentemente, se uma penca de bananas, tem dez bananas reunidas é porque cada banana individual, deveria existir antes.